A desconstrução do preconceito linguístico (2018)

Por Iago Miguel Ribeiro Epifânio | 12/03/2018 | Educação

Bom, o Marcos separa o capítulo 3 em “instruções / tópicos” sobre como desconstruir o preconceito linguístico

O Primeiro passo é reconhecer a crise

Os professores (e não somente eles, como qualquer pessoa) pode perceber que estamos em crise no ensino da língua portuguesa. Muitas pessoas acreditam que a gramática normativa deveria ser a gramática padrão ensinada nas escolas, como o próprio circulo vicioso do preconceito linguístico diz. Assim, os quando há alguma alteração na língua, os professores sentem falta de outros instrumentos didáticos que possam ajudar o ensino/aprendizagem, tornando a língua mais complexa de ensinar, do ponto de vista didático.

Também percebemos que a norma culta é reservada á poucas pessoas no Brasil (isso tem muito haver com as condições econômicas do nosso país, a minoria classe social alta, a maioria da classe social baixa).

Existem muitos analfabetos no Brasil (cerca de 18 á 20 milhões segundo o IBGE).

Não investimos muito em educação (ficamos atrás até mesmo de países onde a pobreza é muito grande, como a Etiópia)

Convivemos com o conceito de que a norma culta seria á vinculada com a linguagem literária e a escrita. Esse termo se caracteriza pelo fato de que essas linguagens são as usadas pelas classes cultas conservadoras da socieade, e que essa línguagem culta seria a forma correta da socieade. E isso se torna algo ilógico, pois de onde surge esse conceito de que a norma falada pelas pessoas da classe social alta seria a correta e padrão da sociedade como um todo, abrangendo até mesmo os níveis socias mais baixos? Claro que o culto imposto pela sociedade sofreu inspirações do português de Portugal e outros faotres, mas é necessário que a norma culta brasileira contenha termos simples, claros e diretos, com o objetivos declarados pela didática-pedagogia e que sirva de ferramenta para todos, sejam eles meios para falantes ou educadores.

O segundo passo é a mudança de atitude.

E enquanto essa “gramática para todos” não chega, devemos combater e recusar os argumentos que visem menosprezar o saber linguístico de cada um de nós.

Temos que nos impor como falantes competentes da nossa língua materna (PORTUGUES BRASILEIRO, PT-BR E NÃO O PORTUGUES DE PORTUGAL) e saber quando é a hora de modificar a gramática com um senso crítico, filtrando somente as informações realmente úteis e deixar de lado os mitos, as afirmações preconceituosas, autoritárias e intolerantes.

Já da parte do professor, essas mudanças devem refletir-se não na aceitação de aceitação de dogmas ou de uma postura crítica em relação ao seu prórpio trabalho. Ao invés de repetir algo, o professor deve refletir sobre isso com os alunos e mostrar que a língua não é um pacote fechado, embrulhado e acabou, mas sim um instrumento vivo, dinâmico e que está em constante movimento.

O terceiro passo é sobre o que é ensinar português.

Marcos Bagno diz que uma das maneiras de romper o circulo vicioso do preconceito linguístico é na prática do ensino. Então este passo é muito importante. Devemos rever aquelas “velhas opiniões formadas” que ainda estão em ativa e reestruturar o ensino da gramática para formar um bom usuário da língua em sua modalidade tanto falada como escrita. Isso é ensinar português.  Os professores que devem conhecer profundamente a mecânica do idioma, porque são os instrutores, os especialistas, os técnicos, e não os alunos. Um exemplo disso é o da auto-escola. Quando alguém se matricula numa auto-escola, espera que o instrutor lhe ensine tudo o que for necessário para se tornar um bom motorista, não é? Imagine, porém, se o instrutor passar onze anos abrindo a tampa do motor e explicando o nome de cada peça, de cada parafuso, de cada correia, de cada fio; explicando de que modo uma parte se encaixa na outra, o lugar que cada uma deve ocupar dentro do compartimento do motor para permitir o funcionamento do carro e assim por diante... Esse aluno tem alguma chance de se tornar um bom motorista? Acho difícil. Se aprender tudo isso,com certeza entrará para o ramo de mecânico de automóveis... Mas quantas pessoas existem por aí, dirigindo tranquilamente seus carros, tirando o máximo proveito deles, sem ter a menor idéia do que acontece dentro do motor? Então o que o professor realmente deve fazer é ter uma didática voltada para que seus alunos não se tornem especialistas da língua, mas sim bons usuários dela.

O quarto passo é sobre o que é um erro.

