A COLA NA ESCOLA: reflexões sobre a (Re)avaliação
Por Ângela Conceição dos Anjos Pena | 29/08/2019 | EducaçãoÂngela Conceição dos Anjos Pena[1]
RESUMO
A avaliação escolar é o termômetro que permite confirmar o estado em que se encontram os elementos envolvidos no contexto. Ela tem um papel altamente significativo na educação. Existem questionamentos entre professores e alunos sobre esse tema e suas consequências. Todos concordam quanto a sua necessidade, mas ao mesmo tempo comentam sobre sua complexidade. O trabalho partiu da hipótese de que as escolas precisam rever seus métodos de avaliação. As questões que nortearam a pesquisa foram, por que avaliar? Como avaliar? Será que os critérios de avaliação estão corretos? Estarão eles contribuindo para formação de cidadãos conscientes e criativos? Ou o modo como provas são aplicadas e corrigidas apenas estimulam o fracasso, a insegurança e o medo? O objetivo principal do trabalho foi apresentar as consequências da avaliação atual – a “cola”, que é considerada pelos alunos como a “tábua da salvação” para evitar uma nota baixa, e apresentar os recursos utilizados para cometer este ato considerado por muitos educadores como ilícito. O referencial teórico que pautou a pesquisa foi avaliação como ato arbitrário e a ”cola” como consequência deste ato de Saul (2001). Percebe-se, diante de tudo, que o professor deve se apresentar como um guia e não como um carrasco, devendo, portanto partir para uma prática libertadora, na qual o aluno perca o medo de errar, de perguntar, de ser, de viver.
Palavras-Chave: Avaliação. Escola. Cola. Ensino Superior.
1 INTRODUÇÃO
O primeiro contato que tivemos com o termo “cola”, por incrível que pareça, não foi através de livros, e sim na vida real, quando vimos alguns acadêmicos desesperados em dias de provas e exames, procurando um meio ou uma oportunidade para copiar da prova do colega ao lado ou consultar seu caderno no momento de distração do professor.
Temos que confessarem não ficávamos apenas assistindo, éramos comparsas nesta busca incessante da descoberta de apenas uma questão da prova, que o professor queria respondida exatamente como estava escrito no texto, “sem tirar uma vírgula”, um pouco fora de propósito, mas o que podíamos fazer se era assim que ele queria? Então fomos juntas a “cola”, afinal, ninguém queria ficar para NEF (Nota de Exame Final). Na verdade, após a prova, passamos a nos questionar sobre o porquê de tanta insegurança, por que tínhamos medo do professor, e por que ele não aceitava a resposta com a nossa interpretação se sabíamos o conteúdo? Enfim, as dúvidas eram muitas.
Tivemos a necessidade de colocar no papel esta experiência, porque foi naquele exato momento que resolvemos pesquisar sobre os diversos tipos de avaliação e a consequência dela que é a “cola”. O termo cola (do grego “kólia” e do latim “colla”) denomina uma substância glutinosa para fazer aderências, chamada também de goma, com características viscosas e grudentas.
Mas esse termo tem outros e variados significados. Alguém pode entendê-lo também como calda, rabo, rastro ou rasto, encalço, e assim por diante. Pode-se falar em cola de cavalo em calda de cachorro, em rabo de gato, em calda do vestido da noiva, em rastro de cavalo. Diz-se ainda, estar no encalço do cavalo e pegar o boi pelo rabo.
Colar significa unir, pregar com cola, grudar: outros significados poderiam ser enumerados rapidamente. Por exemplo, “colou ardorosamente os lábios aos da bem amada”; “a desculpa não colou”; “suas mentiras sempre colam”. Pelo que se pode ver, a cola tem boas, gostosas e disfarçadas funções, que podem atender aos mais diversos interesses.
Ao analisar a origem, derivação e significado do termo “cola” descobrimos os mais diversos sentidos, interpretações e empregos no dia-a-dia da colagem. O dicionário, que por alguns é chamado de “amansa burro” ou “pai dos burros”, também diz que cola significa: “cópia feita clandestinamente nos exames escolares”. “Colar” nas provas é um hábito muito difundido que não pode ser negado por qualquer pedagogo. A verdade é que a tal “cola” existe e é praticada com ou sem escrúpulos por muitos que colaram ou que vão colar grau.
