A EDUCAÇÃO NA REPUBLICA VELHA: (DES) CONSTRUÇÃO DO GÊNERO FEMININO NOS MEIOS MIDIÁTICOS
Por Luis Carlos Borges dos Santos | 24/11/2010 | HistóriaA EDUCAÇÃO NA REPUBLICA VELHA: (DES) CONSTRUÇÃO DO GÊNERO FEMININO NOS MEIOS MIDIÁTICOS.
Luís Carlos Borges dos Santos
Resumo
O presente artigo tem por análise problematizar as relações de gêneros presentes nos meios midiáticos no fim do século XIX e início do século XX. No decorrer do trabalho estabeleceremos ligações acerca das fundamentações do servilismo na sociedade patriarcal
A Mulher na República Velha: uma análise nos meios midiáticos.
A mulher no mundo do trabalho na década de 1930 oportunizou algumas das mudanças mais generalizada e permanente . Pois, no entanto pode-se entender que este movimento propiciou o "surgimento" de colocações mais críticas acerca dos parâmetros culturais estabelecidos pela sociedade Patriarcal desta década.
Entretanto uma das questões que permeiam a sociedade atual diz respeito ao papel das mulheres no mundo do trabalho e a nova forma social acarretada por mudanças que ocorreram, sobretudo, a partir do século XX.
Se antes as mulheres tinham seu papel de fragilidade e obediência ao homem bem definido, hoje ? embora o sexismo ainda permaneça ? muito desses paradigmas preconceituosos foram quebrados .
No entanto, lança-se mão de uma abordagem que considerasse as questões de gênero que são caracterizadas pela desigualdade social e a opressão feminina, considerando-se oportuno enfocar alguns aspectos ligados aos padrões culturalmente construídos.
Visa-se, com este artigo, analisar a imagem de submissão da mulher ainda presente na sociedade, no que tange as questões do mundo do trabalho. E, com isso, instigar a sociedade de maneira geral a uma reflexão crítica acerca da importância do trabalho feminino no decorrer da história da humanidade. Esboçando as questões de gênero, de percepções e de sentimentos que caracterizam a desigualdade e opressão acerca da função da mulher trabalhadora no contexto contemporâneo.
Com o objetivo de discutir as representações das mulheres na República Velha, escolhemos como fonte para o nosso estudo, os jornais que circularam no final do século XIX e início do XX. Esses periódicos nos parecem ser um universo privilegiado de pesquisa já que aliada à vocação positivista. E neste sentido pretendemos responder as duas problemáticas desse artigo. Para tanto o dividirei em dois momentos, no primeiro procurarei elucidar como os jornais retrataram a educação e logo a inclusão da política e o trabalho no universo feminino.
A educação.
Em diversos formatos, invariavelmente espalhados dentro dos jornais do século XIX para o XX, observa-se muito as questões pejorativas da figura das mulheres. Questões tão familiares no cotidiano do século XIX que aos olhos passam despercebidos nos jornais que circulam no momento. Toda forma de expressão, entretanto, revela, à sua amaneira, uma realidade mais ou menos obscura à compreensão imediata. Assim no jornal Gazetinha , encontra-se um artigo falando sobre a diretoria de higiene do Estado, onde a ordenou que jogassem fora alguns barris de vinho na praia, por se encontrarem falsificados, para tanto o colunista seque argumentando:
[...] A mulher em toda a sua história demonstrou uma perícia rara na arte de enganar, ora se essas invenções tiverem sido aperfeiçoadas, se todas as ciências tiverem sido aplicadas, necessariamente pela lei natural da evolução, a mulher hoje enganará com mais perícia do que enganará na idade antiga ou média. Embora pelo mesmo principio seja o homem mais prático de descobrir a falsidade do amor tem contudo necessidade de empregar mais esforço do que empregada antigamente, porque ambos os termos da proporção não foram multiplicadas por um mesmo numero e isso porque a mulher desenvolveu ciência de enganar porque é essencial a sua natureza ao passo que o homem estuda os meios de combater e levado pela necessidade. Em fim, a falsificação hoje é causa tão usual, tão comum, tão trivial que se a diretora da seção de higiene mandar por na praia tudo que anda por aqui falsificado correrá o grande risco de ir ELLA própria parar no lugar onde mandou despejar o vinho. (1899.p.1)
Na sociedade patriarcal o homem é a referência fundamental, dada a submissão ao sexo masculino. Nos periódicos esta pretensa ordem natural do universo aparece no próprio fato de que a identidade da mulher é determinada por sua condição, prontamente, as questões ideológicas são anunciadas constantemente, ou seja, o colunista do jornal Gazetinha talvez não soubesse que a diretoria da fiscalização sanitária era composta por homens , ele por sua vez levou em conta a relação etimológica da palavra .
