A Contribuição do Jovem Rural ao Fortalecimento do Cooperativismo: O Caso da Coriscal ? Cachoeira do Sul / RS

Por Daiane Vargas | 30/09/2008 | Adm

Daiane Loreto de Vargas*

Gisele Martins Guimarães**

Resumo

Em épocas de maximização da economia e contabilização das externalidades que esta produz, merecem destaque ações de integração, inovação e inclusão desenvolvidas por algumas Instituições para promoção do desenvolvimento regional. Nesta temática inclui-se o cooperativismo, importante sistema que sobrevive a mais de um século como pilar do desenvolvendo de algumas regiões, mesmo em períodos ditos como de "crise". Neste sentido citamos o caso da Coriscal***, que em atual processo de auto-liquidação****, busca novas alternativas para o fortalecimento de sua relação com seus associados, destacando-se a estruturação de um Conselho Consultivo Jovem. Este objetiva a renovação de idéias, troca de experiências, integração entre os membros e maior aproximação do jovem com as ações da cooperativa, no âmbito do desenvolvimento regional. Assim, este trabalho propõe uma reflexão a cerca das formas encontradas pela estruturação deste Conselho para enfrentar as adversidades econômico-administrativas da Coriscal, proporcionando motivação e conhecimento das atividades nela desenvolvidas. Como resultado adianta-se a formação de um Conselho Consultivo Jovem, que vem trazendo mudanças positivas através de novas idéias e atitudes inovadoras no espírito cooperativista.

Palavras-chaves: Jovem Rural, Coriscal, Cooperativismo.

1 Introdução

O sistema cooperativista ao mesmo tempo em que valoriza o homem, também solicita um comprometimento deste, requer uma parceria consistente, uma visão voltada à sociedade, aos princípios e a ética dos povos. Embora este sistema encontre dificuldades no momento atual, devido a fatores como a globalização e o capitalismo, fatores estes que vem tornando as pessoas cada vez mais individualistas. O cooperativismo continua sendo um importante sistema de organização das pessoas. Neste contexto o jovem tem fundamental papel, a inserção da juventude ao sistema garante a continuidade e a renovação deste.

Portanto, os jovens são a esperança da modernização do sistema cooperativista com a implantação de perspectivas e idéias contemporâneas, para que as cooperativas sejam encaradas como um sistema, onde todos participem sintam-se importantes e componentes de um todo.

Neste contexto, cita-se o caso da Coriscal, Cooperativa Agrícola Cachoeirense – Ltda, importante empresa no que diz respeito ao desenvolvimento da região central do Rio Grande do Sul e suas estratégias de sobrevivência e reprodução enquanto organização sócio-econömica, em atual período de auto-liquidação.

A Coriscal chega ao período de auto-liquidação devido às dificuldades do setor orizicola nos últimos anos e a problemas econômicos e administrativos, onde percebe que necessita de uma renovação e assim começa a investir nos jovens associados ou filho de associados, desenvolvendo trabalhos com estes para que estejam preparados a assumirem a cooperativa num futuro próximo.

A Coriscal utiliza-se de métodos como reuniões, onde os jovens conhecem a cooperativa os departamentos, como é na prática o funcionamento de sua empresa.Obtendo através dos trabalhos realizados uma efetiva participação dos jovens, com isso a administração formou um Conselho Consultivo Jovem. Neste, são apresentados e discutidos os temas de maior relevância para a Coriscal, sendo que esta iniciativa já vem oferecendo mudanças positivas através de idéias e atitudes inovadoras que rumam ao espírito cooperativista e ao desenvolvimento e crescimento que este traz.

A discussão sobre a inserção dos jovens como estratégia de renovação do espírito cooperativista é ampla, sendo objetivo deste trabalho. Que tratará na seção dois do contexto do cooperativismo dispondo de um breve histórico desse sistema até os dias atuais, passando por fatos marcantes como seus princípios, a influência da revolução industrial para este sistema e como se encontra atualmente. Na seção três uma reflexão sobre o cooperativismo contemporâneo, dentre deste o contexto de crise no sistema ou novas necessidades que este exige frente a fatores como o sistema capitalista e os reflexos que este causa na sociedade.

