A cosmogonia da máquina em relação a gênese da peça (segundo um torneiro visionário)
Por Pablo Araujo de Carvalho | 11/08/2016 | CrônicasSomos indissociáveis…
Eu máquina e você peça
Você prescinde de mim peça
Eu máquina sou o motivo de sua existência
Você no lugar errado não me serve bem
Só desabrocha como peça quando colocada no seu lugar natural na engrenagem chamada vida.
Cada peça tem sua função e qualidade divina
Herdada da imanência maquina a qual fundamenta sua origem.
Peça quando fora do eixo não serve a máquina.
Peça que fora da máquina é uma rosca inútil
Parafuso perdido, que na mão de uma criança assume identidade abstrata, ora é barco, ora é um carro, ora um soldado, ora um bandido, ora esquecido por hora…
Oh máquina que justifica a existência de todas as peças, que me indique uma engrenagem por onde possa desabrochar meus talentos de peça e assim melhor servir a maquina servindo minhas outras partes que são peças a serviço do bem comum que a máquina justifica a existência.
Partes que se afetam, peças que se chocam dentro da caixa de ferramenta em busca do seu lugar natural na engrenagem chamada vida.
Lá na caixa é escuro e quando aberta pelo dono da caixa, sempre há a esperança de alcançar o motivo real de nossa existência de peça que é servir o todo como uma das muitas peças que se movimentam, que se afetam, que se chocam, em busca do desabrochar da sua função na ordem cósmica do universo.
A intenção da máquina é servir o todo
A intenção da peça é servir a maquina como parte do todo que compõe a máquina
A máquina e a peça são indissociáveis
A máquina justifica a existência da peça
A peça está na máquina como parte
E a máquina está na peça como o todo que a justifica.
Sabemos que somos peça e essa não é nosso angústia
Porém a resposta pela busca existencial nessa caixa de ferramenta gigante e escura, é em qual máquina me encaixo?
Sei que sou uma parte importante para máquina, mas desconheço qual a engrenagem que revela minha função natural no todo da máquina que justifica minha existência de pequena grande peça.
E nessa caixa escura vamos nos afetando com encontros com outras partes-peças e ora nos chocamos violentamente, que chegamos a esquecer que somos peças importantes da máquina.
Ora nos chocamos e nos afetamos tão deliciosamente que esquecemos da responsabilidade de peça fundamental da máquina e só queremos viver como peças descomprometidas com a máquina e sobrevivendo e justificando a nossa existência no encontro fugaz com as outras peças transitórias já ausentes da máquina.
Passamos a nós tornar singulares e genuínas peças individualizadas do Todo-Máquina
De tanto tempo distante da máquina esquecemos que somos peças e assumimos identidade que nos distância de nossa função de peça e imaginamos ser outra coisa, a individualidade nos ilude até o cúmulo de achar que somos máquinas ou peças mais elevadas e importantes que as outras… triste ilusão de peça distante de sua máquina.
E neste momento afastado do todo que é a máquina, vamos nos encontrando com peças afins… roscas, parafusos, arruelas, arrebites, etc., E vamos criando sindicatos, convenções, agrupamentos, e nos distinguido como irmãs-peças a procura da máquina ideal que justifique nossa função e nossa existência no todo.
Vamos cada vez mais nos afastando da máquina, a individualidade nos afasta de tal forma da máquina que nos elegemos porta-voz do retorno e vinda da máquina e nos preparamos, cada qual de uma forma que a cada agremiação pareça a correta, as porcas se separa dos parafusos e cada qual com sua teoria de retorno à máquina sem nunca ter estado realmente nela, fomenta ou estimula a melhor forma de se apresentar à máquina quando chegar o momento crucial da abertura da caixa de ferramenta, onde a luz iluminará a peça escolhida e essa subira no alto do altíssimo da caixa e finalmente atingirá seu ímpeto que era sair da caixa para viver em algum lugar e servir não sei quem, se vangloriando de peça divinamente escolhida.
Triste fim de peça que não compreendeu que se é peça é porque é parte. E assim é a história do parafuso que se elevou sem a companhia da rosca e da arruela que era fundamental para que se encaixasse na engrenagem que movimenta a máquina da vida.
Peça que se individualiza, é peça vaidosa que acha que não prescinde da máquina.
Peça que se individualiza é parafuso sem rosca, é peça frouxa e que não serve a máquina.
A existência da peça se justifica em outras peças que a complementa e assim serve de forma completa o todo.
A máquina é na verdade uma família de peças que se unem para que a engrenagem da vida não pereça.
Seja peça, mas peça consciente da sua pequenez e inutilidade enquanto individualizada.
Seja peça, mas peça conscientizada de sua grandeza e honrosa função enquanto à serviço de todas as peças que junto com você compõe o Todo-Maquina.