A Educação dos Filhos e o Matrimônio

Por Joacir Soares d'Abadia | 29/04/2009 | Filosofia

Joacir Soares d'Abadia[1]

O livro: "La educación de los hijos y el Matrimonio" de Juan Crisóstomo (São João Crisóstomo) está divido em três partes: um tratado e duas homilias.

No tratado "Sobre la vanagloria y cómo deben los padres educar a sus hijos" João Crisóstomo aborda em sua analise três temas fulcrais: a vanglória; a educação dos filhos; e o Matrimônio.

Para ele a vanglória aniquila a vocação transcendental do homem, chamado por Deus a desapegar-se do terreno e o efêmero para acender à glória eterna[1].

Por outro lado, as homilias "Homilia XX sobre la epístola a los Efesios" (5, 22-33) e "Homilia XII sobre la epístola a los Colosenses" (4, 12-18) são apresentadas em caráter de discurso. Discurso esse que pode ter sido pronunciado em um auditório pela forma de começar e também pela menção que se faz com a atualidade do seu tempo.

O próprio São João diz qual é a finalidade das homilias: limpar a fundo o matrimônio; para elevá-lo à nobreza que lhe é próprio e para tapar a boca dos hereges.

O assunto que é explanado na primeira homilia faz referencia ao "amor dos cônjuges" observando o "amor do marido e o temor da esposa". Depois, na segunda homilia, João versa, sobretudo, a partir do "Matrimônio estabelecido por Deus". Aqui contrapõe, mais notoriamente quatro temas, sendo dois que deprecia o valor do Matrimônio estabelecido pelo Criador e os outros dois que exalta o mesmo. Assim, a estrutura dos temas segue com as contraposições dos temas do seguinte modo: "perversão dos festejos núpcias" verso "o mistério do Matrimônio" e o "descrédito do Matrimônio" contrapõe-se com a "grandeza das bodas".

A linha condutora da argumentação de João parte de uma análise da educação em sua infância, porque se deve dar uma importância de primeira ordem ao trabalho pedagogo dos pais. Com isso, recomenda também que os pais devem ser os primeiros promotores dos valores cristãos em sua casa, transmitindo a seus filhos uma educação regulada sobre as virtudes, senão "Tais pais", diz o santo, "são piores que assassinos"[2].

A educação é, portanto, formar nas virtudes cristãs para que nunca um filho pratique o vício, diz. Segue ensinando que a educação dos filhos mais do que nunca se pautará de uma vivência no próprio mundo, formando assim não somente bons cidadãos senão que seja cristãos formados sobre os valores cristãos para fundarem suas famílias por meio do matrimônio. Caso isso não aconteça, ao que a família terá é a vanglória apresentada através de vária facetas.

Ela é vista como algo individual que não passa de um servir-se do outro para um conforto desprezível. Neste sentido existem realidades que são desprezíveis e outras que são necessárias na vida dos homens.

As coisas que são necessárias, diz Crisóstomo, servem para cada homem viver sua vida sem ter que usurpar a vida do outro. Elas, porém, não dão um conforto a um homem ou classe de homens, senão que ela se torna necessária até mesmo para a substância do ser humano.

Por outro lado, existem as coisas que são desprezíveis, quer dizer, não tem uma utilização na vida prática do homem. João dizia que "há coisas necessárias sem as quais não se pode viver, como o produto da terra, que é uma coisa necessária e se esta não traz fruto não é possível viver". Assim sendo, o homem se encaminha para a sua dignidade.

Ter dignidade não é ter muitas coisas, "possuir muitas coisas, isto é, realmente, uma grande falta de dignidade" (n. 14). Dignidade, então "é revertir-se de belas ações" (n. 15). Desta forma, para se educar os filhos o que precisa é de dignidade e valores.

Para se educar um filho não necessita de muitas coisas e nem mesmo adorná-lo e envolvê-lo em vestimentas de ouro. O que é indispensável na vida de uma criança é um pedagogo, um mestre que possa lhe educar através de valores e virtudes humanas, ou seja, "um pedagogo consciente é o que se necessita para educar a criança e não ouro" como disse João (n. 16).

O jovem para o santo deve ser educado desde o mundo. O mundo é o que ensinará, com a ajuda de um mestre, o jovem ser piedoso. Porém, isso se faz com os ensinamentos que o moço deve receber na infância.

A base do que o jovem construirá no futuro em relação à sua formação está naquilo que recebeu em sua meninice. Nesse sentido, não carece educar o adolescente em um deserto ou querer que ele escolhe a vida dos monges é preciso que o moço seja formado dentro de sua família e, visceralmente, que esteja no mundo adquirindo as virtudes. João completa: "Se tem um filho virtuoso, tu és o primeiro que goza com sua boa qualidade e logo Deus" (n. 20).

Em relação à dignidade e os valores que o jovem deve receber, o santo incita um estudo fazendo analogia com as "cinco portas da cidade".

