A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO O EXERCÍCIO DA CIDADANIA E DA SUSTENTABILIDADE

Por Nycolle Braz da Silva | 09/04/2018 | Educação

Falar de Educação Ambiental nos dias atuais é paradoxal. Se por um lado falam-se demais em Educação sem se discutirem seus verdadeiros pressupostos teóricos, por ouro deixa-se de falar sobre ela profundamente, e de forma impactante para as gerações de agora e de amanhã. Para quê então, Educação Ambiental? Se partirmos do princípio de que a educação é lato sensu, uma forma de resolver problemas pode-se definir grosso modo, a Educação Ambiental como sendo, fundamentalmente, uma “educação para a resolução de problemas”, esta educação parte, de modo geral, de bases filosóficas do holismo,da sustentabilidade e do aprimoramento”.Segundo Leff:

“A crise ambiental não é crise ecológica, mas crise da razão. Os problemas ambientais são, fundamentalmente, problemas do conhecimento. Daí podem ser derivadas fortes implicações para toda e qualquer política ambiental – que deve passar por uma política do conhecimento –, e também para a educação. Apreender a complexidade ambiental não constitui um problema de aprendizagens do meio, e sim de compreensão do conhecimento sobre o meio” (Leff, 2001).

Desenvolvimento sustentável segundo a Comissão mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento (CMMAD) da organização das nações unidas, é um conjunto de processo e atitudes que atende as necessidades presentes sem comprometera possibilidade de que as gerações futuras satisfaçam as suas próprias necessidades.

     Para Saviani a existência humana não é garantida pela natureza, não é uma dádiva natural, mas tem de ser produzida pelos próprios homens, sendo, pois, um produto do trabalho, isso significa que o homem não nasce homem. Ele forma-se homem. Ele não nasce sabendo produzir-se como homem. Ele necessita aprender ser homem, precisa aprender a produzir sua própria existência. Portanto, a produção do homem é, ao mesmo tempo, a formação do homem, isto é um processo educativo.A origem da educação coincide,então,com a origem do homem mesmo.

     Ainda sobre este contexto, diríamos que, no ponto de partida a relação entre trabalho e educação é uma relação de identidade. Os homens aprendiam a produzir sua existência no próprio ato de produzi-la. Eles aprendiam a trabalhar trabalhando. Lidando com a natureza, relacionando-se uns com os outros, os homens educavam-se e educavam as novas gerações. A produção da existência implica o desenvolvimento de formas e conteúdos cuja validade é estabelecida pela experiência, o que configura um verdadeiro processo de aprendizagem. Assim enquanto os elementos não validados pela experiência são afastados, aqueles cuja eficácia a experiência corrobora necessitam ser preservados e transmitidos às novas gerações no interesse da continuidade da espécie.

     São grandes os desafios a enfrentar quando se procura direcionar as ações para a melhoria das condições de vida no mundo. Um deles é o relativo a mudanças de atitudes e comportamentos na interação com o patrimônio básico para a vida humana: o meio ambiente. A problematização e o entendimento das consequências das alterações no meio ambiente permitem compreendê-las como algo produzido pela sociedade, em determinados contextos históricos e comportam diferentes caminhos de superação. Por isso, a solução dos problemas ambientais tem sido considerada cada vez mais urgente e desperta para um grande desafio: criar uma sociedade ambientalmente sustentável.

     Para Sato (1996), mundialmente, a definição mais conhecida de Educação Ambiental é a Conferência de Tbilisi (1977) que a vê como um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento de habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio para entender e apreciar inter-relações entre seres humanos,sua cultura e seu meio biofísico. A Educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida.

Segundo Batisse, pode-se afirmar que a Educação Ambiental constitui uma abrangente de educação que propõe atingir todos os cidadãos, através de um processo pedagógico participativo, procurando incutir no educando uma consciência crítica sobre problemática ambiental, comprometendo-se como crítica a capacidade de captar a evolução de problemas ambientais.

     Philippe Perrenoud, em seu livro Construir as competências desde a escola, afirma-se que a “abordagem por competências junta-se às exigências da focalização sobre o aluno, da pedagogia diferenciada e dos métodos ativos”(1999,p.53).Sendo assim entendo que seja possível postular uma educação que fomente a autonomia intelectual e moral através justamente da transmissão das formas mais elevadas e desenvolvidas do conhecimento socialmente existente.

