A COMPREENSÃO DO UNIVERSO FEMININO E A BUSCA DE DIREITOS DA MULHER EM ORGULHO E PRECONCEITO

Por Natálya Amanda Pontes Coelho Campos | 26/08/2017 | Direito

A COMPREENSÃO DO UNIVERSO FEMININO E A BUSCA DE DIREITOS DA MULHER EM ORGULHO E PRECONCEITO¹

 

Natálya Amanda Pontes Coêlho Campos e Sarah Assis Carvalho²

Arnaldo Vieira³

 

Sumário: Introdução 1 Representatividade da mulher ao longo da história 2 A evolução do direito da mulher na sociedade 3 O universo feminino em Orgulho e Preconceito; Conclusão; Referências.

 

 

RESUMO

 

Em nosso artigo, inicialmente iremos entender o universo feminino tendo como base a mulher nos séculos XVIII e XIX. Após essa etapa iremos analisar a evolução dos direitos da mulher e como se deu essa evolução. Poderão ser percebidas, em nosso artigo, as mudanças radicais que a mulher sofreu quanto ao seu significado na sociedade. Nosso artigo terá como ponto de partida o livro “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen, que nos possibilita uma visão da mulher nos referidos séculos e nos mostra qual era a função da mulher na sociedade e sua importância. Enfim será analisado todo o processo da mulher na sociedade e a partir de qual ponto na história, a mulher começou a ganhar força e finalmente conquistar seu lugar na sociedade.

 

Palavras-chave: Mulher. Direitos. Evolução. Orgulho e Preconceito.

 

 

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¹ Paper apresentado à disciplina História do Direito, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco.

² Alunas do segundo período de Direito vespertino, turma dois.

³ Professor Orientador.

INTRODUÇÃO

 

O tema mulher é um tema muito relevante para a sociedade atual, pois, podemos perceber qual a função e a importância da mulher, bem como analisar se efetivamente a mulher ganhou seu espaço na sociedade. São através de dados históricos que podemos demonstrar como ocorreu para que ela ganhasse destaque na sociedade, fazendo hoje em dia, o papel que era de exclusividade do homem antigamente e conquistando seus direitos efetivos.

Durante a história, podemos de fato perceber inúmeras mudanças no comportamento da sociedade com a mulher, onde esta passou a ser mais respeitada e aceita. As principais mudanças que ocorreram na vida das mulheres podem ser vistas diariamente em nosso cotidiano, onde vemos mulheres trabalhando, sem ser necessariamente dentro de uma casa, ocupando lugares que no passado eram lugares próprios de homens, sustentando os filhos e às vezes até mesmo o próprio marido, fato que seria inaceitável em sociedades, por exemplo, do século XVIII e XIX, que são os séculos que serão trabalhados nesse artigo. A sociedade está reavaliando sua maneira de pensar na mulher, dando a ela a devida importância, fazendo com que a mulher esteja em igualdade com os homens.

Na primeira etapa de nosso projeto iremos analisar a representatividade da mulher ao longo do tempo, dando destaque para a sua importância na sociedade e quais eram as suas obrigações como mulher.  

Na segunda etapa, iremos compreender as mudanças sofridas pelos séculos passados em relação ao século atual, destacando a mulher e a evolução de seus direitos na sociedade. Demonstrando quais direitos às mulheres ganharam no decorrer da história e como foi feito para que elas adquirissem esses direitos essenciais.  

Na última etapa do nosso trabalho iremos analisar o papel e a importância da mulher no contexto da obra Orgulho e Preconceito, analisando quais eram os seus privilégios com o fim de verificar quais eram as regras e imposições feitas pela sociedade do século XIX, dando a devida atenção ao papel que era desempenhado pela mulher e os direitos – caso houvesse – que elas possuíam.

 

 

1 REPRESENTATIVIDADE DA MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA

 

A história sofreu diversas modificações no decorrer do tempo, principalmente quando se trata da importância da mulher na sociedade. Neste capitulo iremos fazer um resgate na história, para que possamos conhecer o papel da mulher na sociedade, fazendo uma análise da mulher em diferentes períodos.

Na antiguidade podemos notar que a mulher era submissa ao homem, quando jovem era submissa ao pai e quando mais moça era submissa ao marido. Essa submissão era uma consequência dos ditames da igreja, que tinha muita influencia na sociedade e que prezava a moral e os bons costumes, tendo como um dos principais ordenamentos, justamente o respeito total ao homem, como diz Patrícia Ávila (2007):

(...) na visão antiga só havia um sexo, o masculino, considerado superior (perfeito) por possuir mais calor vital, enquanto o feminino era considerado um gênero masculino inferior (imperfeito) por possuir menos calor vital.

