A Contação de Histórias no Processo de Ensino Aprendizagem

Por Sirlene Davina da Conceição Freitas | 29/04/2020 | Educação

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

 

 

 

                    

 AUTORA: SIRLENE DAVINA DA CONCEIÇÃO FREITAS

 

 CO-AUTORAS:LÉIA JOVIÔ DA SILVA

                         ELAURA MARIA PEREIRA

                         JOICIMAR DE SOUSA MELO

 

 

 

                                           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                      

                                                      RESUMO

Este artigo científico tem por finalidade ressaltar a importância da contação de histórias na construção do aprender, de forma lúdica, fazendo uma relação com o meio, as experiências e a vivência de cada educando, aplicando a partir daí caminhos para enriquecer o gosto pela leitura, à dramatização e a incorporação das crianças ao mundo imaginário e fantasioso. De acordo com os teóricos trabalhados através de pesquisas bibliográficas, a contação de histórias contribui significativamente para a formação do educando e deve estar presente no cotidiano de cada instituição de ensino, construindo valores e formando futuros leitores. É de suma importância que a criança presencie novos vocabulários, experimentando diferentes dialetos, adaptando-as a sua realidade de vida, desvendando descobertas, por intermédio do mundo imaginário, participando com aqueles que estão proximamente a ela e compartilhando competências de forma ativa.  Este assunto foi escolhido devido à relevância atribuída à prática de contação de histórias nas salas de educação infantil, pois, verificou-se que nos momentos em que há esse processo lúdico, a criança integra-se com os personagens e compartilha suas experiências com o outro, tornando este aprendizado prazeroso e significativo.

Palavras chave: Contação de histórias. Educação Infantil. Imaginário. 

 

                                                      ABSTRACT

 

This scientific article aims to emphasize the importance of storytelling in the construction of learning, in a playful way, making a relationship with the environment, experiences and experiences of each student, applying from there ways to enrich the taste for reading, to the dramatization and incorporation of children into the imaginary and fantasy world. According to theorists working through bibliographical research, storytelling contributes significantly to the formation of the learner and must be present in the daily life of each teaching institution, building values and forming future readers. It is of utmost importance that the child witness new vocabularies, experimenting with different dialects, adapting them to their reality of life, unraveling discoveries, through the imaginary world, participating with those who are close to it and actively sharing skills. This subject was chosen due to the relevance attributed to the practice of storytelling in nursery rooms, because it was verified that in moments when there is this playful process, the child integrates with the characters and shares their experiences with the other , making this learning enjoyable and meaningful.

 

Keywords: Storytelling. Child education. Imaginary.

 

 

 

 

 

 

                                             1-INTRODUÇÃO

 

              Durante muito tempo o ato de contar de histórias ocasionou-se de forma verbal com fatos reais ou fictícios passados de geração a geração enriquecendo a nossa cultura e linguagem, tornando universal as várias formas de contar e recontar histórias.

Devido às variedades tecnológicas assistimos o distanciamento das crianças em relação à leitura de livros e a curiosidade no conhecimento e na imensidão de nossas histórias, cabendo ao docente apresentar de maneira significativa as estratégias pedagógicas para promover o resgate deste ato importantíssimo no desenvolvimento da leitura, escrita, ouvir, falar, do cognitivo e da troca de informações.               

Este Artigo bibliográfico tem como objetivo, apresentar discussões realizadas por aportes teóricos como Oliveira, Abramovich, Rodrigues, Morin, Kulisz, Garcia, Borsa, Edi Fonseca que abordam a contação de histórias no processo de ensino e aprendizagem, como incentivo para o desenvolvimento do raciocínio do ouvinte, bem como a aquisição de hábitos de leitura que formam futuros leitores.

A contação de histórias estimula a curiosidade nos alunos, despertando o imaginário, a construção de ideias, ampliando seus conhecimentos, fazendo com que cada ouvinte vivencie situações de alegria, tristeza, medo, entre outros aspectos ajudando a resolver possíveis situações e criando novas possibilidades.

Ao se narrar uma história além de trabalhar o sentimento é também uma atividade lúdica que socializa, educa e informa.

