A CRÍTICA SOCIAL DO LIVRO “O SENTIMENTO DO MUNDO”- CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Por Ana Aparecida da Rocha | 08/04/2017 | Educação

A CRÍTICA SOCIAL DO LIVRO“ O SENTIMENTO DO MUNDO”- CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

FERREIRA, Maria de Lourdes Costa*

ARAÚJO, Elísia Fernandes*

 

RESUMO:O presente Ensaio tem como objetivo explicar de forma clara, a crítica social na obra, O sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, onde este demonstrar no livre seu pensamento e seu ponto de vista sobre o mundo, assim como descrever o sofrimento vivido na época em que o livro foi escrito, pois sendo o livro publicado em 1940, onde o mundo se deparava com Segunda Guerra Mundial, bem como as questões políticas enfrentadas, ondeDrummond procura expor tanto seu sentimento com o das pessoas oprimidas na sociedade.

Palavras-chaves: Sociedade, Sentimento, Sofrimento.

 

         A obra poética O Sentimento do Mundo de Carlos Drummond de Andrade, é o terceiro livro do autor, sendo publicado no ano de 1940, composto de 28 poemas. Este revela uma modificação do poeta que mostrava em suas obrasanteriores um caráter mais individualista, passou a ter uma visão crítica sobre a realidade circundante e um tom marcadamente político. A linguagem utilizada é mais informal, humanizada, promovendo maior aproximação entre escritor e leitor, versos brancos e livres, característicos da poesia modernista.

      Carlos Drummond de Andrade é um poeta diferenciado que mescla em sua obraO Sentimento do Mundo,memórias do seu cotidiano, expõe situações sociais da modernidade, com pitadas de ironias. Antônio Cândido faz uma análise do poeta identificando um engajamento político e social em sua obra poética:

“A consciência social, e dela uma espécie de militância através da poesia, surgem para o poeta como possibilidade de resgatar a consciência do estado de emparedamento e a existência da situação de pavor. No importante poema “A flor e a náusea” - RP, a condição individual e a condição social pesam sobre a personalidade e fazem-na sentir-se responsável pelo mundo mal feito, enquanto ligada a uma classe opressora. O ideal surge como força de redenção e, sob a forma tradicional de uma flor, rompe as camadas que aprisionam." (CÂNDIDO, 1970, p.105).

         Para Alfredo Bosi, Drummond vislumbraum “hiato entre o parecer e o ser dos homens e dos fatos que acaba virando matéria privilegiada de humor”, (BOSI, 1975. p. 491.) sendo característica marcante em sua lírica. E ainda cita que “desde Alguma Poesia foi pelo prosaico, pelo irônico, pelo anti-retórico que Drummond se firmou como poeta congenialmente moderno”. (BOSI, 1975, p. 495). O poeta se apropriou da linguagem de forma correta e precisa, com grande elegância estilista e autencidadeexpõe as deformidades da sociedade moderna.

          Em O Sentimento do Mundo, obra emblemática de Drummond faz uma conexão entre o “eu” e o “mundo”, muitas vezes ao falar de si, está falando do mundo, e ao expor os problemas do mundo, ele está de fato tentando entender seu universo interior.

      Em seu primeiro poema, intitulado com mesmo nome do livro Sentimento do mundo:

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor. (Andrade, 2008, p. 09)

         Sob um olhar crítico e reflexivo estes trechos trazem um sentimento de melancolia, o eu lírico se solidariza com humanidade, tem anseio de aproximar do seu semelhante e mostra as mãos, onde a mão pode ser tomada como a consciência o que lhe permite sentir o mundo, quando afirma “mas estou cheio de escravos” se refere às forças sociais que escravizam e impedem os homens de se socializarem.

