A Dança: Resultado do primeiro contato com a Arte.
Por LUCIENNE COUTINHO | 08/07/2009 | ArteA DANÇA: RESULTADO DO PRIMEIRO CONTATO COM A ARTE.
LUCIENNE ELLEM MARTINS COUTINHO*
RESUMO: Mediante a coleta das narrativas dos discentes da primeira Turma de Graduação em Dança da Universidade Federal do Pará, ao que tange o primeiro contato com a arte,foielaborado um quadro com o objetivo de deixá-lo enquanto leitor a par da situação como um todo e em seguida mostrar-se-á quais serão os focos de atenção, assim como se explanará os conceitos a serem utilizados, além do embasamento teórico imprescindível a análise das experiências relatadas.Foi montado um quadro destacando-se quatro enfoques de destaque primeiro os discentes os quais são os sujeitos da pesquisa, em seguida os participantes das histórias relatadas, posteriormente, o primeiro contato com a arte e por fim a "metodologia" utilizada para a apreensão da experiência elencada enquanto arte.A partir desse quadro definiu-se o referencial teórico capaz de possibilitar a análise do material coletado mediante as entrevistas com os discentes e assim chegar a grande questão como esses discentes introduziram a dança em suas vidas.
*Pedagoga, Discente da primeira turma de graduação em Dança da Universidade Federal do Pará,Bolsista do Projeto de Pesquisa,desenvolvido pela Universidade Federal do Amazonas com o apoio na região Norte da UFPA, Intitulado " Diagnóstico do esporte e lazer na região Norte Brasileira :o existente e o necessário",bolsista do Projeto de extensão intitulado "Auto do Círio" desenvolvido pela UFPA alocado na Escola de Teatro e Dança da UFPA – ETDUFPA.Representante discente da escola de Teatro e Dança da UFPA na congregação do ICA – Instituto Ciências da Arte,representante de turma e coordenadoradocentroacadêmicodedança.
O quadro abaixo foi montado destacando-se quatro enfoques de destaque primeiro os discentes os quais são os sujeitos da pesquisa, em seguida os participantes das histórias relatadas, posteriormente, o primeiro contato com a arte e por fim a "metodologia" utilizada para a apreensão da experiência elencada enquanto arte.
Quadro1: Resumos das histórias relatadas em sala de aula
Discentes |
Participantes da História |
Primeiro contato com a Arte |
Metodologia |
Adriana Di Marco |
Ela mesma |
Com massa de modelar e argila produzia animais em especial uma tartaruga. |
Processo de criação |
Airleise Rodrigues |
Ela mesma |
Através da televisão, imitando o que assistia. |
Imitação |
Ana Rosângela |
Avó Benzedeira |
Observação do fazer da avó enquanto benzia as pessoas. |
Observação, admiração |
Bárbara Dias |
Avó e ela mesma |
Uma saia vermelha que a avó usava. |
Observação |
Camila Helena |
Ela mesma |
Representação artística no banheiro, isto é, fazia o papel de atriz no banheiro. |
Imitação, criação |
Cíntia Peterli |
Ela mesma |
Desfile da escola no dia sete setembro |
Observação |
Daniele Brito |
Ela mesma |
Dançando entre amigas mais velhas |
Imitação |
Dylan Neves |
Ele mesmo |
Colecionando insetos |
Manipulação |
Fanny Cruz |
Ela mesma |
Rabiscando paredes |
Manipulação |
Izabella Barbosa |
Ela mesma |
Dançando em concursos familiares |
Execução |
Jorge Santos |
Ele mesmo |
Imitando o cantor Elvis |
Imitação e execução |
Kamyla Rodrigues |
Avô |
A prática do avô de tecer Matapí |
Observação |
Leida Maria |
Avô |
Artesanato da cuia feito pelo avô. |
Observação |
Leila da Costa |
Família |
Tradição cigana. |
Observação |
Linnesh Ramos |
Ela mesma |
Conhecer o sol de verdade. |
Observação, admiração |
Lívia Oliveira |
Ela mesma e o tio |
Compondo com quadros que o tio produzia. |
Observação, Manipulação |
Lorena Marinho |
Ela mesma e seus primos |
Criação de boneco de barro junto com seus primos. |
Produção |
Lucienne Ellem |
Ela mesma e uma vizinha |
Competição de crochê com sua vizinha |
Manipulação, produção |
Ludmila Mello |
Ela mesma e o Avô |
Violino Stradivarius que o avô tocava. |
Observação |
Luiz Thomaz |
Ele mesmo |
Recriar história |
Criação |
Luiza Souza |
Ela mesma |
Pintura |
Manipulação |
Monike Taborda |
Ela mesma |
Sambando em concurso de dança |
Produção |
Priscila Silva |
Ela mesma |
Ballet para o crescimento |
Execução |
Roberta Cristina |
Ela mesma e a mãe |
Músicas de ninar cantadas pela mãe. |
Observação |
Fonte: Relatos dos próprios discentes em sala de aula durante o mês de agosto
Primeiramente apontaremos as respostas dos discentes que estariam elencados ao período pré-operatório da Teoria de Desenvolvimento Humano de Jean Piaget. Período este considerado por Piaget como a primeira infância, uma vez que esses discentes demonstraram o que Piaget classifica como sentimento interindividual quando acentua-se "o respeito que a criançanutre pelos indivíduos que julga superiores a ela"(BOCK;FURTADO;TEIXEIRA,P.86,1995).
