A EDUCAÇÃO E OS MOVIMENTOS SOCIAIS: UMA PARCERIA EFETIVA PARA A CONQUISTA DA CIDADANIA
Por Francilene Ferreia Assis | 13/06/2014 | EducaçãoA EDUCAÇÃO E OS MOVIMENTOS SOCIAIS: UMA PARCERIA EFETIVA PARA A CONQUISTA DA CIDADANIA
O presente trabalho trata da educação promovida pelos movimentos sociais, cujo objetivo maior é investigar, analisar e refletir sobre essa educação que está sendo oferecida em espaços não formais e sua relação com os educados e com a educação. A importância desse tipo de educação está sendo percebida pelo aumento de procura por parte das crianças (seus responsáveis), e adultos que participam do EJA. Esse tipo de educação, conhecida como educação em espaços não-formais ou educação popular, vem apresentando características específicas, educadores com um outro tipo de formação, e metodologias diferenciadas. A necessidade de um novo olhar, de análise, e entendimento das práticas educativas construídas pelos atores envolvidos nesses espaços, se faz importante para até entender as lacunas acadêmicas frente às ações dos movimentos sociais e da educação brasileira. Um dos conceitos trabalhados nesse tipo de educação é da cidadania. O conceito de cidadania foi sendo delineado de acordo com a estrutura da sociedade vigente ao longo da história. Neste processo a formação do cidadão não se restringiu à educação escolar. É possível, assim, estabelecer uma relação entre cidadania e educação a partir do trabalho desenvolvido pelos movimentos sociais e/ou populares.
Os Movimentos Sociais trouxeram várias reivindicações da população carente, que não tem voz; uma dessas reivindicações é sobre a educação. Os movimentos sociais com o foco voltado para a educação, também são conhecidos como educação popular e educação em espaços não-formais. A formação do cidadão não se restringiu à educação escolar. É possível, assim, estabelecer uma relação entre cidadania e educação a partir do trabalho desenvolvido pelos movimentos sociais e/ou populares, trabalho este que se desenvolve em pequenas ong’s(termo abreviativo de Organizações Não- Governamentais), salões de igrejas, associações comunitárias. As escolas estão se deparando com um aumento significativo de pais que buscam essa complementação do ensino ofertado na escola, como forma de incluir os filhos em novas formas de aprendizagem, e também como forma de adquirirem novos conhecimentos através de várias oficinas que são oferecidas nesses espaços. Os atores sociais que estão envolvidos nesses processos são pessoas de várias profissões, que têm em comum a solidariedade, filantropia e que reconhecem a importância da educação. Os educadores sociais, como são conhecidos esses atores sociais, têm um perfil filantrópico, se identificam com a causa, têm um senso de respeito e são pessoas com grande facilidade de lidar com diversas situações, por estarem em lugares de vulnerabilidade social, ou seja, por esse e outros motivos, precisam ter uma metodologia diferenciada, uma didática que atraia e mantenha a atenção das crianças e adolescentes que estão inscritas nesses projetos sociais. Com o propósito de relacionar esse tipo de movimento social, a educação, a educação oferecida por esse tipo de ação social e cidadania, é que escrevemos esse estudo, para investigar, analisar e refletir esse tipo de educação. Da interrelação entre cidadania, educação e movimentos sociais, o presente trabalho discute algumas questões também sobre o papel do educador em espaços de educação informal.
1.1 - Conceitos de Movimentos Sociais
Esse estudo caminha na procura por investigar, analisar e refletir, na busca por soluções para problemas sociais pela sociedade desde há muito tempo, através do que chamamos por movimentos sociais. Essas relações humanas e da cultura , ao longo dos tempos foi se modificando, chegando à ter variações sobre o que é ; sobre o conceito e tipologia. Iremos no aprofundar no movimento social ligado ao campo da educação, uma vez que se propõe a estudar com veemência a educação pública. Os vários conceitos de movimentos sociais estão diretamente para descontentamento por parte da população, por busca de direitos ou até mesmo por sua manutenção. Apesar de ser um movimento histórico, o conceito de movimentos sociais, ao contrário de outros tipos de conceitos, não se detém a tempo, historicidade. Eles não mudam a estereotiparão, apenas o período social e assim, se redefine. Atualmente temos as marchas, como símbolo desse tipo de movimento social. Em todas as épocas temos registro de movimentos sociais. Isso demonstra claramente que por vivermos em sociedade e de nela haver conflitos entre classes que buscam por mudanças ou a manutenção da ordem.