       A seguir o eu lírico nos mostra sua impotência frente aos problemas que rodeiam, sente-se despreparado para ajudar seu semelhante, lhe restando apenas pedir perdão:

Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis. (Andrade, 2008, p.09)

     Drummond é um poeta de muitas faces, e uma delas é ser memorialista como no poema Confidência do Itabirano, com um estilo pautado na exposição de um conflito, o eu lírico se encontra numa situação de solidão, mas cercado de coisas materiais. Relatando memórias de um tempo passado, de sua terra natal, o eu lírico revela características de sua personalidade “por isso sou triste, orgulhoso: de ferro” (Andrade), utiliza a metáfora para mostrar uma alma enrijecida, isolada. No verso abaixo o poeta guache fala de suas ricas memórias e ao que hoje está reduzido, um ser melancólico e nostálgico:

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. hoje sou funcionário público Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! (Andrade, 2008, p.10)

          No poema Inocentes do Neblon,Drummond põe em sua poesia tons de ironias com teor sarcástico, onde faz uma crítica à sociedade burguesa. Ele vê uma classe social alienada, individualista que ignora a realidade nociva que rodeava a todos.Uma vez que o mundo vivia um momento de inquietude com a proximidade da Segunda Guerra Mundial:

Os inocentes do Leblon não viram o navio entrar. Trouxe bailarinas? trouxe imigrantes? trouxe um grama de rádio? Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, Mas a areia é quente, e há óleo suave Que eles passam nas costas, e esquecem. (Andrade 2008, p.16)

       No poema Meus ombros suportam o mundo, o autor quis mostrar a vivência do homem, e isto faz com que ele não se surpreenda com nada. Essa experiência mostra que todo sentimento é inútil como o trecho “Porque o amor resultou inútil” (Andrade “negativo na medida em que se ensombra com os tons cinzentos da acídia, do desprezo e do tédio, que resulta na irrisão da existência”). (BOSI, 1975, p.492).

        Com o passar do tempo o homem vai atingindo uma indiferença com a vida, resultante das ações e situações do seu cotidiano, não temendo a morte, vive de forma mecânica, sem ter esperança, sem sonhos. A vida é simplesmente a vida.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo, preferiram (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação. (Andrade 2008, p.23)

        Em Mãos dadas, o poeta afirma que não vai cantar o mundo caduco, toma consciência dos conflitos sociais, vê um mundo individualista, onde predominam a indiferença e o ódio. O eu lírico tem grande interesse no tempo presente e dialogo que todos devem estar unidos de “mãos dadas”, pois existe um clima de repressão política e de preparação para a Segunda Guerra Mundial.

     Outro poema que embora tenha tonalidades de ironia, apresenta a melancolia do autor é dentaduras duplas, que revela que os desejos, os sonhos do ser não vão embora com o tempo, não mudam, mas o corpo vai sendo aos poucos mutilado, envelhecendo, já não despõe mais das mesmas forças e assim não conseguir mais realizações dos sonhos. O que dá consolo ao eu lírico pelo peso negativo da idade é a substituição das dentaduras naturais pelas artificiais. Possibilitando assim um revigoramento das forças para lutar por seus sonhos:

Dentaduras duplas: dai-me enfim a calma que Bilac não teve para envelhecer. (Andrade 2008, p.25)

 

 

 

CONCLUSÃO

Embora a sociedade passe por um momento de guerra e divisões, onde o individualismo de muitos tire a esperança de uma sociedade igualitária, Drummond utiliza uma linguagem irônica, em meio a uma sociedade que se depara com a segunda guerra mundial, mesmo com a realidade enfrentada deixa transparecer um sonho de uma sociedade melhor, uma esperança que se firmaria com a união de todos.

 

 

 

REFERÊNCIAS

GUIA DO ESTUDANTE, Analise da obra. Disponível em: . Acesso em: 10 de janeiro de 2016.

UNICAMP, Publicações. Disponível em:. Acesso em: 10 de janeiro de 2016.

CÂNDIDO, Antônio. Vários escritos. São Paulo: Liv. Duas Cidades, 1970.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.