Na seção quatro será retrato o caso da Coriscal, as dificuldades encontradas diante dos 63 anos de história, os fatores que levaram a uma situação atual de auto-liquidação e na seção seguinte uma das alternativas tomada pela administração da cooperativa para a retomada do desenvolvimento, a formação de um Conselho Consultivo Jovem, além da formação deste, é importante a discussão da importância deste como uma alternativa de renovação e as considerações finais onde será retratado o que de prático vem se obtendo com esta política de investimento nos jovens e as perspectivas futuras.

2 Cooperativismo: do contexto de seu surgimento

A necessidade sempre moveu o ser humano e foi ainda na pré-história que os homens perceberam que unidos, conseguiam mais rápido chegar aos objetivos pretendidos. Trabalhando juntos, perceberam que sobraria mais tempo para idealizar coisas diferentes. Novas invenções passaram a tornar os homens individualistas, onde quando um conseguia construir algo diferente, sentia-se com mais poder, não disponibilizando este ao outro. Assim começa a diferenciar-se a humanidade uns construindo, enquanto outros ainda ocupados em procurar comida, uns estabelecendo-se em lugares fixos, os chamados sedentários e outros continuando a caminhada na busca de novos lugares novos, os chamados nômades.

Desde a pré-história, os homens demonstram através de suas ações serem cooperativistas. Mas de concreto, a primeira Cooperativa foi fundada somente em 1844, pela iniciativa de 28 tecelões (Ocergs, 2001, pág.8) que revoltados com os maus tratos sofridos, organizaram-se na busca de melhores condições de trabalho e melhor remuneração.

Outro fato importante na história do cooperativismo foi a Revolução Industrial, que segundo Machado (2006, pág. 21 e 22), junto com as duras jornadas de trabalho, trouxe o avanço tecnológico que provocou grandes mudanças no âmbito social e econômico, gerando desse modo às primeiras ideologias socialistas que mais tarde dariam origem as primeiras cooperativas.

O sistema cooperativista foi desenvolvido com base nos princípios e valores preconizados pelos seus pioneiros, os tecelões de Rochdale, com algumas adaptações ao longo dos anos. Esse sistema muito se assemelha aos princípios dos "socialistas utópicos", sendo uma doutrina que abrange os princípios sociais, econômicos, culturais, políticos, éticos e administrativos. E estes princípios, são embasados em fundamentos como o humanismo, responsabilidade, solidariedade, justiça social, democracia, participação e liberdade (Ocergs, 2001, pág. 12). Portanto, o cooperativismo é uma doutrina bastante abrangente, que fundamenta e compreende todos os sentidos da vida do homem, valorizando os ideais de cada indivíduo.

A criação da primeira cooperativa foi uma iniciativa bem sucedida, por isso serviu de exemplo para a criação de muitas outras espalhadas pelo mundo todo. Albuquerque (1999, pág. 8) descreve resumidamente os princípios que regem a doutrina cooperativista até os dias de hoje: a adesão de forma livre e voluntária por parte dos sócios, independente das ideologias e crenças que estes seguem; direito de voto (ao associado) representando uma gestão democrática; o princípio da supressão do lucro; o poder legal independente do capital integralizado por cada associado; os benefícios de cada cooperado (sempre proporcionais ao trabalho ou a quantidade de produto aportado e não ao capital investido). Por fim salienta-se seu caráter educativo e formativo de novas percepções humanas sobre as ações em conjunto, estimulando a intercooperação e interesse pela comunidade.

