A Circulação da Implantação da Escola dos Annales

Por Luciano Agra | 06/11/2008 | História

A "Escola dos Annales" foi um movimento enovador que surgiu na França, no século XX, dando origem ao que conhecemos hoje de Nova História. Tudo começou com a criação da revista Annales, a qual tinha como público alvo os grandes estudiosos das ciências sociais, a exemplo dos historiadores, sociólogos, antropólogos, geógrafos, etc. Embora tenha surgido na França o movimento dos Annales conseguiu, ao longo do século XX, expandir-se por todo o mundo adquirindo novos adeptos, os quais iriam contribuir para o crescimento dessa nova abordagem historiografia. Mais afinal o que é a nova história?

Defini-se como nova história a história sobre influência das ciências sociais e não mais sobre a influência das ciências naturais, isto é, até o surgimento dos Annales a história tradicional regia-se pela metodologia positiva, inspirada nas ciências naturais. As críticas aos historiadores tradicionalistas eram ferrenhas, em especial por parte dos sociólogos durkheimianos entre outros. Diante das insatisfações e querelas que afligiam a história tradicionalista agonizante, ganha finalmente em 1929 pelas mãos de Febvre e Bloch uma decisiva mudança de rumos através da criação dos Annales, uma revista que servia de ponto de encontro e debates entre historiadores e demais cientistas sociais, esta revista leva a evolução que conduziu a ciência histórica francesa a uma reestruturação, a adoção de nova metodologia e concepções, e por correlação aos demais historiadores europeus e americanos. Os Annales veio a abrir os caminhos para a evolução das divisas fases da vigente ciência histórica.É neste contexto que MARTIN, Hervé e BOURDÉ, Guy afirma o seguinte:

"'Depois da fundação dos Annales…, o historiador quis-se e fez-se economista, antropólogo, demógrafo, psicólogo, lingüista… A História é, se se pode dizer, um dos ofícios menos estruturados da ciência social, portanto um dos mais flexíveis, dos mais abertos… A História continuou, dentro desta mesma linha, a alimentar-se das outras ciências do homem… há um história econômica…, uma maravilhosa história geográfica…, uma demografia histórica…; há mesmo uma história social… Mas se a história omnipresente põe em causa o social no seu todo, é sempre a partir deste movimento do tempo… A História dialética da duração… é o estudo do social, de todo o social; e portanto do passado e portando também do presente". (MARTIN, 2000, p. 131)

É interessante notar que desde a sua formação, a Escola dos Annales passou por diversas transformações, ou seja, inovações abordadas, pela nova história, a história que até então se contentava com a narrativa dos fatos históricos singulares passou a caracterizar-se por uma história-problema, utilizando-se da interdisciplinaridade para se constituir, valorizando os fatos recorrentes, ao lado dos singulares, trabalhando o cotidiano. Com isto, a nova história inova-se os conceitos de fatos e fontes históricas, ambas sofreram alongamento. Em suma, conforme nos explicita "José Carlos Reis", "Os documentos se referem à vida cotidiana das massas anônimas, à sua vida produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, às suas crenças, às sua diversas formas de vida social." (REIS, 1994, 126). Podemos perceber, então, que o projeto Annales tinha uma dupla ambição, tanto epistemológica, quanto institucional, ou seja, no campo epistemológico vestiu a roupagem das ciências sociais e abafou as críticas e ao mesmo tempo garantiu a hegemonia da história enquanto ciência. Considerando, então, que a nova história pode ser definida em linhas gerais como uma ciência histórica inovada, regida pelos moldes das ciências sociais, voltada para a problemática do homem enquanto objeto social, buscando nas estruturas, apoiada pela interdisciplinaridade, respostas mais satisfatórias para as suscitações sociais vigentes.

Para entendermos o conceito de história – problema, devemos retomar ao que se define por história tradicional, tem caráter narrativo, obedecendo a uma cronologia, baseada em documentos dito oficiais, escrito de forma linear, evolucionista, conta os fatos como relatados nos documentos, privilegia apenas os fatos singulares, geralmente políticos, isto é, na concepção positivista havia uma restrição de fato e fonte histórica. A história problema vem romper com esta definição, nela reconhece-se que é impraticável narrar os fatos tal qual estão registrados há uma quebra nas utopias características positivas. Com o mito da neutralidade, visto que o historiador escolhe o que vou estudar a sua opinião, desse modo observar, que para a construção da história – problema o historiador elege seu objeto de estudo no presente, questionando-o no passado, e não se anula como o positivista, mas deixa expresso sua opinião crítica, conceitos, problemas e hipóteses, explicando os documentos, técnicas e formas utilizadas, assim como também o lugar e a instituição do qual se refere em seu estudo para que seu estudo levante questão e seja problematizando.

