A CRIAÇÃO LITERÁRIA NAS MÍDIAS SOCIAIS
Por TÉRCIO DE ABREU PAPAROTO | 11/02/2013 | TecnologiaA CRIAÇÃO LITERÁRIA NAS MÍDIAS SOCIAIS: UMA PERSPECTIVA PEDAGÓGICA1
Tércio de Abreu Paparoto2
Anhanguera Educacional
Resumo
Este artigo apresenta um panorama sobre a utilização das redes sociais como instrumentos estimuladores, formadores e divulgadores de textos de natureza literária, bem como o de possibilitadores de práticas pedagógicas que ampliem o gosto pela leitura e pela produção textual.
Palavras-Chave:Mídias Sociais-Literatura-Criação Literária-Pedagogia-Leitura-Produção de textos
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1 O presente artigo constitui uma parte do projeto de pesquisa Mídias Sociais: tendências e desafios da comunicação em rede, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa da Anhanguera Educacional e financiada pela FUNADESP
2 Doutor em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (USP), Professor e Pesquisador ; Anhanguera Educacional e FUNADESP-Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular – E-mail: tpaparoto@usp.br
INTRODUÇÃO
A dinamicidade que caracteriza hoje o universo digital convida, mesmo os menos afeiçoados, a disporem-se diante de uma tela – seja esta de um costumeiro desktop, de um notebook, de um netbook, de um tablet ou mesmo de um celular com bons recursos -, para a realização de tarefas diárias as mais diversas, de menor ou maior complexidade.
Num horizonte que se amplia a cada instante, apresentando possibilidades cada vez mais reais e eficientes de interatividade, “conectar-se” com o mundo tornou-se algo obrigatório: ou se está linkado ou se vê oportunidades de ordens diversas, principalmente as profissionais e sociais, sumirem como oásis no deserto diante de lúdicas retinas.
“Aparecer” no e para o cenário digital tornou-se prática fundamental, uma vez que, por ele, as “treliças” da Web se encontram, “visitando-se”, conhecendo-se, mostrando-se e, sobretudo, estabelecendo possibilidades de divulgação de novas formas de produção artística. Por meio dessas ferramentas tecnológicas contribui-se com o alastramento da criação, com o apego à manifestação cultural e, ainda, permite-se que sirvam de reflexão nos meios escolares, como veículos estimuladores do processo de leitura e de escrita, em um país que apresenta índices muito aquém do satisfatório no que diz respeito ao aprendizado de nosso idioma.
É por tais razões que se diminuíram as distâncias entre aqueles com certo dote literário e vontade de inclusão e as mídias sociais, pois passaram a se expor mais devido ao universo de possibilidades virtuais que se abriram no horizonte digital. E, na outra ponta dessa interessante conexão, está a escola. Ainda que redes sociais promovam discussões pedagógicas as mais ardentes, o fato é que elas chegaram, são realidade inconteste e, certamente, podem possibilitar o desenvolvimento linguístico de nossos alunos, inclusive por meio das produções literárias dos próprios estudantes como a muitos outros autores desconhecidos, mas que militam nas suas criações virtuais.