A contação de história no processo de ensino e aprendizagem vem desenvolver a aptidão cognitiva nas estruturações mentais das crianças, viabiliza elementos para a imaginação, onde trabalha a observação e simplifica a expressão de ideias. No dia-dia da educação infantil a narração de histórias pode ser um excelente recurso de trabalho para o professor, um novo sentido para a aprendizagem da criança e, como resultado, à formação de um novo aluno leitor.

Neste artigo comentaremos sobre a criança e a educação ao longo do tempo, como vem evoluindo a educação apresentada as nossas crianças e a valorização de nossas histórias no caminhar dos séculos. A criança e a sua relação com a história adquirindo aprendizado para a vida e as diversas ferramentas que auxiliam o professor na técnica de repassar histórias para o crescimento intelectual de nossas crianças. Espera- se que este artigo venha servir de apoio para os pais, pedagogos e profissionais da educação a quem possa interessar.

 

 

                                         2 - DESENVOLVIMENTO

 

            A contação de história é capaz de trazer para a realidade, bagagens de instruções, favorecidos pelo educador e narrador, abrindo-se um leque de possibilidades culturais e sociais uns para os outros nas trocas de experiências. A todo o momento contamos e recontamos histórias que são passadas de geração a geração. O educador precisa estar atento as grandes mudanças que ocorrem na sociedade em que vivemos, por isso, desde cedo a criança deve estar em contato com a contação de histórias.

É na instituição de ensino que deve ocorrer o resgate dessas histórias, principalmente pela literatura infantil, utilizando diversificados gêneros textuais. Quanto mais cedo às crianças entrarem em contato com o universo da leitura melhor será seu rendimento e entendimento e ainda se tornarão possíveis leitores. Portanto é fundamental o educador promover este momento mágico de sensibilidade, afetividade e partilha, levando o ouvinte a viajar pelo mundo do faz de conta, preparando-o para enfrentar os possíveis desafios da vida.

A hora de contar história é a prática principal na ligação entre a fantasia e a realidade promovendo momentos de reflexão a quem está ouvindo, incorporando tal contador no papel de narrador ficando ao encargo a responsabilidade do mesmo o envolvimento dos personagens e suas emoções na vivencia daqueles que ouvem a história contada, observando sempre quais lições e significados trarão aos educandos. 

A contação de histórias é atividade própria de incentivo à imaginação e o transito entre o fictício e o real. Ao preparar uma história para ser contada, tomamos a experiência do narrador e de cada personagem como nossa e ampliamos nossa experiência vivencial por meio da narrativa do autor. Os fatos, as cenas e os contextos são do plano do imaginário, mas os sentimentos e as emoções transcendem a ficção e se materializam na vida real. (RODRIGUES, 2005, p.4).

 

Os educadores, na atualidade, através de um planejamento bem elaborado, visando principalmente à faixa etária das crianças, devem preocupar-se em utilizar a contação de histórias como dinâmica de ensino em sala de aula, não para preencher o tempo da criança, mas, como ferramenta de trabalho para promover o aprendizado de seus alunos. Ainda deverá se ter o cuidado de escolher que tipo de literatura será apresentado às crianças, separando minuciosamente tais histórias, incorporadas pelo contador ou narrador, trazendo para o mundo real experiências significativas, estimulando nossos ouvintes a vivenciar e comparar aquilo que presenciam, para prender a atenção e a curiosidade no momento da contação de histórias, aguçando a imaginação e melhorando a linguagem oral.

 

O melhor instrumento e a técnica mais eficiente são o amor e a criatividade, unidos à preocupação com os objetivos do trabalho, com o nosso público e com a mensagem a ser transmitida. É preciso que o professor goste de Literatura Infantil, que ele se encante com o que lê, pois somente assim poderá transmitir a história com entusiasmo e vibração. Se o professor for um apaixonado pela Literatura Infantil, provavelmente, os alunos se apaixonarão também. Para ler um texto de Literatura Infantil é preciso ter o coração de criança. Muitas vezes lemos uma mesma história e não gostamos, uma criança lê a mesma história e fica encantada. Isso pode acontecer porque lemos com a cabeça de adulto. (OLIVEIRA, 2009, p.15).

