A Desigualdade Romantizada

Por Rodrigo Cesar Firmino | 31/05/2010 | Sociedade

A desigualdade socioeconômica que assola o Brasil desde sua formação é uma das mais expressivas do mundo. Mas é preciso que a análise e enfrentamento desse problema não partam de interpretações simplórias do mesmo.
Faz parte do senso comum "vilanizar" cegamente os ricos, quando se trata das desigualdades. Aproveitando-se disso alguns teorizam sobre a culpabilidade dos ricos, como se estes formassem um grupo homogêneo, no continuísmo dessa situação; e por vezes ainda apelam aos ricos para que ponderem e revertam essa situação. Ao fazer isso não enxergam, ou fingem não enxergar, que essa não é uma boa estratégia de enfrentamento, e que serve apenas para cultivar uma perspectiva empobrecida da realidade.
A concentração de renda pelos ricos não deve ser vista como uma postura desumana, pelo contrário, ela é bastante humana. Prova disso é criação da propriedade privada desde o início da humanidade, mostrando que a questão da desigualdade econômica não é provocada pelos ricos e nem pelo capitalismo.
O responsável por promover uma maior igualdade social é o Estado, em sua dimensão democrática contemporânea, que deve articular diversos fatores para minimizar as desigualdades. Esses fatores circulam entre educação, emprego e uma legislação apropriada as necessidades sociais e à cultura do país; funcionando como agentes socializadores capazes de criar melhores condições para a manutenção da dignidade humana.
É claro, no entanto, que esse processo é dificultado quando entra em cena o conceito de alienação, que concede inércia, diante do desconhecimento, a grande parte da população, que deveria fazer valer a cidadania de que tem direito e fiscalizar as ações dos que administram o Estado. Nesse sentido, a mídia e todo material divulgado através de artigos, livros, entre outros; agem ora como alienantes, ora como conscientizadores.
É importante, porém, que não se tome toda atividade desvinculada de teor diretamente político como alienante. Mas aqueles que se propõem a falar de questões sociais e políticas e o fazem de forma rasa, apontando os ricos ou o capitalismo como culpados, simplificam demasiadamente um grupo e um sistema. Esses sim alienam, propagando uma visão política romantizada e cristalizada, colaborando para a manutenção de frases como "todo político é desonesto" e "eu não gosto de política".
Talvez seja pedir muito, mas seria muito bom ter pessoas em nosso país dissertando sobre problemas socioeconômicos de forma mais realista. Esse seria o primeiro passo para levar o povo a se enxergar não apenas como produto, mas como produtor da realidade em que vive.