A CRUZ

Por MARCOS ANTONIO | 18/09/2014 | Psicologia

Paulo trata dos pecados (no plural) até o capítulo 6 de Romanos, e adiante ele passa a falar do pecado (no singular). A diferença está em que “pecados” indica os pecados que cometemos, e “pecado” indica a força operante que nos leva a cometer os pecados.

No poder da cruz fomos incluídos nEle, isso é um fato. É automático recebermos a vida eterna ao crer nEle (Jo 6.47). Mas a libertação do poder do pecado não é automática ... antes, é preciso ter revelação e apropriação em fé desta verdade.

Depois da “lua-de-mel” com D-us o novo convertido percebe que tentações e quedas continuam. Aí ele passa por crises, porque apesar de lutar contra o pecado ele vê que está escravo do poder do pecado! Mas tem que ter luta o tempo todo? Não ! O que te levará à vitória é saber que Jesus já destruiu esse poder. Temo que buscar a revelação de Deus até que ela se transforme em  (rhema) em nossas vidas.

A luta entre a velha e a nova natureza é inútil, porque Jesus já conquistou  vitória para nós. Se ignorarmos o fato viveremos como se ele não fosse verdade. Mas não adianta implorar , orar, jejuar, chorar, clamar por libertação do pecado, porque isso já foi feito. Notemos que todos os tempos verbais dos textos que falam sobre o poder da cruz estão no passado, porque é algo que já foi feito. Então podemos ter ou atitude de fé ou de incredulidade.

5.17     –   Ele nos imputou Sua justiça;

5.20     –     DEus estabeleceu a lei para nos evidenciar o pecado;

6.1  –          Paulo muda de assunto, de “pecados” (plural) para “pecado” (singular);

6.2  –          tempo passado;

6.3  –          “em”, ou seja, Ele nos incluiu em Jesus, e foi assim que Ele nos libertou do poder do pecado; D-us opera o poder da cruz através da inclusão, isto é, colocados em Cristo também morremos quando Ele morreu; foi assim que Ele pôde lidar com nossa natureza pecaminosa, Sua maneira de nos incluir em Cristo é pela ação do Espírito Santo e pela confissão de nossa parte;

6.4  –          tempo passado; não peçamos libertação, mas exerçamos fé, escolhamos crer, que não haja em nós incredulidade (Hb 3.12);

6.6  –          “foi”, tempo passado; se lutamos contra a velha natureza é porque não cremos que ela está morta, é incredulidade; precisamos descansar em fé no fato que a nossa velha criatura foi incluída na morte de Cristo ... às vezes pensamos que nos falta força de vontade, mas não! Há que haver fé no fato, porque enquanto não temos revelação (“sabendo isto”), o corpo continua a obedecer as velhas paixões; e se o conflito velha criatura versus nova criatura se instaura, a velha criatura vence, porque não é pelo conflito que se obtém a vitória;

6.7  –          uma tradução mais correta seria “livre do pecado”; como diz Cl 3.5a, a velha natureza é morta ao consideramo-nos mortos! Coisas como ascetismo (tentar mortificar o corpo por nosso esforço próprio) em nada resultam (Cl 2.23); quando o problema é com demônios então a saída é sim lutar, orar, jejuar, mas quando é carne não; se contínuas vezes caímos e continuamos fiéis, o Espírito Santo vai nos levar à crises para que O busquemos e venhamos a descobrir que estamos libertos! A transformação da alma tem muito a ver com ter revelação do poder da cruz;

7.4  –          morremos por meio do corpo de Cristo;

7.6  –          “agora porém”, aqui está a distinção entre o que era antes da obra da cruz e o que temos agora; morremos com Cristo para podermos pertencer à D-us; Ele não tem resposta para tratar com a carne, seja libertá-la ou aperfeiçoá-la ... Seu objetivo com a carne é matá-la, porque a carne não tem conserto, não adianta querer educá-la, ela tem que ser morta de uma vez! O problema da religião é tentar fazer o que D-us há muito desistiu, que é tratar com nossa carne (Gn 6.3).