 

 O professor deve estar atento ao seu público e como agradá-lo, lembrando que a história deve atender as expectativas dos ouvintes e não do narrador, mostrar-se entusiasmado e criativo, principalmente com o público infantil e o principal caminho para levar os pequeninos a amar a literatura infantil, tornar-se criança é o melhor método. 

Ao narrarmos uma história para crianças sempre devemos observar como elas reagem ao ouvir a história, sua atenção, participação, entusiasmo, não esquecendo que a parte mais importante de ilustrar esse momento deve vir do educador, utilizando recursos variados como fantoches, aventais, teatro, álbum seriado, livros e diversos outros meios.

O essencial é o que será ofertado para a construção de conhecimentos, adaptados para atender as necessidades cognitivas de nossas crianças. O educador é o mediador entre o mundo imaginário e a realidade, proporcionando no momento da explanação da história, mistério, novas descobertas e contentamentos, tornando-se criança para encantar outras crianças, buscando métodos consistentes para propagar a ideia relatada na história, fascinando os ouvintes.

O ato de contar histórias de maneira simbólica e representativa traz para a criança uma moral de vida, fazendo com que a mesma compreenda o mundo na qual vive, entendendo seus próprios sentimentos, desenvolvendo o raciocínio lógico, favorecendo a memória e a autoestima, formando a criticidade e a cidadania na vida da criança.

Para contar uma história, seja qual for, é bom saber como se faz, afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes [...] Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção [...] Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras [...] Contar histórias é uma arte [...] e tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro [...] Ela é o uso simples e harmônico da voz". (ABRAMOVICH, 1989, p.16).

 

De acordo com Abramovich (1989), a contação de história é uma arte e o professor deve ser um artista, representando, usando a voz como ferramenta e realizando movimentos corporais para chamar a atenção dos ouvintes, deve dominar bem o que está dizendo, conhecendo bem o enredo da história que irá contar. O narrador deve ser original, ágil, se expressar bem, com ternura, carinho e suspense. A música também ajuda muito para alegrar durante a narração e embalarmos nas asas da imaginação. 

Para que se tenha uma educação humana e transformadora, é preciso conceber a educação de forma dialógica. Assim, para que o professor seja qualificado como um profissional, de Educação Infantil comprometido como exercício da cidadania, é essencial que a concepção de educação que permeia a sua formação se fundamente no diálogo entre os sujeitos. (KULISZ, 2004, p. 44).

 

Dessa forma, há uma grande necessidade em se formar uma nova geração de profissionais da educação, comprometidos com um ensino inovador, e de qualidade a partir do diálogo entre professor e aluno, buscando na contação de histórias a integração e a formação de um sujeito dinâmico que tenha oportunidade de falar, participar e dar sua própria opinião, construindo seus próprios conceitos. Sendo assim, é importante que se tenha uma formação de qualidade do educador de educação infantil para estar ensinando em sala de aula, pois, contar histórias não é simples, exige conhecimento e pesquisa. Contar por contar é fácil, contar para produzir resultados exige qualificação profissional.

Quando ministramos uma aula, planejamos primeiro e investimos naquilo que levaremos para os nossos alunos, visando sem dúvidas, uma nova aprendizagem para os mesmos. Todo o material utilizado no momento da contação de história servirá como suporte e dinâmica da explanação, melhorando a encenação, representação, repertório e todo o desenrolar deste momento mágico que produz efeitos satisfatórios, na formação de futuros cidadãos que precisam de atenção e respeito. 

 

     

2.2- A Criança e a Educação ao Longo do Tempo

 

 Na antiguidade a criança era vista como um adulto em miniatura, sem infância, sem lazer, sem respeito e sem direito à educação, apenas os filhos dos burgueses tinham o privilégio de frequentar uma instituição de ensino. As crianças ouviam todo tipo de conversa dos adultos, sem restrição nas palavras citadas, algumas das quais poderiam vir até mesmo a prejudicar suas vidas. As crianças estavam sempre presentes nos mesmos espaços que os adultos, e dessa forma não podiam viver plenamente a inocência pertinente a essa fase de vida.