De acordo com o Congresso Brasileiro de Cooperativismo (1997, págs 26 e 27) o cooperativismo é definido como uma forma de organização que de maneira firme potencializa recursos materiais e humanos, contendo em si mesmo, algo que é valorativo é algo que se deve gostar. Diferente da globalização, que padroniza as ações das pessoas e não as entusiasma. Diante do fato da globalização, ocorrem vários problemas como o descrédito do sistema cooperativista que é atrelado não somente a globalização, mas ao capitalismo em si. Por que torna as pessoas mais individualistas, com uma atuação voltada ao beneficio próprio não acreditando que o agir em conjunto pode trazer mais sucesso do que a competição, onde cada indivíduo luta por seus objetivos de forma isolada.

Mesmo diante da acirrada competição entre as pessoas o cooperativismo é um sistema que está em todos os Continentes e incorpora mais de milhares de pessoas em todo o mundo, sendo sempre sinônimo de desenvolvimento. De acordo com Silva apud OCB (2005, págs 11 e 12) o cenário, no Brasil, é bastante promissor. A formação de novas cooperativas tem crescido, sendo que no ano de 2003 já existiam 7.355, em torno de 6 milhões de pessoas no país em condições de associados. O mesmo autor destaca ainda que o Rio Grande do Sul foi o estado pioneiro neste sistema no Brasil, com sua primeira cooperativa construída em Nova Petrópolis e o cooperativismo agrícola é um dos mais sólidos sistemas de trabalho associado. Segundo Buttenbender apud OCB (1995, pág 4) 39% dos cooperados no Brasil, o que representa uma ordem de 1, 3 milhão de pessoas são associados de cooperativas voltadas a produção agrícola

Hoje o cooperativismo precisa se adaptar ao mercado e ao planejamento, não esquecendo que isto deve ser pensado de uma forma coletiva.A dinâmica que o ambiente da organização cooperativa produz gera reflexos positivos no processo econômico. Silva (2003, pág. 154) relata que a participação e a comunicação dos associados e de sua família são determinantes para o desenvolvimento tanto econômico, quanto social, cultural do empreendimento cooperativo.

Nessa temática a força da juventude tem se mostrado importante no processo de adequação do sistema cooperativista a conjuntura vivenciada atualmente e apoiada pela mídia, onde o fato de ter é o mais relevante que o fato de ser, está sendo reconhecida pelo mundo todo. Um exemplo, de acordo com Ocesp/Sescoop-SP (2003), foi o encontro dos jovens de diversas partes do mundo discutindo formas de maior integração da juventude nas cooperativas, encontro este realizado na Noruega pela Assembléia Geral da Aliança Cooperativa Internacional.

A Ocesp/Sescoop também destaca que o movimento vem tomando corpo no Brasil, em 2002 ocorreu o primeiro encontro dos jovens no estado do Mato Grosso, já no estado de São Paulo encontros como estes vêm sendo realizados anualmente. O movimento vem crescendo e se organizando para a formação de um Conselho Nacional de Jovens Cooperativistas.

3. Sistema Cooperativista contemporâneo: crise ou novas necessidades?

Existindo a mais de um século e meio, encontrando-se muito forte em alguns países e enfrentando grandes desafios em outros, o cooperativismo, como uma das grandes dificuldades atuais, tem no universo capitalista em que vivemos seu principal obstáculo. Este vem gerando de forma cada vez mais acelerada, gigantescos movimentos de exclusão social o que de acordo com Frantz et. al (2006, pág.) constitui um dos grandes desafios deste século: a valorização das necessidades humanas no lugar da obsessão pelo maximização do lucro.

Como contraponto, o sistema cooperativo traz na sua conjuntura valores e atitudes opostas aos do individualismo (próprio do sistema capitalista), como a união, a solidariedade, o espírito coletivo e a democracia. Estes são princípios que abrangem todos os sentidos da vida de um ser humano, uma doutrina dotada de valores, entre outros, morais e éticos.

Assim, o objetivo deste século é consolidar o posicionamento de integração e inclusão em um mercado competitivo, marcado por fortes e desleais concorrências. No entanto, o fortalecimento das cooperativas passa obrigatoriamente por sua modernização, profissionalização, metas e planejamentos e que tudo isso esteja ligado diretamente aos seus princípios originais e com as exigências do mundo atual.

