A culpa é deles

Por Ely Miguel Weinstein | 24/03/2012 | Adm

Muito se tem falado recentemente sobre a desindustrialização no país.

As criticas mais ouvidas ultimamente,se referem ao câmbio,ou seja,ao Real sobrevalorizado,ou à famigerada “guerra cambial”.

Outras vozes afirmam que o problema é o custo Brasil,na forma de transporte caro,portos ineficientes,burocracia enorme,legislação trabalhista paternalista e arcaica,carga tributaria elevada,etc,etc,etc.

Discute-se também o baixo nível de escolaridade,o custo elevado da mão de obra,pelos seus encargos e a atuação agressiva dos sindicatos em sua defesa,como fatores que causam impacto.

Alguns comentam sobre a concessão de benefícios fiscais nos portos que permitem que empresas importem produtos através de determinados Estados que os concedem,barateando produtos importados de forma artificial em detrimento da industria nacional.

E por aí vai.Não discordo de nenhuma das colocações acima,sendo que todas elas em maior ou menor grau contribuem efetivamente para o problema que se pretende combater.

Porém o que me chama a atenção,é que por nossa cultura,não gostamos de assumir ou reconhecer nossa própria culpa nessa situação.

Se a nível pessoal a culpa nunca é “minha” e sempre do “pai” ou “mãe”,ou do “vizinho”,da “escola”,da “rua”,do “carro”da “policia”ou de “outros”,para nossos industriais a culpa sempre será do “governo” ( seja federal,estadual ou municipal ),ou das “leis”,ou da “China” ou do “Mercosul”.

Uso aqui a palavra culpa no sentido de quem é o responsável por tal estado de coisas e somente a quem como unicamente  “culpado” cabe o dever de atuar para corrigir essa situação.

Minha experiência em mais de trinta anos atuando em industrias me mostra que se fazemos perguntas as vezes elementares a muitos dos responsáveis por sua gestão,eles não sabem e não conseguem encontrar as respostas para as mesmas.

Os donos,diretores,gerentes de grande parte da nossa industria sabem perfeitamente o volume de produção,seu custo,a quantidade vendida,etc,mas não sabem as respostas para com qual “eficiência” produzem.

É fato que isto ocorre com maior freqüência nas pequenas e médias empresas cujas estruturas não lhes permitem que se concentrem nesse tema com a devida importância,mas também tive oportunidade de presenciar isto em empresas conceituadas.

Deve-se levar em consideração que pequenas empresas são fornecedoras de outras pequenas e médias empresas,que por sua vez fornecem para as grandes empresas e vice versa.As ineficiências e os custos se transmitem pela cadeia.

Perguntas como quanto de água,ou gás,ou energia elétrica,ou outra matéria prima qualquer é gasta por Kg ou por metro de produto fabricado são muitas vezes de difícil resposta.

E qual é a quantidade correta desses insumos que deve ser utilizada no produto de acordo com os padrões?Está havendo desperdício?

E ainda,mesmo que as quantidades corretas de insumos estejam sendo utilizadas,pode-se efetuar alguma alteração no produto ou no processo de produção que permita reduzir essas quantidades ( por exemplo,através de alteração de um ou outro insumo )?

Já se tentou renegociar preços de insumos com os mesmos fornecedores,ou trocar os fornecedores por outros mais baratos?Tenho inúmeras experiências pessoais,nas quais só acredito pois ocorreram comigo...

O que estou propondo aqui é a mudança do paradigma de que os “outros” são responsáveis pelo custo elevado do produto que fabrico e cabe a “eles” dar as soluções, para “nós” somos responsáveis por isso e cabe a “nós” de forma profissional ajudar na solução do problema.

Creio que nada melhor que um exemplo claro,fácil e atual para que possamos refletir sobre esse assunto:como motoristas,temos simplificadamente duas opções de combustíveis para nossos veículos,álcool e gasolina.Embora os preços de ambos sejam divulgados e  conhecidos e a imprensa informe qual é o mais indicado para o consumo  do ponto de vista econômico num determinado período de tempo,qual é a proporção de motoristas que utiliza a melhor opção? 100%?

A culpa é “deles” ou a culpa é “nossa”?

Ely Weinstein

Engenheiro com pós em administração de empresas

Mais de 30 anos de experiência em gestão industrial de empresas nacionais e multinacionais.