A educação e os meios pedagógicos aplicados ao longo da história chegaram por vezes a oferecer dois tipos distintos de ensino, visto que para os filhos dos ricos a educação era voltada para a formação da classe dirigente, direcionada para a formação de homens que se envolveriam com a administração dos bens da família e/ou política. Já os filhos dos grupos considerados inferiores, eram destinados a uma educação profissional, visto que os seus professores eram os membros da própria família e como tal, seguiam a mesma ocupação do pai.

Os ricos recebiam educação por meio de preceptores particulares; a pequena nobreza e a burguesia eram enviadas para as escolas (a fim de desenvolverem liderança e a administração da política e dos negócios), os segmentos populares aprendiam ofícios. 

 O aparecimento dos colégios nos séculos XVI até o XVIII marcou o surgimento de uma nova visão da infância e da família, nas escolas as crianças passaram a ser separadas de acordo com o grau de aprendizagem e as metas da escola eram: transmitir o conhecimento e a formação moral dos indivíduos.

Nessa fase educacional as crianças foram submetidas a uma severa disciplina e a castigos corporais. Com o surgimento e ascensão da burguesia eles passam a assumir padrões aristocráticos e começaram a aspirar uma educação que permitisse formar o homem de negócios ao mesmo tempo capaz de conhecer as letras greco-latinas e de dedicar-se aos luxos e prazeres da vida.

As escolas religiosas se multiplicaram na Europa e no resto do mundo colonizado. Embora rejeitassem a autoridade dogmática da cultura eclesiástica medieval, manteve-se fortemente hierarquizada: excluía dos propósitos educacionais a grande massa popular, assim, o renascimento começa a existir a quebra dos ideais essencialistas (aquilo que o indivíduo deveria ser), que foi marcada pelo que hoje chamamos de existencialismo (uma recusa aos valores dogmáticos tradicionais). 

 Na Idade Moderna (a partir de meados do século XVIII), os filhos das famílias menos abastadas frequentavam as fábricas onde os pais trabalhavam muitos deles por não terem onde e com quem passar o dia, outros pelo próprio fato de serem inseridos nesse universo pelo fato de terem a necessidade de ajudarem na renda familiar.

Nesse espaço de trabalho fabril, a criança perdia definitivamente o seu caráter infantil e algumas vezes essas crianças até sofriam acidentes. Por esses motivos não tinham como aprender, brincar, ouvir histórias e desenvolver suas habilidades cognitivas, auditivas, visuais, motoras e sociais.

Não tinham como vivenciar adequadamente essa fase da vida tão importante para o desenvolvimento pleno do indivíduo. Sendo assim, podemos identificar claramente que em boa parte da história da humanidade não existia infância, mas sim, crianças sem infância, sem liberdade de expressão, apenas um pequeno cidadão com deveres. 

 Com o passar do tempo foram surgindo e se consolidando os direitos que hoje estão assegurados por lei, tais como: a Constituição de 1988, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei n° 9.394/1996), o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei n° 8.069/1990) e o Plano Nacional de Educação - PNE (Lei n° 10.172/2001).

Diante dessas conquistas que foram alcançadas após um longo processo histórico, considera-se que houve um avanço significativo por parte daqueles que veem a fase de inocência da criança como o melhor momento para se aprender de forma lúdica, no próprio meio em que está inserida.

Toda essa transição passou pelo processo da valorização do aprendizado, a segurança e o bem estar de nossos pequeninos, promovendo a oportunidade para a geração da atualidade serem facilitadores do conhecimento, inserindo cada criança ao aprender a aprender, aprender a ser e a aprender a fazer de maneira lúdica, brincando, cantando e construindo sua própria história ao longo dos anos.

Toda criança nasce e cresce em diferentes meios culturais, sujeito a cumprir determinadas regras estabelecidas pela sociedade, desempenhando deveres impostos como cidadão, dentro de um desenvolvimento gradativo que ocorre ao longo de toda a sua vida, na formação de sua própria história e que reflete no meio familiar e social em que a mesma vive e cria as suas relações interpessoais. Segundo Borsa (2007):

A socialização é um processo interativo, necessário para o desenvolvimento, através do qual a criança satisfaz suas necessidades e assimila a cultura ao mesmo tempo que, reciprocamente, a sociedade se perpetua e desenvolve. Este processo inicia-se com o nascimento e, embora sujeito a mudanças, permanece ao longo de todo o ciclo vital.