Ainda sobre o grau de polemicidade que habita as reflexões de natureza pedagógica acerca da relação aprendizado-redes sociais, é importante observar que, em nosso título, usamos a palavra “perspectiva”, pois longe está de não considerarmos, com bastante parcimônia, o modo prudente como devem se relacionar essas plataformas tecnológicas com os mecanismos de aprendizagem. Alguns estudos já foram desenvolvidos para refletirem sobre essa questão e, em medida certa, serão aqui abordados. Uma das primeiras observações que podem já de antemão clarear as intenções a serem aqui expostas, sai das palavras de Andrea Ramal, especialista em novas tecnologias, em participação na publicação especializada na área digital Revistapontocom, em julho de 2011, que pondera o seguinte:
“As redes sociais potencializam as atividades que se realizam em grupo, pois por meio delas os alunos podem se relacionar com outras pessoas. Pode haver produção coletiva de conhecimento, numa espécie de rede cooperativa de aprendizagem. Acredito que as redes sociais vão ajudar a fazer da sala de aula um ambiente mais interativo e dialógico, pois o modelo unidirecional da comunicação, no qual o professor fala e o aluno ouve, será substituído pelo modelo das redes em que todos os sujeitos têm vez e voz”. (RAMAL: 2011, p. 1)
Válido seria dizer que se tem a internet –hoje- como mais um instrumento didático de suma importância. Entretanto, ela não se pretende a “dona da verdade” ou “modelo geral” para todos os ramos do conhecimento. Ela não é um instrumento “pronto”, fechado, ao contrário de muitas das formas como se utiliza a rede. Ela é uma espécie de “condução” para uma interessante viagem ao conhecimento. Portanto, deve-se entender as redes sociais como instrumento que permite o desenvolvimento das pessoas e o seu limite deve terminar quando a utilização dela fere os princípios da conduta ética.
Ora, a criação literária, sabe-se, não se encerra em si mesma, não se resume tão-somente em momentos de inspiração para se entendê-la como de qualidade, não se trata unicamente de emanação ebúrnea da alma, mas também ela é merecedora de um tanto de elementos teóricos que possam avaliá-la, tornando-a mais interessante, tão mais próxima das e presente nas razões da existência humana. Não se trata de afirmar aqui que as mídias sociais têm o “poder” de qualificar aquilo que é “bom” ou “ruim”. Mas em muitas delas, sobretudo nalgumas comunidades específicas e em diversos blogs, o próprio conjunto de participantes estimula uma produção que seja entendida como de valor. Em outras palavras, quer-se dizer que as redes sociais não aceitam “qualquer texto”, mas aqueles que realmente possam trazer algo significativo, tanto no aspecto temático quanto no estrutural, daí haver implícito certo valor teórico em tais criações. Dessa preocupação com uma coerência com o que transita na rede, aproxima-se a natureza pedagógica das escolas, uma vez que, com tais produções, poderá existir um caminho (ou muitos) para o estímulo à leitura e à produção escrita. Sobre essa questão de se entender a criação literária respeitando certos critérios, Roberto Acízelo de Souza, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, afirma que
“[...] uma teoria, construída em função de qualquer campo de observação que se ofereça ao homem – quer esse campo se situe na natureza, quer se situe na cultura – implicará sempre criar problema(s) onde o senso comum não vê obscuridades cujo esclarecimento justifique o empenho da razão analítica. Quem se banha ou mata a sede numa fonte limita-se a servir-se dessa coisa cristalina que é a água, não se coloca o problema da sua composição química ou de seu estado físico [...] Desse modo, não é privilégio da literatura a faculdade de subtrair-se ao reino do óbvio por intervenção de uma teoria.” (SOUZA: 2011, p.9)
É bem verdade que o papel de nossas escolas no que tange ao processo de leitura e de escrita tem sido o mais ácido que se possa imaginar. Realidades as mais diversas, calcadas sobre aspectos sociais, culturais e familiares, são alguns dos pilares dessa dura questão. Parece-nos, em princípio, que processos pedagógicos entendidos como “tradicionalistas” - como aqueles em que o professor é o agente produtor de tudo e seus alunos apenas expectadores, “consumidores passivos” de um conhecimento vindo “de cima”-, são modelos para além de esgotados e principais causadores de desestímulo para o ato de aprender. Todavia, quando se aproxima a ideia de criação da de aprendizagem, resultados são melhorados, porque atinge-se um denominador comum que é o prazer, a vontade. Portanto, criar é um degrau muito próximo de aprender, e vice-versa, como o que se pretende aqui discutir sobre essa relação criação literária – redes sociais – aprendizagem.
