A Construção da História: Introdução ao Tempo e à História
Por Alana Thaís Mayza da Silva | 27/09/2018 | HistóriaA Construção da História
Introdução ao Tempo e à História
Leia o texto a seguir, que trata da relação entre tempo e História.
O tempo, como produção humana, é uma ferramenta da História, visível em instrumentos como o calendário e a cronologia. Cronologia é a forma de representar os acontecimentos históricos no tempo, o que exige um calendário e uma noção de contagem de tempo. Todas as civilizações possuem uma data que convencionam como o início do tempo e, logo, o início da história. (SILVA, K. V; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 390).
As durações do tempo histórico
O tempo histórico acompanha os ritmos das transformações de cada sociedade: umas são mais rápidas, outras, bastante lentas.
Para tentar explicar a ocorrência das transformações e das permanências sociais em diferentes épocas, o historiador francês Fernand Braudel propôs três durações do tempo histórico: a curta, a média e a longa duração. Observe:
1. Curta duração
Esse tempo é breve e móvel como a água que fica na superfície, agitada pelo vento e pela chuva. O tempo de curta duração, também é chamado de tempo dos acontecimentos, é caracterizado por eventos breves, como um golpe político, uma disputa eleitoral ou a assinatura de uma lei.
2. Média duração
Camada que fica logo abaixo, onde as águas são mais calmas e servem de apoio para a água da superfície. O tempo de média duração, ou tempo das conjunturas, é marcado por transformações mais lentas, mas que podem ser percebidas no decorrer da vida de uma pessoa, como a vigência de um sistema econômico ou a duração do reinado de um monarca.
3. Longa duração
Representado pelo fundo do oceano, onde as águas são praticamente imóveis e sustentam as outras camadas acima citadas. Esse também é chamado de tempo das estruturas, é formado por processos históricos que demoram longos períodos de tempo para ocorrer. É o caso dos valores morais, que se transformam muito lentamente.
A partir dessa representação esquemática dos “três tempos históricos”, formulada por Fernand Braudel, podemos perceber que, como o oceano, o tempo é um só, mas possui camadas temporais da mesma forma que o oceano possui camadas de água. Nós dois casos, as camadas são sobrepostas e simultâneas.
A linha do tempo
A linha do tempo é uma representação visual dos tempos históricos, um instrumento importante que permite a localização dos fatos históricos no tempo. Leia o texto.
A linha do tempo, é a maneira que os historiadores encontraram para apresentar graficamente algumas das características do tempo histórico [...]. Ela serve para localizar os inúmeros fatos históricos no tempo, para avaliar o tempo de duração de cada um deles e também para situá-los uns em relação aos outros. Fica mais fácil perceber, por exemplo, que os fatos históricos não se sucedem apenas uns após os outros no tempo, eles também ocorrem simultaneamente, isto é, ao mesmo tempo. [...] (TURAZZI, M. I; GABRIEL, C. T. Tempo e história. São Paulo: Moderna, 2000. p. 61).
Na linha a seguir, que representa a divisão política da história do Brasil, estão indicados os principais elementos que compõem uma linha do tempo. Observe.
Vamos agora, a posteriori da figura, melhorar o entendimento, destrinchando cada elemento citado na figura.
a) Barras de periodização
São utilizadas para indicar a duração de cada período representado na linha do tempo. Algumas vezes, as barras podem se sobrepor umas às outras. Quando isso acontece, significa que os períodos ou parte deles ocorreram ao mesmo tempo, ou seja, simultaneamente.
b) Eixo cronológico
Indicado por uma linha com uma seta, o eixo cronológico marca o sentido linear da passagem do tempo.
c) Eventos de curta duração
Os acontecimentos indicados por pontos na linha do tempo geralmente são eventos de curta duração. Nesse caso, os eventos que marcam a mudança de um período para outro refere-se à história política brasileira.
d) Descrição dos períodos
Pequenos textos que descrevem as principais características dos períodos representados.
1500: Chegada dos portugueses ao território onde hoje se localiza o Brasil.
1500-1822: Período colonial, em que o território onde hoje se localiza o Brasil, que já era habitado por milhares de povos indígenas, foi conquistado pelos portugueses e tornou-se colônia de Portugal.
1822: Proclamação da Independência do Brasil.
1822-1889: Período Imperial, em que abrange os reinados de D. Pedro I e D. Pedro II.
1889: Proclamação da República brasileira.
1889 aos dias de hoje: Período Republicano, nesse período, o Brasil foi governado por ditadores e, também por presidentes eleitos por meio do voto.
Introdução às Fontes Históricas
Fonte histórica é qualquer vestígio do passado usado pelo historiador para obter informações sobre seu tema de estudo.
São exemplos de fontes históricas: documentos oficiais, jornais, livros, cartas, letras de música, histórias em quadrinhos, pinturas, fotografias, filmes, mapas, esculturas e, também, os relatos orais. Leia o texto a seguir.
[...] O documento não pode ser entendido como a realidade histórica em si, mas trazendo porções dessa realidade. Além disso, as fontes históricas são sempre lidas e exploradas com os filtros do presente, de acordo com os valores, as preocupações, os conflitos, os medos, os projetos e os gostos de cada observador. [Sobre o documento, o historiador] sugere as perguntas fundamentais que devem dar início a todo o trabalho e a todas as reflexões: Quando? Onde? Quem? Para quem? Para quê? Por quê? Como? [...] (SAMARA, E. de M; TUPY, I. S. S. T. História & Documento e metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 123-124).
Ao analisar uma fonte, o historiador já tem um ponto de vista sobre a História, tendo como base suas vivências, estudos e entendimento de mundo. É por essa razão que a análise de uma mesma fonte, feita por historiadores diferentes, pode resultar em conclusões diversas.