A história-problema se caracteriza pela construção teórica, visto que o texto histórico é feito basicamente de teorias e não mais de forma narrativa, objetiva, a base agora seria o problema, as hipóteses. Isso é o que vai marcar o rompimento da história narrativa com a história-problema, o fato de se despertar da objetividade para se prender a teoria, seguindo o caminho da ciência social. Nas palavras de Lucien Febvre: "... nunca se façam colecionadores de fatos, ao acaso (...) nos dêem uma História não automática, mas sim problemática."(FEBVRE, 1989, p. 49). Para Febvre, essa nova história-problema, não se fecha em capas, mas deixa se aberta, visto que, como trabalhos científicos, família problema e constrói também hipóteses permitindo assim que outros historiadores tenham sua opinião sobre o assunto em voga, menos discordando, mas respeitando a idéia de cada uma. A história-problema construída pelos Annales é de fato uma "nova história". Houve uma inovação no trabalho do historiador nas condições e concepções, se antes ele escolhia mais não podia admitir, agora ele escolhe e expõe suas críticas, assim também, suas fontes e técnicas. A história inovada pelos Annales tornou-se racional abandonando a instituição, elegendo o senso crítico, abrindo espaço para que o leitor toma posição quanto ao assunto, a problemática em questão.

Outro ponto importante que podemos destacar é que Lucien Febvre determina como sendo tarefa do novo historiador delimitar o que em um tempo histórico dado e perceptível, isto é, reconstrua uma "estrutura", evidenciando suas linhas de demarcação no tempo, procurando remontar uma estrutura "total", recompondo todos os seus sistemas e analisando-as a partir de suas inter-relações, interdependências que refletem uma época, uma civilização como umas todo, essa e a história almejada por Febvre, concebida do conjunto, do todo ao detalhe, à parte. Deve-se salientar, porém que em Febvre os limites de demarcação não representam uma estratificação da realidade social, isto é, não é a delimitação do tempo da problemática em estudo que indica o fim de certas práticas sociais. Essa está em constante alteração, quer de forma lenta, quer de forma mais acelerada, a duração dos diversos níveis estruturais, são variáveis, têm ritmos evolutivos diversos, regidos de acordo com as defasagens da estrutura global, nesta engrenagem social por exemplo as estruturas econômicas mudam mais aceleradamente do que as sociais e as estruturas mentais são mais morosas que as demais.

Contudo, quando surgiu os Annales, a definição de estrutura estava atrelada a concepções marxistas, onde o homem estava analisando apenas, dentro do trabalho, deixando a margem as demais relações sociais, isto é, não se analisava o homem enquanto chefe de família, ser emocional. Esta é uma das prerrogativas que fez com que Febvre resistisse a esta estrutura. Embora tenha, utilizado está expressão "estrutura" em alguns dos seus trabalhos. Além disso, Febvre não acertou com maior ênfase a palavra estrutura, porque percebia-a como vinculada a um modelo estático da realidade social, via na definição dos períodos das estruturas sociais, organizadas de forma evolutiva, narrativa, a ação duma ciência histórica filosófica, o fato é que ele só cancelava a delimitação duma estrutura a partir de uma problemática, da construção de hipóteses suscintadas, não é a criação de uma história pela história é uma história-problema criada pela necessidade social, real, esta é uma das proposições da nova história. Daí a resistência de Febvre a um estruturalismo desconectado da história-problema, isto é, apresentada de forma estática, finita, as margens das problematizações e hipóteses em eterna construção. É neste sentido, que Peter Burke aponta que: "Os historiadores tradicionais pensam na história como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova história está mais preocupada com a análise das estruturas." (BURKE, 1992, 12).

Partindo desta analise da idéia de que para a história tradicional o fato é o acontecimento singular, relatado de acordo com os documentos oficiais, a "verdade" positivista. Enquanto na história-problema o fato será construído, de acordo com a problemática levantada pelo historiador, construindo-se os dados a partir da abertura do passado, para responder as lacunas, levantadas por suas hipóteses e problemas de experiências presentes. Na história-problema pode-se observar que o fato é uma construção e essa é demonstrada abertamente, onde se observa além do documento escrito, indissolúvel, também concorda, visto que critica o cientificismo positivista, onde demonstra que é impossível chegar-se apenas uma verdade do que aconteceu ao passado. Febvre descorda também das proposições positivistas, para ele era como se construísse a história com pedaços de retalho, para depois formar-se uma colcha, a qual seria a "história total" de uma realidade. Erram quando deixam de abranger os vários documentos e elegem apenas a história política e os documentos "oficiais", os que são "em geral manipulados pelo seu produto", está e a história feita pelos positivistas.

