A EDUCAÇÃO INFANTIL NO PARANÁ E A BIOGRAFIA DE EMILÍA ERICHSEN

Por Mayara dos Santos | 22/02/2017 | Educação

 

SANTOS, Mayara dos[1]

BLAUTH, Ananda[2]

COLOMBO, Jocineli Polis[3]

KAKTIN, Daniely Ienerich[4]

LUHM, Daiana Cristina[5]

[1] Aluna do Mestrado em Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel.

[2] Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel (2015), professora de infantil da Rede Pública Municipal de Ensino de Céu Azul – PR

[3] Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel (2015), professora de educação infantil da Rede Pública Municipal de Ensino de Cascavel - PR.

[4] Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel (2015), professora de educação infantil da Rede Pública Municipal de Ensino de Céu Azul – PR.

[5] Aluna do Mestrado em Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Cascavel, professora de educação infantil da Rede Pública Municipal de Ensino de Céu Azul – PR.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto de estudos realizados durante o segundo ano da graduação em Pedagogia, na disciplina de História da Educação. Ele foi organizado metodologicamente a partir de pesquisas bibliográficas.

Pretende-se demonstrar suscintamente a trajetória histórica da constituição da educação infantil no Estado Paraná, especificamente a partir do século XIX e XX.

É possível analisar os aspectos que levaram a necessidade de criação de estabelecimentos destinados ao atendimento de crianças, dentre os quais podemos citar a reconfiguração ideológica sobre a concepção de infância e criança, urbanização, industrialização e a inserção da mulher no mercado de trabalho.

Buscar-se-á analisar como se dava o trabalho nas primeiras instituições de educação infantil, bem como a biografia de Emília Erichsen.

Contextualização histórica das instituições de atendimento infantil e a concepção da infância no século XIX e XX 

A concepção de infância nos séculos passados se comparada aos dias atuais apresentou significativos progressos. Até o século XVII e XVIII a criança não era vista como um indivíduo que precisava de cuidados especiais, mas sim, como um adulto de pequeno porte, ou seja, quando não fossem mais dependentes físicos, deveriam fazer as mesmas tarefas que os demais. Não eram poupadas de atos e palavras grosseiras, não se tinha pudor perante estas, entretanto devido à época vivida era algo comum.

            A partir do século XVII começaram a surgir às primeiras preocupações com a criança, mas ainda em pouca escala. Somente no século XIX, é que se passou a ter um real interesse perante o assunto.

            No Brasil até meados do século XIX o atendimento a crianças de 0 a 6 anos em instituições como creches praticamente não existia. A partir do século XX a infância começa a ser analisada a partir de novas perspectivas, com concepções e preocupações relacionadas à situação social da infância e a ideia da criança como portadora de direitos. Porém foi o desenvolvimento tecnológico e a inserção da mulher no mercado de trabalho que trouxeram maiores mudanças nas concepções sobre a criança e sua educação. Em decorrência da proclamação da república e do processo de urbanização brasileiro e consequentemente com a industrialização sentiu-se à necessidade de instituições que atendessem as crianças. É nesse contexto que os primeiros estabelecimentos pensados voltavam-se à um caráter exclusivamente de assistência. Com a precisão de buscar novas alternativas de cuidado para com estas, um novo olhar começou a ser considerado.

É no final do século XIX, que emerge uma discussão para a criação de locais destinados a atender crianças pobres, baseando-se em experiências de outros países, e propostas educacionais de teóricos como Froebel.

Emília Erichsen e os Jardins de Infância

Emília Faria de Albuquerque Erichsen nasceu no Engenho da Piedade próximo ao Recife em Pernambuco, no ano de 1817. Filha de José Manuel Faria e Albuquerque e de Marianna Carolina Faria e Albuquerque.

Com 10 anos de idade mudou-se com a família para a cidade de Santos, São Paulo. Desde pequena, recebeu uma educação muito rica. Ela e seus irmãos tiveram a possibilidade de seguir estudos em diversas disciplinas com mestres capacitados. Entre seus professores estava José Bonifácio de Andrada e Silva, ministro do império de Dom Pedro I que ficou muito conhecido pelo papel decisivo na Independência do país.

Ainda na infância, Emília aprendeu inglês, italiano, francês e alemão. Aprender a língua alemã foi fundamental para que ela tivesse contato direto, sem traduções, com a obra de Froebel anos mais tarde.

Com 23 anos, em 1840, casou-se com o navegador dinamarquês Conrado Ericksen proprietário do navio Eólus e foram viver na Europa. Esse foi o período em que Emília teria travado conhecimento e se familiarizado com as ideias de Friedrich Froebel. Cinco anos depois, com duas filhas pequenas, o casal retorna ao Brasil. Passam então a viver em São Vicente no litoral paulista onde têm mais cinco filhos.