(BORSA, 2007, p.1)

 

Deste modo, percebe-se que a criança está em constante interação, ao mesmo tempo em que adquire experiências, ela reproduz os hábitos daqueles que a cerca. Toda essa experiência adquirida por meio das relações sociais provoca o aperfeiçoamento do seu interior que sobressai para o seu exterior, desde o momento em que nasce até a velhice, deixando exemplos e um longo caminho histórico, contribuindo de diversas formas para a sociedade.

 

2.3- A Criança e a Contação de História

 

A prática lúdica de contar histórias é um processo que vem sendo repassada há milhares de anos, propagada por muitas gerações, para instruir, trazer a tona recordações antigas ou esquecidas e para entreter aqueles que apreciam ouvir histórias e que dão importância à literatura infantil.

Antes da escrita, as histórias eram contadas oralmente para preservar as culturas, crenças e tradições de um povo, sendo que, havia os contadores especiais que eram incumbidos de transmitir essas histórias.

Até hoje em algumas civilizações como a africana, a prática de contar histórias é parte importante para a continuidade das tradições locais, bem como, fontes educativas, visto que transmitem para as gerações futuras sua herança cultural informações estas, consideradas pertinentes à formação do caráter e da criticidade dos futuros cidadãos.

Todos que contam ou narram alguma história tem seu próprio modo de passar ao público suas memórias e informações, transformando cada momento em algo prazeroso e especial. Há várias maneiras de contar ou recontar algo, utilizando para isso diversos recursos didáticos, tais como a ornamentação das histórias, os cantos, rimas, poemas e outras ações, que têm em comum, o objetivo de repassar informações de forma que elas jamais sejam esquecidas.

Levando-se em conta os estudos abordados pela Enciclopédia Escolar Britânica (2016), existem diferentes tipos de narrativas, entre elas estão os contos populares, que servem para alimentar as questões folclóricas de um grupo, os mitos, que se assemelham em muito com os contos, por também tratarem de estórias que podem ganhar certas informações que dizem a respeito de um povo.

Já as fábulas são baseadas em lições que se esperam ser absorvidas pelos ouvintes, passando assim lições importantes até mesmo para a vida adulta e por fim chegamos aos contos de fadas, onde são retratadas ações mágicas representadas por seres com características fora do comum da realidade cotidiana.

Todos esses tipos de narrativas representam o que se espera desse tipo de recurso que é o de despertar a imaginação das crianças e as fazerem se interessar cada vez mais pela leitura. Todas as narrativas citadas anteriormente são usadas por professores em sala de aula, foram comentadas no passado, são utilizadas no presente e servirão para o futuro, como instrumentos culturais de conhecimentos e métodos, no processo de contação de histórias. O interessante a se perceber, é que estão sempre vivas dentro das pessoas e jamais esquecidas por elas.

Observamos que, os livros infantis, as novelas, obras de ficção, filmes, lendas, teatro, romances, sendo elas assistidas, lidas ou transmitidas pela oralidade, demonstram sentimentos de medo, amor, aventura, tristeza, alegria, triunfo, valores que ajudam na formação do caráter daqueles que ouvem e assistem, trazendo sempre uma lição de vida, independente de gostarmos ou não, isso transcende a nossa realidade.

Uma história bem contada nos conduz a uma enxurrada de fantasias, favorecendo o desenvolvimento do nosso raciocínio, além de promover a interação cordial entre o narrador e ouvinte. Aprendem-se conceitos de ética e cidadania, estimulando diferentes sensações e emoções em nosso eu interior, que será um importante fator gerador de sentimentos interiores que culminarão com a geração de resultados exteriores.

