A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA DESENVOLVIDA NA BRINQUEDOTECA PARA O APRIMORAMENTO DA APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

Por Jamile Fraga Gomes | 08/12/2020 | Educação

A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA DESENVOLVIDA NAS BRINQUEDOTECAS PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS.



Jamile Fraga Gomes 

Orientadora: Rosaria Maria de Castilhos Saraiva  



RESUMO


Este artigo visa analisar “A contribuição da prática desenvolvida nas brinquedotecas para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos”. O objetivo desta pesquisa foi compreender como a vivência da brinquedoteca contribui na formação social e de aprendizagem dos alunos. Relatou-se também um pouco de seu histórico, assim como a legislação pertinente, sua função dentro das escolas e sua importância no contexto do planejamento pedagógico. Sabe-se que as brincadeiras fazem parte da metodologia lúdica, onde os alunos podem expressar sua individualidade através das atividades realizadas. Justifica-se este estudo, pois, sabe-se de sua contribuição para transformação da realidade escolar enfrentada, sendo assim é necessário que a criança tenha liberdade para brincar e se desenvolver através da brinquedoteca ou do simples ato de se divertir com seus amigos ou dentro do seu núcleo familiar. Utilizou-se referencial bibliográfico e análise de textos científicos, onde discutiam sobre a interação, socialização, desenvolvimento, aprendizagem e contribuição desses espaços. Utilizando o embasamento teórico de autores com relevância no assunto tratado. 


Palavras-Chaves: Brinquedoteca. Brincadeiras. Lúdico. Desenvolvimento. Aprendizagem. 



INTRODUÇÃO

A escolha do tema “A contribuição da prática desenvolvida nas brinquedotecas para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos”, teve como ponto de partida a vivência dentro de uma brinquedoteca universitária, frequentadas por crianças atendidas pelo curso de odontologia com seu Projeto Trauma. Através desse contato com as crianças são feitos relatórios diários, reuniões e relato de vivências propiciando uma ampla visão de interação, aprendizado e trocas entre crianças e adultos. Observou-se também, em uma sala de Pré II, que o desenvolvimento do lúdico foi fundamental para a construção do conhecimento das crianças da turma.

A história da brinquedoteca surgiu no ano de 1934, em Los Angeles em meio uma grande depressão econômica, onde um dono de uma loja de brinquedos junto com o diretor de uma escola municipal ao ver crianças roubando dessa loja por não terem com o que brincar, resolveram criar juntos um serviço de empréstimo de brinquedos como um recurso comunitário, que passou a se chamar “Los Angeles Toy Loan”.

No Brasil a brinquedoteca também foi criada com o intuito de ajudar e estimular crianças com necessidades especiais. Em 1971 começou a ser implantado o Centro de Habilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) que começou com o objetivo de estimular as crianças deficientes. Porem somente em 1980 as brinquedotecas começaram a surgir no Brasil com a sua principal característica que era gerar autonomia e estímulos para que as crianças possam se desenvolver e brincar livremente, diferente da ideia primária criada pela APAE que tinha como objetivo principal a reabilitação e o desenvolvimento das crianças baseados na teoria primária desenvolvida na “Los Angeles Toy Loan.” (TEIXEIRA, 2018 p.74)

Em 1981 foi construída por Nylse Cunha a primeira brinquedoteca do país, a brinquedoteca Indianópolis em São Paulo, onde a mesma ficou sendo diretora do local. Com o grande crescimento em torno do tema, em 1984 viu-se necessidade de criar uma associação que abraçasse o projeto e desde então a Associação brasileira de brinquedoteca-ABBri em favor do brincar, na formação de brinquedistas e dando auxílio na construção de brinquedotecas por todo país.

Independente do nível escolar oferecido por uma unidade, a brinquedoteca introduzida nesse espaço será sempre com o objetivo voltado para o brincar. Onde se faz necessário profissionais que sejam conscientes para interagir, mediar e realizar a organização do espaço de uma maneira que favoreça essa ação. (TEXEIRA, 2018). 

De acordo com Teixeira (2018, P. 76/77 apud TEIXEIRA, 2008) As atividades que ocorrem na brinquedoteca podem acontecer de duas formas: o brincar espontâneo e o dirigido. No brincar espontâneo o professor pode atuar, não determinando as tarefas e atividades, mas, sim observando, registrando e realizando avaliações das dinâmicas utilizadas pelas crianças enquanto brincavam. 

Esse tipo de observação pode ser uma orientação que serve para vermos como essa interação social e as regras criadas por cada um pode fazer com que a criança se envolva na atividade estando em grupo ou sozinha. Mas, também permite que o professor observe e perceba as necessidades dos alunos ainda que de maneira rudimentar. 

No brincar dirigido, o professor pode propor desafios em grupo ou individual, realizando uma seleção básica dos brinquedos, definindo quais as ações lúdicas apropriada para as crianças envolvidas, promovendo o acesso a aprendizagem de conhecimento especifico de cada área, podendo assim ensinar diversas áreas como português, matemática, história, geografia, ciências etc respeitando as individualidades de cada um.  “A atividade lúdica dirigida ocupa um lugar proeminente no desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, linguístico, na motricidade e na construção de regras e valores do educando.” (TEIXEIRA, 2018 p.77)  

Para aprofundamento desta pesquisa foram elaborados os seguintes objetivos geral e específicos: 

- Analisar a contribuição da prática desenvolvidas nas brinquedotecas para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos. 