A teoria de Piaget servirá como base de análise das respostas enquadradas à Teoria de desenvolvimento humano e estas são dos seguintes discentes: Ana Rosângela1, Bárbara Dias2, Jorge Santos3, Kamyla Rodrigues4, Leida Maria5, Leila Costa6, Lívia de Oliveira7, Ludmila Mello8 e Roberta Cristina9 que falam dos adultos e de suas admirações ao produto de alguma atividade realizada por eles é justamente cultuando e respeitando seus atos e ações adultas.
Primeiramente, vamos abordar aquelas respostas que não foram elencadas a Teoria de Piaget e esclarecer o porquê de não estarem elencadas a tal teoria e em seguida aprofundaremos os conceitos de Piaget nas análises das experiências enquadradas à Teoria de Desenvolvimento Humano.
Em relação às outras respostas percebeu-se que estas se enquadravam em outros conceitos como, por exemplo, as respostas de Fanny Cruz e de Lorena Marinho estariam elencadas a Teoria Comportamental, ou seja, ao Behaviorismo e, sobretudo o de Skinner quando enfoca o processo de extinção que é "um procedimento no qual uma resposta deixa abruptamente de ser reforçada. Como conseqüência, a resposta diminuirá de freqüência e até mesmo poderá deixar de ser emitida" (BOCK, p.52, 1997). No caso de Fanny será a extinção do ato de rabiscar na parede e no caso da Lorena dar-se-á pela rejeição de beleza de seu boneco feita por seus primos.
No caso de Lucienne, de Luiza, Monike e Izabella encontramos o que Vigostski aponta em relação ao desenvolvimento infantil, este visto a partir de três aspectos: o instrumental, o cultural e o histórico. Nos três relatos dá-se destaque ao aspecto cultural que "envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em crescimento enfrenta, e os tipos de instrumentos, tanto mentais como físicos de que a criança pequena dispõe para dominar aquelas tarefas" (LURIA apud BOCK, p.92, 1995).
1 Ana Rosângela Colares Amador : Bailarina e coreógrafa.Formada pelo curso técnico em dança da UFPA; 2 Bárbara Dias dos Santos:Formada pelo curso técnico da UFPA , integrante do grupo coreográfico da UFPA;3 Jorge Alves Santos:dançarino informal de street dance; 4Kamyla Rodrigues:Graduanda em Comunicação Social – relações públicas No IESAM,dança pelo sophos;5 Leida Maria Willott Pereira: Licenciada plena em Ciências Biológicas pela UFPA,pós-graduada em envelhecimento e saúde do idoso,curso técnico de dança pela UFPA,membro do grupo de estudos e pesquisa sobre o envelhecimento da Amazônia da UFPA;6 Leila Pinheiro da Costa: Bailarina cigana,especialista nas danças orientais,professora de técnicas orientais,faz parte da C&Ade dança do ventre do Pará e da C&A Claúdia Ranna;7 Lívia Helene Paixão de Brito:Graduanda em Licenciatura Plena em Dança;8 Ludmila Mello da Silva:Graduanda em Agronomia pela UFRA,integrante da C&A Athlética;9 Roberta Cristina Corrêa de Figueiredo Costa:Bailarina formada pelo curso técnico em dança da UFPA,dança a treze anos,participou de várias companhias de Belém.
Em todos os quatro casos observamos que o incentivo à realização de cada "tarefa" foi oriundo de um apoio adulto e este não apenas incentivava como incitava a disputa e conseqüentemente a obtenção dos melhores resultados possíveis, com o intuito de tornar a criança "a melhor", "e mais competente". (grifo meu).
