A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFORMAL...

Por Jéssica Yule Lisboa Barbosa | 24/01/2017 | Educação

A CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFORMAL COMO PROCESSO DE APRENDIZAGEM: CRITÉRIO RELEVANTE PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES

Resumo

 Este trabalho apresenta resultados da aplicação de uma atividade que objetivou a exposição, para crianças, de um teatro de fantoches de livros literários infantis em um ambiente aberto, a qual foi desenvolvida na Praça da Estação, no município de Campo Maior-Pi. O “Projeto Leitura na Praça” foi elaborado por acadêmicos do curso de pedagogia bloco I tarde da Universidade Estadual do Piauí do Campus Heróis do Jenipapo, com a orientação da Profª Mestra Márcia Evelin de Carvalho. Deve-se considerar que é por meio de atividades lúdicas que a criança vai explorar cada vez mais sua criatividade, aperfeiçoando a sua autoestima. Elas reforçam o potencial associativo, pois estabelecem relações entre situações reais e imaginárias, proporcionando viver processos reais, por meio de adequações simbólicas; e estão ligadas a atividades prazerosas sem o caráter formal do ensino. O problema dessa pesquisa versa sobre de que maneira a formação do professor e suas práticas pedagógicas desenvolvidas contribuem para a formação de leitores críticos, assim como, é capaz de despertar o interesse e o gosto da criança pela ação de ler, desenvolvendo a percepção crítica do mundo e da realidade? Neste sentido a pesquisa se justifica na necessidade de fixar a atenção do público infantil, de forma que eles absorvam o máximo possível as contribuições que as temáticas podem oferecer. Percebendo no modelo tradicional uma didática onde as crianças se dispersam, tentamos aplicar uma nova metodologia envolvendo o lúdico, caráter essencial e marcante, nas atividades desenvolvidas na educação infantil. A referida atividade teve por finalidade ampliar o repertório literário e intensificar a prática de leitura das crianças ali presentes. Neste artigo, pretende-se investigar qual a contribuição do teatro de fantoches para a formação de leitores, no momento, em que a leitura constitui um dos processos básicos para aquisição do desenvolvimento e aprendizagem.

 

Palavra-chave: Prática Pedagógica. Lúdico. Formação de leitores. Literatura Infantil.

 

INTRODUÇÃO 

Já dizia a célebre frase de Bartolomeu Campos de Queiroz: “O livro é passaporte de viagem”, ou seja, a leitura nos permite encontrar o desconhecido e conhecer mundos novos, que pareciam até então distantes demais da nossa realidade. Fica desta forma evidente a importância fundamental que a leitura exerce sobre a sociedade, sendo que dela dependemos para nos tornarmos seres ativos e comprometidos com a cidadania. Contudo, a leitura em seu sentido original, ou seja, realizada por meio da curiosidade, do entusiasmo e da paixão pela busca do conhecimento e da reflexão, em detrimento da leitura superficial e feita por obrigação, constitui o verdadeiro sentido do ato de ler, isto é, a mesma só ganha significado para o leitor quando vista de forma atrativa e capaz de despertar o prazer.

Basta verificarmos as palavras de Daniel Pennac quando o mesmo diz: “O verbo ler não suporta o imperativo” para comprovarmos que a leitura não deve ser vista como uma obrigação chata e rotineira, mas como uma atividade prazerosa capaz de conquistar o interesse de quem a realiza por paixão. Nesse sentido, percebemos então a necessidade de fazer florescer esta paixão pela leitura nas crianças, já que é uma característica das mesmas querer sempre buscar e conhecer coisas novas e descobrir outros horizontes. É através da leitura que a criança encontrará auxílio para mergulhar com segurança nesse mundo cheio de aventuras. Em vista dessa necessidade foi desenvolvido um projeto intitulado “Projeto de Leitura na Praça” que teve como finalidade despertar o interesse crítico das crianças perante o texto.