As muralhas e as portas da são os quatro sentido. Quatro sentidos? Pode se perguntar. Mas João diz que se quiser pode considerar o tato. Todavia, as portas são: os olhos; a língua; o ouvido e o olfato.

Dessas "portas", fala-se com bastante ímpeto da língua e do ouvido. A língua, pois, é muita amiga do relacionar-se. Deve equipá-la com portas e trancas, diz. As portas devem conter pedras preciosas e a tranca desta porta seja a cruz de Cristo.

Pela porta só é permitida a entrada de uma pessoa e nenhuma mais que Cristo. Só esse é o Rei que pode adentrar pela porta adornada com pedras preciosas. O ouvido, por sua vez, é uma porta que tem cidadãos. Nessa porta os cidadãos vão do interior ao exterior e nada entra por ela. Portanto, ao se falar destas portas João sublinha a cautela em relação a formação dos jovens.

Eles não podem receber uma formação que seja de "má influência" (cf. n. 37). Os princípios devem ser pautados sobre bons conceitos. Os jovens, pois, devem ouvir coisas que lhes fazem bem, jamais é permitido dizer: "alguém fez tal coisa". Porque o jovem precisa receber um nome que lhe inspire a vivência dos valores cristãos.

Isso para João implica dar-lhe um nome de algum dos apóstolos, dos santos ou dos mártires. Através do exemplo destas egrégias pessoas, o jovem desejará honrar teu nome. Por outro lado, quando um adolescente recebe o nome de um pai, avó, ou bisavó e descobre que aquele de quem inspirou seu nome era alguém sem prestígio e causa de vergonha para as pessoas, até mesmo ele sentirá vergonha por levar um nome desprestigiado.

Com efeito, exorta João: "que ponhais a vossos filhos nomes de santos" (n. 49) e ressalta a grande importância de saber educar bem os filhos para que eles não venham a serem atingidos pelo vício, senão, pelas virtudes.

Para ele a virtude está ligada propriamente ao domínio de si mesmo. E uma forma de virtude que é apresentada como um domínio da própria pessoa é a virtude da castidade. Em contraposição tem-se o vício que é a insolência, a luxúria. Esta luxúria é manifestada através do desejo físico que é sanada, segundo São João, com a distração. Segue dizendo que as formas para abrandar estas perversidades estão nas alternativas de diversões, como por exemplo, ir ao teatro, cinema ou coisa do gênero. A distração do desejo deve ser feita tanto do que se vê como também do que se ouve, ressalta. Desta forma, é proposto para o jovem que ele se preserve de uma vivência desenfreada de sua sexualidade.

Diante desse fato, a forma apresentada é o matrimônio. Porque quando se têm os valores permeando a vida dos jovens, esses, sem dúvida, vão perceberem a importância do matrimônio "chegando a unir-se virgem com virgem" (n. 81). Com isso, adverte o amor que se necessita colocá-lo em primeiro plano, possibilitando sempre mais o respeito de um rapaz para com uma moça que, no plano de Deus, torna-se uma benção.

Na medida que isso acontece, o jovem poderá fazer "elogios a uma moça por sua beleza" (n. 82), desde que o elogio não venha ser um perigo para ambos. Com efeito, João diz que é importante elogiar as pessoas, mas se deve ter bastante prudência ao soltar um elogio a uma jovem.

Pela prudência é que o jovem irá conseguir inteligência e procurará sempre mais afastar-se da preguiça por que "o temor de Iahweh é princípio de conhecimento: os estultos desprezam sabedoria e disciplina" (Pr 1, 7). Por que são estes princípios que fazem do homem um amável inteligente.

São João faz seu primeiro resumo falando tanto para o rapaz quanto para a moça que suas formações intelectuais devem ser orientada por pedagogos ou mestres competente para tal fim.

"Tratando-se de dar ao filho um educador, aceitamos o primeiro que apareça, sem critério algum. E, no entanto, não existe arte mais importante do que a educação!

Qual é a arte que se pode comparar com a que tem pôr finalidade dirigir a alma e formar o espírito e o caráter de um jovem? Quem possui qualidade para isso, deve consagrar-se a essa missão com maior empenho do que qualquer pintor ou escultor[3]".

Diz que a educação da moça precisa ser acompanhada pela mãe ou mesmo que seja esta a própria mestra de sua filha. Porém, é colocada para que a mãe ao educar sua filha tenha bastante cuidado para não adorná-la com vulgaridade. Mas antes, é preciso que a mãe adorne sua filha com uma educação fundada nos valores da Igreja e que lhe mostra o valor da virgindade. O santo conclama os jovem dizendo para ele reprimir todo tipo de desejo físico que possam turvar seu amor para com Deus afim de agradá-Lo.