Em relação à Linneshe Adriana, caberia apontar em seus relatos o processo de individuação de Jung, já que nas três falas percebemos as influências de outras pessoas, entretanto essa influência não interferiu nas apreensões individuais de cada uma.
E tal fato ocorre quando Linnesh relata o fato de ter visto o sol de verdade era algo além do real, era algo indescritível poder sentir aquele calor aquecendo a face era pura magia. Já para Adriana o fato de ter tido sua tartaruga modificada, não mudava o seu pensamento de que aquela tartaruga era a coisa mais linda.
No caso do Dylan seria o que Bruner na Psicologia elencaria de representação ativa quando o interesse da criança "consiste em manipular o mundo por meio da ação" (BRUNER apud MOREIRA, p.39; 1981). E isso se deu quando Dylan passou a colecionar insetos e tal fato o fazia sentir dono e manipulador da vida daqueles animais cujos eram colecionados.
Para entender a experiência de Thomaz, caberia utilizar Freud, quando este fala da formação reativa em que "o ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e,para isto, o indivíduo, adota uma atitude oposta a este desejo"(FREUD apud BOCK, p.75,1995).Quando Thomaz reinventa as histórias que causavam-lhe medo têm em vista mudar essa situação de pavor e criar uma nova realidade completamente distinta daquela imposta a ele.
Camila e Daniele seriam elencadas ao comportamento operante do Behaviorismo em que "agimos ou operamos sobre o mundo em função das conseqüências criadas pela nossa ação" (BOCK, p.50, 1997). O agir de Camila estava relacionado ao ato de representar, o atuar no banheiro a fazia acreditar que era uma atriz de verdade, portanto, produto de sua ação de atuar. O agir de Dani se dava quando esta dançava independentemente do lugar, no meio das meninas maiores que ela e tal fato a fazia sentir-se também grande.
De outro lado as experiências de Cíntia e Priscila caberiam ambas na representação icônica de Bruner que fala do estágio em que a criança já consegue interiorizar sua ação, isto é, já concretiza mentalmente suas atividades. E é justamente o caso de Cíntia quando interiorizou em si a importância do dia sete de setembro pela sua estruturação, preparação e objetivos que envolviam a escola como um todo. Com Priscila o foco de atenção de sua experiência direcionou-se a dança, isto é, ao Ballet Clássico que foi a atividade física indicada pelo médico e imprescindível ao seu crescimento e tal fato fez Priscila interiorizar de forma harmônica aquela pratica tão encantadora para sua vida, pois esta se tornou sinônimo de crescimento.
Acima apresentamos as respostas que não foram elencadas a Teoria de Piaget, agora caberá destacarmos as respostas enquadradas a Teoria de Desenvolvimento Humano de Piaget. Enfatizaremos o porquê de terem sido escolhidas, far-se-á a explanação das experiências, e buscaremos identificar como se deu a introdução da dança nas vidas destes discentes mediante este primeiro contato com a arte, isto é, como esse primeiro contato proporcionou o interesse pela arte cênica em especial a dança.
Antes de adentrarmos a Teoria de Desenvolvimento Humano de Piaget devemos entender que esta teoria está alocada a área de conhecimento da Psicologia que estuda o desenvolvimento humano em todos os seus aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social (desde o nascimento até a fase adulta que é justamente na fase em que todos os aspectos atingem o mais completo grau de maturidade e estabilidade.).
Dentre as várias teorias de desenvolvimento humano em psicologia escolhemos a de Piaget (1896-1980)*, por ser a teoria capaz de nos responder como e por que o indivíduo teve aquele comportamento em determinada situação naquele momento de sua vida.
Para Piaget estudar o desenvolvimento humano significa: "conhecer as características comuns de uma faixa etária, permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação dos comportamentos"... "estudar o desenvolvimento humano significa descobrir que ele é determinado pela interação de vários fatores" (BOCK, 1995, p.81). E esses fatores são indissociados e em constante interação afetam todos os aspectos do desenvolvimento e são eles:
* Psicólogo e filósofo suíço, Jean Piaget foi um importante teórico do processo do conhecimento humano (epistemologia). Nasceu em 9 de agosto de 1896, na cidade suíça de Neuchâtel, no Cantão francês, e faleceu em Genebra, em 1980 .Piaget bacharelou-se(C0NT.)
·Hereditariedade – a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se. Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto a inteligência pode desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra.
·Crescimento orgânico – refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois andar, em relação a quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida.
·Maturação neurofisiológica- é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2,3 anos não tem. Observe como ela segura o lápis.