Frantz (2006, pág. 20) discute a idéia da importância da conjuntura atual, ou seja, a globalização e as influências que esta traz diante do cooperativismo. As transformações tecnológicas e de organização vem acontecendo de forma rápida e o cooperativismo como prática econômica aparece novamente, a exemplo de outros momentos da história, como um instrumento de estruturação e integração das pessoas com vistas a todas as estruturas sociais e ao processo produtivo, com intuito da construção de uma economia mais solidária.

Neste sentido de inclusão, os cooperados são peças fundamentais, por isso é importante que este conheça seu empreendimento, que esteja preparado e que acredite na sua cooperativa. Essa é uma observação que deve se feita, partindo daí para uma visão sistêmica onde o associado saiba que não somente possuem direitos, mas que a cooperativa depende dele e de sua participação.

Frente a esta constatação, salienta-se a falta de capacitação dos agentes envolvidos, como um dos principais problemas encontrados, por isso é importante que estas preparem seu corpo de associados, disponibilizando espaços de construção e aprendizagem com o intuito de instruí-los para que estes estejam aptos e dispostos a assumirem futuras administrações.

No caso das cooperativas voltadas ao setor primário, o produtor não deve ser visualizado como um instrumento, que produz matéria-prima e capital. Esta visão do homem como mercado faz com que o associado perca o entendimento de cooperação e da sua importância como individuo dentro de sua "empresa", enfraquecendo a base de sua organização, representada especialmente pela motivação.

Assim, desde o início de sua trajetória, o sistema cooperativista vem encontrando obstáculos e limites ao seu pleno funcionamento. Evidentemente com a mundialização da economia e a velocidade dos sistemas de informação, a sociedade com o passar dos anos vem tornando-se cada vez mais complexa, exigindo novas e adaptáveis estratégias de reprodução. Frente a isso, o cooperativismo, passando por momentos ditos de "crise", encontra-se em situação de reordenamento de suas diretrizes e busca de novas alternativas para o desenvolvimento das sociedades como um todo, onde a valorização do indivíduo, com seu "ser e saber", coloca a doutrina cooperativista em posição de destaque.

4. O Caso da Coriscal: da apresentação da Cooperativa à suas iniciativa atuais

A Cooperativa Rizícola Cachoeirense Ltda – Coriscal – foi fundada em 24 de fevereiro de 1945, por um grupo de arrozeiros na época liderados pelo arrozeiro José Joaquim de Carvalho. Inicialmente a cooperativa tinha por objetivo o arroz irrigado, mas em 1975 ampliou suas atividades recebendo não só o arroz como outras culturas produzidas na região, justificando assim a denominação Cooperativa Agrícola Cachoeirense. Mas, a história afirma que a Coriscal firmou raízes no arroz irrigado, cereal que até o presente momento é responsável por boa parte da economia do Município de Cachoeira do Sul* e também possui até os dias atuais uma forte expressão na economia regional e estadual. A Coriscal espelhada na cultura e história do Município tornou - se a maior cooperativa de grãos da cidade e hoje tem como um dos seus objetivos à volta as suas origens com a especialização no arroz irrigado, deixando de abrir as portas para outras importantes culturas da região. A Empresa hoje contribui com a cidade de Cachoeira do Sul para a arrecadação de impostos, sendo classificada entre as três empresas que mais arrecada para o município e gera no período da safra de arroz em torno de 180 empregos diretos. Na busca de atualização frente a um mercado competitivo, investe na melhoria e qualidade de seus produtos e de sua indústria, através de novas tecnologias.

Pra que chegasse a realidade exposta é importante retratar a história desta cooperativa. Através das atas é possível expor muitos fatos históricos, sendo que alguns não ficam claros por que foram perdidos* devido ao tempo de existência da Coriscal.