Ainda sobre o processo pedagógico participativo Perrenoud afirma na entrevista que deu à Revista Nova Escola:

“Para desenvolver competências é preciso,antes de tudo, trabalhar por problemas e projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja na zona urbana ou rural. Os professores devem parar de pensar que dar aulas é o cerne da profissão. Ensinar, hoje, deveria consistir em conceber, encaixar e regularsituações de aprendizagem seguindo os princípios pedagógicos ativos e construtivistas. Para os professores adeptos de uma visão construtivista e interacionista de aprendizagem trabalhar no desenvolvimento de competências não é uma ruptura”.(Perrenoud, 2000)

Numa perspectiva, construtivista, a finalidade última da intervenção pedagógica é contribuir para que o aluno desenvolva a capacidade de realizar aprendizagens significativas por si mesmo numa ampla gama de situações e circunstâncias, que o aluno. “aprenda a aprender”. (Coll, 1994,p.136)

Segundo Moura (2007), na discussão sobre alguns eixos norteadores para a EP técnica de nível médiointegrado ao ensino médio, pode-se articular alguns pressupostos significativos dentre eles o princípio de que ”homens e mulheres como seres históricos sociais são capazes de transformar a realidade”.

Nesse contexto, o homem, portanto, é capaz de se produzir esse modificar na relação com os demais seres humanos, em movimento dialético sujeito/objeto. Criam e recriam, pela ação consciente do trabalho, sua própria existência. (LUKÁCS, 1981, caput SILVA JÙNIOR, 2001).

     Ainda em Moura (2007) As Diretrizes Curriculares Nacionais explicitam como princípios, dentre outros, a interdisciplinaridade, a contextualização, e a flexibilidade, os quais devem estar contemplados na formação e no desenvolvimento do projeto pedagógico de cada instituição de ensino. Entretanto, é necessário que cada instituição analise ,critique, sintetize e ressignifique o que se propõe nessas diretrizes, à luz de teorias educacionais e das visões dos sujeitos envolvidos no processo de ensinar a aprender.

Nessa perspectiva, a interdisciplinaridade implica uma mudança de atitude que se expressa quando o indivíduo analisa um objeto a partir do conhecimento das diferentes disciplinas sem perder de vista métodos, objetivos e autonomia próprios de cada uma delas.

     A educação, que é o alicerce do Estado Democrático de Direito, é um direito público subjetivo do cidadão, por intermédio do qual ele assume a plenitude de sua dignidade e resgata a cidadania, figurando no rol dos direitos humanos, reconhecidos pela comunidade internacional. É a forma, ainda, de atingir diversas finalidades, como saúde pública.É um processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política.

Nessa mesma linha de raciocínio Ivanaldo Soares da Silva Junior enfatiza que:

     “A educação ambiental deve se constituir em uma ação educativa permanente por intermédio da qual a comunidade têm a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados e de ditas relações e suas causas profundas. Este processo deve ser desenvolvido por meio de práticas que possibilitem comportamentos direcionados a transformação sopradora da realidade atual, nas searas sociais e naturais, através do desenvolvimento do educando das habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.”

A Constituição Federal em seu artigo 225 diz que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para aspresentes e futuras gerações. Entretanto não é o que se vê nos dias atuais em que os noticiários dão conta da devastação do meio ambiente, como os desmatamentos, poluição dos rios e do ar ocasionado pelo crescimento econômico desordenado.

A Educação Ambiental está presente na atenção dedicada ao aluno carente, aluno problema, aluno desistente. Ela está no compromisso que assumimos com o ser humano que está aprendendo. A Educação Ambiental não tem regras fixas, é evolutiva, está constantemente sendo reformada. Ela é conteúdo e aprendizado, é motivo e motivação, é parâmetro e norma. Vai além dos conteúdos pedagógicos, interage com o ser humano de forma que a troca seja uma retroalimentação positiva para ambos. Educadores e educadoras ambientais são pessoas apaixonadas pelo que fazem, e para que o respeito seja o primeiro sentimento motivador das ações é preciso que a escola mude suas regras para que se faça educação ambiental de uma forma menos "marketeira" e mais humana.

Nycolle Braz da Silva

Professora de Geografia

Pós graduada em Gestão e Educação Ambiental