Partindo da pesquisa feita com jornais do século XX a pesquisadora Isabel Bilhão (2008), afirma que o problema, de acordo com o periódico, não estava no fato da mulher passar a ser melhor instruída ou conquistar direitos políticos, mas sim que ela abandonasse os serviços que lhe competem para ir tomar conta dos que devem ser exercidos pelos homens.(2005, p.8).
De acordo com BILHÃO:
Entre os séculos XIX e XX, não aparecem artigos feministas com freqüências, ao menos entre os exemplares consultados, mas segundo o jornal Gazetinha , os textos publicados refletiam a inquietação das mulheres brasileiras, onde se destacava que a pacatíssima capital estava sofrendo com a influência de um grupo de bem intencionados e irrefletidos que andam a falar do feminismo. (2008, p.3)
O que se pode destacar no primeiro momento que a preocupação principal conferidas às mulheres era a sua permanecia na estrutura familiar.
O jornal A Federação publicou uma nota referindo-se a esta questão:
A mulher desde que se torna esposa, torna sobre si um grande encargo, tão honroso quanto difícil de empenhar [...]. A esposa zelosa de seus interesses de seus deveres jamais dará razão de queixa ao marido, porquanto e seu primeiro, o seu mais grato desvelo consiste em ser-lhe agradável. (1901, p.1)
Nesse sentido, cabe destacar uma das características da construção da imagem feminina no Rio Grande do Sul: sob fortes alcances do ideário positivista da época, conferia-se à mulher a:
Superioridade espiritual sobre os homens, atribuindo-lhe, como funções fundamentais, a maternidade, a guarda do lar e a instrução dos filhos, garantindo assim, não apenas a manutenção da espécie, mas também o desenvolvimento moral da humanidade através da educação. (PETERSEN. 1986. p.86)
Além disso, figura da mulher era voltada principalmente para a educação dos filhos, na obra de Joaquim Bagueira Leal (1921), o autor destaca que:
O papel do homem é melhorar a situação da humanidade, agindo sobre o planeta, ou dirigindo as operações. O papel da Mulher é aperfeiçoar a própria natureza humana. Basta à comparação destes dois destinos, indicado pela organização física e moral de cada sexo, para se ver, logo a superioridade da função feminina. A educação moral da sociedade, que de todas as coisas é aquelas que a sociedade mais importa, compete a Mulher. Não é só a mais eminente das funções, é também a mais difícil. Basta dizer que os entes a educar variam cada um tem a sua índole: a Mulher tem, pois, de instituir uma educação especial para cada um. (A Mulher. 1921.p.3)
No Jornal A Federação logo a baixo a uma propaganda de escolas para meninas, chamado de Cecília Corseuil Du Pasquier, fundado em 1891. O jornal divulga uma nota destacando a importância da educação:
A educação deveria ser neste mundo a principal preocupação de todas as pessoas. Há uma educação d´alma, uma educação de honestidade que só as mães podem das na vida. Uma educação de exemplo de todas as horas e de todos os momentos uma educação que fica. (1907.p.1)
No entanto a construção da identidade feminina ficava formalizada para a educação de seus filhos. No inicio do século XX o pensamento Positivista em relação à figura feminina, estava voltada para a família, "Nenhuma Mulher pode ser desviada para exercer qualquer função fora do lar sem prejuízo dos seus deveres de Filha, Esposa e Mãe, o homem deve sustentar a Mulher, torna-se o melhor resumo de todo o problema moderno" (LEAL, 1921, p.3-4).
A proclamação da República no Brasil foi por muitos, considerada um padrão de modernidade, trazendo "mudanças" significativas para a sociedade. No campo educacional, esfera que compõe o fazer social, também pode observar mudanças, pelo menos no âmbito legal com a pretensão de democratização do ensino público. Entretanto Sérgio Celani Leite afirma que:
Confrontando setores antagônicos, como o agrário exportador versus urbano industrial, a República Velha pretendeu a inserção do Brasil na modernidade do século XX, buscando no processo escolar a fonte de inspiração para esse salto qualitativo. A "República Educadora" estabeleceu a escolarização como a alavanca para o progresso, criando na sociedade brasileira da época um novo projeto de vida [...].(1999, p. 27)
No entanto com o começo da República, segundo Pedro Vilarinho Castelo Branco.