A família residiu, ainda, na Colônia Assungui (atual Cerro Azul), antes de se mudar para Castro, província do Paraná, o que aconteceu em 1856.

No final do ano de 1857, prestou concurso para o cargo de professora, no estado do Paraná, para o qual al foi nomeada, exercendo tais funções até 1862. Nesse mesmo ano Emília tornou-se viúva. Conrado Ericksen morreu repentinamente em treze de março de 1862. Este é também o ano que assinalou o início das atividades com crianças de 4 a 6 anos.

Viúva e com dificuldades para sustentar a família, a educadora abre seu jardim de infância – ainda em 1862 – no qual recebe alunos de 4 a 6 anos de idade, os quais educava nos moldes da concepção de Froebel.

Em 1900, a professora, já idosa, vai morar em Palmeira, onde já vivia um genro. Morre naquela cidade, aos 89 anos, em 28 de setembro de 1907.

Emília é considerada por muitos como a fundadora do primeiro espaço de Jardim de Infância particular do Brasil. Situado em Castro, o jardim foi inaugurado em 1862. A educação proposta por Emília baseava-se nos métodos de Froebel, não permitia o uso da palmatória e se preocupava com os conhecimentos de artes, música e literatura, além do ensino das primeiras letras. Inicialmente objetivava-se o ensino da língua francesa a jovens castrenses de famílias de poder aquisitivo mais elevado, porém ao longo do tempo, Emília optou pelo trabalho com crianças transformando sua própria casa em um internato.

Essa primeira tentativa de trabalho com crianças trouxe uma importante contribuição para a ampliação da educação infantil paranaense. É importante ressaltar que as primeiras iniciativas de jardins de infância no Paraná, funcionavam como ‘escolas de aplicação’ ou seja, escolas laboratórios para cursos de formação de professores. Em sua grande maioria eram anexas aos espaços das Escolas normais.

Em 02 de fevereiro de 1906 foi inaugurado o primeiro jardim de infância público do Paraná chamado de “Escola Jardim de Infância” (posteriormente denominado Maria de Miranda). O jardim localizado na cidade de Curitiba funcionava pautado nos métodos froebelianos, atendendo 60 crianças matriculadas sob a direção da professora Maria de Miranda.

A proposta de atendimento educacional às crianças foi vista com bons olhos pela sociedade e discutia-se a necessidade de serem abertos outros jardins de infância, sobretudo para atender os filhos das classes operárias, tendo em vista que o único jardim existente na época, embora fosse público, era frequentado exclusivamente por crianças de famílias ricas.

A educação ofertada nesse período nos jardins de infância para além de assistencialista apresentava um caráter pedagógico, voltando-se à moralização e adequação dos indivíduos. “Venham mais e mais jardins da infância, sobretudo para os filhos dos rústicos e dos operários, os que mais precisam alijar os defeitos de educação recebidos no lar.” (Relatório do inspetor escolar da Capital ao diretor geral da Instrução Pública, Arthur Pedreira de Cerqueira, apud Souza, p.4, 2009).

A criação do jardim de infância no Paraná apresentou tamanha aceitação que os pais começaram a pedir por vagas neste estabelecimento. Os conteúdos priorizavam uma pedagogia ortopédica “a ginástica de movimento dos músculos, troncos, cabeça e pescoço; as marchas e os cânticos eram aprendidos exclusivamente por audição; os exercícios sobre os órgãos dos sentidos; e trabalhos manuais variados” (Paschoal, 2011). A criança recebia total atenção de acordo com sua faixa etária. Porém, como havia apenas uma instituição não era possível atender às demandas da época. Sendo assim, o inspetor escolar da Capital manifestou sua posição referente à criação de novos jardins de infância, para que estes atendessem principalmente aos filhos dos trabalhadores. (Idem).

[...] “os jardins da infância tem produzido importantes resultados, especialmente na Alemanha; portanto sou de parecer que devem ser abertos outros jardins da infância, onde as criancinhas principiam a travar conhecimento com os primeiros rudimentos do ensino pedagógico, de comum com as diversões peculiares de sua idade. (Idem).

Sendo assim, conforme parecer do diretor da Instrução Pública Arthur Pedreira de Cerqueira, o espaço, o mobiliário e a higiene escolar tinham a missão de civilizar e produzir o “gérmen do progresso” nas crianças pobres filhas dos colonos. Dessa forma estas não ficariam conformadas com suas condições precárias e sempre buscariam por melhorias no cotidiano.

Três anos após a inauguração do primeiro jardim de infância público, iniciou-se a construção de outro estabelecimento junto ao grupo, Xavier da Silva na cidade de Curitiba. O jardim de infância denominado Jardim da rua Silva Jardim, foi inaugurado em 1911. Mais tarde veio a ser chamado de Jardim de Infância Emília Erichsen, em homenagem a fundadora do primeiro jardim de infância privado do país.

[...]

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