Homilia XX sobre a Epístola ao Efésios (5, 22-33)

A união conjugal para João deve se pautar sobre o amor e o afeto. Um casal jamais pode viver em contínuas brigas, porque o amor de um para com o outro ficaria abalado e o afeto aos poucos iria se esvaindo. Assim, interroga: "que tipo de prazer experimenta o próprio marido vivendo com sua esposa como uma escrava e não como uma mulher?" (n. 2).

Segue dizendo que "não pede a tua mulher o que não tem". Isso ele disse para que o homem pudesse ver a beleza de sua esposa ao longo da vivência conjugal e não somente olhá-la com os olhos que vêem somente a formosura, pois um dia ela irá se envelhecer, e se nesse momento o amor não prevalecer os males vão surgir como "o orgulho, a presunção e a arrogância" (n. 2). Porém o amor que começa de forma conveniente permanece com força porque nasce da beleza da alma e não do corpo.

Todavia, o matrimonio não venha da paixão dos corpos, senão que é todo espiritual, unida a alma a Deus por um vínculo inefável que só Ele conhece. A preocupação de Paulo (1 Cor 6, 17) não está em unir carne e espírito, antes, se preocupa por unir carne com carne e espírito com espírito .

Quando se ouve falar de temor, que seja um temor apropriado para uma mulher livre, não como o de uma escrava. Porque é o teu corpo. Casa hoje assim, comete ultraje contra ti mesmo desonrando teu próprio corpo, orienta o nosso santo.

Ele persiste em dizer que quando fala sobre matrimonio jamais quer acusar as pessoas que estão unidas em segunda núpcias: "Deus me livre! Porque também o Apóstolo o consentiu (Rm 7, 3; 1 Cor 7, 39)". Porém, diz, "não tem remédio".

Em casa a esposa é uma segunda autoridade. São João Crisóstomo diz que é o marido que tem o encargo daquilo que é próprio de Cristo, não com a obrigação de amor somente, senão também de educar. Com efeito, o marido não só deve converter-se em artífice dessa beleza deixando todas as imperfeições de sua alma, isso, sim, é educar a esposa segundo o santo.

"Falar de amor" é a realidade mais prática de convencer quem escuta para que acolha o que se disse. Então, propõe que se prepare imediatamente o caminho para falar de filosofia e criticar a riqueza dando algum rodeio. Caso contrário "isso não nos preocupa: só queremos que aprenda a falar bem [refere-se à educação recebida do pedagogo ou do mestre] e seja capaz de adquirir riquezas[4]".

Nenhuma riqueza limpa os pecados. Não tem nada que limpa o homem dos seus males como as lágrimas. Estas para o santo é o arrependimento, a reconciliação com o próprio Deus. Desta maneira, diz que a prostituição (adultério) é a perdição do matrimônio, visto que na maioria das vezes o homem não se deixa levar pelas lágrimas, ou seja, não arrepende de sua perversidade contra sua fiel companheira.

O que ressalto nesta apreciação é a atualidade da tratado. Nele é possível perceber que São João está dirigindo sua mensagem não para pessoas que ele jamais conhece, senão que fala para quem conhece bastante: os jovens. Esses, para São João, são pessoas que devem receber uma formação intelectual orientada por pedagogos ou mestres competente para tal fim, a partir de princípios adquiridos na própria casa.

Com isso, posso, em síntese, dizer que o que mais gostei foi a atualização do tratado falando sobre a educação dos filhos e também da forma que foi colocado o tema do Matrimônio. Ele deu uma conotação transcendental ao assunto dizendo que não venha da paixão dos corpos, senão que é todo espiritual, unida a alma a Deus por um vínculo inefável que só Ele conhece.

O que aplico na minha vida e no meu futuro ministério não é tanto a necessidade de se ter um bom mestre para a formação intelectual dos jovens, mas a didática que foi usada para ensiná-los sobre os valores familiares, a dignidade humana e, por fim, o matrimônio. Creio, em suma, que da mesma forma que esses temas eram importantes naquela época, hoje eles são, mais do que válidos, urgentes. Porém, agora com a modernidade se tem mais dificuldades para transmiti-los, porque cada vez mais os homens vão se distanciando dos elos familiares, dos valores humanos e principalmente das responsabilidades que lhes comprometem por toda a vida como o matrimônio.


[1] Cf. infra De inani gloria 15, nota 24.

[2] Cf. Adv. Appugn. Vit. Mon. 3, 4; PG 47, 356.

[3] Homilia 59 sobre o Evangelho de São Mateus: PG 58, 580. 584.

[4] Homilia 59 sobre o Evangelho de São Mateus: PG 58, 580. 584.


[1] Estudou Filosofia e cursa Teologia no SMAB. Foi finalista no concurso internacional de filosofia da Revista Antorchacultural em 2007 e 2008. Em 2007 Com a obra "Riqueza da Humanidade..." e em 2008 com a obra "Opúsculo do conhecer". tem vários artigos publicados em Jornais tanto de Brasília como de Formosa Goiás; além de manter mensal a coluna "Filosofando" do jornal "Alô Vicentinos".