CRIAÇÃO LITERÁRIA NAS REDES SOCIAIS__________________________
- 1. Um panorama das manifestações literárias nas redes: as comunidades de escritores “digitais”
1a) Breve panorama histórico
Aqui se pretende apresentar, de maneira muito ampla, o percurso histórico das principais redes sociais no mundo.
Confirmado o papel importante da internet no cotidiano das pessoas, o fenômeno das chamadas “redes sociais” se instalou como uma forma de propiciar – inicialmente – o compartilhamento de arquivos entre amigos e internautas com gostos afins. Essa realidade tomaria rumo a partir da década de 1990, com a idealização da Web, por Tim Berners-Lee. Entretanto, as primeiras maneiras de relacionamento eram os e-mails, os principais responsáveis pelas trocas de informações.
Contudo, o dinamismo e a diversidade de informação multiplicam-se de modo a acompanhar a velocidade das ideias veiculadas, havendo, portanto, a necessidade de ampliação de plataformas mais abrangentes, flexíveis e atraentes de comunicação.
Em 1997 surge um dos primeiros provedores de internet – a AOL Instant Messenger, que, por meio do AOL Messenger, contribuiu para as primeiras mensagens instantâneas, embora o acesso fosse limitado aos seus assinantes.
Ainda nesse ano, surge a primeira rede social que permitiria a criação de um “perfil” do usuário, bem como a publicação e a lista de contatos. Trata-se do Sixdegrees. Com ele, o conceito de visualização de perfis por terceiros tornou-se uma realidade. Dali seria um passo para muitas outras.
De 1997 a 2002 surgiriam muitas redes sociais. Com tais características e com forte poder de “aglutinação” de usuários, aparece o Friendster que tinha a peculiaridade de criar mecanismos para incentivar relacionamentos entre pessoas com as mesmas afinidades.
As “redes” só faziam crescer. Muitas delas usavam as mesmas fórmulas que consagravam outras e, a partir delas, aperfeiçoavam-na para atrair mais e mais usuários. Desse modo, surge o My Space, em 2003, a partir dos princípios do Friendster, mas flexibilizando sua utilização, como abrindo espaço para o registro de músicas favoritas, fotos e blogs, tudo personalizado pelo usuário.
No ano seguinte vem à luz o Linked In, Web 2.0. Tornou-se importante porque caracterizou um outro formato, uma outra ideia para as redes sociais, isto é, de simples plataforma de relacionamento para a de relacionamentos de motivo marcadamente profissional.
No mesmo ano, o engenheiro e funcionário do Google, Orkut Büyükkokten, daria seu primeiro nome a uma das redes mais populares do mundo, tendo o público norte-americano como alvo principal.
E, finalmente, os estudantes da Universidade de Harvard, Mark Zuckerber, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Cris Hugues, fundam o Facebook que, inicialmente, deveria funcionar somente no âmbito da própria universidade americana. Deveria. Atravessou os muros da Academia e tomou, de forma deslumbrante, o mundo todo.
Em 2006, cria-se o Twitter. Concebida como uma “rede veloz”, foi vista como uma das mais revolucionárias por apresentar um limite de 140 caracteres para publicação de conteúdo. Sem dúvida, essa rede despertaria a curiosidade dos profissionais da palavra escrita – literatos, jornalistas etc.-, pelo desafio de dizer o máximo com menos, bem como o de profissionais da educação, sobretudo no que diz respeito à produção textual, mais especificamente o poder de síntese.
1b) as comunidades e blogs de escritores nas redes sociais: quem são, como produzem, o que pensam
Com o estabelecimento das redes sociais a ideia de compartilhamento de informação configura-se para além de uma tênue vontade, uma lépida vaidade. O aparecimento delas veio acompanhado de possibilidades bastante flexíveis, como a postagem de vários pensamentos e gostos como músicas, fotos e até mesmos blogs, refletindo um dinamismo da diversidade dos conteúdos do mundo moderno.
