A consciência da verdade
Por Diego Bruno de Souza Pires | 16/04/2010 | PolíticaA Consciência da Verdade
O Brasil vive épocas de luto. Quase duzentas pessoas foram soterradas no morro do bumba, na cidade de Niterói – Rio de Janeiro. As chuvas não dão tréguas em vários pontos do Brasil, causando muitas mortes e grandes desastres. Pessoas se vêem desamparadas, sem teto e sem qualquer expectativa de destino. A sociedade vive tempos de verdadeiro caos natural e, sobretudo, de desprezo e descaso político.
Essa não é a única catástrofe que acomete o nosso país. Episódios como o do morro do bumba - e muitas vezes até piores - tem deixado cicatrizes em nossas mentes e emoções. Possivelmente a má gestão pública seja um dos fatores aparentes desses desastres.
Sabemos que não há qualidade de vida, saneamento básico ou pavimentação adequada para todas as classes sociais. Vivemos à luz da escassez de recursos, com descaso político e desamparo social. São notórios os raros investimentos direcionados para a erradicação da pobreza e da marginalização, bem como, na busca de saneamento básico e de pavimentação das cidades, e, acima de tudo, destinados a qualificação do ensino público e da saúde.
Não só as favelas dos grandes centros urbanos são acometidas por tamanho descaso. Quase todos os Estados e Cidades do nosso país demonstram problemas relacionados com a infra-estrutura. As autoridades manifestam seus jogos demagógicos de comoção e solidariedade frente a esses acontecimentos, entrementes, passam anos e anos coniventes com a desordem, com a corrupção e com o despreparo de políticos.
Não é nova a preocupação com as catástrofes mundiais e descaso político e social. Recentemente o Chile e o Haiti foram surpreendidos por catástrofes naturais de escala avassaladora, repercutindo em miséria, fome e caos social. E como percebemos, a busca por solidariedade é repentina e pouco duradoura. Países prometem ajudas na efervescência dos acontecimentos, mas, logo após, acabam esquecendo-se das tragédias sociais e o descaso político/ social volta à tona.
Infelizmente, não há muita consciência política. A vida parece não ter muito sentido. Depois de toda essa onda de catástrofes mundiais, os norte-americanos e os russos acordam políticas armamentistas, na tentativa de presentear o mundo com um belíssimo “cavalo de tróia” ao comando do novo general "Napoleão Bonaparte". De igual modo, e isso não poderíamos deixar de elucidar, países opressores como a Coreia do Norte e "República" Islâmica do Irã investem em ogivas nucleares, não diferindo dos israelenses e chineses, que mantêm suas forças nucleares ativadas para possíveis guerras.
É importante notar que ao passo que a ciência tenta descobrir o "porquê" da nossa existência: “de onde viemos e para onde vamos”, crianças morrem desnutridas, mulheres são violentadas e massacres são cometidos em nome da "religião" e da política imbecil. E não é só. Enquanto indústrias farmacêuticas patrocinam, em bilhões, projetos de pesquisas direcionadas as descobertas de “pílulas” voltadas a aumento do prazer sexual, populações são dizimadas pelo descuido com a saúde básica e o despreparo com a higiene. Enquanto o homem versa seu desejo de vencer a velocidade do som e navegar no espaço mapeando os planetas e tentando achar água, os nossos mares, oceanos e rios são postos a poluição.
E assim, fica difícil saber o "porquê" de se viver em uma sociedade. Não sei também para que valem os conceitos de solidariedade, respeito e amor, se não serão usados de forma concreta, ficando em apenas utopia...
Percebo que não há mais razão, amor ou futuro. Tudo virou ao avesso. A racionalidade nos abandonou e a razão tira férias. Vivemos épocas de retrocesso sentimental, social e político (é claro, nos seus sentidos de virtude). O valor da vida tem-se mostrado ínfimo, como um detalhe desprezível escrito no meio do nada.
E assim como outrora revelei, “A vida não tem sido um obstáculo para impedir a realização de atrocidades, ela tem sido vista, simplesmente, como um detalhe, que a depender do interesse dos homens pode ser removido, sem nenhum remoço e sem nenhum respeito... A vida se transformou em algo ínfimo e barato, por que não dizer descartável? A vida deveria ser respeitada incondicionalmente, em tempo de guerra ou de paz. Ela é uma conquista de cada ser, tanto numa visão biológica quanto religiosa (divina), dispô-la é confrontar a existência e a razão, e atribuir um valor insignificante a tudo o quanto existe”. (QUANTO VALE UMA VIDA EM TEMPOS DE GUERRA – Diego Bruno)
Sabe-se que o marco crucial do início de civilização passou ser percebido no momento em que o homem começou a usar da sua consciência e da sua razão nas relações sociais, tornando-se um ser “civilizado”; quando deixou de usar de armas para conquista de seus objetivos, e passou a galgar vitórias através de uma dialética social.