Levar a leitura aos diversos lugares é um benefício para a sociedade, já que o livro propicia a construção do saber através da leitura, a qual deve ser compreendida como um processo complexo e que vai além de passar o olho pelo texto procurando decodificar as palavras ali presentes. Acerca desse aspecto, Kleiman (1996) diz que a leitura é considerada um processo interativo, no sentido de que os diversos conhecimentos do leitor interagem em todo momento com o que vem da página para chegar à compreensão.

Neste sentido, o “Projeto de Leitura na Praça” objetivou despertar a curiosidade, desejo e o prazer infantil pela leitura, considerando que “ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a ler à medida que se vive” (LAJOLO, 1994, p. 7). A leitura constitui um dos processos básicos para aquisição do conhecimento e para o desenvolvimento na sociedade, pois é “pela linguagem que os homens e as mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, produzem cultura” (BRASIL, 1998. p. 19).

Para fundamentar a discussão proposta, foram relevantes as opiniões de Almeida e Vitiello. Segundo Almeida (2003), a educação lúdica aparece como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações com o pensamento coletivo. Assim, a educação lúdica não pode ser considerada apenas como brincadeira, passatempo ou diversão para ser realizada em sala de aula, pois a ludicidade contribui para muitos aspectos que podem ser alcançados em um grupo. Vitiello (1997) afirma que a atividade em grupo é uma estratégia que incentiva os participantes a confiar no auxílio e na avaliação dos colegas e promove a independência da autoridade do professor. Dessa forma, percebemos a necessidade da dinâmica em grupo, visando aumentar as ações participativas dos alunos nos processos de aprendizagem. 

Nesse sentido, mostramos ao longo deste trabalho, as contribuições e relevâncias da ludicidade para o desenvolvimento de atividades desenvolvidas no âmbito da educação infantil. Apresentou-se, ainda, algumas propostas que podem ser desenvolvidas como atividades educativas na utilização do lúdico, onde foi dada a devida importância para atividades lúdicas no contexto informal, ou seja, em ambientes abertos, e a forma como as mesmas podem incentivar a participação ativa dos alunos ao longo do andamento das atividades.

A leitura do texto literário costuma ser vista pelos alunos como um exercício cansativo, contudo, discutida de uma forma lúdica e contextualizada, o texto passa a adquirir um valor significativo aos olhos dos educandos e a participação dos mesmos perante as discussões se torna maior não apenas em aspectos quantitativos, mas também qualitativos.

O lúdico é um instrumento que permite a inserção da criança na cultura, por meio do qual podem permear suas vivências internas com a realidade externa. É um facilitador para a interação com o meio, embora seja muito pouco explorado. A pesquisa se justifica na necessidade de fixar a atenção do público infantil, de forma que eles absorvam o máximo possível as contribuições que as temáticas podem oferecer. Percebendo no modelo tradicional uma didática onde as crianças se dispersam, tentamos aplicar uma nova metodologia envolvendo o lúdico, caráter essencial e marcante, nas atividades desenvolvidas na educação infantil.

 

DESENVOLVIMENTO

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM

O lúdico é um recurso didático dinâmico que, apesar da exigência de extremo planejamento e cuidado na execução da atividade organizada, vai garantir resultados eficazes na educação. Atualmente, o jogo é a atividade lúdica mais trabalhada pelos professores, pois estimula as várias inteligências do aluno, permitindo que o mesmo se envolva em tudo que esteja realizando de forma significativa.

De acordo com Vygotsky (1991), a brincadeira é entendida como atividade social da criança, cuja natureza e origem específicas são elementos essenciais para a construção de sua personalidade e compreensão da realidade na qual se insere.  O educador pode trabalhar os jogos, as brincadeiras, os brinquedos e, para isso acontecer, é necessária a vivência, o sentido, a percepção. O professor precisa saber selecionar as situações importantes dentro da sala de aula, percebendo e sentindo e de que forma irá auxiliar no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança. 

É por meio de atividades lúdicas que o aluno vai explorar cada vez mais sua criatividade, aperfeiçoando a sua autoestima. Elas reforçam o potencial associativo, pois estabelecem relações entre situações reais e imaginárias, proporcionando viver processos reais, por meio de adequações simbólicas; e estão ligadas a atividades prazerosas sem o caráter formal do ensino.