Aquilo que ouvimos quando crianças ficam guardadas em nossa memória e permanecem ativas até quando nos tornamos adultos e continuamos a promover esse avivamento de lembranças e sensações, quando compartilhamos com as pessoas próximas de nós. Quando expomos aos nossos filhos, alunos, vizinhos, amigos e todos aqueles que apreciam o contar histórias, estamos explorando o que não conhecíamos, trazendo reflexão ao nosso presente.

 Não podemos separar o ato de contar histórias, do amor pela leitura e literatura infantil, formando ouvintes atentos e críticos, amantes da leitura, que respeitem a vez e a opinião do outro e possam estar preparados para reivindicar, lutar por seus ideais e melhorar o meio em que vivem, e sem nenhuma dúvida, tudo isso se faz através do ato de boas leituras e por intermédio de conhecimentos adquiridos por conta do esforço pessoal de cada indivíduo.

Tanto a leitura, quanto o ato de ouvir algo, corrobora para o surgimento de um indivíduo íntegro em todos os princípios formação do ser humano, livre de superstições e conduzido ao conhecimento pleno das coisas, é nesse contexto, que se apresenta a importância dos mediadores desse conhecimento: os professores. Estes conduzem os ouvintes a outro mundo até então, em certo ponto desconhecido. Sendo assim, Abramovich (2005) evidencia o papel importante dos educadores nesse processo integrador narrador-ouvinte. 

[...] para a criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, pegando o primeiro volume que se vê na estante... E ai, no decorrer da leitura, demonstrar que não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias), empacar ao pronunciar o nome de um determinado personagem ou lugar, mostras que não percebeu o jeito que o autor construiu suas frases e dando as pausas nos lugares errados, [...] Por isso, ler o livro antes, em lido, sentir como nos pega, nos emociona ou nos irrita... Assim quando chegar o momento de narrar a história, que se passe a emoção verdadeira, aquela que vem lá de dentro, lá do fundinho, e que por isso, chega no ouvinte[...] (ABRAMOVICH 2005, p.18-20).

 

De acordo com o autor, para se contar histórias, o contador primeiramente deve fazer uma seleção da literatura que queira apresentar, levando-se em conta ainda para que idade a história vá ser contada. Após essa definição clara, deverá ser feita uma leitura minuciosa daquilo que se passará para os ouvintes, para que não haja empecilhos no momento da narração e que tudo seja explorado de forma nítida, com muita animação e que os sentimentos fluam de dentro para fora, assim, os envolvidos em todo esse processo deverão estar preparados para vivenciar com dinamismo esse momento mágico de ludicidade para produzir resultados satisfatórios, tanto para o narrador, quanto para o ouvinte.

Dessa forma, os professores precisam entender que a construção da criticidade e do conhecimento, se dá por intermédio da troca de informações, do diálogo e do processo de se transmitir algo de maneira lúdica, que possui entre outras, a finalidade de encantar aos ouvintes, aplicando-se assim a contação de histórias. “Era uma vez” ... é a palavra mágica utilizada para iniciar a contação de uma história. Para o ouvinte que saiba ler ou não, o mais interessante é que esse momento produza estímulos para desenhar, cantar, brincar, sorrir, imaginar, pensar, representar e ouvir tudo novamente.  

Ter acesso à boa literatura é dispor de uma informação cultural que alimenta a imaginação e desperta o prazer pela leitura. A intenção de fazer com que as crianças, desde cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir histórias exige que o professor, como leitor, preocupe-se em lê-la com interesse, criando um ambiente agradável e convidativo á escuta atenta, mobilizando a expectativa das crianças, permitindo que elas olhem o texto e as ilustrações enquanto a história é lida”. (BRASIL, 1998, p.143).

 

Criança é um ser pensante, ativo, capaz de interpretar e entender do seu modo tudo aquilo que lhe é apresentado de forma lúdica, desde que as histórias apresentadas a elas tenham valores e significados culturais sensibilizando a mesma nos exemplos mostrados na literatura.

Ao contar a história como a de “Chapeuzinho Vermelho”, ensinamos sobre o respeito, obediência, carinho e a conscientização acerca dos valores familiares, assim como o cuidado com pessoas desconhecidas. Já nos “Três Porquinhos aprendemos os tipos de moradias e a responsabilidade com o trabalho honesto.