[...] novas perspectivas sociais que surgiam com o crescimento econômico e a urbanização tornam-se campo fértil para idéias nova que iam de encontro às concepções tradicionais e conservadoras. Essas novas correntes de pensamento queriam, entre outras coisas, implantar uma nova postura perante a educação da mulher, visando não à emancipação feminina, mas a dar a elas melhor preparo para que pudessem exercer com mais competência suas funções de esposa e mãe. (1996, p.58)
Contudo a educação neste período era de certa forma acomodada nos entendimentos positivistas já mencionados. HAIDAR (1972.p.247), destaca que educação era voltada para o desenvolvimento do cérebro retrogrado da mulher, logo a mulher segundo as idéias que permeavam a sociedade era de se aproximar da mentalidade do homem. Michelle Perrot (1988) , referindo-se à sociedade francesa "Ao homem, a madeira e os metais. À mulher, a família e os tecidos " (p.178). Estas concepções completavam o plano de estudos "aulas de Civilização" na sociedade francesa, analisando esses modelos inseridos pelo positivismo na educação obtenha-se um entendimento de que forma estruturavam-se as escolas no Brasil e propriamente no Rio Grande do Sul.
POLITICA e TRABALHO
Atenta-se para o período da República Velha a relação da mulher na política e no Trabalho, que por sua vez não era bem vista pelos homens, atesta-o documento mais importante dessa época segundo Pedro Maia Soares (1980, p.127).
Relaciona-se a "Diálogos", incluídos no volume O Ramalhete ou Flores escolhidas no jardim da imaginação , de autoria de Ana Eurídice Eufrasina de Barandas.
Escritos em 1837, esse texto defende exatamente a participação das mulheres no debate político de então. Diz na introdução: "Principiaram os homens a gritar alto e poderosamente contra as pobres mulheres (que não faziam mais que seguir o seu exemplo), que era muito mal feito o meterem-se elas lá com suas políticas, e não sei mais" (BARANDAS, 1845, p.51, Apud SOARES p.127).
O texto de Ana de Barandas surpreende pela intensidade e pela contemporaneidade, os "Diálogos" travam-se entre a moça Mariana, seu primo Alfredo e seu pai Humberto.
A obra retrata o cotidiano político da mulher no século XIX.
Não gosto, minha prima, de ver-vos tão partidarista; esses entusiasmos não são próprios do vosso sexo: e se soubesse o quanto é ridículo em uma mulher o dissertar em política, jamais ousareis abrir a boca para dizer uma só palavra a tal respeito: deixai-vos disso; uma Senhora não deve adotar partido algum. (BARANDAS, 1845, p.64)
O contexto histórico se faz perceber pela suas contribuições na sociedade, cujo surgimento de uma ideologia não passa a existir de um determinado tempo isolado, penso que as trajetórias de exclusão percorrem as raízes históricas. Ao estudar sobre Ana Barandas pude perceber que a autora procurou defender de alguma forma à participação política da mulher de forma radical, sem adjetivos, a igualdade entre sexos, aproveitando ainda para apontar a opressão masculina.
Como já citado nos primórdios da Revolução Francesa, no século XVIII, é possível identificar mulheres que de forma organizada lutaram por seu direito à cidadania . Na segunda metade do século XIX e no início da década do século XX, as lutas e manifestação esparsa abdicaram espaço a uma campanha mais orgânica pelos direitos políticos de votarem e de serem votadas.
O feminismo no Brasil durante a década de 1920 teve como foco principal a luta das mulheres pelos direitos políticos, mediante a participação eleitoral. A militante principal nessa luta chamava-se Bertha Lutz , que exerceu uma inegável liderança durante a década de 1920, Lutz por fazer parte da elite brasileira proporcionou condições para significantes para o movimento feminista, uma vez que ela tinha reconhecimento na elite política da época.
No entanto, o direito ao voto feminino e os fragmentos contra a participação da Mulher na vida política era difamado na sociedade, devido às permanências positivistas que ainda acercavam-se.
Torna-se evidente nas publicações da época :
E a aberração sociológica que ocorre mundo sob o nome de feminismo . Consiste em rebaixar a Mulher de sua sublime posição de providencia moral da espécie humana par exercer as funções subalternas, grosseiras, secundarias, que competem ao homem. Existiria no sexo masculino uma aberração semelhante si o homem aspirasse a ser cavalo ou cão. É um tristissimo produto da anarquia moderna. Entre as grosserias masculinas que se deseja ver a Mulher praticar, está as que se resumem no chamado direito ao voto. A são os inferiores escolhendo os superiores; são os incompetentes decidindo quem é o mais competente; são os votos contados, não pesados. Um voto de Washingtom vale tanto como o de qualquer explorador. A irracionalidade se junta sempre à corrupção e a fraude. E, portanto uma imoralidade. Para semelhantes coisas cavaleiros dignos não convidam senhoras.
