A contação de histórias na Educação Infantil.

Por Claudinéia Roque Maciel Santos | 05/11/2014 | Educação

A contação de histórias vem sendo realizada durante muitos séculos, primeiramente era feita para transmissões culturais e de valores de uma geração a outra, com o passar dos anos se tornou parte essencial na formação do indivíduo, como menciona Fanny Abramovich a respeito dos primeiros contatos da criança com o texto, as palavras: “O primeiro  contato da criança com um texto é feito oralmente  pelo  pai, mãe  ou  avós, que  contam histórias infantis, trechos bíblicos e até mesmo histórias inventadas”.  (ABRAMOVICH).

Faz se necessário saber a real importância da contação de histórias na vida de uma pessoa desde sua fase inicial, nos contextos escolares mais especificamente no Ensino Infantil nas idades de 0 a 4 anos, as práticas de trabalho com a leitura/ contação precisam ser desenvolvidas cotidianamente, fazendo com que as crianças aprendam, desde cedo, que contação possui vários fins, e a contação estabelece relações de uns com os outros e com o meio no qual esta inserido. Vejamos a importância da contação de histórias segundo Fanny Abramovich: Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo. ABRAMOVICH 1989, p.16

Abramovich (1989) acrescenta ainda que, ouvir histórias é um acontecimento muito prazeroso que provoca o interesse das pessoas em todas as idades. Se até mesmo os adultos adoram ouvir uma boa história, a criança é capaz de se interessar e gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginar é mais intensa. 

Quando a criança ouve uma história contada diversas vezes, ela interage com o que está ouvindo, passa a viver os personagens, dependendo da história contada a criança começa a descobrir novos sentimentos, passa a ter novos comportamentos em relação ao que se vive, muda seus pensamentos, passa a ter novas posturas frente às dificuldades.

Conforme afirma Bamberger (1995) “a leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade. Trabalhar com a linguagem é trabalhar com o homem”.

Coelho, 2002, completa:

... a história é importante alimento da imaginação. Permite a auto identificação, favorecendo a aceitação de situações desagradáveis, ajuda a resolver conflitos, acenando com a esperança. Agrada a todos, de modo geral, sem distinção de idade, de classe social, de circunstância de vida.  Coelho (2002) (p.12)

 Agora veremos a descrição de como deve ser organizado o ambiente no momento de contação de histórias segundo o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 156): “A organização do espaço físico deve ser aconchegante, com almofada, iluminação adequada e livros, revistas etc. organizados de modo a garantir o livre acesso às crianças”.

Nota-se a importância da organização do ambiente para inserir a contação de forma prazerosa e aconchegante, propiciando uma ótima interação entre as crianças e o espaço, além do ambiente faz se necessária uma boa postura do contador e utilização de vários recursos materiais para instigar a curiosidade visual e imaginária das crianças, alguns como: fantoches, palitoches, dedoches, máscaras, casinhas de contação, fantasias, sucatas, teatro, entre outros. Inclusive diversificados textos e livros, sempre respeitando a faixa etária dos pequenos, como aponta o RCNEI:

Esse acervo deve conter textos dos mais variados gêneros, oferecidos em seus portadores de origem: livros de contos, poesia, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em quadrinhos, de palavras cruzadas), almanaques etc. Também aqueles que são produzidos pelas crianças podem compor o acervo: coletânea de contos, de trava-línguas, de advinhas, brincadeiras e jogos infantis, livros de narrativas, revistas, jornais etc. Isso facilita os momentos de leitura compartilhada com o professor ou entre as crianças. RCNEI (BRASIL, 1998, p. 156)

 Aqui abordarei o conhecimento dos interesses predominantes que nos orientam na escolha da história a ser contada de acordo com cada faixa etária, segundo Coelho (1999):

 Até os três anos, a criança está na fase pré-mágica. Nesta fase, as histórias devem ter enredo simples e atraente, com situações que se aproximem da vida da criança, da sua vida afetiva, social e doméstica e conter, de preferência, ritmo e repetição. Dos três anos aos seis, é a fase mágica. As crianças ouvem com interesse e encanto e solicitam várias vezes a mesma história.

Para contar história para crianças é necessário antes de tudo conhecer o que se contará, como diz Abramovich. 