E como se edifica uma igreja? Levando as pessoas a morrer!  A fonte de todo problema na igreja é a carne. Se nossa velha natureza não foi mortificada pelo poder da cruz, mesmo que tenhamos nascido de novo, será muito difícil para os outros lidarem conosco.

Rm 7.7-8.4:

7.15           –          parece contradição com o capítulo 6. Há duas vontades em nós, a da velha natureza e a da nova natureza. A velha natureza foi morta na cruz, mas por não sabermos disso, por não a considerarmos morta (Rm 6.6, 11), essa velha natureza continua operando em nós. A nova natureza, ao levantar oposição à velha natureza, está considerando-a viva. É a carne bem-intencionada tentando vencer o conflito (“quero ... não quero ... posso ... não posso ...”) . D-us permite que tal conflito fique cada vez mais agudo. Não peçamos à Ele para nos libertar do pecado, porque isso Ele já fez. A chave para encerrar o conflito é revelação de que já morremos, de que não precisamos nos matar. Não nos mortifiquemos portanto na nossa força de vontade, porque ela, embora bem-intencionada, é fraca e incompentente para libertar do pecado. O que é duradouro vem com luz e leva a caminhar em fé.

7.21           –          é um princípio, uma lei: o pecado habita no velho homem;

7.25           –          não é autorização para pecar, junto com Mt 26.41 ... não paremos neste verso, antes, continuemos no cap. 8.

8.2  –          É andando na lei do espírito e da vida que ficamos livres d lei do pecado e da morte. Estas são duas leis que regem as duas naturezas: a lei do pecado e da morte rege o velho homem, e a lei do espírito e da vida rege o novo homem. É como um avião voando, ele flui sobre a lei da aerodinâmica, já um carro sobre a lei da gravidade. Para o avião decolar ele tem que vencer a lei da gravidade, e se as turbinas falharem no meio do vôo a lei da gravidade prevalecerá ... mas se as turbinas forem reacionadas, a lei da aerodinâmica voltará a prevalecer, e assim por diante ... o jejum e a oração fortalecem a fé, põem em evidência as faculdades espirituais sobre as do corpo, mas não dão vitória sobre o pecado. São boas porque ajudam as turbinas do avião a não falharem ...

8.3  –          o poder da cruz é graças ao corpo do Senhor, já o Seu sangue foi para a justificação; D-us nos colocou em Cristo Jesus, portanto quando Ele passou pela tortura da crucificação fomos também nós que recebemos os açoites, a coroa de espinhos, a humilhação, a crucificação, a morte, a sepultura, a descida ao inferno. Mas a morte não O reteve porque nEle não havia pecado. Então nosso novo homem se levantou quando Cristo ressuscitou, o velho homem ficou no inferno.

Os princípios são aplicados vitoriosamente às nossas vidas quando temos (1) conhecimento, que permite que D-us nos dê (2) revelação, e aplicamos (3) às verdades bíblicas. Neste caso da libertação do poder do pecado, consideremos-nos mortos (Rm 6.11; Jo 3.6)!

Revelação não pode ser substituída por disciplina, nem disciplina pode ser considerada moeda (“por causa da minha justiça” – Jó 27.6, Jó era homem tão reto que até D-us declarou isso). Ao estabelecermos nossa justiça estamos removendo Seu sacrifício, e estamos tentando ir à D-us como justos por nós próprios. Mas nossa natureza anterior era de serpente, por isso Jesus foi “levantado” (crucificado), para que tomando nossa natureza Ele a matasse (Jo 3.14).