Rio, 19 S. Paulo 133 (8 Junho 1921)
Joaquim Baqueira Leal
A Imprensa Jornalística contribui bastante para o desenvolvimento da campanha feminista, logo os primeiros passos para divulgar a militância partir de publicações feitas por Bertha Lutz na "Revista da Semana" de 1918, onde informava:
As mulheres russas, finlandesas, dinamarquesas e inglesas - quer dizer, uns 120 milhões na velha Europa, já partilharam ou brevemente partilharam do governo não só contribuindo com o voto como podendo ser elas eleitas para o exercício do Poder Legislativo. [...] Só as mulheres morenas continuam, não direi cativas, mais subalterna [...] Todos os dias se lêem nos jornais e nas revistas do Rio apreciações deprimentes sobre a mulher. Não há, talvez, cidade no mundo onde menos se respeite à mulher. Existem até secções de jornais que se dedicam a corrompê-la ou a injuriá-la. (PINTO, 2003. p.23)
A luta pelos direitos do voto não cessara somente nas publicações de artigos de Lutz nas revistas femininas, a militante procurava a Imprensa local para a divulgação de seus manifestos, claro que a grande maioria estava sobre o domínio da elite patriarcal.
Quando se estuda as questões de gênero em um período norteado pela concepção política é preciso ter em mente que as eleições presidenciais no Brasil durante a República Velha eram apenas rituais que consagravam os nomes anteriores escolhidos pelas oligarquias dominantes. "As campanhas presidenciais de 1909 e 1919 foram especiais pela presença de Rui Barbosa que pregava reformas para moralizar as eleições e o federalismo" (PINTO, 2003, p.17). Para tanto fora do mundo das oligarquias , o Brasil, foi marcado por algumas transformações importante que apontam o surgimento de uma cultura urbana. Destaca-se para o movimento de mulheres, que de um ponto importante organizava-se para as questões eleitorais.
Há uma grande importância da participação das mulheres no espaço político, pois desarticula a argumentação, que política é somente para os homens. No entanto como política é assunto para debate na sociedade, a mulher deve conhecer o tema e o vocabulário político, surge neste momento Berta Lutz eleita em 1934 . A argumentação feminina define-se como espaço de luta e trabalho.Face ao tema Trabalho, apresentaremos algumas características da mulher na República Velha, acerca do seu desenvolvimento na esfera do trabalho, para isso, situa-se a mulher dentro das relações sociais. Para Isabel Bilhão:
É importante salientar, nesse sentido, que as mulheres começaram a entrar no mundo do trabalho no momento em que as oficinas estavam dando lugar às fábricas e elas passaram a trabalhar em um ambiente onde as relações impessoais e o aumento da distância entre os donos das empresas e os funcionários possibilitaram o desenvolvimento de práticas que permitiam uma exploração ainda maior do trabalho. (2008, p.2)
Engajar-se no mundo do trabalho em seus aspectos positivos, representa segurança, independência e realização pessoal. O trabalho remunerado oferece à mulher a possibilidade de evoluir tanto na esfera social quanto individual.
De certa forma, o acesso da mulher no "mundo masculino" como o trabalho remunerado, a escolha profissional e o campo da política era algo remoto na sociedade dos anos trinta. Sua educação vinculava-se, sobretudo, à sua condição de mãe, em outros termos, sua educação, como condição da educação da própria família. Segundo Nadai:
A noção de trabalho não se relacionava nem ao exercício de alguma atividade remunerada e nem referia à escolha de qualquer campo profissional. Mesmo a profissionalização ?aceita? pelos padrões sociais - o magistério-não o era para a mulher de origem burguesa e sim para aquelas provenientes de setores empobrecidos da burguesia ou originários das camadas médias. (1991, pg.29)
Na década de 1930, a figura da mulher era totalmente voltada, para a construção dos preceitos familiares, tanto isto e verdade que os defensores de um novo padrão de comportamento feminino, incidiram suas criticas sobre aqueles que argumentavam que a mulher deveria se inserir no mundo do trabalho, para romper com as amarra do machismo presente nas famílias nucleares . Fica evidente nos documentos organizado pela fundação Getulio Vargas, onde Tobias Barreto (1926), em seus estudos sobre o feminismo, o autor destaca:
Dado de barato que a única missão feminina fosse a de ter filhos e de viver ao lado do homem, há por ventura alguma incompatibilidade entre essa nobre missão e um grau superior de cultura? Tão simples é o papel de esposa e mãe, que dispensa a luz intelectual, ou até repele-a como perturbadora do sucesso domestico? Será também uma lei providencial que o homem culto, quanto casado, não tenha uma mulher, com quem converse, nem por ela entendido .