 No “Patinho Feio” podemos ensinar sobre o preconceito e orespeito com a diferença das pessoas, não olhando a aparência física, mas as qualidades interiores de uma pessoa. Em “Cinderela’’, observamos que a maldade e a escravidão não trazem benefícios a ninguém e que a gentileza e a bondade são o caminho para o sucesso na vida de qualquer pessoa.

Todos os contos citados acima trazem uma lição de vida a qualquer leitor ou ouvinte e isso deve ser a preocupação do contador de histórias, nas aprendizagens transmitidas ao narrar tais contos ou como ajudará no desenvolvimento intelectual daquele que ouviu tal história contada.

Não podemos esquecer que ao narrar qualquer história promovemos o avanço da necessária relação afetiva entre professor e aluno, o mesmo só aprenderá se perceber o aconchego no meio em que está inserido, não só como recebedor de conhecimentos e sim como emissor de informações. Assim, todas as maneiras de se contar histórias produzem a aquisição das competências individuais e coletivas.  Para isso, cada professor/contador escolhe sua maneira de contar e recontar utilizando várias ferramentas: 

 

BAÚ DE HISTÓRIAS: Pode ser utilizado nos momentos em que o professor contar histórias ou pelas crianças. Dentro dele sãos guardados os objetos que farão parte da narração. Uma simples pena pode ser o pássaro; um lenço, o mar; um pandeiro, a lua; uma caixinha o tesouro; um leque, uma borboleta... São infinitas as possibilidades de escolha de objetos para representar personagens ou símbolos significativos de uma história. FANTOCHES E DEDOCHES: são aqueles bonecos, normalmente feitos com uma parte de tecido, abertos embaixo e nos quais introduzimos a mão para manipulá-los (como uma luva). Os deboches são mini fantoches manipulados com os dedos. Eles podem ser usados durante a narrativa oral, pela própria pessoa que estiver narrando. A pessoa conta e quando aparece um ou outro personagem, ela manipula os fantoches ou deboches sem precisar se esconder das crianças. CENÁRIOS DE PAPEL: por serem confeccionados em tamanho reduzido (aproximadamente meia folha de cartolina ou papel cartão), são utilizados nas narrativas orais para grupos pequenos. Todos precisam ficar bem de frente para o cenário que se abre. Na junção entre a história narrada, a imagem apresentada e os possíveis personagens de papel criam-se um clima gostoso e uma nova proposta para a narrativa oral. (EDI FONSECA, 2012, p.114, 121,125).

 

Todas as formas de se contar histórias produzem resultados no pensamento de qualquer criança, todas as maneiras são importantes desde que sejam bem apresentadas e apreciadas pelos ouvintes.O responsável pela segurança do aprender e da atenção do ouvir histórias fica a cargo do professor que irá selecionar a literatura adequada a faixa etária dos educandos para evitar possíveis distrações, porque, a aula só terá sucesso se o assunto abordado tiver significado para quem estiver ouvindo, por isso, uma aula bem preparada e organizada terá resultados positivos.

Trabalhar histórias infantis não aprimora apenas o pensar, mas também, a socialização, o respeito mútuo, o modo cooperativo e a elaboração do caráter humano. O professor deve dar a oportunidade para que os alunos recontem as histórias contadas, daí, a exigência e a dinâmica da seleção das literaturas, é importante a apresentação do cenário, gravuras, enredo e narração.

Cada vez que recontamos algo esmeramos a nossa capacidade e os erros se tornam experiências que serão refletidas em nossas práticas. Há uma grande urgência em resgatarmos os nossos valores culturais que são aos poucos esquecidos pela sociedade, tão preocupada com os afazeres do dia a dia e com a nossa infância voltada para a tecnologia, se esquecendo de nossas raízes ricas em conhecimento.

No presente momento há uma grande carência de leitores e o dever do educador desde a educação infantil é apresentar o caminho do gosto pelos livros, oferecendo técnicas para estimular a busca pela leitura e pela integridade do ser, conforme Morin afirma:

Livros constituem “experiências de verdade”, quando       nos desvendam e configuram uma verdade ignorada, escondida, profunda, informe, que trazemos em nós, o que nos proporciona o duplo encantamento da descoberta de nossa verdade na descoberta de uma verdade exterior a nós, que se acopla a nossa verdade, incorpora-se a ela e torna-se a nossa verdade. (MORIN, 2002, p.48).