Cristão carnal é aquele nascido de novo que permanece em condição carnal, sem que sua salvação seja desenvolvida. Obtivemos a vida carnal por nossos pais, mas a vida espiritual é nascida de D-us. Esta situação (Rm 7.24) é o conflito ao qual o Espírito Santo nos encaminha, para que desejemos e peçamos tal revelação. Ele nos provoca a buscar triunfo total em Cristo.

Paulo orava para que a igreja tivesse revelação do supremo poder que D-us exerceu em Cristo, o mesmo poder que opera em nós. Saber verdades sem ter experiência, sem ter o “rhema”, pode ser venenoso (1 Co 8.1b). E a falta de consagração pode vir a retirar de nós a revelação, levando-nos a pecar novamente.

De nossa parte, qualquer infelicidade, no fundo no fundo é resultado de falta de tomar a cruz. Desistamos de querer sujeitar a carne alheia. Antes, levemos nosso próximo à Cristo. E aprendamos a não procurar discípulos, porque discípulo é aquele que nos procura, que deseja aprender.

O PRINCÍPIO DA CRUZ

Cruz não são coisas naturais que levam à sofrimento, mas é quando D-us aponta o caminho que nos é custoso obedecer, é Sua vontade em detrimento da nossa vontade. Por isso não dá para criar regras, para uns a cruz será uma coisa, para outros será outra.

Certas leis existem para nos proteger, e ao cruzar a fronteira estamos sem a proteção. Assim, tomar a cruz às vezes significa dizer “sim”, outras vezes dizer “não”.

A cruz toca áreas em nossas vidas como:

Submissão

É diferente de obediência, pois é possível obedecer sem se submeter. Mas também é possível haver submissão sem voluntariedade, quando fazemos apenas aquilo que nos mandaram fazer. “Se alguém quer vir após Mim”, disse Jesus (Lc 9.23), é isso que nos torna cristãos, parecidos com Cristo.

A bênção da autoridade é importante, funciona como uma autorização dos líderes. Por isso precisamos conhecer também o coração de quem está com autoridade sobre nós e assim nos submetermos ao seu coração, não ao que eles dizem, que pode ser diferente.

Submeter-se, confessar pecados, prestar contas de nossas vidas, etc. mexe com nosso ego, é perda de autonomia, restringe liberdade, perde privacidade, causa dor. Isso é também tomar a cruz. É perder para ganhar algo de D-us. O próprio Jesus se esvaziou. Servir não é obrigação, mas é algo esperado, porque foi essa atitude que Jesus teve.

Coração ensinável

É possível ter um coração ensinável hoje mas amanhã não, e depois de amanhã sim ... trata-se de algo que D-us vai conquistando em nós aos poucos. Como indicado em 1 Pe 5.5, a humildade tem a ver com humilhação voluntária de nossa parte.

Quem queremos ter como referencial? Que possamos deixar D-us nos moldar através de circunstâncias e de pessoas.

Não agir no entendimento e esforço próprios

Pedro confiou na sua própria força (Mc 14.29), mas caiu e teve frustração ao ponto de voltar à sua velha profissão. Jesus depois perguntou-lhe se O amava, e ele com a mesma atitude respondeu “claro!”, mas na terceira vez ele entendeu e então se submeteu. Foi aí que ele passou a se qualificar como homem de D-us.

Há em nós uma tendência em confiar na nossa experiência, de não andar por fé, de confiar no natural. Trata-se de uma auto-dependência, ou independência. Mas D-us resiste aos soberbos (Tg 4.6). Sem quebrantamento Ele não tem como nos usar.

Se esperamos retribuição, mesmo recebendo-a ela não nos saciará, continuaremos insatisfeitos. Enquanto girarmos em torno de nós mesmos será impossível sermos satisfeitos.

Todo avivamento coincide com uma volta à cruz. Se não formos fiéis em tomar a cruz, D-us levantará outro povo que Lhe agrade.

Abrir mão do amor próprio

Mateus 16:

25 Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por Minha causa achá-la-á.