No inicio a cooperativa enfrentou dificuldades que aos poucos foram sendo superadas com êxito pelo grupo de produtores que a fundaram. Na década de 70, a idéia de especialização decaiu e a Coriscal abriu as portas para o recebimento de outras culturas, além do arroz, como o trigo, feijão, sorgo, milho, a soja e ainda com a idéia de diversificação criaram uma indústria de álcool na cidade de Cerro Branco** e também incentivaram a suinocultura na região. Essa abertura se achou necessária pelas graves crises econômicas no setor agrícola, taxas de juros, a inflação exorbitante e ainda muitas vezes os fatores climáticos que também não contribuíam para o êxito dos produtores.

Já no início da década de 80 a assistência social foi muito forte na cooperativa. A valorização do associado se fez através de benefícios como assistência médica e laboratorial, pagamento de mensalidades para filhos de associados estudarem em escolas particulares, realização de cursos e palestras que beneficiaram tanto os associados quanto os funcionários da empresa, além de festas de confraternização para os associados e para os funcionários. Também eram oferecidas aos cooperados às assistências técnicas nos ramos da agronomia e veterinária.

No final da década de 80 e o início da década de 90 ocorrem fortes problemas administrativos que permitiram associados inadimplentes a continuarem utilizados os serviços e se beneficiando da cooperativa, chegando assim em 1992 em sua segunda auto-liquidação, a partir dessa época a cooperativa sofre com quadro despreparado para administração, planejamento, organização e valorização dos Recursos Humanos, além da perda do sentido e do entendimento do espírito cooperativista. Portanto, fatos internos e externos foram motivadores para que a Cooperativa Agrícola Cachoeirense, no ano de 2007 chegasse a mais uma situação de auto-liquidação.

Situações externas como a inadimplência de alguns associados que se arrasta por anos e uma falta de estruturação administrativa interna, pela não preparação dos agricultores que vem ao longo dos anos administrando a Coriscal. Sem planejamento, objetivos específicos e ainda falta de capacitação e entendimento dos associados do real sentido do cooperativismo, estes foram os fatos claramente responsáveis pela atual realidade da cooperativa.

Diante dos graves problemas expostos as administrações devem voltar sua atenção para a necessidade de algumas mudanças tanto na estruturação interna quanto externa da empresa, já que, para haver melhorias concretas e concisas o olhar devera ser sistêmico, ou seja, abranger a todas as partes que de uma forma ou de outra estão ligadas a Coriscal. Hartmann (1999, pág 123) destaca que as soluções dos problemas ou a melhoria de qualquer problema dentro de uma empresa passa primeiramente pela identificação do real problema. Em segundo observação do mesmo e em seguida a busca das causas deste e a partir daí deve-se começar a agir, deixando bem claro a todos os envolvidos sobre o que está acontecendo, que atitudes serão tomadas e o porquê das mesmas.

Essa visão de sistema é importante, por que foram falhas no entendimento do sistema que geraram a situação em que a Coriscal se encontra hoje. Essa falta de visão gerou muitas vezes uma falta de fiscalização, diálogo, discussão, união e do verdadeiro sentido da doutrina cooperativista. Imbuída a uma difícil participação daqueles associados mais antigos, onde não há entendimento dos novos rumos que muitas vezes são necessários de serem tomados, as atitudes frente ao mundo globalizado que muda constantemente é visivelmente mais aceita e de melhor compreensão e de mais fácil discussão com a juventude atual.

Neste momento, surge e com muita necessidade, uma mudança na visão administrativa da Coriscal passando-se a investir nos jovens. Acredita-se, neste sentido que as atitudes destes são determinantes para a continuação e melhoramento do espírito cooperativista. Para que a visão da empresa de "ser a melhor opção de negócio para o produtor da região central do estado" torne-se uma realidade, juntamente com a missão de "atuar no Agronegócio Cooperativo, com profissionalismo e competitividade visando à satisfação das pessoas, com a preservação da natureza" diante do propósito de "satisfação das pessoas e desenvolvimento regional".

