A Educação Jesuítica
Por Andrea Bueno | 03/08/2010 | EducaçãoA EDUCAÇÃO JESUÍTICA
De 1549 a 1759 temos no Brasil, mais especificamente no campo da educação, a presença dos jesuítas da Companhia de Jesus, companhia fundada por Inácio de Loyola. Os jesuítas fizeram um trabalho de catequização e instrução dos índios brasileiros, mas também ofereceram uma educação diferenciada para os filhos da elite. Assim, os jesuítas influenciaram a educação de nobres, das classes populares e da classe burguesa.
Um importante destaque, a educação jesuítica marcou o início da história da educação no Brasil. A preocupação inicial da Companhia de Jesus era a expansão das atividades missionárias. Quanto ao processo educacional por eles difundido temos um importante documento chamado Ratio atque Instituto Studiorum (ou somente Ratio Studiorum). Esse documento visava à formação do homem universal, humanista e cristão e a perfeição espiritual.
Outro objetivo era a uniformização das práticas educacionais dos colégios jesuítas. A Ratio promulgada em 1599 é composta por 467 regras, reunidas em 30 conjuntos que abordam questões como a administração, o plano de estudos, o método e as disciplinas escolares nas classes inferiores, classes de filosofia e classes de teologia. Os modelos pedagógicos variavam do ensino do latim clássico a gramática sólida, graduação de classes e cursos, até a implementação de exercícios nas classes e individualização do aluno.
Dando continuidade, os jesuítas estabeleceram como primeira estratégia pedagógica os "comissários gerais" que tinham como função visitar e inspecionar os colégios regularmente. Outras estratégias pedagógicas foram estabelecidas, entre elas está o estabelecimento de classes inferiores que admitiam alunos externos, estes se dedicavam ao estudo de, por exemplo, medicina e direito. Essas classes eram divididas em "séries" são elas: retórica, humanidades e gramática (superior, média e inferior). A promoção de uma série para outra se dava anualmente e as séries não podiam se misturar. Ainda, alunos de gramática só poderiam mudar de série se demonstrassem domínio do conhecimento proposto para aquela série.
O núcleo central do currículo das classes inferiores era o ensino das línguas e literaturas clássicas. O ensino das gramáticas latina e grega era formal, descontextualizado da realidade desses povos na Antiguidade. O hábito de leitura era controlado, ou seja, livros considerados inconvenientes, como os de poesia (que poderiam conter conteúdos prejudiciais à honestidade e os bons costumes) não poderiam ser lidos. Visava-se também o domínio oral e escrito do latim clássico. A língua vernácula era permitida apenas nas classes de humanidades e de gramática se com o objetivo de propiciar o aprendizado do latim. Portanto, representações teatrais e solenidades escolares eram realizadas em latim. O incentivo ao estudo e a disciplina se dava através de premiações: havia distribuição de prêmios para os alunos nas classes de retórica e gramática sendo a prosa latina mais visada para premiação.
O objetivo maior da educação jesuítica era o ensino dos "bons costumes" sempre a serviço de Deus. Sendo assim, a disciplina era um fator muito importante. Os jesuítas utilizavam então um conjunto de estratégias e táticas para a disciplinalização dos alunos: controle do tempo e do espaço, rígida hierarquia, emulação e competição entre os alunos, individualização das carreiras escolares, incitamentos à atividade permanente dos alunos. O método pedagógico dos jesuítas objetivava a formação de alunos muito mais através de incentivo à produção escolar do que por meio de castigos físicos.
Primordialmente, os professores deveriam transformar seus alunos em agentes ativos da aprendizagem. Para isso os mesmos utilizavam exercícios variados como trabalhos escritos, que deveriam preferencialmente ser realizados todos os dias (com exceção aos sábados), e que fossem corrigidos individualmente. Outro ponto a destacar: dentro das classes havia discriminação de alunos. Os lugares eram determinados pela condição social de cada aluno, sendo assim, os nobres tinham lugares distintos e os estudantes jesuítas e de outras congregações deviam ser separados dos alunos externos.
Por último, a disseminação dos bons costumes se dava através de atividades, tais como a oração feita no início de cada aula, o exame vespertino de consciência, a recitação diária do terço ou do ofício de Nossa Senhora, a missa diária e a confissão mensal.
Bibliografia
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