Deus não nos chama a nos preservarmos. Estamos dispostos a abraçar o desconforto? O Filho do homem não tinha onde reclinar a cabeça (Mt 8.20). Paulo disse que tinha experiência de passar fome, humilhação, “de tudo” (Fp 4.12).

Os padrões do mundo são “não seja bobo, não leve desvantagem”, mas o Cristianismo prega o contrário, é uma contra-cultura: ganhamos quando perdemos, crescemos quando diminuímos.

Aborrecer a glória humana

Quando alguém nos elogia com algo que realmente aconteceu, qual é nossa reação? Elogios verdadeiros são inevitáveis, porque o reconhecimento vem como consequência da unção (primeiro a autoridade, depois a posição). Os fariseus faziam obras com fim de serem vistos pelos homens (Mt 6.5).

Que possamos ter a atitude interior de guardar o coração, fecharmo-nos, não recebendo a glória que é só de D-us, e a atitude exterior de dizer “sim, foi bom mesmo, glória a D-us, ore por mim ...”, sem sermos afetados. Saberemos quando tivermos sido usados (Jesus o soube, e.g. Mc 5.30).

Aborrecer a glória humana é canalizar à Ele o que é dEle de direito.

Alcançar a completa obediência

É caminhar por fé, guiado totalmente pelo Espírito Santo. É Ele quem nos orienta em tudo, por exemplo há situação em que devemos falar, outras são momentos para nos calarmos.

Muitas vezes desobedecemos, mas Ele quer nos levar à completa obediência, nas coisas pequeninas e nas grandes.

Servir aos santos

“Quem não serve não serve”.

Podemos até ser capciosos, transformando o servir em agradar nosso ego, dando-nos “ibope”.

Jesus lavou os pés dos discípulos, e nós, será que temos tido disposição em servir, será que servimos apenas com fim de investir em nosso futuro? Servir segundo D-us é fazê-lo sem expectativa de nenhuma retribuição. Aquele que foi servido por nós, fica livre ou preso à nós?

Bens

Há visitantes que ficam escandalizados em ouvir de dízimos nas igrejas. Mas isso só mostra que lhes dói mexer no bolso. O segundo assunto mais falado na Bíblia é o dinheiro, e não é certamente o segundo assunto mais falado nas igrejas.

Dinheiro é poder e liberdade para o ego. Então, se dói tocar nesta parte, é porque há uma potestade por trás, um deus mesmo. O dinheiro serve à nós ou nós servimos ao dinheiro? Jesus mostrou que o dinheiro chega ao nível de deidade às pessoas, em Mamom.

Na base de Sua obra na cruz D-us nos considera espirituais, e não carnais. Conseguimos a santificação por termos sido colocados em Cristo, passamos a subjugar a carne por termos sido incluídos em Sua morte.

Andar no princípio da cruz é algo que depende de constante revelação, que nos transforma tocando no nosso ego. É uma norma de vida, uma lei. Jesus não só morreu na cruz, mas viveu Sua vida inteira na cruz, e foi isso o que mais agradou ao Pai em na vida de Jesus. Não são feitos que sensibilizam o Pai, mas quebrantamento de coração (Sl 51.17b).

Quebrantamento não é resultado de sofrimento auto-imposto, mas de tomar a cruz, de viver a vontade de D-us em detrimento da nossa vontade. Tomar a cruz coloca nosso espírito em evidência, ele passa a ter preeminência em detrimento da alma e do corpo.

O apóstolo Paulo não só proclamava o princípio da cruz, mas ele vivia uma vida crucificada. Sua mensagem não causou impacto apenas por ser verdade, mas por proceder de uma vida crucificada (Gl 2.19-20).

E da mesma forma este princípio é para nós hoje, está em nossas mãos cumprir esta que é a nossa parte (Mt 16.24). Todos os dias, todos os momentos temos oportunidade de tomar a cruz. Se a tomarmos avançaremos espiritualmente.