O ato de “colar”, praticado pelo aluno nas provas e exames, é bem diferente daquele que o burro e cavalo fazem, ao usarem suas colas para espantar as “mutucas” que os incomodam. Para estes, a “cola” é usada como meio de defesa e não para burlar alguém “a fim de tirar uma boa nota”.
A ação de “colar”, para muitos alunos, é a arte enganosa de bem passar, de se livrarem de muitos incômodos e imprevistos, rebaixamentos, desgostos, lamúrias, achaques, desesperos e outras pressões que os levariam a frustrações indesejadas. A “cola”, para certos alunos, parece ser uma tábua de salvação e, por isso mesmo, torna-se o motivo de insegurança e de poucas esperanças.
A “cola”, portanto, tem funções dignas e importantes, mas poderá também ter funções indignas e lamentáveis. O resultado vai depender de quem utiliza a “cola”, com que intenções, para que fins, como e quando.
Nossa pesquisa fará uma abordagem sobre o que diversos autores como: Moretto, Sobrinho, Saul, Hoffmann e outros pensam sobre a avaliação o porquê dela assustar tanto nossos alunos e causar desconforto nos professores; sua utilização como instrumento no processo ensino-aprendizagem; suas diversas formas; e como pode desencadear o fracasso escolar. E em seguida, analisamos a “cola” como consequência da avaliação; os recursos utilizados pelos alunos para esta prática; os tipos de professores vítimas da “cola”; o porquê e como a “cola” é vista pelos alunos e professores.
2 Avaliação: o que é isso?
Ao conceituar o termo “avaliação”, está-se emprestando-lhe significados relativos que dependerão do lugar em que se encontra, da sua história, do olhar que se lança, da formação, experiências, e até de crenças e de compromissos.
Para avaliar, nas palavras de Sobrinho (1997, p. 56):
É preciso que se tenha um fundamental conhecimento daquilo sobre o que interrogamos e atribuição de significados aos fatos, dados e informações que colhemos. Para além dos fatos e a partir deles, a produção dos juízos de valor. Avaliar é uma ação que não admite neutralidade.
Avaliar implica, inevitavelmente, dois processos articulados e indissociáveis: o de diagnosticar e o de decidir. Avaliar significa “dar valor a”, “atribuir valor ou qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação”, o que quer dizer que a avaliação direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação. Avaliar é dar “valor”, “apreço ou merecimento”. Logo, a ação de avaliar se constitui, inicialmente, de uma aferição de acordo com alguma escala de valores pré-fixados.
A avaliação determina o valor de algo através de dados obtidos, seleciona informações, analisa e reporta dados úteis para tomada de decisões, a avaliação descreve e identifica os méritos e limitações de algo, ou seja, descreve e julga o avaliado, enfim, a avaliação é a emissão de juízos de valor, tendo em vista resultados de um programa em função do cumprimento de metas e objetivos.
Generalizando, pode-se dizer que avaliar é comparar uma “realidade” com um “modelo ideal”. Este “modelo ideal” expressa, através do delineamento de metas e objetivos, um padrão de qualidade a ser atingido.
Avaliação é uma palavra que faz parte do nosso dia-a-dia, seja de maneira espontânea, seja de modo formal. Com grande intensidade e com significados particulares, está incorporada ao cotidiano de empresários, de médicos, de famílias, de engenheiros, de escolas, da sociedade e etc. A grande questão é: Por que avaliamos? Para que avaliamos? Por que estamos sempre avaliando ou sendo avaliados? Ou melhor, que critérios de avaliação utilizamos? Quando avaliamos alguém ou alguma coisa é para julgar? Ou para melhorar?
Devemos, portanto, estar atentos aos seguintes questionamentos acionados a todo e qualquer processo de avaliação, pois estamos sempre avaliando algo ou alguma coisa, tanto na vida pessoal quanto na profissional. [...]