A Colônia Muricy

Por Robson Stigar | 02/05/2008 | História

 

A colônia Muricy Situa-se a 10 Km do centro de São José dos Pinhais, ela surgiu na terceira etapa da colonização Polonesa no Paraná. Após a bem sucedida experiência com a colonização polonesa em Curitiba, o governo da Província decidiu estender o processo ao município vizinho de São José dos Pinhais. Foram adquiridos 2.891 hectares, pois houve dificuldades de desapropriação, já que quase todos os terrenos ao redor de Curitiba eram propriedades particulares. Os problemas na hora da compra eram enormes, pois os títulos de propriedades eram muitos confusos e quase sempre aparecia mais de um proprietário reivindicando a posse. Esta área adquirida foi dividida em 4 colônias: Zacarias, Muricy, Inspetor Carvalho e Coronel Accioly. A Colônia Muricy foi criada, em abril de 1878, e compreendia os lotes entre os rios Miringuava e Pequeno e nela foram assentadas 20 famílias.

Os poloneses começaram a vir para o Brasil em 1869. Nesse ano em torno de 30 famílias desembarcaram em Santa Catarina, na região de Brusque. Descontentes com a presença de Alemães na região vieram para o Paraná através do Padre Antônio Zielinski, esses poloneses se fixaram ao redor da região de Curitiba. O sul por Ter estados com grandes terras produtivas e com pouco índice de povoamento se tronou atrativo para estabelecer residência e plantio.

Como o Governador da época do Paraná tinha interesse em aumentar a produção na lavoura Paranaense, mas tinha ausência de mão de obra, assim os poloneses chegaram em uma boa hora. Uniu-se o útil ao agradável.

No dia 6 de junho de 1878, segundo registros da Paróquia de Murici, chegaram 60 colonos procedentes da Galícia (região de Gorlice, Malopolska e Podkarpacie ) e Prússia Ocidental (região de Starogard, atual município de Gdansk). Os novos imigrantes chegaram com o navio inglês Paschoal, em Paranaguá. Fora[1]m transladados para outro barco, no qual atracaram no Porto de Antonina, de onde vieram em carroças até o planalto curitibano. A data de fundação da nova colônia foi fixada em 21 de setembro de 1878.

A colônia Muricy recebeu este nome em homenagem ao conceituado médico José Cândido da Silva Muricy Quando os imigrantes chegaram na Colônia, se assustaram, pois a realidade brasileira era bem diferente da européia. As terras selvagens, cobertas de árvores, tinham muitas pinheiras (araucárias). A madeira do pinheiro servia para a construção de suas moradias, móveis e utensílios domésticos.

O primeiro batizado de um filho de polones, ocorreu no dia 3 de janeiro, com Francisco, filho de Wojciech Gottfried e Maria Muzsynska. Foram padrinhos Wojciech Mikos e Anna Ciulis. O documento paroquial assinala que todos, exceto o pequeno Francisco, procediam da região da Silésia polaca (na época sob o jugo invasor dos alemães).

A colônia Murici de 876 hectares foi dividida em 72 lotes. Segundo levantamento de S. Saporski, em 1893, a população da Colônia era de 240 imigrantes polacos, 82 filhos nascidos no Brasil e outras 57 pessoas de outras nacionalidades (brasileiros, italianos, ucranianos).

Devido às dificuldades, as casas foram construídas em mutirão, as paredes eram feitas com troncos de seis a nove metros de comprimento e, aproximadamente, cinqüenta centímetros de diâmetro, encaixados uns nos outros pelas extremidades entalhadas.

Para cobrir, usavam tabuinhas, "gonty", obtidas com auxílio de cunhas e macetes. Para fechar as frestas usavam palha de capi, barro, estrume e cinzas. Esta arquitetura, chamada de "Dom Weglow" era típica da região das aldeias do sul da Polônia.

Os colonos sempre foram organizados e, com apoio da igreja, fundaram, em 1906, a Sociedade Agrícola São José. Em 1945, fundaram uma cooperativa. Tanto a sociedade como as cooperativas tiveram uma participação significativa no desenvolvimento da Colônia.