1- Apresentar as brinquedotecas: histórico, legislação, funções, presença na escola.

2- Caracterizar a brinquedoteca como espaço construído a partir do planejamento, da construção da equipe, para a valorização do lúdico.

3- Abordar as vantagens pedagógicas do lúdico para a aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.

Também foram elaboradas as seguintes questões de estudo:


Qual histórico da brinquedoteca?

Como a brinquedoteca surgiu no Brasil?

Qual função da brinquedoteca nas escolas?


Qual a equipe deve compor a brinquedoteca?

Quais critérios usados para selecionar os profissionais para atuar na brinquedoteca?  

Como o lúdico é valorizado dentro desse ambiente?


Quais as práticas desenvolvidas nas brinquedotecas que contribuem para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos? 

Qual a contribuição do lúdico para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos?

Este trabalho foi realizado com base em uma revisão bibliográfica, que segundo Gil (2008), trata-se de “um levantamento bibliográfico atualizado fundamentado em materiais já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.

Foram definidos como autores principais que embasaram o trabalho, Cunha, Kishimoto, Teixeira, entre outros, proporcionando um aprofundamento e reflexão sobre o tema e a compreensão do fenômeno estudado. 

Esse tema tem sido investigado na literatura. Kishimoto (2001); Vectore (2001) afirmam que responder sobre a importância do brincar, o encantamento e o ato lúdico nas brincadeiras não é tarefa fácil. Que é necessário ir mais a fundo nesse mundo fascinante do brincar, buscando novos paradigmas em diferentes áreas do conhecimento para poder compreender incentivar e respeitar, podendo encontrar no brincar uma possibilidade de intervir no mundo que vive em constante mudança. 

De acordo com Kishimoto (2001, p. 61 apud OLIVEIRA; MELLO; VITÓRIA & FERREIRA, 1992, p. 69), “Cabe ao educador cuidar da organização mediadora da relação criança-meio e interagir com ela, auxiliando-a na construção de significados”. 

Cunha (1997) afirma que a brinquedoteca deve ser um espaço que estimule as crianças nas brincadeiras, oportunizando o acesso as variedades de brinquedos dentro desse espaço lúdico que induz a explorar, sentir e experimentar. Ao entrar nela precisa ser tocada pela decoração, alegria, afeto e magia que devem ser perceptíveis pois, se não tiver todo esse encanto não será uma brinquedoteca. 

Entretanto, apesar das sugestões o cotidiano ainda apresenta algumas dificuldades. Um exemplo disso é uma entrevista com professoras, pais e alunos de uma escola de rede pública com alunos da 4° série do ensino fundamental que compreendem o brincar e o espaço para brincar/brinquedoteca sendo algo que precisa ser direcionado ou precisa ter associação com o conteúdo aplicado em sala, perdendo toda a ludicidade, magia, espontaneidade e festividade que poderia ocorrer durante a brincadeira. Tantos os pais, alunos e professores acreditam que seja somente através de atividade “sérias” como ler e estudar que a aprendizagem ocorre e que o brincar é apenas um momento para diversão ou distração do momento de aplicação de conteúdo. Sendo assim o brincar na escola só é valorizado se for direcionado ou vinculado ao conteúdo pedagógico aplicado em sala de aula pela professora. 

Por isso, justifica-se esse estudo, de modo a socializar os avanços teóricos e contribuir para transformar a realidade.

Esse trabalho é destinado aos alunos do curso de Pedagogia, aos professores que buscam formação continuada, aos professores de educação infantil, as pessoas que se interessam sobre a brinquedoteca e atuam nessa área com total comprometimento.

Espera-se que a leitura desse estudo traga aos professores a importância e a contribuição da brinquedoteca e do brincar para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças, se conscientizando sobre a relevância desse tema, ampliando a reflexão, questionamento e consciência. Podendo assim, não só mediar brincadeiras e brinquedos, mas também estimular a aprendizagem de forma mais lúdica e prazerosa. 


UM BREVE HISTÓRICO DA BRINQUEDOTECA

    De acordo com a associação brasileira de brinquedoteca-ABBri, a primeira ideia/história de brinquedoteca surgiu no ano de 1934 em Los Angeles em meio uma depressão econômica americana, onde o dono de uma loja de brinquedos queixou-se ao diretor de uma escola municipal que crianças estavam roubando brinquedos de sua loja, o diretor na tentativa de justificar os roubos, disse ao dono da loja que devido à crise e por não ter com o que brincar as crianças estavam cometendo aquele ato, foi então que os dois juntos resolveram criar um serviço de empréstimo de brinquedos como recurso comunitário, que passou a se chamar “Los Angeles Toy Loan” ou “Toy Library” serviço esse que existe até hoje. 

    Segundo Kishimoto (2011) a Toy Library “destina-se ao empréstimo de brinquedos e assessoria aos pais e crianças, usuárias de creches e escolas. Tais equipamentos devem garantir o brincar livre por meio de sessões em que pais aprendem a brincar com os filhos e são orientados sobre a escolha de brinquedos para empréstimo” (KISHIMOTO, 2011 p.16). 