Na esteira dessa reflexão, muitos usuários, com gostos e talentos afins, talentos estes encobertos muitas vezes pelas injustas exigências de grandes mecanismos empresariais, veem, nessas redes, a possibilidade de projeção de seus trabalhos, fortalecidos pela organização de comunidades com propósitos, em sua maioria, bem claros. É fato que a publicação de trabalhos, por meio impresso, passa por dois obstáculos: o primeiro, o da aceitação do trabalho do escritor que, mesmo oferecendo qualidade, distancia-se das intenções de mercado do editor e da editora; e, o segundo, é o fator preço que, sem dúvida, está além das possibilidades do cidadão comum, isto é, o total financiamento do produto artístico fica a cargo do próprio autor. Somado a isso, surge um conjunto de indagações sintetizadas em como substituir a ideia de se publicar em livro as criações artísticas pela ideia de vê-las nas redes. André de Jesus Neves, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, em interessante artigo sobre a produção literária na rede, afirma:
“Nota-se, nesse sentido, que, com o surgimento da internet, a literatura mais uma vez é posta em xeque, quanto ao seu lugar, autoria e valor. Que literatura se inventa nesse contexto volátil, fluido, hipertextual, dinâmico e desterritorializado? Qual é a importância do autor/escritor no contexto da cibercultura? Que novas criações estão surgindo nesse novo espaço?” (NEVES: 2010, p.3)
Às perguntas edificadas acima pelo pesquisador seguem-se algumas reflexões que julgamos aqui importantes. No que diz respeito à concepção pública que a internet traz em seu escopo, onde estaria o “espaço autoral” da criação literária? E mais: não sendo o produto desta criação exatamente um livro, algo “concreto”, “palpável”, com teor “documental”, não se configuraria aí uma impressão de algo “solto” pela rede, portanto suscetível em sua integridade?
Embora todo o tipo de criação que se utilize da Web para se fazer conhecida esbarre em problemas jurídico-autorais –pela própria natureza pública que contorna a silhueta da internet e, ressalte-se, não seria esse tema algo a ser desenvolvido por este artigo propriamente-, muitos autores-internautas fazem da rede suas “editoras”, organizando-se (ou não) em comunidades e escrevendo blogs. A Dra. Eliane Yachou Abrão, atuando há três décadas em Direito à Propriedade Imaterial, em artigo veiculado no “Portal São Francisco”, traz mais luz ao contraste criação artística X propriedade intelectual na rede. Diz ela:
[...] o grande problema principalmente em relação a textos que a Internet traz é o relativo à autenticidade da obra, literária ou científica, em virtude da facilidade de adulterá-la pelos meios técnicos colocados à disposição do operador de qualquer computador. Essa violação aos direitos morais do autor podem vir a ser combinados com danos morais puros porque a alteração poderá vir a atingir o autor, como pessoa, em sua honra subjetiva [...]Textos literários longos ainda não preocupam seus autores e titulares com relação ao uso através da web, porque não interessam aos velozes internautas, ao contrário dos textos enxutos, das crônicas, das poesias, dos artigos jornalísticos. Mas todos, sem exceção, só podem ser veiculados com a autorização de seus autores. (ABRÃO: 2010, 1)
Mesmo sob essa problemática relação “proteção autoral” X rede, como já exposto anteriormente, surgem muitas manifestações com características literárias nas redes sociais, organizadas em comunidades ou mesmo individualmente. De todo o modo, é indiscutível o papel da Web como responsável por criar a possibilidade de surgimento de talentos. E algumas editoras, como a Matrix, deu um passo importante nesse sentido ao transformar sites, como a Mothern, em livros, e o aparecimento da Blog de Papel, cuja função é trazer textos e ilustrações de autores, os mais diversos, que se unem para criar blogs de divulgação literária.
