A educação na Cidade em Paulo Freire

Por Rabim Saize Chiria | 05/12/2017 | Educação

Dr. Rabim Saize Chiria

Licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane; Moçambique

 

A Educação na cidade em Paulo Freire

Neste tema falar-se-á sobre a educação e sua relação com a cidade. No entanto, a cidade aqui é concebida por Paulo Freire como educadora, e por fim, o autor estabelece o contexto em que a educação se pode dar, formal e informalmente.

O autor a firma que “a prender e ensinar fazem parte da existência humana, histórica e social, assim como delas fazem parte, criação a invenção, a linguagem, o amor, o ódio, o espanto, o medo, o desejo, atracão pelo risco, a fé, a dúvida, a curiosidade, a arte, a magia, a ciência, a tecnologia” (FREIRE; 1992 : 57).

O impossível teria sido um ser humano deste modo, e o impossível seria também um ser humano que não se insere no processo de refazer o mundo, de pronunciar sobre o mundo, de conhecer, de ensinar o aprendido e de aprender o ensinado, refazendo o aprendido, e melhorar o ensinar.

Segundo Freire, o homem é um ser programado para aprender, e não só, é inacabado e consciente do seu inacabamento, por isso mesmo está em permanente busca, indagando, curioso em torno de si e com o mundo e com os outros. E como senão bastasse, o homem está inserido no processo de formação e educação, no entanto, sempre preocupado com o amanha.

De acordo com Freire (1992), a educação é permanente (…), na finitude do ser humano (…), a educação, como formação, como processo de conhecimento, de ensino, de aprendizagem, se tornou, ao longo da aventura no mundo dos seres humanos uma conotação de sua natureza (…) não é possível ser gente, sem desta ou daquela forma, se achar entranhado numa certa prática educativa.

Para o autor, a cidade é educativa, independentemente do nosso querer ou do nosso desejo; isto porque: "A cidade se faz educativa pela necessidade de educar, de apreender de ensinar, de conhecer, de criar, de sonhar, de imaginar de que todos nós, mulheres e homens, impregnados seus campos, suas montanhas, seus vales, seus rios, impregnados suas ruas, suas praças, suas fontes, suas casas, (…) deixado em tudo o selo de certo tempo, o estilo, o gosto de certa época. A cidade é cultura, é criação, não só, pelo que fazemos nela e dela, pelo que criamos nela e com ela, mas também é cultura pela própria mirada estética, ou de espanto, gratuito que lhe damos. A cidade somos nós e nós somos a cidade (Ibidem: 58)

Segundo Freire, a cidade enquanto educadora é também educanda, visto que muita da sua tarefa educativa implica a nossa posição política. Ou seja, implica apolítica dos gastos públicos, a política cultural e educacional, a política de saúde, a dos transportes, a do lazer.

No fundo, a tarefa educativa das cidades se realiza através do tratamento de sua memória (…) e sua memória estende, comunica-se, às gerações que chegam. Seus museus, seus centros de cultura, de arte, são alma viva do ímpeto criador, dos sinais de aventura do espírito (Ibidem: 59).

Por fim, o autor salienta que as cidades educativas devem ensinar a seus filhos e a filhos de outras cidades que as visitam que não precisamos esconder a nossa nacionalidade, ou seja, a nossa origem. Para falar como o autor: as cidades educativas devem ensinar os seus filhos e aos filhos de outra cidade que as visitam que não precisamos esconder, a nossa condição de judeus, de árabes, de alemães, de suecos, de norte-americanos, de brasileiros, de africanos, de latinos americanos, de origem hispânica, de indígenas, não importa de onde, de negros, de louros, de homossexuais, de crentes, de ateus, de progressistas, de conservadores, para gozar de respeito e de atenção (Ibidem: 58).

De acordo com Freire, nunca pode-se viver democraticamente sem o pleno exercício que envolve a virtude da tolerância. A demais, “as cidades deveriam estimular as sua instituições pedagógicas, culturais, cientificas, artísticas, religiosas, financeiras, para que desafiassem as crianças, os adolescentes, os jovens, a pensar e a discutir o direito de ser diferente sem que isto signifique ocorrer o risco de ser discriminado, punido, ou pior ainda, banido da vida” (Ibidem: 60). E Por em fim, o autor salienta que as cidades educativas devem testemunhar a sua busca incessante da pureza e sua recusa veemente à discriminação.