Bialoskorski apud Fronzaglia et. al (2000, pág. 4) relatam que o cooperativismo atualmente no setor agropecuário não vai bem, não somente no Brasil, mas nos EUA e Canadá, pois, passam por problemas operacionais e um alto grau de endividamento, observa-se então que o caso da Coriscal não é diferente de muitos e em vários lugares do mundo. Os mesmos autores também citam o fato dos cooperados não estarem participando como deveriam do seu negócio por falta de participação e estímulo por parte da cooperativa.

Todas as mudanças que o mundo vive no momento afetam diretamente os processos produtivos e conseqüentemente os produtores e as cooperativas. Que devem então, apresentar propostas inovadoras e novos métodos de motivar e melhor atender aos anseios de seus associados, para isso preparar novos gestores com uma capacitação adequada dos associados incluindo os jovens é de fundamental para que problemas que aconteceram no passado não tornem a ser repetidos por falta de conhecimento e experiência.

A importância da comunicação e da educação no cooperativismo é extremamente fundamental o preparo dos associados, de acordo com as mudanças, mercado e tecnologias e caso da Coriscal, este fato deve ser bastante difundido pelo fato de ser uma cooperativa com mais de 60 anos de história e uma cultura muito arraigada. Nesta temática Thesing (2006, pág. 19) observa:

O processo de comunicação e educação desenvolve o espírito de organização associativa, ao tirar o individuo de seu mundo particular, pois o sensibilizam em relação aos outros, pelos laços sociais e comunitários da cooperação, e, ainda articula a construção de espaços coletivos, despertando a solidariedade; enquanto o processo de a ação tecnológica, de reconhecida necessidade, permanece tão-somente na área da produção e comercialização.

4.1. Formação de um Conselho Consultivo Jovem: importância da renovação no espaço da Coriscal

Mesmo no contexto em que o mundo vive atualmente de globalização, de classes estremas o cooperativismo continua uma prática social de valor e algumas cooperativas com visão mais solidária e inovadora tem conquistado méritos principalmente quando este cenário se volta à agricultura familiar, talvez pela crença dos pequenos produtores e pela visão diferente que estes possuem reconhecendo a importância de uma organização cooperativa onde há solidariedade, participação, democracia, justiça social e humanismo, ou seja, os princípios inicias, claro que atualmente inseridos em outro contexto e momento da história, mais tão forte na essência do homem que ainda hoje onde a o entendimento e o resgate do espírito cooperativista ainda há sucesso.

Mas todos estes fundamentos e conceitos não são valorizados quando revertemos este discurso aos associados da Coriscal com mais de 20, 30 ou 40 anos de cooperativa, onde a realidade era outra, as tecnologias, o mercado, o sistema e a visão eram totalmente diferentes da atual. Na conjuntura em que a cooperativa se encontra no decorrer dos últimos anos era necessário começar a olhar a gestão como algo muito importante. Por isso, novas pessoas e com visão diferente e inovadora precisam ser devidamente preparadas para administrar com sucesso seu empreendimento, sendo esta a única maneira de reverter o quadro financeiro pelo qual passa e já sofreu no passado a referida cooperativa.

A prática dessa idéia vem com o investir nos jovens associados ou filhos de associados foi uma alternativa de renovar de oxigenar as atitudes tomadas. Quanto a isso Bicca (1992. pág 174) descreve como é importantetrabalhar com os jovens rurais:

Educar é mais que transmitir conhecimentos, é ensinar a pensar, a refletir e agir, racionalmente, de acordo com o que mais convém ao indivíduo e à coletividade.

Nada mais importante, assim, do que propiciar aos nossos jovens rurais, oportunidades para uma participação mais ativa na vida coletiva, através da organização associativa e democrática – tal como os adultos do meio rural deveriam fazê-lo a exemplo das regiões agrícolas mais adiantadas.

Importante destacar que na Coriscal está ocorrendo uma integração, a troca de experiências entre os jovens, a opinião, as suas sugestões e idéias são observadas como benefícios para o melhor funcionamento e um maior desenvolvimento da empresa. A partir desta visão buscam na juventude atitudes que levem a cooperativa ao crescimento, através do desenvolvimento de sua região como já aconteceu no passado.