Em 1963, na Suécia, em Estocolmo que a ideia foi mais desenvolvida, onde duas professoras mães de excepcionais fundaram a Lekotek, que tinha como objetivo os empréstimos de brinquedos, o fornecimento de orientações de como às famílias de crianças excepcionais poderiam brincar e estimular melhor seus filhos e os serviços de profissionais especializados com agendamento individual de cada criança. “O empréstimo de brinquedos era apenas uma parte do programa, que enfatizava a formação em educação especial, o desenvolvimento infantil, incluindo a terapia, o aconselhamento parental e a avaliação das habilidades das crianças” (KISHIMOTO, 2011 p.16).

    Em 1978, ocorreu o primeiro congresso internacional de brinquedotecas em Londres, evento esse que acontece de três em três anos, onde Nylse Cunha (do Brasil), Forell Annetine (da Austrália), Ruth Kobayashi (do Japão) e Natália pais (de Portugal) tiveram oportunidade de se conhecerem e compartilhar ideias, dando início a organizações de sucesso existentes até hoje, desta forma espalhando o conceito de brinquedoteca pelo mundo, com o objetivo de devolver a criança o direito do livre brincar e a infância (PAT ATKINSON, 2011 p.37). 

    Uma associação nacional de brinquedotecas não é essencial, mas tê-la se torna vantajoso, pois acaba atuando como fonte de informação, representante frente a um governo, obtém ofertas melhores com fornecedores de bens, brinquedos, serviços, campanhas, apoio e formação para os membros.

    As brinquedotecas que acabam sendo estabelecidas em seus países, ajudam no desenvolvimento de outras em todos os outros países, incentivando nas doações de brinquedos e nos apadrinhamentos de novas brinquedotecas. 

Hoje existem brinquedotecas em todo canto do mundo mesmo seus brinquedos e jogos sendo poucos, o brincar acontece na rua, em casa ou em ambientes específicos montados para tal, desse modo os responsáveis pelas brincadeiras podem ser os pais, vizinhos, avós, voluntários ou profissionais, mesmo o brincar sendo através da tecnologia ou mais primitivo o que torna a brinquedoteca ser uma brinquedoteca é a interação e as brincadeiras. As brinquedotecas existentes nos países acabam refletindo sua cultura e seu modo de fazer as coisas (PAT ATKINSON, 2011 p.37-39). 


LEGISLAÇÃO

Conforme a associação brasileira de brinquedoteca afirma existem leis que embasam as brinquedotecas, a fabricação de brinquedos e as crianças. 

Segundo a lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003- Cap V- Disposições Gerais diz:

Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam confundir. Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros destinados a instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado, nas condições fixadas pelo Comando do Exército. 

Na lei 11.104, de 21 de março de 2005 sendo um grande marco na história da brinquedoteca no brasil diz: 

Art.1. Os hospitais que ofereçam atendimentos pediátricos contarão, obrigatoriamente, com brinquedotecas nas suas dependências. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se a qualquer unidade de saúde que ofereça atendimento pediátrico em regime de internação. 

Art.2. Considera-se brinquedoteca, para os efeitos desta lei, o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar. 

Art.3. A inobservância do disposto no art.1 desta lei configura infração à legislação sanitária federal e sujeita seus infratores às penalidades previstas no inciso II do art.10 da lei 6.437, de 20 de agosto de 1977. 

Art.4. Esta lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) após a data de sua publicação, Brasília 21 de março de 2005; 184° da Independência e 117° da República. 

    A diretoria e a Associação Brasileira de Brinquedoteca consideram sua função a contribuição na implantação de brinquedotecas nas unidades de saúde, para que desta forma crie raízes e se expanda cada vez mais com uma ótima qualidade, respeitando os compromissos com a nação em relação aos diretos da criança e adolescente, principalmente com o direito de brincar, em função da saúde física e psicológica para uma melhor adesão aos tratamentos médicos. 

Já a Norma Brasileira 11.786 garante a segurança dos brinquedos com a certificação de brinquedos importados e nacionais no Brasil é um dos modelos de certificação existentes, sendo uma atividade de caráter compulsório, que está baseada na norma brasileira NBR 11786 – Segurança do Brinquedo, publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e regulamentada pela Portaria Inmetro n.º 177, de 30 de novembro 1998. 

O decreto 99.710 fala sobre a Convenção dos Direitos das Crianças e garantem o desenvolvimento infantil e o direito de brincar. 

Art.31. 1) Os Estados Partes reconhecem o direito da criança ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística.

2) Os Estados Partes respeitarão e promoverão o direito da criança de participar plenamente da vida cultural e artística e encorajarão a criação de oportunidades adequadas, em condições de igualdade, para que participem da vida cultural, artística, recreativa e de lazer.


SURGIMENTO DA BRINQUEDOTECA NO BRASIL

    Teixeira (2018) afirma que a brinquedoteca no Brasil também foi criada com o objetivo de ajudar e estimular as crianças com necessidades especiais, e em 1971 começou a ser implantado o Centro de Habilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) que iniciou com o objetivo de estímulos as crianças deficientes. Somente em 1980 diferente da ideia primária criada pela “Los Angeles Toy Loan” e adotada pela APAE de utilizar os espaços apenas com o objetivo de reabilitação e desenvolvimento das crianças, que as brinquedotecas começaram a surgir com a sua principal característica e objetivo  de gerar autonomia e estímulos para as crianças se desenvolverem e brincarem livremente. (TEIXEIRA, 2018 p.74) 

Segundo Kishimoto (2011, p.21) no Brasil o termo Ludoteca foi substituído por Brinquedoteca, pois quando a Associação Brasileira de brinquedoteca foi fazer o registro já havia uma escola privada com esse nome assim impedindo o uso do termo por outras instituições.