 

As gerações passadas foram formados com a contação dos ‘‘casos”, contados e recontados pelos nossos avós, que nos deixavam curiosos, com medo e ansiosos para ouvir e repassar à outras pessoas, todos os dias conhecendo novas histórias e imaginando em nossa mente como se estivéssemos presente no tal acontecimento.

Esse momento é muito importante para fortalecer o vínculo afetivo na família e o respeito pelos mais velhos que quando contam se sentem felizes e especiais. Lembrando que eles são os executores pela propagação de nossa herança cultural. É imprescindível que antes mesmo da criança entrar em uma instituição de ensino, a mesma tenha contato com a literatura infantil, com o mundo do faz de conta e do imaginário para estabelecer laços familiares. 

 

O contador de histórias não deve se irritar, nem chamar a atenção do ouvinte, ou seja, ele não deve parar de contar a história. Nesse instante, entra a sua capacidade de improvisação. Você pode recorrer à técnica de narrar com interferência, colocando os ouvintes para participar da história. (GARCIA et al. 2003, p. 48) 

 

 A oportunidade maravilhosa que temos em partilhar tais exercícios do saber que é a arte de contar histórias é crucial que o narrador esteja de bom humor e dando oportunidades de participação a todos os presentes, não interferindo no ato da história com chamativas ou irritações, sempre compondo quando for oportuno, instruindo os ouvintes a escutar para depois falar.

A literatura infantil é um campo minado de conceitos que podem ser trabalhadas em várias disciplinas, cabendo ao professor/contador à incumbência de selecioná-los, ajustá-los e aplicá-los diariamente as suas práticas pedagógicas voltadas para “a arte de contar”, que é repassar valores culturais, produzindo efeito ativo social e cultural na humanidade, tornando-se arquivos memoriais que jamais são esquecidos, e sim, melhorados para promover nos ouvintes experiências apreciáveis.

 

                                               3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

 Nesse grande processo histórico de construção e reconstrução do crescimento reflexivo do ser, enquanto cidadão consciente de seus direitos e seus deveres para a expansão de nossas culturas, valores e saberes, a responsabilidade recaí sobre todos nós, educadores, escola e família, nesse ato tão primordial que é a preservação de nossas histórias.

O professor é a ponte que liga o educando a história, daí, surge à preocupação em fazer adequadamente a seleção da literatura infantil que será apresentada aos ouvintes que, estão prontos para receber tais conhecimentos passados pelo professor, que deve valer como influência na sua vida diária no meio em que este se relaciona, fluindo na vida de outras pessoas que o cercam.

Desde a vida materna a criança deve ser envolvida no berço esplendoroso da magia envolvente de ouvir por intermédio de um adulto facilitador, que a adentre ao mundo mágico da fantasia e da imaginação, para a formação deste ser que pergunta, enxerga, toca, sente, sorri, chora, formando uma consciência especuladora, que enquanto cresce pesquisa, busca novos conceitos, perspectivas e se torne amante dos livros.

 Neste mundo tecnológico transformaremos ou não seres capazes de refletir através do trabalho eficaz do professor que planeja, inova e ama seus alunos e sua profissão, formando críticos e não alienados, para uma geração de éticos e intelectuais ou cruzamos os braços e deixemos o mundo se levar pela falta de conhecimento, por não ter leitura, aceitando apenas as opiniões dos outros sem questionar nada.

 Essa é uma reflexão que deve ser feita constantemente: estamos formando cidadãos para entrarem na fileira dos alienados ou no grupo daqueles que irão fazer a diferença? Devemos sempre criar possibilidades para transformar desde pequenos os nossos futuros cidadãos em uma nova geração de amantes da leitura, possuidores de uma nova visão significativa dentro de nossa sociedade tão carente de mudança.

 

 

 

 

4-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo: SCIPIONE. 1989.

      Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. 5.ed. São Paulo: Scipione, 2005.

 

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