Para contar uma história – seja qual for – é bom saber como se faz. Afinal, nela se descobrem palavras novas, se entra em contato com a música e com a sonoridade das frases, dos nomes... Se capta o ritmo, a cadência do conto, fluindo como uma canção...  Ou se brinca com a melodia dos versos, com o acerto das rimas, com o jogo das palavras... Contar histórias é uma arte... E tão linda!!! É ela que equilibra o que é ouvido com o que é sentido, e por isso não é nem remotamente declaração ou teatro... Ela é o uso simples e harmônico da voz. (ABRAMOVICH, 1989, p.18)

 Percebe-se a importância de conhecer primeiramente o que será contado, sabendo como trabalhará a fala e as características dos personagens, introduzir os sons e vozes dos animais duma história contada com a participação ativa das crianças. 

É necessário dramatizar da história trabalhada, como explica Abramovich (2002, p. 21): 

Ah, é bom saber usar as modalidades e possibilidades da voz: sussurrar quando a personagem fala baixinho ou está pensando em algo importantérrimo; é bom levantar a voz quando uma algazarra está acontecendo, ou falar de mansinho quando a ação é calma... Ah, é bom falar muito baixinho, de modo quase inaudível, nos momentos de reflexão ou de dúvidas, e usar humoradamente as onomatopeias, os ruídos, os espantos [...]

Abramovich completa a importância que a contação traz para a criança:

[...] É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar outras ideias para solucionar questões (como as personagens fizeram [...]. É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso dos conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos-dum jeito ou de outro - através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens de cada história (cada uma a seu modo) [...] É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança) [...] e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas [...]. ABRAMOVICH, 1997, p. 17).

No Brasil são poucas as crianças que têm o hábito de ler, e, segundo Lazaro e Beauchamp (2008):

em nosso país a maioria da população frequenta a escola pública, as crianças somente têm o primeiro contato com a literatura apenas quando chegam à escola. E a partir daí a leitura torna-se obrigação, não um ato prazeroso, pois muito professor tem dificuldade de trabalhar com a literatura infantil em razão das exigências do ensino além de desconhecerem as técnicas que ajudam a "dar vida às histórias", e por isso deixam de contribuir com a produção de conhecimento.

 Vejamos ai a real necessidade de incentivar as crianças à leitura desde pequenas, oferecendo oportunidades através da contação de histórias, de acordo com Richard Bamberger:

 Quando uma pessoa sabe ler bem não existem fronteiras para ela. Ela pode viajar não apenas para outros países, mas também no passado, no futuro, no mundo cósmico. Descobre também o caminho para a porção mais íntima da alma humana, passando a conhecer melhor a si mesmo e aos outros. (BAMBERGER, 1998, p.29).

A criança que tem um incentivo desde cedo, torna-se mais desenvolvida em todos os sentidos, é menos acanhada e sabe se portar diante diversificadas situações, e desenvove diferentes emoções, como confirma Abramovich:

Ouvir histórias é viver um momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos melhores... É encantamento, maravilhamento, sedução... O livro da criança que ainda não lê é a história contada. E ela é (ou pode ser) ampliadora de referenciais, poetura colocada, inquietude provocada, emoção deflagrada, suspense a serem resolvido, torcida desenfreada, saudades sentidas, lembranças ressuscitadas, caminhos novos apontados, sorriso gargalhado, belezuras desfrutadas e as mil maravilhas mais que uma história provoca... (desde que seja boa). (ABRAMOVICH, 1989, p. 24)

Portanto acredito que a leitura precisa estar presente ativamente nas práticas diárias e rotineiras dos educadores de modo efetivo, concreto e contextualizado. Oferecendo as crianças momentos de aprendizado e prazer através da contação de histórias. Ou seja, o professor tem que inserir a contação de histórias em seu planejamento de aula, apresentando contação de diversificados tipos de textos/ livros para o pleno desenvolvimento da criança de 0 a 4 anos no centro de educação infantil.

Referências:

ABRAMOVICH, Fanny. A importância das histórias. Disponível em: http://luzdoconto.blogspot.com.br/2012/01/texto-do-mes-importancia-das-historias.html acesso em: 22 de setembro de 2014 às 19h00min.

AM, Selma. A importância da leitura de textos na Educação Infantil. Disponível em: http://recantodasletras.com.br/artigos Acesso em: 15 de setembro de 2014 às 20h37min.

ARAÚJO, Lusmar da Silva Duarte. Incentivando o Hábito da Leitura. Disponível em: http://tudosobreleitura.blogspot.com.br/2010/06/incentivando-o-habito-da-leitura.html Acesso em: 13 de setembro de 2014 às 23h46min.