Em tese, a civilização foi alcançada quando o discurso passou a ser o meio mais eficaz de se almejar transações políticas, econômicas e sociais. Pois bem, o discurso - quando tocado pela razão - mostrou-se o verdadeiro divisor de águas entre a contemporaneidade e a antiguidade, uma vez que concedeu império a razão e a racionalidade.
O que diferencia a contemporaneidade da antiguidade é diretamente a presença de elevação da razão e da racionalidade humana, o que, indiretamente, proporcionou a humanidade a criação de direitos fundamentais em defesa dos homens.
Nesse patamar de razão, o homem deixou de ser um animal “domesticado” para a guerra - como assim era percebido nas “aldeias” espartana, grega, romana e persa - para se transformar em um SER criado com propósitos civilizatórios, fincando raízes em princípios sociais. Dessa forma, observou que o poder da dialética seria mais eficaz e preciso como instrumentos de disputa que a força física dos exércitos.
A revolução francesa e a americana tiveram o propósito de revelar ao mundo princípios universais de liberdade, igualdade e fraternidade, consubstanciando-as em bases principiológicas de cidadania, solidariedade e respeito à vida. E assim - em tese - o homem contemporâneo deixa a velha ideologia de conquistar objetivos através da força bruta para conquistá-los por meio da "razão".
Após revolução francesa, homens deixaram de louvar as guerras, almejando seus propósitos políticos, econômicos e sociais, para encontrar "repouso" nos títulos acadêmicos de "generais", doutores e cientistas com a imposição de suas teses de dominação. Ou seja, o homem não desiste de dominar o poder, mas apenas muda as suas táticas para meios mais "civilizados".
A razão, em certo ponto de vista, é a luz que dá ânimo as idéias; que recarrega os armamentos do bom senso e se digladia em conflitos de ponto de vista, com armas fornecidas pela dialética. É somente em razões sanas, verdadeiras e precisas que os homens podem ser guiados a pôr termo as atrocidades, e conquistar um mundo cada vez melhor, instruído na solidariedade, no respeito à vida e no amor incondicional para com os povos.
Para a época em que vivemos - uma época de povos “civilizados” - a cidadania deveria assumir um novo significado, deixando o conceito criado na Roma clássica (em que cidadãos eram apenas os nascidos em solo romano) nos sarcófagos do esquecimento.
O novo conceito de cidadania deveria está acima de qualquer direito natural. Está alicerçado na corrente da solidariedade do Estado para com o cidadão, como também numa relação autopoiética de amor entre compatriotas ou qualquer outro indivíduo mundial, como se irmão fosse.
Cidadania não é somente relação de "direitos e deveres". É, sobretudo, uma relação de amor, de solidariedade, de respeito e, essencialmente, familiar, que os povos devem buscar e proclamar.
As leis naturais do razoável e da lógica - como um dia foi pensado por Descartes - são idéias de um logicismo calcado na racionalidade e numa razão humana bem aguçada.
Teorias do “Cogito, ergo sum” (penso logo existo) ou “Dubito, ergo cogito, ergo sum” (Eu duvido, penso, logo existo) foram fontes de inspiração para a criação de uma nova realidade: UMA REALIDADE HUMANA, inspirada na razão, no bom senso e na racionalidade da espécie, posto que animais “pensantes” devem cursar outra posição na sociedade: a posição de "civilizados", solidários, amantes da sua natureza.
Entrementes, diante de tanta atrocidade, de tanta irracionalidade e de tanta crueldade não poderemos pensar outra coisa a não ser que a razão e a racionalidade - de alguns - tornaram-se fluídos que se evadem de suas mentes, transformando-se em nada mais que mitos disseminados por grupos de “insanos” com propósitos de mudar o mundo com ideais de amor.
Que a espada de Dâmocles seja lançada sobre as vergonhas, as faltas éticas e as corrupções morais; que esse povo tenha Deus não como um motivo de desavenças religiosas, mas como única fonte de amor; que os demagogos sejam julgados com a “pena de morte”, e que os povos - embora sofridos e sedentos de amor - possam usar da verdadeira solidariedade que ainda resta.
O desejo de pensar ainda é nosso!