A Dentadura do Bisavô

Por Raul Santos | 15/08/2010 | Poesias





A DENTADURA DO BISAVÔ
Raul Santos



O bom velhinho, coitado,
Na hora da refeição,
Para todos os parentes,
Era aquela gozação,
Pois falavam todo dia
Que o bisavô padecia
De problemas de audição.

Cada vez que terminavam
De almoçar ou de jantar,
Quem quisesse beber água
E fosse um copo pegar,
Alguém dizia: "? Que horror,
Vi no copo o bisavô
A dentadura guardar!..."

O papo da dentadura
Todo mundo repetia,
Era assunto de chacota,
Fosse de noite ou de dia,
E o bisavô, caladinho,
Sentado no seu cantinho,
A conversa toda ouvia.

Certo dia, já cansado
Daquela esculhambação,
Avisou para os parentes:
"? Tomei uma decisão:
A partir deste momento,
Resolvi tomar um tento,
Não quero dentes mais, não!..."

Ocultou a dentadura
Num lugar desconhecido,
E ninguém ficou sabendo
Onde ele tinha escondido,
Mas, por mais que procurassem,
Por mais que eles perguntassem,
Ele nunca dava ouvidos.

Confusa, toda a família
Demonstrou toda a amargura
E a bisnetinha querida
Pediu com toda a ternura:
"_ Bisavô, solta essa voz,
Por favor, fale pra nós,
Cadê sua dentadura?..."

O bisavô respondeu:
"? Agora, já me cansei,
Vou contar para vocês
Esta verdade que eu sei:
Ninguém bebeu água pura,
Porque minha dentadura
Foi no filtro que eu guardei!..."