    Construída por Nylse Cunha, em 1981 surgiu a primeira brinquedoteca do país, a brinquedoteca Indianópolis em São Paulo, onde a mesma ficou sendo diretora do local que tinha como objetivo estimular, desenvolver o cognitivo, explorar a socialização e a diversão, atendendo as crianças deficientes. Com o crescimento do tema, em 1984 viu-se uma necessidade de criar uma associação que defendesse e abraçasse o projeto, foi então que a Associação Brasileira de Brinquedoteca-ABBri surgiu em favor do brincar, na formação de brinquedistas e auxiliando na construção de novas brinquedotecas por todo país. 

A brinquedoteca terá sempre o objetivo voltado para o brincar, independente do nível escolar oferecido pela unidade, fazendo-se necessário profissionais conscientes que interajam, façam mediação e realizem a organização do espaço de modo que favoreça todas essas ações (TEIXEIRA, 2018). 

Kishimoto (2011 p.21-22) apresentou uma pesquisa onde mostra que no Brasil existem cerca de 565 brinquedotecas, nas mais diversas formas de organizações e funções, sendo sua maioria, 212 vinculada a laboratórios e centros de formação de professores, pesquisas e estudo de práticas e 98 em espaços escolares, encontrando-se mais da metade em espaços educativos. 


A FUNÇÃO DA BRINQUEDOTECA NAS ESCOLAS  

Kishimoto (2011, p.22) afirma que, conforme descrito na Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e bases 93/94-96 é um direito das crianças serem inseridas na educação básica como medidas que estimulam o brincar dentro dos espaços escolares. Toda essa valorização do brincar e dos direitos das crianças encontra-se no Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), da lei 8.069 de 1990, no Art.16 inciso IV que enfatiza o direito de “brincar, praticar esportes e divertir-se”.

Em 1984 foram implantadas as seis primeiras brinquedotecas em escolas públicas no país, na cidade de São Paulo pelo Governo do Estado, uma delas junto ao Labrimp/Feusp. Na época a empresa Estrela fez uma doação de 200 brinquedos para cada unidade que se responsabilizou pela infraestrutura e organização para o atendimento público, mas com as constantes mudanças de política no campo da educação e sem um plano para manutenção dos brinquedos a maioria foi desativada. 

Desde sua criação em 1984, a brinquedoteca obtinha duas preocupações, sendo elas a formação docente e a brincadeira livre. Em 1988 a brinquedoteca do Labrimp/Feusp estruturada e ampliando suas funções visou três objetivos: o atendimento comunitário de crianças até 12 anos, formação de professores e a pesquisa sobre o lúdico, onde o laboratório oferecia um grande acervo com materiais pedagógicos, orientações para as pesquisas, espaços amplos para brincadeiras livres, empréstimos de brinquedos, orientações e formações de profissionais no lúdico. (KISHIMOTO, 2011 p.23-24) 

Em nove de agosto de 1999 foi inaugurado o primeiro museu de brinquedo no país, financiado pela Fapesp. O Museu da Educação e do Brinquedo (MEB) com sua nova configuração, traz esculturas lúdicas da artista plástica Sandra Guinle que vem mostrando em suas obras as experiências e vivências de sua infância com brincadeiras e jogos populares. 

Kishimoto (2011) afirma que “A Brinquedoteca vista como lugar para a infância brincar, emprestar brinquedos e espaço de interações entre crianças e entre pais/profissionais e crianças, pressupõe finalidades educativas, que não se confundem com o ensinar.” (KISHIMOTO, 2011 p.31). A integração de serviços sociais, culturais e educativos nas brinquedotecas trás os pais à escola durante o empréstimo de brinquedos, ocorrendo uma troca entre família e escola para uma educação colaborativa através do brincar, sendo as crianças sujeitos com seus direitos e não objetos sem controle, sem voz e sem autonomia do seu brincar livre. 

Benedet (2011) e Zanella (2011) depois de uma pesquisa em uma escola compreendem que o brincar é fundamental no dia a dia das crianças, pois, é através das brincadeiras que elas começam a compreender, através da vivência, as regras sociais. As escolas hoje em dia é um dos únicos lugares a oferecer um espaço onde as crianças possam brincar, e muitas ainda do ensino fundamental não consideram o brincar de maneira lúdica como atividade, quando acontece esses momentos as brincadeiras acabam sendo direcionadas complementando as atividades que foram propostas em sala de aula, perdendo toda a sua ludicidade, espontaneidade e a festividade durante a brincadeira.  

As autoras também relatam sobre o brincar e aprender, que para algumas crianças são opostos uma da outra, algumas entendem que ler, estudar e aprender conteúdos são atividades sérias e a brincadeira apenas um momento de diversão onde não é possível aprende-se nada, e por já terem internalizado a maneira que lhes é apresentado o brincar, eles acabam agindo e falando automaticamente sem fazer uma reflexão se eles realmente não são capazes de aprender durante a brincadeira, valorizando apenas o brincar se for direcionado ou vinculado às atividades pedagógicas que são instruídas pelos professores. 


CARACTERIZANDO A BRINQUEDOTECA

Magalhães e Pontes (2002) relatam que o momento de preparação da brinquedoteca pode-se dividir em preparação do espaço e da equipe, e que somente uma equipe bem estruturada e afinada em seus objetivos irá garantir um espaço adequado. 