Somente no Cinqüentenário é que a sociedade ganhou uma sede social. Mas ela acabou desmoronando devido às obras de escavação que foram feitas ao seu redor. Na mesma época, ergueram também, na praça central, um monumento que representa Jesus cristo como semeador divino.

Aos cinqüenta anos da Colônia Muricy (1928), os colonos viviam da extração de erva-mate e de diversos tipos de madeira. Produziam ainda trigo, cevada, aveia, milho, feijão, batatinha, vinho e fumo. A necessidade de plantar trigo estava no fato de poder ter pão, pois na época o trigo era caro e o acesso a Curitiba difícil, assim sendo também se obrigaram a plantar o trigo por necessidade, mesmo não sendo em uma região apropriada e de pouco ganho, assim sendo, o trigo apareceu por volta de 1917. Em 1928, quase todos plantavam este cereal. Com o tempo, as condições econômicas foram ficando difíceis. Era melhor outro produto, vende-lo, e comprar a farinha para fazer o pão. Assim, os campos de trigo foram substituídos por outras lavouras.

Os primeiros produtos cultivados foram a batata inglesa e a batata doce, produziam apenas para o consumo, mais tarde começaram a vender o excesso, mas tinham pouca vantagem com isso pois o trabalho para se deslocar era grande, pois eram bastante difíceis, praticamente intransitável, não havia sequer saibro, nem pontes para atravessar os rios.

Atualmente a Colônia Muricy não perdeu a sua identidade, mesmo com a própria tecnologia, o cavalo, o arado, a carroça, deram lugar ao trator, ao carro, ao caminhão e a irrigação. Temos outras famílias se dedicando ao cultivo de aves, eqüinos, as hortaliças e as frutas, como de costume.

Mesmo para aqueles que não tiveram condições financeiras para comprar novos equipa[2]mentos e maquinas, a prefeitura disponibilizou uma patrulha mecanizada, que emprestava serviços para quem necessitava, a fim de garantir uma boa sa[3]fra não só para o agricultor, mas também para o município.

Sem duvida os poloneses nos deram um grande exemplo de coragem, dedicação, vontade, perseverança, vemos isso nos seus trabalhos, nos seus rostos e também na Fé que traziam e tinham juntado de si. Toda a vida comunitária se desenvolveu em torno da religiosidade. A presença da igreja e do padre sempre foi vistas como um apoio de Deus. Esta Religiosidade não era vivenciada apenas na igreja, mas também dentro do lar, dentro da família com muito amor e veneração. Os maiores eventos estavam ligados a religiosidade, principalmente quando alguém se casava, as festas chegavam a durar ate oito dias, este era sem duvida um bom ambiente para relaxar, dialogar e se conhecer.

A festa que faz sucesso atualmente é a festa da colheita, onde é realizado um concurso de hortaliças entre os agricultores da região. Esta festa foi realizada pela primeira vez em 1987, que tinha como objetivo demonstrar os costumes e cultura local, unindo a religião, os pratos típicos e o folclore. Outro grande momento que os colonos tem para mostrar as suas tradições e costumes são o festival da cultura e da Dança polonesa.

Um dado interessante sobre os poloneses era o interesse pelos estudos, a maioria dos poloneses que vieram para o Brasil era analfabeta, mas se preocupavam em dar estudos aos seus filhos, chegaram ate a construir em multirão a escola Muricy.Alem de estudar as disciplinas comuns da educação eles estudavam a língua polonesa, o ensino religioso e também os valores humanos, como o amor ao próximo, o respeito, a solidariedade.

O artesanato servia não como profissão ou necessidade, mas sim como um passa tempo, chegavam a fazer rodas como as de chimarrão, para tecer bordados e bonecos de milhos e barro.



[1] Wachowicz, Ruy C.Aspectos da Imigração Polonesa no Brasil. Curitiba, PR.UFPR, 1970.

[2]WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. Curitiba: Vicentina.

[3]Wachowicz, Ruy C.Tadeusz Chrostowski - um naturalista polono / paranaense. Curitiba,PR. Revista da academia Paranaense de Letras, 1994.