A Descoberta da Ásia e Sua Importância Para a Geografia
Por Julio Cesar Souza Santos | 27/10/2016 | HistóriaComo Foi a Verdadeira “Descoberta da Ásia”? Que Vantagens Obteve Marco Polo Sobre os Outros Viajantes Cristãos? Qual a Importância do Papa Gregório X Para o “Descobrimento” da Ásia?
Marco Polo ultrapassou todos os outros viajantes cristãos conhecidos com as suas experiências, os resultados que obteve e a influência exercida. Os franciscanos efetuaram a viagem à Mongólia em menos de três anos e permaneceram nos seus papéis de missionários. Mas, a viagem de Marco Polo durou 24 anos, indo da Mongólia até o coração de Catai.
Marco Polo atravessou a China inteira, caminhou até o oceano, desempenhando vários papéis, chegando a ser confidente de Khan e até governador de uma cidade chinesa. Ele estava a vontade na língua local e acabou mergulhando na vida e na cultura de Catai. Para muitas gerações da Europa, a sua narrativa dos costumes orientais foi a verdadeira “descoberta da Ásia”.
Veneza era um grande centro de comércio no Mediterrâneo. Marco Polo tinha apenas 15 anos quando seu pai e seu tio regressaram à Veneza de uma viagem de 9 anos ao Oriente e, seu outro tio, também chamado Marco Polo, tinha comércios em Constantinopla e na Criméia. Daí, Marco Polo inicia seu livro com um relato destas viagens de seus parentes.
Seus tios (Nicolo e Matteo) juntaram – em Constantinopla – uma grande quantidade de pedras preciosas que levaram à corte do filho de Gengis Khan (Barba), o qual não apenas tratou-os muito bem como lhes comprou as pedras pelo dobro do seu valor. Eles resolveram levar seus empreendimentos mais para oriente (em Bucara), onde conheceram alguns tártaros que iam a caminho da corte do Grande Khan (Qubilai).
Esses enviados persuadiram os Polos de que Qubilai – que jamais vira qualquer latino – desejava vê-los e os trataria com grande honra e liberalidade. Os enviados prometeram protegê-los na viagem.
Dessa forma, os irmãos Polo aceitaram o convite e após um ano de viagem chegaram à corte de Qubilai Khan, o qual se revelou um homem de vasta curiosidade, inteligência e desejoso de aprender tudo sobre o Ocidente.
Khan pediu aos dois irmãos que fossem seus enviados ao Papa e lhes pedissem 100 missionários instruídos nas 7 artes, para ensinarem a seu povo sobre cristianismo e a ciência ocidental. Ele queria também um pouco de azeite da candeia do Santo Sepulcro de Jerusalém.
Quando partiram, os irmãos trouxeram consigo uma placa de ouro do Imperador que lhes permitia livre passagem e, ao chegarem em Acre, tomaram conhecimento que o Papa havia morrido e o sucessor (Gregório X) não ofereceu os 100 missionários pedidos, designando apenas dois (2) frades dominicanos para acompanharem os irmãos Polo.
Ao regressarem à corte de Qubilai Khan (em 1271) levaram consigo seu sobrinho Marco que estava destinado a tornar histórica sua viagem. Mas, no Mediterrâneo oriental os dois dominicanos fugiram em pânico e, sozinhos, os três Polos seguiram para Ormuz, na foz do Golfo Pérsico. Atravessaram o deserto pérsico de Kerman para as montanhas de Badakchan e subiram cada vez mais, através das terras glaciares a 6000 metros de altura.
O grupo descansou em Lop, uma cidade à margem do deserto onde os viajantes geralmente se aprovisionavam para se fortalecerem contra o terror inspirado pela travessia: _ “Animais selvagens e pássaros não há nenhum, pois não encontram nada o que comer. Mas, asseguro-vos uma coisa aqui encontramos coisas estranhas, as quais vos relato”.
“Quando um homem, por qualquer motivo é obrigado a pernoitar nessas montanhas e depois voltar aos seus companheiros, ouve espíritos falando de tal maneira que parecem ser os seus próprios companheiros que, algumas vezes, até o chamam pelo nome”.
Qubilai Khan recebeu os venezianos com grande honra e, pressentindo os talentos de Marco (já com 21 anos), Khan admitiu-o imediatamente ao seu serviço e mandou-o numa embaixada a um país a 6 meses de distância. Não se sabe como Nicolo e Matteo passavam seu tempo na corte de Khan, mas ao fim dos 17 anos tinham adquirido grande riqueza em pedras preciosas e ouro.
Cada ano que passava, Qubilai Khan sentia maior relutância em perder os serviços de Marco Polo. Em 1292 foi necessária uma escolta para uma princesa tártara que deveria casar-se com II-Khan da Pérsia e, Marco Polo, acabara de retornar de uma viagem Índia.
Conhecendo a fama marítima dos venezianos, Qubilai Khan autorizou os Polos a acompanhar a noiva por mar, equipando-os com 14 barcos, 600 tripulantes e provisões para dois anos. Após uma traiçoeira viagem, com apenas 18 tripulantes vivos, a princesa foi entregue sã e salva à corte persa e afeiçoou-se tanto aos venezianos que chorou ao separar-se deles.
Regressando à pátria em 1295 – após uma ausência de 24 anos – os Polos já eram considerados mortos e, conta a tradição, que quando os três maltrapilhos desconhecidos apareceram, parecendo mais tártaros do que venezianos, seus nobres parentes nem quiseram recebê-los. Mas, a memória dos familiares avivou-se quando os miseráveis rasgaram as costuras de suas vestes e revelaram seu tesouro: _ uma chuva de rubis, diamantes e esmeraldas. Diante disso, eles foram recebidos afetuosamente, abraçados e festejados com luxuoso banquete, onde a música e a jovialidade se misturaram com exóticas reminiscências.
Mas, naquele tempo existia enorme rivalidade entre Gênova e Veneza por causa do tráfego marítimo no Mediterrâneo e, em setembro de 1298, uma batalha entre ambos os genoveses saíram vencedores, fazendo 7 mil prisioneiros e entre eles Marco Polo. Levado acorrentado à uma prisão, ele travou amizade com outro detento (Rustichello) que era escritor e já gozava de certa fama.
Embora não fosse um gênio literário era um mestre no seu gênero. Viu nas reminiscência de Marco Polo matéria prima suficiente para uma nova espécie de romance e convenceu o veneziano a cooperar. Aproveitando a inatividade forçada e o fato de estarem presos juntos, o veneziano ditou um relato copioso das suas viagens a Rustichello, que escreveu tudo. Não fosse isso, talvez não tivéssemos hoje qualquer registro das viagens de Marco Polo e sequer teríamos ouvido falar do seu nome.
Rustichello escreveu o livro em francês, o que na Europa daquela época era corrente entre os laicos, assim como o latim o era entre o clero. Dessa forma, não tardou a ser traduzido em outras línguas e dele existem ainda numerosos manuscritos. Nunca antes – ou depois – um único livro forneceu tanta informação nova e autêntica ou alargou tanto os horizontes de um continente.