Preparar e construir uma equipe é tão importante quanto o planejamento, estruturação e organização do ambiente, pois essa preparação faz com que não ocorra baixo envolvimento motivacional, pouca clareza ou discordância dos objetivos da brinquedoteca, tornando-se claro que a estruturação desse ambiente deve ser construída em conjunto com a participação de todos os envolvidos e depois de instalada também agregar a opinião das crianças que fazem uso dela. 

O trabalho em equipe deve ser o primeiro a ser iniciado, para que seja possível gerar propostas e executá-las, pensando nas diferenças que possam surgir entre o grupo, sendo necessário o conhecimento das pessoas que estão se propondo a fazer parte da equipe. 

Cunha (2001) fala que a equipe deve ser formada por pessoas alegres, afetivas e com vontade de trabalhar e que o funcionamento da brinquedoteca exige muitas responsabilidades e tarefas diversas. Antes de definir quais as pessoas necessárias para o trabalho, é necessário fazer um levantamento das tarefas a serem executadas, e para realização destas funções teremos a seguinte equipe e atribuições: 

- Coordenadora - fará o planejamento geral, orçamentos, contratação de pessoal, supervisionar a equipe, compra e disposição de brinquedos, atendimento a visitas de profissionais, reuniões etc.

- Brinquedotecária – será responsável pelo registro, por classificar e preparar os brinquedos para circular, empréstimos, restauração, regras, instruções, catálogos etc.

- Secretária – responsável por atender aos telefonemas, correspondências, cartazes, murais etc. 

- Brinquedistas – ficará responsável pelos atendimentos as crianças, pelas análises dos jogos, arrumação, supervisionando as brincadeiras etc. 

- Animador – irá planejar e realizar atividades diferentes, como as festas, teatro, gincanas etc. 

- Encarregado da limpeza – limpeza local e higienização dos brinquedos.

Existem alguns critérios que são utilizados para a seleção desses profissionais, sendo eles a receptividade para a proposta, a criatividade que é avaliada através da apresentação de inovações com as tarefas dadas, iniciativa com as atividades propostas, alto-confiança, tolerância e capacidade de inovação. 

Algumas brinquedotecas são criadas pelo entusiasmo de pessoas que acreditam na importância do brincar, mas, não tem recurso financeiro para contratação de profissionais para o atendimento as crianças, desta maneira sendo necessário a presença de voluntários, podendo-se realizar com eles um bom trabalho, havendo organização, entusiasmo, dedicação e liderança, mantendo assim um bom atendimento. 

Para um bom desempenho da equipe e para que tudo ocorra de maneira eficaz é necessário que esse relacionamento entre profissionais seja cultivado, sabendo que uma equipe também pode ser como uma pequena família, onde cada um sabe qual sua função, mas podendo substituir alguém  na interação com a criança caso seja necessário, vibrando sempre na mesma sintonia. 

O crescimento da equipe também se dá através de reuniões de estudo e reuniões avaliativas para saber tudo o que está acontecendo, assim reforça o que está dando certo e repensa o que precisa melhorar, desta maneira estará provocando um crescimento individual em todos os envolvidos, através das novas ideias que irão surgindo dessa troca de experiência, onde acaba ocorrendo uma oportunidade de se relacionarem, aproximarem e se conhecerem melhor. “Uma equipe não é apenas um conjunto de pessoas; ela deve ser a união de pessoas lutando pelo mesmo objetivo” (CUNHA, 2001, p.80). 


VALORIZAÇÃO DO LÚDICO DENTRO DA BRINQUEDOTECA

Rosa, Kravchychyn e Vieira (2010) relatam que a brincadeira é presente em todas as culturas e cada uma tem suas especificidades, que acabam determinando ou não os comportamentos típicos da brincadeira, mas essa determinação só é válida na medida em que influenciar a maneira como as crianças brincam, com quem e onde, e é por meio dela que as crianças aprendem alguns comportamentos, constroem seus conhecimentos, se expressam através de seus sentimentos e emoções, mostrando para si a cultura a qual ela está inserida. 

As autoras entendem que cultura é uma organização estrutural de regras vagas e genéricas, sociais e de conduta, comportamentos, crenças e valores que acabam possibilitando uma organização da vida diária dentro de uma sociedade. 

Sendo o brincar um comportamento, não deve ser entendido apenas como uma resposta a estímulos, mas sim uma relação estabelecida dentro de um contexto, incluso em um sistema cultural. Ao comportar-se a criança altera o contexto e a si, e para ocorrer esse comportamento de brincar é preciso um local e estímulos, trazendo consequências de curto, médio ou longo prazo ao sujeito. 

Vectore e Kishimoto (2001) relatam que o brincar vem interessando a muitos pesquisadores, de vários países, campos e épocas diferentes desde os tempos greco-romanos. Foram iniciadas por Platão e Aristóteles, dando continuidade nos anos seguintes e explodindo no século XVIII com uma publicação de Rousseau que tratava da especificidade da natureza infantil, que na época era pouco questionada. Alguns teóricos contribuíram para o destaque dado aos brinquedos, e alguns educadores do passado se interessam para alcançar os objetivos pedagógicos, criando a figura do brinquedo educativo para ensinar conteúdo específico através do ensinar “brincando”. 