·Meio- o conjunto de influências e estimulações ambientais altera padrões de comportamento do indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de três anos pode ter um repertório verbal musical muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas ao mesmo tempo, pode não subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de vida. (BOCK, 1995, p.82).
De acordo com o relato das experiências das discentes Ana Rosângela, Bárbara Dias, Jorge Santos, Kamyla Rodrigues, Leida Maria, Leila Costa, Lívia Oliveira, Ludmila Mello e Roberta Cristina nos foi possível perceber que dentre esses quatro fatores o meio (grifo meu) foi o que mais propiciou a alteração do comportamento desses discentes, uma vez que nos nove relatos destaca-se justamente as influências e estimulações ambientais que incitaram curiosidade nas crianças à época.
Piaget divide o desenvolvimento humano em períodos, estes de acordo com o aparecimento de novas qualidades do pensamento. E os períodos são:
·1º Período: Sensório-motor (0 a 2 anos)
·2º Período: Pré-operatório (2 a 7 anos)
·3º Período: Operações Concretas (7 a 11 anos ou 12 anos)
·4º Período: Operações Formais (11 ou 12 anos em diante)
em Biologia pela Universidade de Neuchâtel em 1915; e após doutorar-se em Ciências Naturais na mesma universidade em 1918, mudou-se para Zurique para estudar Psicologia.(cont.)Em 1921, Eduardo Claparéde, psicólogo da educação e diretor do instituto Jean-Jacques Rousseau de Genebra destinado à formação de professores, que se (cont.)
Segundo Piaget, cada período é caracterizado pela melhor ação que o indivíduo consegue fazer em cada faixa etária. Todo e qualquer indivíduo passa por todos os períodos, nessa seqüência (1º Período, 2º Período...), entretanto o início e o fim de cada um deles vão depender das características biológicas do indivíduo e dos fatores educacionais, sociais. Logo, a divisão por faixa etária é uma referência, e, portanto não uma norma rígida.Desses quatro períodos vamos enfatizar o segundo, já que percebemos que as respostas as quais selecionamos estão enquadradas neste segundo período, isto é no Período Pré-operatório.
Você poderia nos perguntar, mas porque o segundo período?Responder-lhe-ía que tal elencação do período deveu-se a análise e interpretação das respostas fator este que apontou as características pertinentes e imbricadas ao período pré-operatório. Pois neste período a linguagem é o "fator" de maior importância que desponta no indivíduo e isto acarretará modificações nos aspectos intelectuais, afetivo e social da criança.
Entre os indivíduos a interação e a comunicação são sem dúvida, as conseqüências mais evidentes da linguagem. Através da palavra, "há a possibilidade de exteriorização da vida interior e, portanto a possibilidade de corrigir ações futuras. A criança já antecipa o que vai fazer" (BOCK, 1995, p.86). Em decorrência desse aparecimento da linguagem o desenvolvimento do pensamento acelera-se. É o que foi possível perceber nos noves relatos, quando os discentes ao observarem aquela atividade desenvolvida pelo adulto presente em sua história instigavam-os a pensarem o que faziam, como faziam e porque faziam?
havia impressionado com um artigo recebido de Piaget sobre a inteligência infantil, lhe ofereceu um lugar de pesquisador no Instituto. Lá Piaget publicou, em 1923, o seu primeiro livro, "A Linguagem e o Pensamento da
Criança". No ano seguinte casou-se com sua assistente Valentine Châtenay, com a qual teve três filhos, Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laureni (1931), crianças cujo desenvolvimento mental Piaget acompanhou e descreveu detalhadamente. Os resultados obtidos da observação da conduta de seus próprios filhos, que abarcaram o período desde o nascimento até aproximadamente 2 anos (período que Piaget designou "sensorio-motor"), foram publicados em 2 volumes: O Naissance de l' intelligence chez l' enfant ("O nascimento da inteligência da criança"), de 1936, e La construction du réel de l'enfant ("A construção de o real na criança"), de 1936. Mais tarde Piaget sucedeu Claparede como diretor e como professor na universidade de Genebra onde lecionou História do Pensamento Científico, Psicologia e Sociologia. Após a Guerra, em 1946, Piaget participou da criação da UNESCO, órgão das Nações unidas para a Educação, Ciência e Cultura, colaborando na elaboração de seu regimento e tornando-se membro do seu conselho executivo. Em 1950 publicou a primeira síntese de sua teoria do conhecimento: "Introdução à Epistemologia Genética". Nomeado em 1952, foi professor na Sorbone até 1963. Em 1956 Piaget criou, na Faculdade de Ciências de Genebra, o Centro Internacional de Epistemologia Genética, onde passou a investigar sistematicamente, com o apoio de uma grande equipe, o desenvolvimento do pensamento da criança nos modos de pensar moral, abstrato, lógico e concreto. É de 1967 sua principal obra: "Biologia e Conhecimento". Veio a falecer em Genebra a 17 de setembro de 1980.
