A DIVERSIDADE HUMANA SOBRE A ANÁLISE DA TEORIA SOCIAL
Por Thaisy de Paula Dias | 22/09/2016 | DireitoRESUMO
O presente artigo tem como principal objetivo apresentar a diversidade atrelada ao Serviço Social na visão de Marx e Gramsci atrelando os movimentos sociais como espaços da expressão da diversidade dentro da unidade de cada movimento e intervenção do assistente social. Como metodologia utilizou-se a revisão bibliográfica. Como resultados destaca-se que os movimentos sociais na sua unidade trazem nas suas lutas e reivindicações a diversidade existente na nossa sociedade seja nas formas de lidar com as diferenças de etnias, classes social, crenças, e gênero trazendo isso para a pratica profissional do Assistente Social sendo ao mesmo tempo um desafio à pratica lidar com as diversidades mas se configurando como um avanço de conquistas na garantia dos direitos sociais e fortalecimento da identidade profissional.
INTRODUÇÃO
Marx trabalha a questão da diversidade do ser humano, considerando a morte a única coisa em comum entre os seres humanos e que ela pode chegar de forma diferente, mas no final é sempre morte. Outro fato importante para ser lembrado é que na época de Marx não existia a diversidade de profissionais como na contemporaneidade.
Também sendo abordado no presente artigo as diferenças sócio culturais bem como os movimentos sociais clássicos e contemporâneos, por exemplo: a CUT – Central Única dos Trabalhadores, estudantis, MST – Movimento Sem Terra, feministas, indígenas, LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, negros, meio ambiente, entre outros e estes como espaços de expressão e manifestação da diversidade, que são expressões do real e do concreto vivido por esse segmentos, Marx afirma que “O concreto é concreto por ser a síntese de múltiplas determinações, logo, unidade na diversidade” (MARX, 1983, p. 218-219 apud FRANÇA e LUCENA, 2009, p.2) constituindo-se e moldando desta forma a identidade destes movimentos e também da profissão.
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CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS.
Os movimentos sociais sempre tiveram uma identidade a qual busca a inclusão social em vários segmentos, alem da garantia de direitos da população, com vistas à igualdade com justiça social, fraternidade atrelada à solidariedade, bem como a liberdade com vistas à autonomia.
São muitos os movimentos sociais existentes desde a Revolução Industrial até a contemporaneidade, e entendemos que seu surgimento se deu devido á várias desigualdades sociais que acarretaram muitas expressões da Questão Social na sociedade, ou seja, manifestações do real do cotidiano de cada sujeito, com base nisso destacamos alguns movimentos sociais, mais comentados e significativos da história.
Em sua gênese os Movimentos Sociais, no século VXIII, a partir da revolução industrial na Inglaterra os trabalhadores revoltados com a exploração do trabalho a qual a carga horária era excessiva, exploração das crianças e mulheres, além da insalubridade no local de trabalho. (MONTAÑO. 2011).
Por volta de 1820, em Londres, cidade mais industrial da Inglaterra, a idade média de vida dos operários era de 21 (vinte e um) anos. Os patrões viviam três vezes mais. Crianças de 5 (cindo) anos já trabalhavam em fabricas, nas piores condições de dignidade humana (Giannotti, 2007, p. 29; ver Marx, 1980; Engels, 2008).
Com o crescimento industrial foram-se criando máquinas e em consequência disso os trabalhadores foram sendo substituídos, sendo assim começaram a se revoltar com as fábricas e indústrias, ou seja, no concreto de sua pratica profissional, no real vivido e experiênciado por cada um, de início a revolta era individual, visto que cada um tem interesses e necessidades diferenciadas, porém aos poucos, ampliando-se para a coletividade criando-se uma consciência de classe em consequência uma identidade de classe. Conforme Marx e Engels no livro o Manifesto Comunista:
Inicialmente, os operários lutam individualmente; depois, os operários de uma fábrica, em seguida os operários de um ramo industrial numa localidade lutam contra cada um dos burgueses que os exploram diretamente. Não dirigem-nos contra os próprios instrumentos de produção, destroem as mercadorias estrangeiras concorrentes, incendeiam as fábricas, procuram recuperar a posição perdida do trabalhador medieval (1998, p.14).
Ou seja, com isso os trabalhadores/proletariados unidos através de movimentos começaram a destruir as máquinas sendo caracterizado como movimento do Ludismo[1], desencadeando ações violentas, pois acreditavam que a causa do desemprego eram as máquinas e o avanço da tecnologia.
Através do movimento iniciaram-se em 1824 na Inglaterra as organizações sindicais e a negociação sobre os salários e horas de trabalho para amenizar a luta isolada dos operários que expressam a identidade desta categoria com sua luta por direitos sociais/trabalhistas que lhe eram negados. Esse movimento sindical se expandiu para outros países como: França, Alemanha e Estados Unidos.
Com essa conquista ocorreu à diminuição da carga horário de trabalho passando de 16 horas para 8 horas, os níveis salários e descanso salarial remunerado, bem como a proteção contra acidente.
No Brasil, foi na cidade de São Paulo, que se iniciaram as primeiras manifestações dos trabalhadores, que em busca de seus direitos e melhores condições de trabalho se uniram e iniciaram discussões, negociações e paralizações na busca de avanços nas leis trabalhistas e também de saúde e cidadania. Neste período, foram realizados estudos sobre os movimentos sociais em que alguns deles foram sistematizados num debate ocorrido no encontro do Centro de estudos rural e Urbano da USP – Universidade de São Paulo, em 1979 (GOHN. 1997).