As autoras afirmam que alguns teóricos nos últimos quarenta anos investigaram as características do brincar, mas identificar essas condutas não é fácil, pois, pode-se reproduzir a mesma ação no dia a dia e não ser lúdica, como carregar/manipular uma boneca ou carregar/representar com essa boneca. Quando o brincar fica oculto nas ações/representações torna-se difícil de identificar. 

Ainda existe pesquisadores que sentem dificuldade em definir o que é brincadeira e quando ela ocorre, já outros apontam que a brincadeira é prazerosa, transformação do mundo segundo nossos desejos, poder da comunicação, divertida sem ter planejamento externo, espontânea e voluntária requerendo total envolvimento do participante. Há controvérsias quando usa o brincar na aprendizagem, pois, quando se usa um brinquedo educativo em um processo dirigido de aprendizagem, não está respeitando o brincar, que é livre de intromissão do adulto que dirige e interfere nas ações das crianças. 

Quando uma criança inicia uma brincadeira e a mesma é mantida por ela, são apresentadas evidências de aprendizagens espontâneas, significativas e construídas por um processo que possibilitou exploração e representações das crianças. “Quando se pretende a aquisição de conhecimentos, em um processo dirigido, com o uso do brinquedo educativo, não se respeita o brincar, que é improdutivo e livre de ingerências do adulto que dirige a ação da criança” (VECTORE; KISHIMOTO, 2001 p.60).

O brinquedista é fundamental na mediação da criança com o brinquedo, pois, compreende a ludicidade favorecendo o desenvolvimento de quem brinca, cabendo ao educador fazer essa interação da criança com o meio e ir interagindo com ela. Os mediadores- brinquedistas precisam compreender a realidade socioeconômica e cultural dessa população ao qual está interagindo e socializando, tendo capacidade para criar vínculos e uma ótima relação com as crianças ali atendidas, contribuindo para o desenvolvimento infantil e nas situações lúdicas. 

Para que as crianças fiquem envolvidas nas propostas e que possam explorar bem tudo o que lhe é proposto, faz-se necessário que as arrumações sejam distribuídas em “cantinhos” totalmente atrativos, que os brinquedistas faça a introdução de novos materiais, observe as ações das crianças e estimulem suas iniciativas, identificando as que tem suas necessidades particulares e intermediando para um melhor desenvolvimento. 

O adulto ou quem acompanha as crianças na brinquedoteca é necessário que o mesmo se for solicitado participe da brincadeira fazendo também o papel de mediador, ajudando as crianças a brincarem, mas sem interferência e respeitando suas fantasias, pois já é do adulto reprimir a criança em algumas brincadeiras, sem entender que naquele momento para a criança não é o real que está em destaque mas sim a representação que a criança está utilizando através do brinquedo. 

Wanderlind et al (2006) falam que o ambiente físico e social que as crianças estão inseridas acabam influenciando-as, dessa maneira devemos organizar de diversas maneiras oferecendo suporte para um contato social. A brinquedoteca é classificada como um espaço onde possibilita estimular as crianças nas brincadeiras, possibilitando grande acesso na variação de brinquedos, em um espaço que valoriza totalmente o lúdico e próprio  para estimular a criatividade das crianças, brincadeiras de faz-de-conta, dramatização, socialização, construção de algo, soluções de alguns problemas emocionais e o desejo de criar, favorecendo a brincadeira livre, sem intervenções ou controle delas, onde os brinquedistas do local interage o tempo inteiro com a criança, explicando, brincando e estimulando esse brincar com o outro, sem generalização entre as brincadeiras, proporcionando-as assim novos desafios. 


VANTAGENS PEDAGÓGICAS DO LÚDICO PARA A APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS 

    Benedet e Zanella (2011) Além de relatar que o brincar é fundamental no dia a dia das crianças, elas também relatam que através das brincadeiras que elas começam a compreender e vivenciar as regras sociais. 

    As autoras também vêm mostrando que mesmo os adultos e as crianças não entendendo aquele espaço da brinquedoteca como um lugar de desenvolvimento e aprendizagem, e apenas  como um ambiente onde as crianças somente brincam, quando elas fazem a utilização do local, estão permitindo que seus alunos e filhos criem, produzam, tenham liberdade para se expressarem e se comunicarem através das brincadeiras, dando um novo significado para aquele momento através do brincar. 

    Cardozzo e Vieira (2007) afirmam que o termo brinquedo, brincadeira e jogos podem ser confundidos dependendo do idioma ao qual ele será utilizado, e que alguns autores possuem dificuldades em sua definição em determinadas línguas. Os verbos brincar e jogar na linguagem portuguesa, designam uma ação lúdica ao qual cada uma tem uma definição, brincar sugere uma atividade lúdica que não é estruturada e jogar sugere atividades com regras devidamente ditas. 

    As autoras também relatam que alguns autores definem o termo brinquedo em diferentes maneiras, tais como: um objeto que dá um suporte a brincadeira, um objeto cultural (de acordo com a cultura inserida) que possui significados e representações e também como o que define uma sociedade, possuindo funções sociais por sua ludicidade. Logo a função do brinquedo é gerar estímulos durante a brincadeira e fazer com que a criança sinta atração e vontade própria de estar ali.

    Durante a puerícia as crianças fazem um uso frequente do brincar, sendo ele a principal atividade da infância e o do desenvolvimento infantil. O brincar, faz com que as crianças descubram as relações existentes entre as pessoas, e com que as mesmas autoavaliem suas habilidades e as compare-as com as dos demais amigos, permitindo-se através da brincadeira apropriar-se de uma linguagem/papéis cultura e social. 