Segundo Touraine, movimentos sociais são a ação conflitante de agentes das classes sociais, lutando pelo controle do sistema de ação histórica. Já para Gonh (2008), são ações coletivas de caráter sócio político e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas demandas.
(...) movimentos sociais são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio de solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo."
Para Manuel Castells( 2011), esse autor os define como:
Chamamos de movimentos sociais a todas as formas de mobilização de membros da sociedade que têm um objetivo comum explícito.Os movimentos sociais são o objetivo por excelência da sociologia dinâmica, permitindo o estudo dos processos sociais e das mudanças ( CASTELLS,2001,p.400).
A natureza e a origem dos movimentos sociais são muito diversas, entretanto, os membros dos grupos são homogêneos. São grupos que podem vir de uma grande ou pequena quantidade de pessoas, elas podem vir, por exemplo, de bairros, empresas, religião, etnia, e até mesmo, de uma nação.Geralmente há um tendência em nossa sociedade de tratar como criminosos os grupos que se organizam em defesa de seus interesses. Contudo, é preciso considerar que esses movimentos procuram intervir na elaboração de políticas públicas da área social, cultural e econômica. Analisando bem, os movimentos sociais nada mais são do que uma forma de contestar e reivindicar por direitos, como todo bom ato politíco. Na cidade de São Paulo, em 1° de dezembro de 2011, foi sancionada a lei 15.496 de autoria do vereador Francisco Macena da Silva( Chico Macena), criando o Dia de Luta contra a Criminalização dos Movimentos Sociais, a ser comemorado todos os anos em 5 de abril - data que diversos movimentos sociais escolheram, sob as bandeiras da igualdade social, direito a moradia, contra a homofobia, pelos direitos das mulheres, pelos direitos das crianças, adolescentes e idosos. Nesse dia um líder dos movimentos sociais, Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, do Movimento de Moradia do Centro (MMC) de São Paulo foi absolvido por unanimidade, em júri popular, da acusação de coautoria de um homicídio ocorrido em 18 de agosto de 2002, durante uma ocupação do MMC. O processo foi considerado por muitos como um caso de tentativa de criminalização dos movimentos sociais.
A contribuição dos movimentos sociais é de grande relevância para que haja as transformações na sociedade e se expressam através dos conflitos existentes nas mesmas, com o intuito de promover ou resistir aos processos de mudança. O conceito é amplo e diversificado, dependendo dos critérios de análise empregados, podendo ter tipologia. Ribeiro (2011 apud LAKATOS, 1990) conceitua essas tipologias como: Tipo Migratório, Tipo Progressistas, Tipo Conservacionistas ou de Resistência, Tipo Regressivos ou Reacionários, Tipo Reformistas, Tipo Expressivos, Tipo Utópicos e Tipo Revolucionários.
Há vários aspectos para se definir um movimento social, um deles é o psicossosial, como nos fala Jesus (2012):
“As pessoas se organizam em grupos e protestam em nome de uma causa comum, muitas vezes sacrificando seu conforto pessoal, por várias razões, que podem estar fundamentadas em diferentes fatores, entre eles: sentimento de injustiça, eficácia de grupo, identidade social e afetividade.”
Estamos vendo nascer também o que está sendo chamado por sociólogos, psicólogos sociais , filósofos e antropólogos como novos movimentos sociais, onde a globalização coloca esses movimentos sociais, na rede, na internet. Essa nova configuração de movimentos sociais está sendo estudada, mas já podemos sentir o ativismo que esse novo conceito de movimentos sociais faz surgir na nossa atual sociedade.
Nesse âmbito da democracia participativa do início do Século XXI, os novos movimentos sociais se caracterizam como espaços de educação não-formal da sociedade civil, onde pessoas geralmente excluídas passam a conhecer outras pessoas com as mesmas experiências de vida como as suas, preservam suas culturas particulares, frente à marginalização que sofrem no cotidiano.
Nas circunstâncias da globalização, os movimentos sociais e suas mobilizações colaboram para a verificação de que há uma diversidade maior do que a visível nas sociedades, constituído por grupos que reclamam por mais espaços. Esses novos movimentos sociais atuam em estruturas descentralizadas e não hierárquicas. Por isso há uma preferência por ações políticas não intitucionalizadas e dirigidas à opinião pública, com a utilização do veículos de comunicação de massa, como analisa Santos(2001). As características de novos movimentos são: atuação independente dos partidos políticos, democratização decisórios de acesso da política, direito à identidade e autonomia e autogestão das unidades sociais. Eles se afastam dos partidos políticos e lutam pela transparência, pela autonomia e pela autogestão.