Segundo Tezani (2004), o lúdico tem relevante papel de estimular a criatividade, interação e despertar no aluno a vontade de aprender. Através da ludicidade é possível o professor resgatar alguns conhecimentos prévios que os alunos já possuem, para obter um estímulo resposta e, assim, uma “aprendizagem significativa”.

O lúdico na Educação Infantil é essencial para o desenvolvimento das crianças, pois são atividades primárias, as quais trazem benefícios nos aspectos físico, intelectual e social. Brincando, a criança desenvolve a identidade e a autonomia, assim como, a capacidade de socialização, através da interação e experiências de regras perante a sociedade. Com as atividades desenvolvidas dentro da sala de aula, através do lúdico, brincadeiras e brinquedos disponibilizados para as crianças é possível identificar e reconhecer se os educadores estão preparados e conscientes da importância de trabalhar o brincar dentro da sala de aula.

Um dos objetivos do trabalho lúdico é o de auxiliar o aluno na obtenção de melhor desempenho na aprendizagem através da utilização de uma metodologia espontânea, divertida e recreativa. O lúdico atua também como forma de comunicação dos alunos, tornando a aprendizagem de acordo com o seu modo de vê o mundo, respeitando suas características e raciocínios próprios. É Almeida (1994) que associa a educação lúdica à prática democrática:

 

A educação lúdica, na sua essência, além de contribuir e influenciar na formação do aluno integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. A sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio (ALMEIDA, 1994, p.41).

 

Além de propiciar situações em que haja uma interação maior entre os alunos e o professor numa aula diferente e criativa, sem ser rotineiro, o educador pode desenvolver, através do lúdico, atividades que sejam divertidas e que, sobretudo, ensinem os alunos a descobrir valores éticos e morais, formando cidadãos conscientes dos seus deveres e de suas responsabilidades. Acerca disso Dias (2013) afirma que:

 

Desenvolver o lúdico no contexto escolar exige que o educador tenha uma fundamentação teórica bem estruturada, manejo e atenção para entender a subjetividade de cada criança, bem como entender que o repertório de atividades deve estar adequado as situações. É interessante que o jogo lúdico seja planejado e sistematizado para mediar avanços e promover condições para que a criança interaja e aprenda a brincar no coletivo, desenvolvendo habilidades diversas.  Nesse sentido, a psicologia pode contribuir nessa compreensão do desenvolvimento global dessa criança e fornecer subsídios para a educação infantil no sentido de aprimorar as técnicas de manejo. (DIAS, 2013, p. 7)

 

A motivação do educador escolar para proporcionar a atividade lúdica é fundamental para que o aluno possa despertar o interesse para criar, desenvolver, participar, buscando a construção do conhecimento. O desenvolvimento lúdico, nas práticas pedagógicas docentes, na escola, não deve ser visto apenas como descontração, mas, sim, como meio para o desenvolvimento do aprimoramento do raciocínio lógico, cognitivo e social, de uma maneira espontânea para o aluno, facilitando a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, promovendo os processos de socialização, expressão e construção do conhecimento.

O lúdico viabiliza uma série de aprimoramentos em vários âmbitos de desenvolvimento cognitivo, motor, social e afetivo. Por meio da dinamicidade o aluno inventa, descobre, experimenta, adquire habilidades, desenvolve a criatividade, expande o desenvolvimento da linguagem, proporcionando além de situações prazerosas, o surgimento de comportamentos e assimilação de regras sociais. Sendo de extrema importância para o desenvolvimento do aluno, o lúdico auxilia na aquisição de novos conhecimentos, em sala de aula, facilitando no processo ensino-aprendizagem. 

 

METODOLOGIA

O referido projeto foi desenvolvido na Praça da Estação, no município de Campo Maior-Pi, o qual foi intitulado como “Projeto Leitura na Praça” tendo como elaboradores os acadêmicos do curso de pedagogia bloco I tarde da Universidade Estadual do Piauí do Campus Heróis do Jenipapo, com a orientação da Profª Mestra Márcia Evelin de Carvalho. Para a realização da referida atividade, fez-se necessário o desenvolvimento de um círculo a fim de proporcionar oportunidades para uma leitura livre e prazerosa, na qual as crianças possam manifestar, também, suas experiências individuais acerca da temática escolhida.