Através das brincadeiras e dos brinquedos, quando bebê até a fase da adolescência, a criança é capaz de se desenvolver através dos estímulos gerados pela manipulação desses objetos, que oportunizam eles a começarem explorando seus conhecimentos através dos órgãos dos sentidos e quando maiores, esses objetos/brinquedos são alterados por jogos simbólicos, percebendo-se que a brincadeira muda de acordo com cada fase que a criança se encontra. 

Mesmo a brincadeira sendo representativa ou contendo regras, ela não é apenas um passatempo ou diversão, através dela, a criança é capaz de estimular diversos pontos, que acabam contribuindo para o desenvolvimento, tanto individual quanto social. Por meio da brincadeira são estimulados a linguagem, o cognitivo, a interação, socialização e vivências, sendo as crianças capazes de observarem seus próprios erros e acertos. 

A brinquedoteca por ser um espaço totalmente lúdico, com diversos tipos de brinquedos, onde as crianças têm oportunidade de explorar cada um sem intromissão do adulto, acaba sendo um local onde elas são capazes de estimular ainda mais o seu desenvolvimento e a sua aprendizagem, através dos jogos lúdicos e dos espaços. As práticas e brincadeiras ali desenvolvidas e estimuladas com as crianças, através dos brinquedos e jogos são possíveis, trabalhar matemática, linguagem/vocabulário, expressão corporal e emocional, coordenação motora, socialização etc.

 Compreende-se assim que é preciso respeitar o tempo e espaço de cada criança, deixando que ela use sua criatividade e imaginação por meio das fantasias, dos “cantinhos” da casinha e cozinha, dos livros e etc, fazendo com que expressem através dos jogos e brinquedos livremente suas emoções, ampliando seu desenvolvimento e sua aprendizagem por meio dessa vivência de lúdica. 


CONTRIBUIÇÃO DO LÚDICO PARA O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

    Santos, Coutinho e Sobral (2019) relatam que, através da vivencia que as crianças tem com os brinquedos e com as atividades lúdicas, elas começam a compreender, construir e criar uma ligação com o mundo a sua volta e entender como interagir e trocar experiências com as pessoas, tendo autonomia para se expressarem livremente.  Dessa forma, se faz necessário que alguns professores abordem atividades dinâmicas em suas aulas, saindo do pressuposto de que somente a teoria é capaz de fazer com que eles aprendam, pois através das experiências com as brincadeiras e atividades lúdicas diversificadas que as crianças irão conseguir construir seus conhecimentos. 

    Os conhecimentos e vivências que as crianças trazem de casa, quando compartilhado com um adulto e outras crianças, acabam fazendo com que todos ali ampliem seus conhecimentos e explorem mais o ambiente que os cercam. A escola acaba tendo grande responsabilidade em oferecer um ambiente estruturado, onde as crianças possam brincar e se expressar livremente, sendo-lhes proporcionados possibilidades diversificadas de como brincar. 

    Falar sobre a contribuição do lúdico no ambiente pedagógico, engloba também uma ida na história de formação da criança na sociedade, onde no período medieval elas eram tão previamente inseridas no mundo adulto após os primeiros cuidados de suas mães. Sendo assim, neste período não se mensurava a devida importância de tais atividades para o desenvolvimento escolar do aluno. 

    Indo um pouco mais adiante, no século XVII já houve uma alteração considerável na forma de pensar em relação a criança junto a sociedade. A igreja foi responsável por uma leve inserção dos mesmos no ambiente escolar, de forma mais participativa e pensante no local de estudo. Já no século XVIII, foi então que eles passaram a serem vistos como seres capazes de pensar e desenvolver suas potencialidades, porém de forma ainda muito superficial. 

    Então, foi somente no século XX, através de alguns pesquisadores, tais como: Piaget, Froid e Vygotsky que por meio das teorias psicológicas e do formato de aprendizagem, buscaram entender melhor a realidade da educação e como se dava esta interação, tentando assim entender através das ações e linguagens das crianças como o lúdico poderia  ser fundamental para a construção do conhecimento. Foi aí então que houve um processo de reestruturação no conceito de infância ao longo da história. Esta mesma criança que antes era vista à parte da sociedade, passa então a ser vista com sua individualidade capaz de ser transformada também através das atividades lúdicas dentro do ambiente escolar. 

    A falta de informação e conhecimento foram barreiras no desenvolvimento infantil, visto que se faz necessário também a interação e continuidade entre a escola e o ambiente familiar onde a criança está inserida, para que os ensinamentos lúdicos também sejam replicados no núcleo de suas casas. 

    Na atualidade é primordial para os educadores, assim como para as famílias, perceberem a mudança no papel da educação infantil, pois, é nesta etapa da educação que as questões psicológicas devem ser reconhecidas e respeitadas por suas especificidades. Em proporção ao crescimento físico das crianças, suas interações sociais também passam a ser maiores, visto que as brincadeiras passam a exigir maior interatividade e troca, sejam elas de brinquedos ou sentimentos em suas tarefas do dia a dia. 

    As atividades lúdicas revelam algumas vertentes da personalidade do aluno, assim como suas habilidades, seu caráter e suas potencialidades, tudo isso se torna bem evidente para o profissional que o acompanha de fora, seja ele professor, psicólogo ou até mesmo seus próprios pais. Ou seja, não se trata apenas de um simples jogo ou um brinquedo, mas sim atividades em que os mesmos começam a sua interação com as pessoas, de forma mais saudável, com alegria, criatividade e sensibilidade, estimulando a parte social. 

