A Cor no Audiovisual

Por Kelly Porto Ribeiro | 25/11/2013 | Sociedade

 

Autora: Kelly Porto Ribeiro, Radialista graduada em Comunicação Social com ênfase em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo.

 

 

A COR NO AUDIOVISUAL

 

 

Um filme é uma obra artística constituída por vários elementos, dentre os quais, podemos destacar a Direção de Arte. Este departamento é responsável pela estética do vídeo, que é orquestrada de modo que todo o visual possua uma identidade e case com os demais departamentos (fotografia, direção, roteiro, etc).

 

Um dos princípios fundamentais da Arte no Audiovisual é a cor. É o elemento caracterizante que nos transmite sensações que podem não estar tão explícitas, caso atentemos somente à história ou ao mais superficial.

 

Na dramaturgia, a cor dá dicas relacionadas a personagens ou situações que ocorrerão nas próximas sequências. É a cor que determina toda a atmosfera da obra em questão. Se assistirmos a uma comédia, podemos notar um número grande de cores quentes, por exemplo. Já no caso do filme de terror, as cores podem ser mais sóbrias, com menor saturação, que junto às sombras da iluminação baixa, nos impedem de ver com clareza o ambiente e nos colocam em estado de tensão.

 

Até mesmo nos filmes em preto e branco, antigos e atuais, a cor é pensada de forma especial. O cinza está presente em tonalidades e contrastes diversos. Em ambientes claros há o predomínio do branco e cinzas menos saturados e em ambientes escuros do preto e dos cinzas saturados. Um bom exemplo de filme que serve como estudo de cor e direção de arte é Citizen Kane (Cidadão Kane, em português), de Orson Welles.

 

Muitos filmes são propositalmente mais ou menos saturados e usam demasiadamente determinadas cores a fim de causar algum impacto específico no espectador. Um exemplo é o francês O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, dirigido por Jean-Pierre Jeunet, com composições ora formadas por verde e vermelho, ora por laranja e azul, sob um filtro amarelado, proporcionando a visão de uma França mais vívida e divertida.

 

É fascinante quando se tem a oportunidade de enxergar as cores, na dramaturgia, através de uma análise atenta dos figurinos, maquiagem, cenários e objetos de cena. Principalmente nas obras em que cada elemento desses é estudado e aplicado de forma consciente.

 

Nos programas de televisão, a cor é empregada de forma pensada principalmente nos cenários, determinando o estilo do programa. Nos telejornais, geralmente há a presença de tons mais neutros, que transmitem a ideia de seriedade, como o azul e o cinza. Muitas vezes estes tons são mesclados a tons terrosos, em materiais como a madeira, por exemplo.

 

Um outro formato que podemos analisar é o game show, que na maioria das vezes apresenta um cenário com cores mais diversificadas e quentes, com maior saturação. Vermelho, laranja e violeta vivo são exemplos de cores que podem ser empregadas neste formato. As sensações aqui são de energia, comunicação, interatividade, estímulo intelectual e criativo, confiança e coragem.

 

Nos programas de auditório temos paletas diversas também, que variam de acordo com o contexto do programa. Normalmente, temos cores quentes mescladas a cores frias. Nos que possuem apresentações artísticas e/ou musicais, como a versão nacional de The Voice e o programa Ídolos, geralmente ocorre a simulação de um palco onde uma banda pudesse se apresentar ou um palco de teatro. Por isso a iluminação com cores é tão importante. É muito comum, tanto nas luzes como também nos cenários, a presença do roxo, violeta e azul mesclados ao vermelho ou outra cor quente.

 

A cor está presente também na história do mundo e nas tradições de cada sociedade. Notamos um forte reflexo desses conceitos de cor no cinema e até mesmo na televisão. As produções audiovisuais estão intimamente ligadas à cultura de cada povo; portanto, o emprego das cores no cinema ocidental, por exemplo, costumam diferenciar-se em muitos aspectos do cinema oriental.

 

Na nossa cultura podemos identificar algumas características específicas em cada cor. Segue abaixo alguns exemplos de associações que costumamos fazer:

 

  • Branco: símbolo de paz, inocência, pureza, neutralidade.

  • Preto: luto, sobriedade, sofisticação, elegância, mistério. Quando em excesso pode transmitir sensações de medo ou tristeza.

  • Vermelho: paixão, energia, violência, perigo, revolução (contexto político). Em excesso pode provocar inquietação ou nervosismo.

  • Azul: tranquilidade, introspecção, seriedade, melancolia.

  • Verde: vitalidade, saúde, renovação, equilíbrio. Simboliza a natureza.

  • Amarelo: prosperidade, alegria, descontração, luxo (amarelo dourado)

  • Laranja: confiança, comunicação, criatividade, cordialidade, segurança.

  • Violeta: espiritualidade, transformação, transgressão, intuição, misticismo.

  • Marrom: estabilidade, realismo, humildade, fertilidade, solidez.

  • Cinza: estabilidade, independência, neutralidade. Em excesso pode causar sensações de monotonia e falta de vida.

 

Entretanto, não devemos considerar nossas concepções de cor como verdades absolutas. As cores fazem parte de nosso mundo, estão em todos os lugares, e seu emprego deve ser contextualizado, especialmente em obras artísticas ou intelectuais. Cores frias também podem funcionar em um contexto de alegria; cores quentes podem ser usadas em situações de introspecção e tranquilidade, não somente em circunstâncias de agitação. Serguei Eisenstein fala sobre isso em seu artigo Cor e Significado, presente no livro O Sentido do Filme.

 

Para isso contamos com os diferentes atributos de cada cor: matiz, saturação e luminância. Estes devem ser combinados de forma com que o resultado da cor final atenda às expectativas do Diretor de Arte. Desta forma é possível realizarmos uma composição harmônica para nosso filme, programa de televisão ou qualquer outro espetáculo.