 

A sociedade antigamente era uma sociedade considerada patriarcal. Uma sociedade patriarcal deixava a família a mercê do homem, que era tido como superior a qualquer membro de sua família. As mulheres desta sociedade patriarcal eram as esposas, ou filhas, que deveriam ter total submissão ao sei marido ou a seu pai.

Anteriormente ao século XVIII, a mulher era considerada inferior ao homem, sendo sua função apenas a organização da família, isto é, cuidar dos filhos, da casa, do marido, não tendo uma posição de destaque na sociedade, mas de certa forma participando da vida social ao fazer o papel de mãe e esposa. Patrícia Ávila(2007) argumenta:

No espaço familiar, desenrolavam-se as funções domésticas, que incluíam a atenção e o cuidado com as crianças, e a socialização primária (aprendizagem de ofícios). Assim, a mulher, que na maioria das vezes era responsável pelo cuidado dos filhos, não estava excluída da participação no processo de produção familiar.

 

O século XVIII foi um século marcado pela industrialização e essa transformação da sociedade, transformou também o modo que a mulher era vista. A mulher deixou de ser apenas uma organizadora familiar e passou a ser aquela que por obrigação de uma sociedade patriarcal deveria cuidar da família e da casa e passou a ser considerada como mãe afetuosa, sendo os seus filhos, seus dependentes. O que é uma grande mudança, uma vez que em primeiro momento esta era obrigada e em outro momento ela mesma renunciou a outra vida para exercer completamente o papel de mãe. Patrícia Ávila revela que:  

No horizonte do século XVIII, a mulher foi alçada à categoria de “rainha do lar”, e a família passou a representar o lugar por excelência do feminino.

 

A mulher do século XIX ainda não possuía seus direitos efetivos. Ela deveria, por obrigação, casar, pois se os seus pais morressem, ela ficaria desamparada. Apenas teria um futuro digno garantido se casasse ou tivesse um irmão, que pudesse lhe abrigar. Caso não houvesse deveria trabalhar; mas nessa época, nenhum trabalho era realmente aberto ao público feminino, chegando a ser quase uma ofensa aos homens, como aconteceu quando as mulheres adentraram o hospital para prestar serviços. Um dos médicos que na época trabalhava em um dos hospitais afirmou que

A presença de jovens mulheres no local de operações é ultrajante para nossos instintos naturais e calculadamente vai destruir nosso respeito e admiração pelo sexo oposto. (Documento emitido pelos médicos do Hospital Middlesex, em 1863, a respeito da admissão de médicas).  

 

Em relação à educação, as mulheres geralmente tinham o seu acesso as escolas restrito; apenas algumas mulheres da elite estudavam através de professoras que eram contratadas para dar aulas particulares em casa.

Foram com os movimentos feministas que as mulheres ganharam força e mostraram para a sociedade que não eram seres inferiores e que não deveriam ser submissas ao homem. Eram seres capazes de pensar, estudar, omitir opinião política e trabalhar. Até os dias atuais as mulheres ainda lutam por seus direitos e por mudanças, mas os efeitos dos movimentos são grandes e perceptíveis ao se comparar o século atual com os séculos passados. 

 

2 A EVOLUÇÃO DO DIREITO DA MULHER NA SOCIEDADE

 

No decorrer da história a mulher passou a buscar e lutar por direitos iguais. Com a intenção de abolir o preconceito da sociedade para com elas, de forma a ganhar notoriedade na sociedade e construir uma sociedade mais justa e igualitária.

Os primeiros movimentos a serem feitos foram os movimentos que reivindicavam direitos, como o direito ao divórcio, educação, voto e trabalho, no final do século XIX. O nome desse movimento das mulheres é denominado movimento feminista e eclodiu na sociedade no ano de 1848.

No Brasil, as mulheres adquiriram o direito ao voto em 1932, no entanto ainda não possuíam liberdade para exercer plenamente o seu direito, pois havia restrições, sendo o direito pleno ao voto adquirido em 1946.

Em 1985, foi criado no Brasil, o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, este conselho, de acordo com o site da Secretária de Políticas para Mulheres buscava:

Promover políticas que visassem eliminar a discriminação contra a mulher e assegurar sua participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do país.