No ano de 1983 constitui-se a CUT – Central Única dos Trabalhadores inspirada no sindicato de classes. Independente do Estado à luta sindical deveria ter sido para construir o socialismo, porém serviu como luta reivindicatória e negociadora ocorrida através do Congresso Nacional sendo então realizada a aprovação dos estatutos que buscavam “uma sociedade sem exploração onde impere a democracia política, social e econômica” (CUT apud Matos, 2009, p. 123).
Outro movimento que tem em seu bojo a diversidade e que traz ao olhar da sociedade as diferenças sociais no acesso à terra e desta como forma de empoderamento e de cidadania é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ou MST que surgiu em 1984 quando ocorreu o primeiro encontro do movimento no município de Cascavel, no Estado do Paraná. Na tentativa de discutir e mobilizar a população em torno da concretização da Reforma Agrária que desde então se confunde com a história do movimento no Brasil. No Brasil a reforma agrária surgiu porque existia após Brasil colônia a divisão da terra, a qual foi dividida de forma desigual após a ditadura militar.
O MST é a referências central dos principais órgãos internacionais que congregaram organizações camponesas, tais como a Via Campesina –organização internacional que realiza campanha global pela reforma agrária e articula diversos movimentos do campo que lutam por soberania alimentar e políticas agrícolas adequadas à pequena produção [...]MONTAÑO, 2011, p.278-279).
Nesta mesma perspectiva temos ainda os movimentos dos excluídos do meio urbano e rural como os movimentos sem tetos (MTST) [2] e Movimentos trabalhadores Desempregados (MTD) [2] e Movimentos trabalhadores Desempregados (MTD) [3]. Embora estes movimentos representem diversidades e formas de enfrentamento no combate ao tratamento desigual no acesso as condições mínimas de dignidade humana como trabalho, habitação, educação, saúde, por parte das políticas sociais e do Estado, temos outros movimentos sociais que nos trazem as diversidades culturais e identitários
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OS MOVIMENTOS IDENTITÁRIOS E CULTURAIS
Dos quais fazem parte os movimentos de gênero, afro-brasileiros, indígenas, dentre os quais temos um dos mais importantes os Zapatismo,[4] este movimento, teve influências na derrubada do presidente do Equador em 2000, e deram base para a renúncia do presidente da Bolívia. Bicalho cita Honneth: (2010 p, 34) “O movimento Indígena no Brasil só passa a ser pensado de maneira sistêmica a partir dos anos de 1970, quando se pode falar numa consciência de luta social em formação, no sentido de uma resistência.”
Alem desses ainda temos os movimentos dos jovens, idosos entre outros. Esses movimentos são chamados de identitários e culturais devido a seus participantes possuírem uma identidade centrada em fatores biológicos, étnicos/raciais e devido a ser geracional, ou seja, por fazer parte de um movimento em que seus membros possuem idades semelhantes.
Segundo Montaño (2011, p. 282) o processo de constituição das lutas e organizações de combate à discriminação racial na América Latina e no Brasil, que se volta a descolonização dos países Africanos, no combate à apartheid na África do Sul, na busca dos direitos civis dos negros, nos Estados Unidos, destacamos pacifistas como Marthin Luther King, assassinado o qual desencadeou uma luta em vários países e mais tarde foi criado o Partido dos Panteras Negras[5] para autodefesa. Que no Brasil foram identificados no século XIX em jornais voltados a população negra:
[1] Na Inglaterra, onde o emprego da máquina era mais generalizado, surgiu o Ludismo, movimento que recebeu o nome de seu líder, Ned Ludd. O sentimento de insegurança e os terrores da miséria convenceram Ludd e seus seguidores da maledicência da máquina, considerada a inimiga principal. Podemos ter uma ideia do que foi esse movimento, por uma carta ameaçadora que Ludd endereçou a um certo empresário de Hudersfield, em 1812: "Recebemos a informação de que é dono dessas detestáveis tosquiadoras mecânicas. Fica avisado de que se elas não forem retiradas até o fim da próxima semanal eu mandarei imediatamente um de meus Representantes distraí-las[...] E se o Senhor tiver a imprudência de disparar contra qualquer dos meus Homens, eles têm ordem de matá-lo e queimar toda a sua Casa". (Citado por RUDÉ, G. op. cit. p. 92).
[2]MTST: é um movimento que organiza trabalhadores urbanos a partir do local em que vivem: os bairros periféricos.
[3]MTD: O Movimento dos Trabalhadores Desempregados “Pela Base” é um movimento social que busca, a partir da mobilização do povo organizado, lutar na reivindicação dos direitos e das necessidades mais imediatas do nosso povo, seja na educação, saúde, cultura, trabalho, etc.
[4] Zapatismo composto por sua maioria de indígenas de várias etnias (Montaño 2011, p.281).
[5]Panteras Negras: O Partido dos Panteras Negras para Autodefesa, conhecido como o Partido dos Panteras Negras, foi fundado em 1966 por Huey Newton e Bobby Seale.Esses dois revolucionários criaram a organização nacional como forma de combater coletivamente a opressão dos brancos. Depois de ver os negros sofrerem constantemente com a tortura praticada por policiais em todo o país. (WORKNEH; FINLEY. 2016. p.01).
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