A correta interpretação do que é a Doutrina Espírita
Por SILNEY DE SOUZA | 06/01/2010 | Religião> Amigo leitor. > > Recebi, recentemente, um correio eletrônico (e-mail) de uma pessoa que se > dizia “ex-espírita”, afirmando, em resumo que: “Pela misericórdia de Deus, > Ele me resgatou dessas trevas. Estou escrevendo pois, não sei o que seria de > mim se eu não tivesse descoberto a verdade.” > > Diz, ainda: “Faz quatro anos que fiz o que Jesus me pediu: peguei a minha > cruz e o segui. Hoje acredito na minha Salvação, a qual Ele veio nos dar em > Sua missão e quero dizer para vocês, com o coração sangrando, que não se > demorem a reconhecer isso. A minha maior dor é ter passado tanto tempo > afastada dessa fonte de água viva que é JESUS, acreditei numa mentira que o > diabo inventou e até hoje priva as pessoas da graça de Deus. O espiritismo é > uma doutrina fria, calculista, que não adora a Deus em louvor e oração, não > tem a Bíblia Sagrada como guia e ainda por cima blasfema contra o Espírito > Santo, quando dizem que o Consolador prometido é o espiritismo. Dói muito > ouvir os incrédulos dizerem: JESUS NÃO VEIO SALVAR, JESUS NÃO VEIO EM CARNE > – É UM ESPIRITO DE LUZ. Irmãos, vamos dar as mãos vamos com Jesus Cristo e > não contra Ele.” > > Finaliza o e-mail fazendo referência a: “A noite é passada, e o dia é > chegado. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da > luz. (Romanos 13:12) – HORA DE ENXERGAR A VERDADE. “Porque Deus amou o mundo > de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele > crê não pereça, mas, tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao > mundo, não para que condenasse o mundo, mas, para que o mundo fosse SALVO > por ele....” > > De forma bastante respeitosa à este posicionamento e me perdoem se > eventualmente a escrita deixar de demonstrar esse respeito em algum > instante, procurei analisar algumas afirmações realizadas, frente às minhas > interpretações dos ensinamentos da Doutrina Espírita. Importante destacar > que não necessariamente as minhas ponderações e interpretações descritas > nesse artigo representam exatamente o entendimento da Doutrina Espírita > sobre os fatos, mas sim, a minha interpretação desses ensinamentos que > consegui (ou creio ter conseguido) absorver até o momento, como resultado > dos meus estudos sobre o tema. Portanto, peço antecipadamente também > desculpas aos meus irmãos simpatizantes e estudiosos da Doutrina Espírita, > caso alguma(s) das minhas interpretações não seja(m) a(s) mais exata(s). > > Mas vamos a elas. Primeiramente, gostaria de lembrar que o meu objetivo aqui > não é discutir religião. Gosto muito, sim, de analisar sob as diversas > óticas os ensinamentos morais deixados pelo Cristo. Considero essa é a parte > mais importante para fins de estudo do seu legado. Aspectos relacionados à > sua vida cotidiana, controvérsias históricas, datas etc, embora também > importantes, considero em segundo lugar, do ponto de vista de relevância. > Lembremos, ainda, que o Mestre nada escreveu, não fundou nenhuma religião, > mas certamente nos deixou um legado de ensinamentos morais incomparáveis, > aos quais temos a obrigação de conhecer, estudar, interpretar à luz da razão > e praticar, visando um mundo melhor. Certamente, se colocássemos em prática > na nossa vida cotidiana tais ensinamentos teríamos como resultado um mundo > bastante diferente, bastante melhor! Ademais, se todas as religiões pregam o > bem e se todas tencionam aproximar o homem de Deus e melhorá-lo, > principalmente, do ponto de vista moral, que diferença faria o caminho a ser > percorrido, se o objetivo final é exatamente o mesmo? > > Sou partidário à que as opiniões, pontos de vista e as interpretações dos > ensinamentos do Mestre devam ser sempre discutidos e analisados, porém, > livre de dogmas e conceitos pré-formados, ou seja, sempre à luz da razão e > dos conhecimentos atuais, fruto da evolução intelectual do ser humano. Livre > de pré-conceitos, pois, como poderíamos discutir e tentar entender mais > profundamente um ensinamento moral deixado por Cristo, se estivéssemos > sempre obrigados a aceitá-lo como um dogma indiscutível? > > No que se refere ao aspecto espiritualista, como nos lembra Kardec, quem > quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é > espiritualista. Não se segue daí, porém, que creia na existência dos > Espíritos ou em suas comunicações com o mundo