 

A Lei Maria da Penha foi um dos marcos históricos do Brasil em relação ao direito da mulher. Esta lei tem por função, dar amparo legal para as mulheres que são vítimas de algum tipo de violência, sejam elas físicas ou verbais. Antes da criação desta lei no Brasil, não havia uma lei que tinha por objetivo o fim da violência doméstica, nem juizados especiais para tratar deste tipo de crime. Vale frisar que a Lei Maria da Penha não vai apenas tratar da violência do homem contra a mulher, mas da violência entre o mesmo sexo, ou seja, mulher com mulher e até mesmo mulher contra homem.  

Podemos perceber, diante de tantos fatos citados, que a busca por direitos das mulheres foi uma luta árdua e demorada, mas que a cada dia vem colhendo frutos. A mulher está ganhando destaque na sociedade, mostrando ao mundo machista que a mulher tem a força e capacidade de qualquer homem, e pode, assim como eles, trabalhar, estudar e ter seus direitos garantidos, pois apesar da diferença de sexos, a mulher e o homem são iguais.   

As diferenças das sociedades passadas para a de hoje são imensas, mas o desejo de mudança ainda continua o mesmo entre as mulheres, que ainda precisam lutar muito para definitivamente, acabar com todo e qualquer preconceito que ainda insiste em se fazer presente na sociedade.

 

3 O UNIVERSO FEMININO EM ORGULHO E PRECONCEITO

 

Jane Austen escreveu uma série de livros que tinha por assunto justamente a sociedade da época do fim do século XVIII e o início do século XIX, abordando em seus textos os direitos e a importância que a mulher tinha na época e o modo como aquela sociedade vivia. Jane Austen destaca ainda a maneira como a mulher lidava com o casamento e os valores da sociedade da época.

A obra “Orgulho e Preconceito” não foge do padrão, e conta a história de amor de  Darcy e Elizabeth, a qual era da família Bennet, em pleno século XIX, mostrando aos leitores como era o namoro na época, qual era o papel da mulher e qual importância a mesma tinha para a sociedade.

A época da obra de Jane Austen, que era o final do século XVIII e início do XIX, a mulher ainda mostrava submissão ao homem e a escritora demonstrava em seus livros os valores que rodeavam a sociedade da época, com foco maior ao casamento. Ela evidenciou em sua obra, que uma mulher deveria possuir qualidades e habilidades, as quais iriam atrair futuros pretendentes, como ser educada, saber pintar, bordar, tocar instrumentos, entre outros. Como exemplo do próprio livro, podemos citar as diversas qualidades que as irmãs Bennet possuíam como a dança, costura, boa educação. 

Outro ponto importante da época e que estava demonstrando no livro Orgulho e Preconceito, é o fato de que naquela época, a mulher não tinha direitos sobre a herança do pai, nem mesmo a esposa do homem, como foi evidenciado com a família Bennet, cujo pai não possuía herdeiros do sexo masculino. Logo, sua herança iria para o seu sobrinho, um parente mais próximo do Sr. Bennet. Tudo isso com a intenção de perpetuar durante gerações o nome da família. Podemos perceber que a mulher não possuía direitos efetivos, ainda sendo dependentes economicamente dos homens.    

 A vida em sociedade para as moças do século XIX era uma vida que devia seguir certos padrões de etiqueta. As moças deveriam seguir regras impostas, regras essas que davam bastante atenção ao casamento. Como diz Adriana Zardini:

Para se viver em sociedade, as moças do século XIX tinham que seguir muitas regras de conduta, de etiqueta e padrões de moral. (...).No início do século XIX, tanto as moças quanto os rapazes deviam obedecer às regras impostas, principalmente se o objetivo era o casamento.

 

Uma das imposições da sociedade, ou seja, um costume do século XIX, que foi mostrada no livro, é o fato da irmã mais velha dever se casar primeiro que as irmãs mais novas, estas, por sua vez, na maioria das vezes, não eram apresentadas a sociedade antes da irmã se casar. No caso das irmãs Bennet, não foi o que ocorreu, fato este que acabou despertando comentários maliciosos da sociedade.