    Sendo assim, é por meio da brincadeira que a criança consegue ser realmente criança, Luckesi APUD Santos, Coutinho e Sobral diz:


[...] o que a ludicidade traz de novo é o fato de que o ser humano, quando age ludicamente, vivencia uma experiência plena. [...] Enquanto estamos participando verdadeiramente de uma atividade lúdica, não há lugar, na nossa experiência, para qualquer outra coisa além desta atividade. Não há divisão. Estamos inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis. [...] Brincar, jogar, agir ludicamente exige uma entrega total do ser humano, corpo e mente ao mesmo tempo. (LUCKESI, 2000, p. 21 Apud SANTOS, COUTINHO e SOBRAL, 2019, p. 145).



    É assim notória, a importância para as crianças que mesmo sem a distinção de classe social ou idade, estas atividades lúdicas precisam estar contidas dentro do contexto político e pedagógico da escola. Não importam se as brincadeiras sejam de antigamente ou atuais, o lúdico compreende e engloba todo este contexto, pois são altamente educativos e auxiliadores na aprendizagem dos alunos e no contexto social. É través do processo interativo que ocorre o desenvolvimento da liberdade e criatividade das crianças. 

    Fazendo-se associação entre brinquedoteca e experiência lúdica, podemos concluir que lá é um espaço onde há liberdade e valorização do cotidiano infantil, deixando-os livres para a própria produção de conhecimento na infância e desenvolvimento. Valores são construídos e trabalhado o lado cognitivo, interação social e participitividade a partir do ato de brincar, por exemplo: para um professor de matemática o lúdico entra como um instrumento metodológico e aliado na busca de uma melhor compreensão e aprendizado dos seus alunos, caso haja alguma dificuldade nesta matéria, as brincadeiras trazem a ludicidade e levam os alunos aprenderem de forma mais agradável. 

    O lúdico busca aprendizagens mais significativas e amplia o modo de comunicação e o desenvolvimento. Os alunos/crianças passam a ser sujeito do seu próprio conhecimento, neste momento eles expressam espontaneidade, criatividade e demonstram suas reais potencialidades e pré disposições, passa a haver um significado mais concreto daquilo que se estar aprendendo, pois, além da teoria é realizada a prática através das brincadeiras. 

    Observam-se então que a formação educativa da brincadeira, tem em sua essência o pressuposto do desenvolvimento integral da criança, no aspecto intelectual e moral, além de construir a individualidade, o caráter e formar a personalidade de cada um, como também da promoção da aprendizagem de um certo tipo de conceito. 

    Dessa forma, o planejamento das atividades pedagógicas devem conter dinâmicas lúdicas, pois, trazem em si uma maior qualidade de ensino e facilidade para que as crianças possam se desenvolver e construir uma base de conhecimento mais sólida, o que é fundamental para o crescimento e amadurecimento que sua personalidade dentro do contexto social e na vida escolar, o que irá acarretar inúmeros benefícios em seu histórico acadêmico e autonomia para se descobrir e redescobrir de forma autônoma e vivenciar novas experiencias onde o próprio se tornará protagonista junto de seus professores para um completo aprendizado. 

    



























CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se desta forma, que este trabalho possa contribuir de forma social para o entendimento de que a brinquedoteca é um fator essencial na construção e formação do indivíduo. Sabe-se que algumas escolas ainda não dão o devido valor a esse espaço, porém já é comprovado que atividades lúdicas viabilizam o melhor entendimento e ensino para os alunos. Na brinquedoteca existe a possibilidade de cada indivíduo se desenvolver em seus pontos positivos, assim como aprimorar certas questões que não são tão bem vistas socialmente, ou seja, nos dar a capacidade de melhorar dia a dia. 

No que tange a psicopedagogia sabe-se que cada aluno tem o seu próprio jeito de interagir e interpretar o mundo, sendo assim, nesses momentos em que há a liberdade de expressão o professor poderá ter a perceptividade de onde melhor deverá trabalhar com cada aluno. 

Objetivando-se respostas a estas questões foram apresentadas o histórico, legislações, funções nas escolas, construção e manutenção e as vantagens pedagógicas do lúdico para o desenvolvimento e aprendizado dos alunos. 

Este trabalho possibilitou um entendimento sobre o surgimento e ideia inicial da brinquedoteca, que surgiu em 1934 em Los Angeles, em meio uma depressão econômica, onde o dono de uma loja de brinquedos e um diretor escolar, vendo crianças roubando resolveram criar esse espaço. Foi possível entender leis que embasam as brinquedotecas, a fabricação de brinquedos e as crianças. 

Pode-se também compreender que a brinquedoteca surgiu como um local de empréstimo de brinquedos e tomou uma proporção muito maior, que é trabalhar e desenvolver com as crianças a interação, socialização, desenvolvimento, aprendizagem e assim permitir que elas aprendam brincando e desenvolvam suas capacidades e potencialidades. Espera-se que o profissional que vá atuar dentro desse ambiente lúdico seja um ser brincante, pronto para interagir com as crianças ali presentes. 

Sendo assim, delonga-se que este artigo traga aos profissionais da área a importância do brincar como atividade que vai além do entretenimento, e traz em si inúmeras formas de aprimorar o conhecimento. 






REFERÊNCIAS

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