Acerca do processo de leitura, Kleiman (1996, p.17) diz que “a leitura é considerada um processo interativo, no sentido de que os diversos conhecimentos do leitor interagem em todo momento com o que vem da página para chegar à compreensão”. Portanto, iniciamos o projeto com uma roda de socialização, onde apresentamos cantigas de roda, fizemos brincadeiras e dinâmicas. Em seguida, fez-se uma apresentação teatral do conto “O Príncipe Sapo”, onde utilizamo-nos de fantoches e nos fantasiamos dos personagens da referida história. Assim, o círculo se torna uma ferramenta eficaz, durante os momentos de leitura, já que o mesmo é capaz de proporcionar a interação entre os leitores, o que constitui, segundo Kleiman (1996), um aspecto fundamental no processo de leitura.

Dessa forma, partimos do pressuposto de que a leitura deve ser vista primeiramente enquanto um ato prazeroso, e não apenas como um exercício rotineiro, imposto pelo professor durante as aulas, para trabalhar os aspectos gramaticais do texto. Segundo as palavras de Daniel Penac (1993, p.05), “o verbo ler não suporta o imperativo”, por isso buscamos estratégias dinâmicas que auxiliassem na realização de uma leitura em grupo, sendo esta espontânea e não imposta.

Como instrumento de pesquisa utilizou-se a observação participante, por permitir o registro de fatos importantes acontecidos durante a presença do pesquisador no campo de estudo. O presente artigo trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo e por meio da abordagem descritiva observacional, no qual podemos analisar o retorno das atividades junto às crianças.

(Depois da peça “O Príncipe Sapo”.Foto: Jéssica Lisboa)     (Inicio da leitura dos livros infantis com as crianças. Foto: Jéssica Lisboa)

 

RESULTADOS E CONCLUSÕES

 

Percebemos que a atividade lúdica é uma prática indispensável para o desenvolvimento dos alunos no que diz respeito à interação, à participação, à fixação de conteúdos e à construção de posicionamentos critico reflexivos, pois possibilita um engajamento do alunado de forma “não forçosa” desde o fixar a atenção até refletir sobre o aprendizado. Tal atividade permite a partir do diálogo, o debate e a interação dos alunos com a realidade social, econômica e política na qual estão inseridos.

A importância do lúdico na educação infantil, bem como na construção do processo de imaginação, criatividade, desenvolvimento motor, interação social e no aprendizado de regras. Desse modo, entende-se que a vivência lúdica no contexto escolar abre caminhos para a integração de vários aspectos do ser humano, bem como na esfera emocional, corporal, cognitiva, espiritual, e possibilita cada sujeito participativo aluno e professor a se perceber enquanto um ser único e relacionar-se melhor consigo mesmo e com o mundo, o que implica um enfrentamento mais autêntico frente ás suas dificuldades. Assim, é fundamental que a família, a escola e a criança formem um tripé que sustente essa etapa essencial na vida da criança.

Quando se trabalha o lúdico foco está em chamar a atenção dos alunos de forma que eles possam ter o real interesse para que haja o melhoramento nos processos de aprendizagem. As atividades lúdicas funcionaram como uma motivação no ambiente escolar, posto que aumentaram a procura pelo auxílio e orientações dos professores na escola, dessa vez não mais apenas esclarecendo dúvidas, mas também discutindo e refletindo, trocando saberes a respeito de temas e conteúdos apresentados.

 

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica. São Paulo: Loyola, 1994.

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação lúdica: Técnicas e jogos pedagógicos. 11 ed. São Paulo: Loyola, 2003.

BASÍLIO, Maria Rodrigues. O lúdico em sala de aula. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: http://www.avm.edu.br/monopdf/6/MARCIA%20RODRIGUES%20BASILIO.pdf.

JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2003

KLEIMAN, Ângela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 1996.

PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

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