Os jovens têm demonstrado nitidamente uma maior facilidade de entender o sistema cooperativista e o porquê de em muitas cooperativas estar enfraquecido. De acordo com Bicca (1992, pág. 149) a contribuição dos jovens para o desenvolvimento da sua região tem se tornado cada vez mais fundamental. Até por que é mais fácil formar a opinião e levar a juventude conhecer e interessar-se pelos seus negócios, pelo meio que os rodeia do que tentar mudar a opinião de pessoas adultas com experiências próprias e não dispostas a encarar desafios, o poder de compreensão e a motivação do jovem é bem maior do que a de um adulto.

A juventude tem se mostrado idealista e corajosa por isso estão correspondendo às expectativas da Coriscal e são decisivos em muitas decisões importantes atuando no retorno ao crescimento da empresa e gerando junto a esta um maior desenvolvimento na região.

A inclusão dos jovens nesta filosofia é fundamental para que a cooperação não seja extinta e o desenvolvimento continue sendo possível. Para isso, a juventude deve ser devidamente preparada para que possam assumir com competência seu empreendimento, são utilizados métodos como reuniões. Onde o jovem conhece todos os departamentos da empresa, quem trabalha em cada departamento, qual a função de cada um e como funciona cada setor.

O diferencial dessas reuniões é o fato de trazer conhecimento prático das atividades desenvolvidas na cooperativa. Todas as atividades são realizadas na Coriscal, onde é vivenciada na prática como a empresa funciona no dia-a-dia.

É apresentado nas reuniões noções de administração, contabilidade, tendências de mercado, novidades sobre técnicas de produção e cursos do Senar estão sendo providenciados, todos com intuito de trazer a eles um maior conhecimento sobre os variados assuntos que abrangem uma cooperativa.

De acordo com Turra et. al (2002, pág. 27) dentro dos princípios cooperativa é bem a preocupação com os investimentos dos cooperados, questões como cursos de capacitação, treinamentos, isso é extremamente importante para que todas as pessoas que participem de uma cooperativa sintam-se bem informadas e assim terão uma participação mais eficiente e consistente. O mesmo autor afirma que o sucesso do empreendimento cooperativista depende muito do conhecimento e do preparo das lideranças, ou seja, dos diretores e conselheiros e de todos os associados que devem participar de forma ativa e consciente.

As cooperativas de um modo geral, segundo Manifesto Cooperativo (2000, pág 10), devem-se se adaptar aos novos avanços em todos os ambientes que ocorre com muita velocidade. A juventude tem sido preparada de forma que possa enxergar o sistema cooperativista como uma cadeia, onde existem muitos fatores externos e internos dentro de um macro ambiente, onde uma falha é sentida no geral, nas diversas partes que compõem todo este contexto amplo e complexo.

Como resultado do investimento da Coriscal nos jovens ocorre a formação de um Conselho, chamado Conselho Consultivo Jovem, onde são apresentados e discutidos os temas de maior relevância para a administração da cooperativa. Esta iniciativa trouxe mudanças positivas através de idéias e atitudes inovadoras que rumam ao espírito cooperativista e ao desenvolvimento e crescimento que este traz. A juventude tem sido a esperança de renovação para a Coriscal, surgindo nos jovens, uma opção a fatores como a desestruturação total do sistema cooperativista.

Este Conselho é mais uma forma preparar os jovens, para que não repetirem os erros do passado, para administrarem sem os vícios de administrações passadas. Para isso, se encontram em fase de preparação de forma a conhecer o macro ambiente onde a cooperativa está inserida e os vários fatores que influenciam este ambiente.

O investimento na juventude é uma realidade em vários lugares, um exemplo é a organização da juventude rural no programa Cooperjovens que vem mobilizando e conseguindo grandes resultados no que se traduz ao desenvolvimento e a sustentabilidade onde este programa está inserido.