Outro modo de desconstruir o circulo vicioso é reavaliar o conceito de “erro”, pois há na verdade, uma confusão sobre a forma linguística e a forma escrita da língua. O “erro de português “é, na verdade, mero desvio da ortografia oficial. A ortografia oficial é fruto de um gesto político, é determinado por decreto, é resultado de negociações e pressões de toda ordem (geopolíticas, econômicas, ideológicas). Mas existem ditos “erros de português” que não alteram a sintaxe nem a semântica do enunciado: o que mudou foi só a ortografia. Bagno nos afirma que ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou ao respirar. Só se erra aquilo que é aprendido, naquilo que constitui um saber secundário. Em relação à língua escrita, seria pedagogicamente proveitoso substituir a noção de erro pela de tentativa de acerto.

Então se não existem erros, tá tudo liberado?

Então pensando, se não existem erros, vale tudo? Não necessáriamente. Na verdade, em termos de língua, tudo vale alguma coisa. Mas se pensarmos assim, o mais indicado seria a adequação. Tudo depende do contexto em que a pessoa se encontra, pois assim, ela cria um ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequação e o da aceitabilidade, Então, por exemplo, é totalmente inadequado, fazer uma palestra num congresso científico usando gírias, expressões marcadamente regionais, palavrões etc. A platéia dificilmente aceitará isso. Tudo depende da adequabilidade e da aceitabilidade.

A paranóia ortográfica

Aqui, Marcos Bagno faz uma crítica à atitude tradicional do professor de português, que ao receber um texto produzido pelo aluno, procura imediatamente os “erros”, só se importando com a forma e não com o conteúdo. E é isso que Bagno chama de paranóia ortográfica. Saber ortografia não tem nada a ver com saber a língua. A gramática se filia á tradição que atribui ao domínio da escrita um elemento de distinção social, que é na verdade um elemento de dominação por parte dos letrados.  Já o aprendizado da ortografia se faz pelo contato intimo e frequente com textos bem escritos, e não com regras mal elaboradas.

Subvertendo o preconceito linguístico

Bagno nos fala que por mais que isto seja triste, é preciso reconhecer que o preconceito linguístico está aí, firme e forte. Não podemos ter uma ilusão de querer acabar com ele de uma vez, porque isso só será possível quando houver uma transformação radical do tipo de sociedade em que estamos inseridos. Apesar disso, Bagno acredita que podemos combater com pequenos atos esse preconceito;com professores formados e informados, professores cientistas investigadores que abandonem a atitude repetidora e reprodutora de uma doutrina gramatical, com professores que sempre fazem crítica ativa na prática de ensino sobre essa gramática,e que diante de cobranças de pais, diretores ou donos da escola,mostrem que as ciências evoluem, e que a ciência da linguagem também evolui.

E aqui Marcos Bagno propõe Dez cisões para um ensino mais consciente e menos preconceituoso:

1) Conscientizar-se de que todo falante nativo de uma língua é um usuário competente dessa língua, por isso ele SABE essa língua. Com mais ou menos quatro anos de idade, uma criança já domina integralmente a gramática de sua língua. Sendo assim,

2) Não existe erro de português. Existem diferentes gramáticas para as diferentes variedades de português, gramáticas que dão conta dos usos que diferem da alternativa única proposta pela Gramática Normativa.

3) Não confundir erro de português (que, afinal, não existe) com simples erro de ortografia. A ortografia é artificial, ao contrário da língua, que é natural. A ortografia é uma decisão política, por isso ela pode mudar de uma época para outra. Línguas que não têm sistema escrito nem por isso deixam de ter sua gramática.

4) Tudo o que os gramáticos conservadores chamam de erro é na verdade um fenômeno que tem uma explicação científica perfeitamente demonstrável. Nada é por acaso.

5) Toda língua muda e varia. O que hoje é visto como certo já foi erro no passado. O que hoje é visto como erro pode vir a ser perfeitamente aceito como certo no futuro da língua.

6) A língua portuguesa não vai nem bem, nem mal. Ela simplesmente VAI, isto é, segue seu caminho, transformando-se segundo suas próprias tendências internas.

7) Respeitar a variedade lingüística de uma pessoa é respeitar a integridade física e espiritual dessa pessoa como ser humano digno de todo respeito, porque

8) A língua permeia tudo, ela nos constitui enquanto seres humanos. Nós somos a língua que falamos. Enxergamos o mundo através da língua. Assim,

9) O professor de português é professor de TUDO. Por isso talvez devesse ter um salário igual à soma dos salários de todos os demais professores.

10) Ensinar bem é ensinar para o bem. É valorizar o saber intuitivo do aluno e não querer suprimir autoritariamente sua língua materna, acusando-a de ser "feia" e "corrompida". O ensino da norma culta tem de ser feito como um acréscimo à bagagem lingüística da pessoa e não como uma substituição de uma língua "errada" por uma "certa".