Ter revelação deste princípio é porta de entrada para a maturidade. Não é conhecendo princípios de fé, autoridade, prosperidade, etc. que andamos em maturidade. Mas também só ter o princípio da cruz é insuficiente, porque por exemplo a fé é necessária. Assim, é necessário um equilíbrio. A maturidade não é um estágio final que alcançamos, mas é o caminhar continuamente tomando a cruz.

Tomar a cruz é ...

1)     estarmos dispostos a sofrer dano

Todos nossos problemas têm raiz no ego, pois não suportamos perder, não sermos estimados, sofrermos quando alguém próximo é exaltado, não sermos aprovados, etc.

O ego quer ter autonomia, ele quer o reino, quer mandar. Todos queremos ser reis, mas D-us puniu Jesus dando-Lhe uma coroa de espinhos, a coroa que nós merecíamos. Por isso Jesus nos ensinou a orar: “Teu é o Reino (é Ele quem manda), Teu é o poder (é Ele quem decide), Tua é a glória (é Ele o alvo de todas as atenções)” (Mt 6.13). Se agimos em justiça própria estamos coroando para nós o Reino, o poder e a glória.

Quando estamos tristes na verdade é porque nosso ego foi contrariado, nossas expectativas foram frustradas. Assim, a maneira de D-us de nos livrar da nossa fonte de problemas (nosso ego) é a cruz. Só que há que haver a cooperação voluntária de nossa parte, tomando a cruz, para que Ele possa agir.

A má notícia é que o ego é exatamente o nosso ser. Não existe um dia em que se possa dizer “meu ego acabou”. O ego se expressa pelo que nos representa, a alma; por isso ela precisa estar submissa ao espírito, saindo da rebelião e passando à posição de agradar a D-us.

O relacionamento na Trindade é o tempo todo Um honrando o Outro. Em nenhum momento Um requer algo do Outro, mas espera que o Outro O levante. Por exemplo, se o Pai não ressuscitasse Jesus Ele continuaria morto. Outro exemplo, Jesus se esvaziou e nunca usou Seus poderes como D-us, antes, tudo que fez o fez pelo Espírito Santo.

Davi foi o maior exemplo no A.T. de tomar a cruz: não foi um Absalão para Saul nem foi um Saul para Absalão.

É impossível haver discipulado sem que se tome a cruz, porque é preciso ter disposição em servir, em não se defender, em se deixar tratar sem se afastar, etc. Nosso conceito de aliança é algo muito conveniente: temos aliança quando nos convém. Na verdade não fazemos idéia do que é aliança. É algo muito maior que um compromisso, seria como casar com alguém. Fala inclusive de cuidar dos descendentes, como Davi fez com os descendentes de Jônatas. Por vezes dizemos que temos aliança, mas não assumimos as responsabilidades devidas. A responsabilidade é para a vida toda, ainda que o outro lado rompa! Por exemplo, Israel manteve a aliança com os gibeonitas, mesmo tendo sido enganados por eles (Js 9). E Jesus pôde dizer que tinha aliança com os Seus a poucas horas do fim. E lavou os pés deles. Assim, a aliança é algo para os momentos ruins.

2)     não agradar à nós mesmos (Rm 15.1)

Não agradar a nós mesmos só é cruz quando a vontade de D-us é clara em uma direção, a paz de D-us nos guia nela e não é o que nossa vontade deseja, aí escolhemos não nos agradar para agradar a D-us. Assim, semeamos algo bom que colheremos mais tarde.

O dia em que nada mais tivermos (ou tivermos mas vivermos como se nada tivéssemos), nada mais reivindicarmos, será o dia em que teremos ao Senhor. Quando temos e não recebemos o que esperávamos estamos incorrendo em perigo.