Na década de 1930 com todos os movimentos feministas acerca da mulher na sociedade, ficava evidente que estava claro que a mulher rompendo com todas as falácias da sociedade acerca da sua figura transformadora precisavam inserir-se no mundo do trabalho, e não só elas, mas a sociedade queria isto, mas, por que deveriam trabalhar desempenhando tarefas "domestica".
O trabalho doméstico exercido pela mulher era uma função pública tão necessária e importante quanto à atividade masculina de prover alimentos, uma vez que não existiam distinções sociais tão claras como nos dias atuais e que se produzia para a coletividade. Não havia uma hierarquização social nítida, tal como existiu no século XIX e que, do mesmo modo, é presente atualmente, até que a troca passou a determinar o que é o trabalho produtivo. Nesse momento, a mulher torna-se inferior ao homem ? na perspectiva do mesmo ? por não produzir excedentes para a troca com o trabalho doméstico.
Com o aumento da riqueza, as mulheres passam a se submeter, tornarem-se dependentes, perdem seu prestígio econômico e social, passando o homem a ocupar o lugar mais importante na família e a controlar a propriedade. As mulheres passam a ser vista como frágeis, necessitando de proteção. Proteção esta que é conseguida através do casamento. Embora continuassem a trabalhar em muitas áreas, tornaram-se marginalizadas, portanto, fica evidente a educação para o confinamento à vida privada e à dependência econômica para as mulheres, ao contrário da educação que é direcionada aos homens, que consistia no estudo da filosofia, da poesia e da retórica, no conhecimento das letras e do treinamento para o serviço militar, voltada às atividades públicas.
O modelo social patriarcal foi fundamental para aumentar ainda mais a omissão sobre o papel feminino nessa sociedade onde as mulheres eram relegadas a segundo plano, contribuindo imensamente para o silêncio documental sobre as mesmas. Sendo a restrição feminina à vida privada fruto dos valores e construções culturais vigentes neste período.
Concluo este artigo parafraseando Lucién Febvre - para quem o conhecimento histórico deve ter como referência "os homens, nunca o Homem" , estudar a "história da mulher" não é tarefa fácil, pois somos construídos culturalmente, e por ocasião estudamos sempre as figuras do Homem como sujeito histórico. Desenvolver um artigo acerca de uma problemática que evidencio diariamente, e torna-se mais próximo à realidade das transformações femininas durante um período marcado por concepções ideológicas.
Pretendi mostrar neste artigo como as relações de gênero estão presentes, e alicerçados no imaginário de uma sociedade construída ideologicamente e como o poder da imprensa manipula e julga a sociedade, criando estereótipos que se mantém nos dias atuais. Em nenhum momento pretendi "(des) construir" uma história das mulheres, mas sim mostrar como as construções ideológicas perfazem a sociedade. Destaquei com fontes primárias e secundárias estes momentos e suas rupturas, portanto, os paradigmas culturais ainda interagem em nossa educação atual.
A visão histórica com a qual trabalham nossas escolas tem como base uma ótica masculina, baseada em grandes feitos e segundo as perspectivas dos grandes homens vencedores. Por sua vez, as minorias sociais ? mulheres, negros, índios etc. ? são omitidas, e a trajetória das descobertas humanas é apresentada de forma descontextualizada, desprovida da visão processual que envolve a participação das mulheres.
A educação das mulheres deve ser vista sob um duplo ângulo: a mulher é discriminada pela educação, mas também é cúmplice da discriminação, enquanto é ela que educa, na família, e em grande parte, na escola. Não surpreende o fato das mulheres estarem colocadas, em dois ângulos, pois sua secular opressão está atingindo-as não só em suas relações de trabalho, mas na raiz de sua vida privada. Hoje as mulheres são solicitadas a trabalhar fora muitas vezes para atender as necessidades de sobrevivência da família, vimos que esta atitude rompe com as formas atribuídas a elas nos séculos anteriores.
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Periódicos
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