A criança não é um sintoma...
Por Reinaldo Müller (Reizinho) | 01/02/2016 | PsicologiaA teoria psicanalítica sobre a criança é exatamente a própria teoria psicanalítica, pois ela diz respeito ao sujeito, seja ele criança ou adulto.
No entanto, a práxis com crianças se revela de forma peculiar para aqueles que se dispõem a escutá-las. Uma criança chega ao consultório levada por seus pais ou responsáveis e é necessário que exista demanda de análise por parte deles, isto é, que eles falem do sintoma atribuído à criança...
Nas entrevistas preliminares, a criança deve ser ouvida independente do discurso de seus pais. É importante que o analista diferencie a criança do sintoma da criança para poder escutá-la enquanto sujeito e não apenas reduzi-la àquilo de que os pais se queixam.
No entanto, o sintoma sempre inclui o sujeito e o Outro. É o vínculo que determina. A criança deve ser entendida em seu contexto familiar, pois seu sintoma se relaciona com a família – o seu primeiro laço social. Aliás, todo sujeito, criança ou adulto, para constituir seu sintoma retira, necessariamente, algo do parenteral, ou das relações de vínculo. O Outro, também, me ressignifica...
A questão sobre o que revela o sintoma da criança é essencial para orientar o analista quanto à perspectiva diagnóstica. Caso contrário, emerge o perigo do analista se fechar em pré-julgamentos herméticos e rígidos.
O sintoma da criança não deve ser interpretado de forma unilateral, pragmática, ou como alvo exclusivo de atenção, mas, sim, como uma simbologia a ser decifrada, para criar de forma transferencial a possibilidade de surgimento de seu Desejo. Vale lembrar que para a psicanálise, a doença não é definida pela presença de sintomas, mas, antes pelo sofrimento, denunciado pelos sintomas...
Num contexto problemático de ordem emocional, quase sempre, o sintoma da criança representa a verdade do casal. É por certo complexo lidar com essas questões, mas, também, é o mais acessível às intervenções psicanalíticas – é o núcleo estrutural da neurose na maior parte das vezes.
Em outro panorama, o sintoma da criança decorre da subjetividade da mãe, da verdade só da mãe, ele é correlativo da fantasia materna em que a criança é implicada – é a posição da psicose. A criança é o Desejo de um Outro...
Quanto à psicanálise com crianças, devemos considerar que o que representa um signo para os pais, não, necessariamente, se traduz em sintoma para a criança.
Com efeito, o trabalho analítico consiste em acompanhá-la na constituição de seus próprios sintomas. Estas são algumas questões que Jacques Lacan nos propõe e que nos colocam a trabalhar o tema.
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