Isto fala também de ser benigno para com aqueles que são tão inseguros que nem conseguem nos olhar nos olhos. Nestas situações, será que nos apresentamos intimidadores ou conseguimos deixar o próximo à vontade? Até as crianças ficavam à vontade com Jesus (Mc 10.13-16), porque elas sabem quem é que dá atenção à elas.

Podemos crescer como o cedro, para o alto, visto ao longe, segundo o homem, orgulhoso; ou como a videira, cujos frutos são acessíveis, não para cima, mas para os lados, segundo D-us.

3)     considerar os outros superiores à nós (Fp 2.3)

Muitas vezes não suportamos estar sob liderança de quem é menos experiente, inseguro. Mas D-us espera que nos sujeitemos porque Ele mesmo constituiu a autoridade (Rm 13.1).

4)     submeter-nos

É abrir mão do direito de autonomia. Um sinal do fim dos tempos é as pessoas não se submeterem (2 Tm 3.2), como hoje se vê. Só no século passado foram três grandes movimentos que foram contra o submeter-se: comunismo, feminismo e movimento hippie.

Não há ninguém fora de autoridade em todo o universo, exceto Satanás. Até os corpos celestes estão sob autoridade. E o nosso ego, por termos caído, está contaminado com o princípio de Lúcifer, de não aceitar autoridade.

Ao nos submetermos estamos delegando à outrem o governo de nossas vidas (em primeiro lugar à D-us e em segundo lugar ao discipulador). A prestação de contas e a supervisão são coisas que incomodam. Se achamos que nosso supervisor tem que nos honrar estamos agindo sob legalismo, presos ao “tenho direito à isso”. Mas quando servimos ao nosso próximo, ele fica livre, ou tem que dar a paga? Mesmo servindo nosso ego pode nos escravizar novamente, quando o fazemos por querer recompensa.

5)     termos corações ensináveis

Há pessoas que não suportam ser corrigidas, querem manter uma reputação de que sabem tudo. E como reagimos quando somos humilhados, corrigidos da maneira errada?

Há também aqueles que têm complexo de Adão, que pensam que o único que irá ensiná-los será D-us e o homem nada tem para lhes dar, e por outro lado os que julgam já saber tudo, que nada precisam aprender e nem precisam buscar revelação. Mas D-us resiste aos soberbos (Tg 4.6).

A obra e o poder da cruz têm operação instantâneas, se bem que para se ter benefício do poder da cruz é preciso ter a revelação correspondente. Já o princípio da cruz depende de nossa postura.

Em primeiro lugar, é estratégia de D-us formar Sua imagem, Seu caráter em nós. A única maneira de sermos mudados é tomando a cruz, portanto que desistamos de mudar seja quem for, tal tarefa nos é impossível. Em segundo lugar, o princípio da cruz é ferramenta de transformação da alma. E por fim é o meio de D-us de nos fazer liberar a Sua unção que está em nós, porque tomar a cruz produz quebrantamento.

D-us é o Oleiro, e nós somos vasos. O oleiro trabalha no vaso com duas mãos, uma por fora e outra por dentro. D-us trabalha em nós com circunstâncias exteriores e interiores.

Ao tomarmos a cruz ganhamos consciência de agradar a D-us, e a dor do ego outrora contrariado fica para trás. Isso é ser dependente de D-us, estar quebrantado. O vaso precisa ser quebrado para que seu tesouro interior possa ser manifestado.

2 Coríntios 4:

7 Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de D-us e não de nós.

Andar em maturidade é andar no princípio da cruz. Não existe um ponto em que chegamos que seja de maturidade completa. Sempre há mais alguma coisa a tratar.

Pessoas prolixas, confusas, tumultuadas nas emoções, são pessoas não quebrantadas. Também aquelas que se sentem rejeitadas, têm péssima auto-imagem. Na verdade elas ficam o tempo todo esperando receber amor de outros, assim, seu problema é que estão no centro! Tais pessoas não serão curadas dando amor à elas, mas sim em elas compreenderem que estão sendo egoístas e mudarem sua postura. Dar mais amor seria alimentar um buraco negro, porque nada pode suprí-las.