6 Considerações Finais: enfrentando desafios e renovando motivações

A cooperação entre os povos sempre existiu, por que o fato de cooperar é intrínseco do ser humano. O mundo como um todo, se volta para o desenvolvimento, e alguns pensadores modernos apontam o desenvolvimento regional como um meio de crescimento e progresso que aliado à valorização do homem.

Percebe-se um enfraquecimento da Coriscal no decorrer dos últimos anos, isso se deve a vários fatos externos e internos. Fatos externos como a especialização no arroz irrigado, aos problemas que o setor agrícola vem enfrentando atualmente. E também a fatos internos como o despreparo dos administradores que se sucedem nos cargos de presidência e conselhos administrativo e fiscal, a centralização do poder e destes percalços vários outros são gerados. Como a falta de comunicação dentro da empresa, profissionais mal preparados, falta de uma visão de extensão rural para o departamento técnico da empresa, uma política voltada à industrialização do produto e não para os vários fatores do contexto que envolve a doutrina cooperativista.

E diante dos fatos era necessária a tomada de decisões, uma delas foi à inclusão e o investimento no jovem associado e do interesse deste, vem surgindo novos planos e projetos para um futuro promissor rumo ao desenvolvimento do sistema cooperativista e com este o êxito da Coriscal na região central do estado.

Os jovens associados ou filhos de associados vêm realizando uma participação muitas vezes decisiva para algumas atitudes tomadas pela administração. São também os jovens que ajudam a organizar as reuniões da cooperativa no interior, aonde os funcionários e a direção vão até as localidades no interior do município, onde estão localizados os Núcleos de Associados, explanarem sobre as atitudes administrativas que vem sendo tomadas, nestas regiões os associados tem a oportunidade de tirar suas dúvidas e participar das tomadas de decisões.

A juventude vem sendo preparada para que surjam novas lideranças com princípios e ideais cooperativistas, com objetivo simples e claro de que as novas administrações sejam de pessoas preparadas e sem vícios de gestões passadas.

O trabalho que vem sendo desenvolvido é recente não possui um ano e tem-se sobre planejamento cursos do Senar para serem desenvolvidos e cursos do Sescoop/RS em conjunto com outras cooperativas do município. Com intuito de que não seja mais assumido qualquer cargo de responsabilidade, por parte dos associados, sejam estes jovens ou adultos, sem que haja um preparando prévio, garantindo desse modo que as futuras gestões conhecem como funciona seu empreendimento, através do conhecimento de cada departamento.Tem se procurado trabalhar com motivação, conhecimento do contexto atual do sistema cooperativista no mundo, dos desafios a serem enfrentados para que o futuro seja promissor e a Coriscal volte a ser uma potência no desenvolvimento da região central do estado.

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* Acadêmica do Curso Superior de Agropecuária: Sistemas de Produção – UERGS, Cachoeira do Sul,

E-mail: loretodevargas@gmail.com

** Professora da UERGS – Cachoeira do Sul, Doutoranda do Programa de Desenvolvimento – PGDR/UFRGS, E-mail: giseleguima@yahoo.com.br.

*** Cooperativa Agrícola Cachoeirense Ltda, especializada no arroz irrigado, localiza-se em Cachoeira do Sul região central do estado do Rio Grande do Sul.

**** Auto-liquidação refere-se à situação de dissolver-se voluntariamente por deliberação da Assembléia Geral Extraordinária, através dos votos de pelo menos dois terços dos associados presentes. Neste período é feito o ajuste de contas pagando-se o passivo e repartindo-se o ativo restante ente os sócios, de acordo com Estatuto Coriscal (2005).

* Cachoeira do Sul é uma das cidades consideradas pioneira na cultura do arroz, já chegou a ser considerada.

Capital Nacional do Arroz e realiza até o momento o maior evento orizicola da América Latina.

* Um exemplo de fato importante que foi perdido é a data da primeira auto-liquidção.

**Cidade próxima a Cachoeira do Sul