invisível. A Doutrina Espírita > ou Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os > Espíritos ou seres do mundo invisível. > > Quem seriam esses seres? Em uma definição simplista, nós mesmos, porém na > condição de desencarnados, livres do nosso envoltório carnal. > > A introdução de “O Livro dos Espíritos” detalha, em seu item III, a série > progressiva de fenômenos que deram origem a esta Doutrina, que certamente, > não nos cabe aqui relatar, mas que recomendo a leitura. Diz ainda que a > ciência espírita compreende duas partes, uma experimental, sobre as > manifestações em geral, e outra filosófica, sobre as manifestações > inteligentes. A verdadeira Doutrina Espírita está no ensinamento dado pelos > Espíritos, e os conhecimentos que esse ensinamento comporta são muito sérios > para serem adquiridos de qualquer outro modo que não seja por um estudo > atencioso e contínuo. > > Na primeira pergunta de “O Livro dos Espíritos” Kardec pergunta aos > Espíritos: “O que é Deus ? e recebe como resposta: “É a inteligência > suprema, causa primária de todas as coisas.” Esse capítulo, composto de > dezesseis perguntas e respostas dadas pelos espíritos aborda a existência de > Deus, como sendo eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso e > soberanamente justo e bom. > > Me pergunto então: De onde viria a interpretação de que o Espiritismo é uma > “criação do Demo” e que não “é de Deus”? O diabo (que não existe, pois é a > representação simbólica dos nossos irmãos que se encontram, infelizmente > ainda no mal), faria tais afirmações sobre Deus com qual pretexto? > > O Capítulo 1 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” diz em seu item 6: > > “A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo > Testamento tem-na no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da lei de > Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto > do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do > Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável > de intermediários...” Já o item 7 afirma que: “Assim como o Cristo disse: > "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la", também o Espiritismo diz: "Não > venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução." Nada ensina em contrário > ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve, completa e explica, em termos > claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem > cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a > realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, > conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino > de Deus na Terra. > > Os fundamentos doutrinários do Espiritismo se alicerçam sobre a Existência > de Deus, A reencarnação, a Lei da Ação e Reação e o Código Moral de > Evangelho do Cristo. > > Novamente, me pergunto: De onde viria então, a interpretação de que o > Espírita não acredita em Cristo, de que este não veio a Terra com o objetivo > de nos “Salvar” (aqui cabe um parêntese), de que não veio em carne e de que > o Espiritismo iria contra os ensinamentos do Mestre etc? > > O parêntese necessário, na minha humilde interpretação e tentando ser > objetivo diz respeito ao fato de que, a nossa “Salvação”, na interpretação > espírita, resulta, única e exclusivamente do nosso próprio esforço em nos > melhorarmos moral e intelectualmente ao longo das diversas e abençoadas > oportunidades de reencarne, que têm como principal objetivo permitir ao ser > humano a sua gradual evolução, contando certamente com todo o apoio do Pai > Maior que só quer o bem das suas criaturas, mas que espera que façamos a > nossa parte, com esforço e determinação em busca do nosso aperfeiçoamento. > > Para finalizar, visto que o espaço para um artigo não permite maiores > reflexões, pelo menos nesse momento, lembro Kardec: "Só se pode considerar > como crítico sério aquele que houvesse tudo visto, tudo estudado, com a > paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que soubesse > sobre esse assunto tanto quanto o mais esclarecido adepto; que não tivesse > extraído seus conhecimentos dos romances das ciências; a quem não poderia > opor nenhum fato do seu desconhecimento, nenhum argumento que ele não > tivesse meditado; que refutasse, não por negações, mas por meio de outros > argumentos mais peremptórios; que pudesse, enfim, atribuir uma causa mais > lógica aos fatos averiguados." (Revista Espírita, 1860, p. 271)