Podemos perceber que as leis da sociedade inglesa não favoreciam a mulher, ao contrário, a deixavam em uma situação delicada, dando uma maior atenção ao homem. Como Zardini diz:

 

As leis inglesas da época colocavam a mulher em uma situação muito delicada. O direito de propriedade e o controle do dinheiro eram exclusivos dos maridos. Somente após a o The Married Woman’s Property Act,21 de 1870, é que as mulheres conquistam o direito de herdarem rendimentos e propriedades após o casamento; em 1882, conseguem manter o que conquistaram durante o casamento. Antes dessas leis, as mulheres eram tratadas como criminosas e até insanas. Por exemplo, se elas fossem vítimas de injúrias e difamações, os maridos poderiam fazer uma apelação no Tribunal exigindo ressarcimento por danos, já que eles se consideravam a única parte prejudicada da história. Se uma mulher trabalhasse após o casamento, todos os seus rendimentos pertenciam ao marido, e se desejassem o divórcio, não lhes era permitido.

 

As mulheres do século XIX possuíam valores, que foram demonstrados no decorrer da obra Orgulho e Preconceito, nos levando a conhecer e adentrar em uma realidade totalmente diferente da nossa. A falta de direitos das mulheres e as regras e imposições ditadas pela sociedade é muito bem evidenciada no livro, nos fazendo perceber a função e importância da mulher. Podemos compreender que as mulheres do século XIX ainda eram submissas, situação diferente das mulheres de hoje em dia, mas eram mulheres que estavam começando a deixar transparecer o seu valor dentro da sociedade.   

 

CONCLUSÃO

 

O presente artigo observou o papel da mulher no decorrer da história, sob a ótica do livro Orgulho e Preconceito de Jane Austen, que demonstrava toda a sociedade do século XIX a partir de um romance de época.

A escritora demonstrou em seu livro como era o século XIX, as regras, leis e imposições da época. Este artigo buscou abordar, de maneira simplória, um dos temas que mais estão presentes no livro: o universo feminino.   

Conhecemos e aprofundamos esse conhecimento, descobrindo as diferentes “versões” de mulheres na história: a mulher submissa ao homem, a mulher mãe, a mulher em busca de direitos e, por fim, a mulher igual ao homem.

Entendemos a sociedade de diferentes séculos e constatamos a grande influencia que estas sociedades faziam nas pessoas. Influenciando o modo de vestir, de se portar, influenciando até mesmo na importância que dava para cada um de seus membros. Concluímos que temas como esse nos fazem refletir e entender melhor a sociedade que vivemos hoje.   

REFERÊNCIAS

 

AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. São Paulo: Penguin Books, 2011.

 

Ávila, Patrícia. Janela da Andorinhas: A experiência da feminilidade em uma comunidade rural. Disponível em: < http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/10160/10160_4.PDF>. Acesso em: 7 de novembro, 2012.

 

BRASIL.GOV.BR – Mulheres Brasileiras. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/secoes/mulher/atuacao-feminina/feminismo-pela-igualdade-dos-direitos>. Acesso em: 4 de novembro de 2012.

 

Farias, Marcilene Nascimento de. A história das mulheres e as representações do feminino na história. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2009000300021&script=sci_arttext>. Acesso em: 4, novembro, 2012.

 

Garcia, Lucelene. A mulher e a evolução dos seus direitos. Disponíveis em: < http://espaco-vital.jusbrasil.com.br/noticias/1944790/a-mulher-e-a-evolucao-dos-seus-direitos>. Acesso em: 7 de novembro, 2012.

 

História dos Direitos da Mulher. In Infopédia Porto: Porto Editora, 2003-2012. Disponível em: < http://www.infopedia.pt/$historia-dos-direitos-da-mulher>. Acesso em: 4 de novembro de 2012.

 

Machado, João Luís. A situação das mulheres no século XIX: depoimentos e reportagens de época. Disponível em: < http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=203>. Acesso em: 2, novembro, 2012.

 

OBSERVE – Observatório Lei Maria da Penha. Disponível em: <http://www.observe.ufba.br/lei_aspectos>. Acesso em: 4 de novembro de 2012.

 

SEPM – Secretaria de Políticas para as Mulheres. Disponível em: <http://www.sepm.gov.br/conselho>. Acesso em: 4 de novembro de 2012.

 

 

 

SILVA, Raquel. Evolução histórica da mulher na legislação civil. Disponivel em: http://www.mundovestibular.com.br/articles/2772/1/EVOLUCAO-HISTORICA-DA-MULHER-NA-LEGISLACAO-CIVIL/Paacutegina1.html. Acesso em: 2 de novembro de 2012.

 

Wallström, Margot. A ONU e as mulheres. Disponivel em: < http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-as-mulheres/>. Acesso em: 2 de novembro de 2012.