E, nessa esteira, estreitaram-se as relações entre os conteúdos –sítios sobre livros, leitura, literatura em geral-, e as respectivas produções – em especial aquelas organizadas em redes como Twitter e Facebook, por exemplo-, com o objetivo maior de dar visibilidade aos novos autores e suas ideias. Por meio dessa relação cite-se a rede “Skoob- - Beta”, criada em 2008, que se tornou conhecida pela divulgação boca a boca. Oferece um serviço de de informação que se baseia na apresentação de grupos de debates e ferramentas como o “paginômetro” – que calcula o número de páginas lidas pelo usuário, entre outras atrações. Há também “O livreiro – Beta”, lançada em 2009 durante a FLIP, a Feira Literária de Paraty, trazendo muito conteúdo literário, debates e troca de experiências literárias em geral. Finalmente, nessa linha, há o “TrocandoLivros” – escreve-se junto mesmo. Embora exista a ideia de socializar a troca de exemplares, o fato interessante é a divulgação de trabalhos totalmente produzidos na Web, cujos autores não foram ainda divulgados.
Embora não se trate necessariamente de “criação” literária, há comunidades nas redes que se predispõem a “discutir” a criação: trata-se da Comunidade “Escritores – Teoria Literária”. Assim como esta, há a comunidade “Discutindo Literatura” que, além dos textos já consagrados, auxilia os novatos a entenderem melhor a metodologia do fazer literário.
Na linha da criação, há a comunidade “Oficina Editora” que, além de disponibilizar os chamados e-books gratuitamente, é, sem dúvida, uma usina de estímulos aos novos autores que vêm, no conjunto bibliográfico, um apoio para seus escritos. Por falar em escritos, há o “Espaço da escrita”, de origem portuguesa, que promove a aproximação das manifestações literárias em língua portuguesa, bem como abre espaço para a troca de impressões e pensamentos sobre leituras. Já no Facebook o número de comunidades só faz crescer. Muitos grupos que no Orkut se instalaram passaram também a aportar no “Face”. Das milhares que ali se encontram, cite-se a “Benfazeja – Comunidade Literária” que, como as outras, tem o mister de divulgar concursos literários, a criação de poesias, contos, crônicas, entrevistas, conversas e até filmes afins.
Enfim, há um universo na rede que se abre para o mundo da criação literária que este artigo apenas intenta em mencioná-lo, pois são numerosas e exigiria um trabalho mais longo. Entretanto, é valioso reforçar que, além dessa criação, todos esses grupos têm a preocupação de também estudar o texto literário, praticando a ideia de responsabilidade daquilo que se publica. Em síntese: não se trata somente de “postar” um texto, mas entendê-lo melhor antes de torná-lo público.
- 2. As criações literárias como perspectivas pedagógicas
2a) As plataformas tecnológicas e os projetos pedagógicos
Tem-se a consciência, aqui, de que a expressão “plataformas tecnológicas” apresenta um significado mais amplo e diverso. Quer-se, entretanto, fazer uso dessa expressão no sentido das redes sociais como promotoras do estímulo à leitura e à produção textual, por meio de experiências em diferentes níveis escolares.
Aline Lisboa e Eloy Vieira, dois importantes pensadores da Educação, em artigo intitulado “O uso das redes sociais como método alternativo de ensino aos jovens”, publicado no portal “midiassociais.net”, apresentam uma reflexão ponderada e bastante didática sobre a aproximação desses espaços como fontes de estímulo para o aprendizado, principalmente aqueles que privilegiam a informação, portanto a leitura, e a escrita. Numa visão geral, dizem que
“O uso das novas tecnologias associadas ao ambiente formal de ensino é uma realidade que pode ser reiterado por centros de estudos específicos sobre a área, como é o caso do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), que vem demonstrando como o uso das redes sociais no ambiente escolar pode colaborar para o processo do ensino-aprendizagem. A ampla disseminação entre as novas gerações do uso das novas tecnologias e, mais especificamente, das redes sociais na internet pode ser de grande valia para educação. O trabalho em rede pressupõe colaboração, cooperação, valores que só enriquecem o processo de aprendizado” (LISBOA & VIEIRA: 2010, p.1)
Portanto, partindo-se dos princípios acima apresentados como o da colaboração/cooperação, as redes sociais que acolhem o impulso criativo com possibilidade de abertura para reflexão sobre essas mesmas criações e conteúdo já consagrado, só têm a acrescentar aos professores, uma vez que, os professores, investigando e inventariando todos os grupos presentes na rede que permitem um diálogo com o processo pedagógico a partir de seus acervos, têm em mãos instrumentos que certamente atraem os alunos, pois não estão distantes de sua realidade.