E mesmo sem obterem respostas àquelas perguntas, continuavam a fazê-las, isto é, em decorrência desse pensamento desenvolvido pela linguagem e justamente aguçado pelo meio em que vivem. É a fase em que a criança transforma "o real em função dos seus desejos e fantasias (jogo simbólico)".
No aspecto afetivo, surgem os sentimentos interindividuais, é um dos mais relevantes nesse período é o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que julga superiores a ela. "É um misto de amor e temor. Seus sentimentos morais refletem esta relação com os adultos significativos, na moral da obediência, onde o critério de bem e mal é a vontade dos adultos" (BOCK, 1995, p.86).
A partir daí a criança já tem o domínio ampliado do mundo, multiplicam-se o interesse pelas diferentes atividades e objetos, surge então uma escala de valores própria da criança. Em relação a esse transformar "o real" em função de desejos próprios, no caso de crianças, pôde se perceber nos relatos se apresenta no processo de individuação de cada sujeito e sua história, isto é, cada criança possuía intrinsecamente um significado daquela atividade desenvolvida por aquele adulto que era foco de atenção, ou seja, no caso de Rosângela, por exemplo, a avó benzedeira não só praticava um simples ato de benzer esta chegava a ser uma "mágica", isto é,conseguia tirar qualquer mal daquelas pessoas que a procuravam, era uma fantasia criada pela cabeça dela. No caso de Bárbara aquela saia vermelha da avó era mais que uma vestimenta, era algo encantado que lhe maravilhava olhar e lhe inquietava a significação. Aquela saia representava algo diferente e estranho inexplicável e confuso, portanto tomando um significado fantasioso oriundo da cabeça de Bárbara enquanto criança, pois aquela saia não passava de uma peça de roupa na cor vermelha e não possuía nada de estranho ou inexplicável.
Para Jorge o simples ato de imitar o cantor Elvis era como um rito de aproximação de um fã com um ídolo, aquele ato de imitar significava para Jorge igualar-se àquele adulto o qual era um protótipo a ser seguido e venerado.
Já Kamyla, Leida, Leila, Ludmila e Roberta Cristina aquele fazer adulto representava uma obra de arte encantadora e impressionante tanto na prática de tecer matapí, quanto no artesanato da cuia, como na tradição da família cigana, na produção sonora do violino como nas músicas de ninar. Era o sentimento fantasioso aguçado dessas crianças que tornava tais atividades dotadas de encanto e fantasia.
Enquanto para Lívia esse desejo aguçado ia mais além, segundo ela os quadros que o tio produzia eram meio diferentes e estranhos, isso só mudava quando eram manipulados pelas suas próprias mãos e se transformavam em outras formas e adquiriam novos contornos.
Recorrendo ao conceito de sentimento interindividual podemos entender como a dança surgiu na vida dessas crianças mediante esse primeiro contato com a arte, uma vez que esse sentimento de respeito que uma criança nutre pelos indivíduos que julga superiores aguça e indaga a criança a querer experienciar o que vê então quando explanamos as histórias dos noves discentes que apresentavam esse conceito imbricado em seus relatos percebemos que em todos o interesse pela dança surgiu do que Piaget denomina de "escala de valores própria da criança.E a criança passa a avaliar suas próprias ações a partir dessa escala"(BOCK,1995,p.87).
Portanto essa observação de atividades externas a essas crianças e enfatizadas nas nove histórias fez "plantar" nelas (as crianças) o interesse por produções corporais, por corpos em movimento e essas ações passaram a ter valor qualitativo na vida desses indivíduos, uma vez que desse olhar de observação e encantamento por objetos, sons, linguagens atingiram o ápice na escala de valores atribuídos por essas crianças e essa elevação valorativa resultou no futuro o interesse pela dança representando e significando tudo o que esses discentes observavam,admiravam e respeitavam.
Referência Bibliográfica
BOCK,A.M.B;FURTADO,O.;TEIXEIRA,M.deL.T. Psicologias uma introdução ao estudo de Psicologia.São Paulo: 8ªed.Saraiva,1995.
Cobra, Rubem Q. - Jean Piaget. COBRA PAGES: www.cobra.pages.nom.br/ ecp-iaget.html, Internet, Brasília, 2003. Acesso em 24/09/2008 às 15:30