Que possamos ficar livres da expectativa de receber recompensa e ao mesmo tempo poder dar amor àqueles que ainda não perceberam que também eles não estão aqui para receber e sim para dar. Se apenas quisermos receber podemos nos tornar cada vez mais exigentes, por ter recebido amor demais. Neste estado precisamos é nos arrepender do egoísmo.

O quebrantamento toca a nossa vontade, quer seja ela fraca ou forte (porque ambas existem em nós, cada qual em áreas específicas de nossas vidas). A vontade fraca é quando somos incapazes de confrontar, falar a verdade, assumir responsabilidade, dizer “não”, colocar limites, etc. Tomar a cruz não é só se submeter, às vezes pode ser dizer “não aceito”.

É vencer o medo de dizer “não”, medo esse que é proteção para o ego, porque não queremos nos expor. Só que tudo de que temos medo pode vir a acontecer ... e no dia seguinte veremos que continuamos vivos! Por outro lado, tomar a cruz às vezes pode ser exatamente se defender. Por exemplo, Paulo se defendeu dos judaizantes. Há que haver uma definição clara das posições de liderança.

Já a vontade forte é naquela parte em que somos duros, não ensináveis, independentes. O processo de mudança vem quando D-us revela o mau cheiro da carne. Há que haver uma repugnância pela carne, senão nos tornaremos complacentes à ela.

Em alguma medida nossa paz interior é perturbada com as circunstâncias, mas à medida que a cruz opera em nós, mais difícil fica para nossa paz interior ser abalada pelas circunstâncias.

Quanto mais sensíveis ao Espírito Santo mais facilmente teremos compaixão e nos identificaremos com as pessoas, colocando-nos no lugar delas. O oposto é justamente o egoísmo.

Ao tomar a cruz o vaso exteior é quebrado, e o conteúdo interno do vaso é manifestado. Por isso quando estamos quebrantados, porque onde quer que formos haverá vida de D-us irradiando de dentro de nós, gerando quebrantamento ao nosso redor.

O nível de fruto é diretamente proporcional ao nível de quebrantamento. É bem diferente D-us agir através de nós ou nós tentarmos realizar algo para Ele. Mas não paremos de andar por causa da dúvida “sou eu ou D-us?”, antes, continuemos prosseguindo com a luz que temos. E quando Ele trouxer mais luz, que ajamos conforme a luz que Ele trouxe.

A pessoa quebrantada é facilmente edificada, submete-se à qualquer um, e está pronta para frutificação. As pessoas não entenderão o que se passa, mas perceberão que há algo diferente em nós, por termos sido moídos como Cristo para exalar Seu bom perfume (Is 53.10; 2 Co 2.15). Já sem quebrantamento o tesouro interno não é manifestado, mas sim o vaso de barro, que suja tudo no que encosta.

Uma igreja que não vive no princípio da cruz é uma multidão, cujos pastores trabalham como bombeiros, “apagando incêndios”. Já a igreja que vive neste princípio é uma igreja de discípulos. Esta é a base para se edificar uma igreja.

A cruz é a base da aliança, da submissão da autoridade. Enfim, é o trono do universo. Ela nos leva a expressar a personalidade de Jesus.

A história de nossas vidas é o contar do caminhar com D-us, seja avanços ou momentos de estagnação, decorrentes de tomarmos ou não a cruz.

“Livra-me do desejo de ser amado ... e do medo de não ser amado ... e dá-me querer amar mais ao outro ...”

Aquilo que conquistamos em primeiro lugar para nós não perdurará. Por exemplo, as terras que Calebe conquistou logo foram perdidas. Notemos que a primeira preocupação de Calebe era com sua herança. Já Josué só tomou posse de suas terras quando todo Israel descansou.