Nessa “ponte” que vai das redes sociais aos projetos sociais, muitas iniciativas têm se consagrado. Um dos primeiros projetos fez do Orkut uma das ferramentas mais populares, pois, antes da chegada do Facebook, agregava o maior número de brasileiros, sobretudo os mais jovens. Ainda bastante usado, possui um grande número de comunidades, com troca intensa de informações. No que diz respeito às comunidades literárias, muito dos espaços criativos –e criadores- servem como suporte para incentivo ao processo de leitura e de produção literária.
Outro projeto interessante é o Ning, tido como um communnity building “a favor da educação”, como se apresenta. Ainda um pouco mais restrito do grande público, conhecido por ser um community builder, sua importância repousa na ideia de se criar uma rede social própria. Isso possibilita determinados grupos educacionais personalizarem suas produções como fóruns, blogs, chats, vídeos, imagens, áudios, entre outros. Portanto, é o “link” entre os processos de criação – o literário, de um lado, e o da construção da “rede pedagógica”, de outro.
Mas, talvez um dos mais desafiadores seja o Twitter. Por permitir a disseminação da informação de forma rápida e eficiente, também possibilita o “armazenamento” do conhecimento. Com a presença dos chamados hashtags – o símbolo # - o usuário pode “etiquetar” determinados assuntos, abrindo espaço para as consultas de determinados temas e assuntos. Mas, o grande trunfo – ou desafio- do Twitter são os registros escritos em 140 caracteres. Há comunidades, bem como escritores desvinculados delas, que criam seus textos nesse exíguo espaço, uma forma interessante de ensinar os alunos como pensar a escrita de forma sintética e objetiva.
2b) Perspectivas
Chega-se ao fim deste breve artigo concluindo-se que não só o interesse pela Literatura e pela produção literária assim como pelo uso de novas ferramentas tecnológicas como “ponte” entre as redes sociais e a escola estão cada vez mais nas pautas de discussão.
É cada vez mais necessário que as instituições de ensino se entreguem de todo para o que se passa nas redes sociais, filtrando seus conteúdos e abrindo as portas para aqueles cujo teor é o da criação de qualidade. É imprescindível que as escolas enxerguem nessas redes instrumentos valiosos e auxiliares para o aprendizado. Por elas, estimulam-se os discentes, fazendo-os interagirem com várias ferramentas, num processo de aprendizagem coletiva.
Não se tenha dúvida de que se fala também aqui, ainda que de forma célere, da questão da inclusão digital, que vem na esteira de toda esta reflexão. O CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, é um desses projetos que incentiva o uso de redes sociais nas escolas, assim como o “Tonomundo”, cuja ação denominada “Minha Terra”, que pertence ao programa EducaRede, iniciativa da Fundação Telefónica, permite a formação de equipes de professores e alunos que interagem na criação de reportagens sobre a comunidade local a partir de registros linguísticos os mais diversos, propiciando o conhecimento de diversos gêneros textuais, entre eles o literário.
Uma coisa é incontestável: nada é limite, nos dias que correm, entre as redes sociais, o conhecimento e a aprendizagem. Com iniciativas como as vistas acima, que aproximam alunos do que vai na rede, o processo de criação literária, presente em muitas comunidades, é, para além das vaidades pessoais, um instrumento inegável para se incluir os jovens no gosto pela leitura, bem como o de torná-los potenciais escritores que possam enxergar, no sonho de suas palavras, o mundo que lhes muito pertence.
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