A análise de um documento oficial
Os documentos oficiais escritos, como leis, decretos, contratos e tratados, são fontes relevantes para estudos históricos.
Observe a Lei Áurea, um exemplo de documento oficial escrito.
A análise de uma imagem
As gravuras e as pinturas produzidas por artistas estrangeiros que vieram para o Brasil durante o Período Colonial são importantes fontes iconográficas para o estudo desse período histórico. Esse é o caso da aquarela a seguir, feita pelo artista holandês Frans Post, em 1640. Nela, o artista procurou mostrar os principais elementos de uma casa de engenho, lugar onde era feita a moagem da cana-de-açúcar. Ele desenhou, também, as principais etapas do trabalho realizado, nesse local, pelos africanos escravizados.
Observe alguns elementos que podem ser analisados nessa fonte histórica.
1. Por meio da análise dessa fonte, é possível ter a ideia de como eram os carros de boi utilizados para transportar a cana-de-açúcar do campo ao engenho.
2. Aqui, Frans Post representou como era o trabalho dos negros escravizados, responsáveis por recolher e organizar a cana descarregada do carro de boi.
3. Ao observar esse detalhe, percebe-se como os escravizados realizavam a moagem da cana-de-açúcar para extrair seu caldo.
4. Nesse engenho, a moenda era movida por uma roda-d'água, o que pressupõe a necessidade de canalização das águas de um rio próximo ao engenho.
5. Nessa fonte também foi representado o feitor, encarregado de fiscalizar o trabalho dos escravizados. Ao se observar seus trajes, é possível perceber que ele ocupava uma posição social superior à dos escravizados.
A iconografia como fonte histórica
Mesmo sendo uma importante fonte histórica, a aquarela de Frans Post não representava a realidade extremamente como ela era, mas como o pintor a via. Isso também acontece com outras imagens. Leia o texto.
A iconografia é, certamente, uma fonte histórica das mais ricas, que traz embutida as escolhas do produtor e de todo o contexto no qual foi concebida, idealizada, forjada ou inventada. Nesse aspecto, ela é uma fonte como qualquer outra e, assim como as demais, tem que ser explorada com muito cuidado. [...] E é importante lembrar, quanto mais colorida, mais bem trabalhada, mais pretensamente próxima da realidade, no passado da realidade, no passado e no presente, mais perigosa ela se torna. [...] É preciso saber filtrar todas essas imagens, todos esses registros iconográficos. [...] (PAIVA, E. F. História & imagens. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 17-20).
Explorando o tema – A História e as Ciências Humanas
A partir do século XX, os historiadores passaram a considerar a importância da contribuição das ciências humanas para a construção do conhecimento histórico. Conheça, a seguir, algumas características do trabalho de outros profissionais da área de humanas.
Os antropólogos
Estudam o ser humano em seus aspectos biológicos, sociais e culturais. Para realizar tais pesquisas, analisam aspectos genéticos, bem como as instituições sociais, os costumes, a religiosidade e os comportamentos. Um exemplo de antropólogo brasileiro foi Darcy Ribeiro (1922-1997).
Os sociólogos
Estudam as relações entre seres humanos que vivem em uma mesma sociedade. Também analisam como as questões políticas, econômicas e tecnológicas influenciam nas relações interpessoais. Além disso, estudam as desigualdades sociais e procuram criar alternativas para reduzi-las. À exemplo temos a socióloga paulista Ruth Cardoso (1930-2008).
Os geógrafos
Estudam as transformações que ocorrem no espaço terrestre, tanto aquelas causadas por fenômenos naturais quanto as que são realizadas pelos seres humanos. Além disso, trabalham na elaboração e interpretação de mapas, na organização territorial das cidades e na criação de projetos para a recuperação de áreas degradadas. À exemplo, temos o geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001).
Os filósofos
Estudam as impressões e as interpretações dos seres humanos sobre o mundo que os cerca. Esses estudiosos procuram compreender como as ideias e os anseios das pessoas se transformam ao longo do tempo, influenciando a percepção que elas têm sobre si mesmas. À exemplo, temos a filósofa paulista Marilene Chauí.
Os linguistas
Estudam as transformações que ocorrem nos idiomas no decorrer do tempo, além de analisarem as normas gramaticais e os costumes linguísticos desenvolvidos cotidianamente pelos diferentes grupos humanos. À exemplo, temos o linguista fluminense Antônio Houaiss (1915-1999).
Os arqueólogos
São profissionais que trabalham na escavação, catalogação e interpretação dos vestígios materiais deixados por povos que viveram no passado. Eles realizam esse trabalho nos chamados sítios arqueológicos, locais onde são encontrados os vestígios. À exemplo, temos o arqueólogo argentino Carlos Etchevarne.
Ambos os profissionais, contribuem para o desenvolvimento da história e pesquisas na área.
Alana Thaís Mayza da Silva – estudante no Colégio de Aplicação da UFPE. E-mail: AlanaTMdaS@outlook.com. Também estuda História geral e do Brasil na UNICAP, sob orientação do professor Dr. Sc. Helder Remígio de Amorim.
BIBLIOGRAFIA
DIAS, A. M; GRINBERG, K; PELLEGRINI, M. Novo Olhar História Vol. 1. 2. ed. São Paulo: FTD, 2013. p. 12-19.
PAIVA, E. F. História & Imagens. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 17-20.
SAMARA. E. de M; TUPY, I. S. S. T. História & Documento e metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 123-124.
SILVA, K. V; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006. p. 390.
TURAZZI, M. I; GABRIEL, C. T. Tempo e história. São Paulo: Moderna, 2000. p. 61.