A desconstrução e reconstrução dos jogos e das brincadeiras no contexto atual

Por Leandro Renan da Silva Miller | 30/09/2014 | Educação

A desconstrução e reconstrução dos jogos e das brincadeiras no contexto atual. Os jogos e as brincadeiras acompanham a trajetória histórica do ser humano desde os primórdios, vários relatos apontam a utilização destes elementos da cultura corporal pelo homem. Os jogos e as brincadeiras possuem papel relevante no desenvolvimento do ser humano pois envolve aspectos diretamente ligados ao seu modo de viver: movimento, sentimento, pensamento e relacionamento. A contribuição desses elementos têm tanto destaque no processo evolutivo do homem que o filósofo grego Platão chega afirmar que “você pode descobrir mais sobre uma pessoa em uma hora de brincadeira do que um ano de conversa”. O jogo (brincar e jogar são sinônimos em diversas línguas) é uma invenção do homem, um ato em que sua intencionalidade e curiosidade resultam num processo criativo para modificar, imaginariamente, a realidade e o presente (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Sendo assim Brasil (2002, p.209-210) ainda define os jogos como: Os jogos podem ter maior flexibilidade nas regulamentações, que são adaptadas em função das condições de espaço e material disponíveis e do número de participantes, entre outros. São exercidos em caráter competitivo, cooperativo ou recreativo em situações festivas, comemorativas, de confraternização ou, ainda, no cotidiano, como simples passatempo e diversão. Assim, incluem-se entre jogos as brincadeiras regionais, os jogos de salão, de mesa, de tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis de modo geral. Mas, ao longo do tempo alguns aspectos relacionados as brincadeiras tem se perdido por conta do processo de desenvolvimento urbano e por determinados acontecimentos entre os quais podem se destacar o investimento na formação intelectual da criança e a falta de segurança pública. Também, a falta de espaço e de vivência, tem sido refletido diretamente na ação das crianças durante a vivência das brincadeiras, seja num espaço informal, seja num espaço formal, neste caso a escola. A compreensão dos jogos e das brincadeiras tem se tornado um imbróglio a medida que as crianças não se atentam ao real objetivo da atividade. A falta de concentração e atenção podem ser algumas das possíveis justificativas, mas o que leva a esse processo de desconstrução dos jogos e das brincadeiras no contexto atual? Este estudo busca abrir um discussão no cenário da Educação Física Escolar para compreender este contexto sobre a desconstrução e a reconstrução dos jogos e brincadeiras no dia a dia da criança. Observa-se a desconstrução das brincadeiras durante a aplicação da atividade pique pega percebe-se que os alunos que configuram como fugitivos se deixam propositalmente ser “pego” pelo aluno nomeado como pegador. O mesmo acontece em outros momentos lúdicos como nas atividades de pique-cola e pique alto. Prova disso é que ao compreender a dinâmica destes jogos a criança cria uma estratégia de correr próximo ao pegador para facilitar sua captura ou então observa o pegador correndo na sua direção e “se deixa” pegar. Isso leva ao professor rever a dinâmica das brincadeiras a fim de criar novas estratégia para as atividades e novas perspectivas para a criança. Percebê-los durante o ato de brincar facilitará sua análise acima do comportamento que eles refletem na atividade. Variações que coloquem em conflito os diversos jeitos de jogar podem ser úteis para estabelecer contradições e gerar tomadas de consciência, mas podem não ser suficientes. Por isso, o professor deve adotar outras medidas, como estabelecer conversar entres os alunos cuja finalidade seja levá-los a buscar uma forma de jogar melhor. (FREIRE e SCAGLIA, 2009). Atualmente as crianças têm tido a dificuldade de assimilar de modo claro o papel de cada personagem durante um jogo ou uma brincadeira, por isso resgatar o faz de conta e estimular o imaginário nas atividades pode ser uma alternativa para a compreensão de cada ator durante a brincadeira, no caso do pique pega, despertar a sensação de fugir de algo a fim de salvar a própria vida. Essa sensação de desconstrução também é observada durante o queimado que é uma brincadeira tradicional tanto na rua quanto no espaço escolar. Ao pensar o objetivo deste jogo que se caracteriza num jogo de ataque e defesa, onde o aluno atingido se caracteriza como queimado e logo vai para uma zona que em algumas regiões é conhecida por cemitério, não seria uma sensação agradável “morrer” durante a brincadeira. Entretanto é percebido que alguns alunos provocam o próprio “suicídio”, assim descaracterizando o objetivo do jogo. Mais uma vez é relevante intervenção do professor com estratégias que possam diminuir esta prática de “se deixar queimar”. Esse processo de desconstrução das brincadeiras pode ser causadas por vários motivos, entre os quais podem ser destacar as seguintes: pequenos espaços para oportunizar esses momentos, alguns jogos eletrônicos que reduz a possibilidade de movimentos corporais, ressaltando que aqui não irá diabolizar este recurso, entretanto não pode ser a única alternativa de brincadeira, os próprios brinquedos que na atualidade oferecem inúmeros recursos reduzindo a possibilidade da criança recriar este material. O processo de reconstrução da brincadeiras e jogos a partir da desconstrução exige que o professor tenha clareza da importância desse elemento da cultura corporal no processo de formação do ser humano. Explorar os espaços existentes de diferentes formas, propor novas regras para as atividades, demonstrar emoção no ato da brincadeira são algumas das formas de trazer aos alunos novas perspectivas acima das brincadeiras, a brincadeira não pode ser resumida apenas a uma atividade a ser cumprida. A brincadeira não pode e não deve ser previsível para quem brinca. Ela deve proporcionar sensações, emoções, dúvidas, conflitos, enfim, vários aspectos que são importantes para o processo de desenvolvimentos das crianças. As práticas podem resultar em conhecimentos meramente técnicos para um bom desempenho no jogo de queimada, mas também, podem ser conscientizadas, permitindo que os conhecimentos adquiridos – cooperar, organizar-se socialmente – sejam levados para outras situações (FREIRE e SCAGLIA, 2009). A comunicação entre os atores envolvidos nas brincadeiras deve ser clara e objetiva, para que todos possam compreender o seu papel durante a atividade. Os regras devem ser respeitadas conforme o combinado antes do início do jogo. Propor uma discussão sobre novas possibilidades de regras e ações nas brincadeiras com alunos também é uma alternativa para fidelizar este momento. Corroborando Darido e Rangel (2005) afirmam que quem joga tem que saber o que está fazendo e que todos têm que respeitar as condições para que o jogo aconteça. O nome que se dá ao conjunto dessas condições que aceitamos para realizar um jogo é “regra”, ela está presente em quase tudo o que fazemos em nosso dia-a-dia. Portanto adequar as brincadeiras e jogos aos novos tempos e novos espaços se torna um compromisso que os profissionais de Educação Física devem assumir a fim de manter esse elemento cultural no cotidiano do indivíduo sem perder sua essência e suas características. Propor momentos de diálogo após as atividades pode colaborar para novas possibilidades de vivência das brincadeiras, conhecer quem são as crianças que brincam no dia de hoje são algumas das possibilidades que podem contribuir para a prática dos jogos e brincadeiras de modo prazeroso, logo as aulas de Educação Física principalmente no período da Educação Infantil até 5° ano do Ensino Fundamental são essenciais para contribuir para esse processo de reconstrução. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL. Ministério da Educação. Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, p.114, 1998. RANGEL, I.C; DARIDO, S.C . Educação física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992. FREIRE, João Batista; SCAGLIA, José Alcides. Educação como prática corporal. São Paulo: Scipione, 2003.

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