Em se falando do novo conceito de fonte histórica para a história-problema, discorrendo sobre a inovação feita por Febre, esta se consistiu no alargamento do "arquivo do historiador" uma história feita "com todos os documentos que são vestígios da passagem do homem". Desse modo o historiador tem várias fontes de pesquisa onde pode preencher "todos" os vazios e lacunas, pois é sua tarefa "preencher silêncios". Febvre também relata que os historiadores não sabiam usar ou mesmo ler os documentos que remetessem a economia, visto que se detinham mais as histórias tradicionais feita por datas, lugares e pessoas. Lembra-nos, ainda que for a partir da "descoberta" documento que ocorreu a divisão da história em pré-história e história, o que para ele era inadmissível. O documento para febvre vai além de um simples papel, abrange desde um simples pedaços de cerâmica à documentos escritos, desde que haja uma problematização em cima da fonte. Com essa abertura da história-problema deixa-se de lado o jogo de pergunta e resposta e passa-se a construí-se problemas e hipóteses, adquirindo o historiador um vasto material onde se guia pela experiência. Essa ampliação da nova história no conceito de fatos e fontes histórica inovou realmente as possibilidades de trabalho e atuação da história-problema, derrubando a heurística. As novas proposições deram ao historiador liberdade de ação, tanto pela ampliação dos fatos que deixaram de ser simplesmente os singulares e passou-se a considerar ao lado destes os fatos decorrentes como das fontes que deixou de ser exclusivamente os documentos dito oficiais e passou a abranger todos os vestígios deixando pelo homem social.

A expressão história total ou global apresenta dois sentidos, pois quer dizer "tudo" e "todo", assim teríamos no primeiro momento, considerar que "tudo é história", não havendo mais campos que o historiador não possa estudar, pesquisar. E no segundo momento a ambição de apreender o "todo" de uma época, sociedade, o que levaria a uma possível contradição com a história-problema. Assim Febvre apresenta duas interpretações, na qual a primeira está na abordagem de "tudo", que se faz sob o signo da história-problema, não seria uma fragmentação, mas um debate entre historiadores, sobre bases intelectuais e objetivas sólidas. Não sendo necessário que dois historiadores que abordem um mesmo assunto cheguem a resultados comuns, sendo indispensável à maneira a qual eles chegaram e se foi em diálogo objetivo, racional e documentado possa se dar entre os dois para que se compreenda onde se separam e como chegaram a resultados diferentes. Pois se há resultados diferentes é porque houve problematização diferente, hipóteses diferentes, uso diferente da documentação, mesmo que tenha sido a mesma. Assim, essa diferença é racional tornando em conhecimento. E a segunda está ligada à interpretação da história total que é o conhecimento do todo, segundo Febvre seguiu essa perspectiva ainda se manteria no quadro da história tradicional filosófica. Sinteticamente, o que Michel Foucault quer dizer é que "Uma descrição global cinge todos os fenômenos em torno de um centro único - princípio, significação, espírito, visão de mundo, forma de conjunto; uma história geral desdobraria, ao contrário, o espaço de uma dispersão." (FOUCAULT, 1986a, p. 12).

Vale ressaltar, segundo Foucault, querer conhecer uma época com uma totalidade, é presumir sua continuidade, sua estruturação em torno de um princípio unificador. Então, a história global, pode estar contaminada pelos pressupostos tradicionais, os de uma coerência, de uma continuidade, que lavaria ao seu uso ideológico. Nessa intenção, o historiador deveria procurar, nas partes, a presença do todo, desse "fato global", que liga todas as partes em uma totalidade. Alguns conceitos segundo Braudel, que procurará em prática uma tal idéia de história total e também fazer-lhe a teoria. Criará a idéia dos três tempos que se referem uns aos outros e que constituíram um "conjunto total", na articulação de seus níveis.

Pode-se vislumbrar, portanto, que Braudel lança as bases de uma concepção de história fundamentada em inúmeras realidades e fenômenos e em distintas temporalidades. A longuíssima duração de Braudel tem a sua expressão máxima no esquema tripartido, evidencia que o método utilizado por Braudel pode ser considerado "empírico estruturalista". É nesse contexto que a descrição de observações e por pesquisas baseadas em observações concretas havendo uma rejeição através de formulações teóricas a priori. Entretanto, não se trata de um "empirismo" particularista que centraliza nos casos ou acontecimentos isolados, mas de um empirismo estruturalista, que emerge numa totalidade histórica. É importante considerar que a perspectiva marxiana, o critério braudeliano de ordenação do material é o passado e essencialmente procura mostrar que "as circunstâncias fazem os homens". Entretanto, ao prescindir a base ou ação real empírica dos homens, identifica - se com um empirismo abstrato ficando submetido a compartilhar a ilusão da época que compreende os séculos XVIXVIII. Conseqüentemente, não mostra a contrapartida marxiana de que os homens também "fazem as circunstâncias", aparecendo estes como acessórios, ontologicamente inconscientes. Focalizando, para o campo econômico, Braudel afirma que:

"a grande dificuldade em se abordar a história do ponto de vista da longa duração é justamente discernir a longa duração porque os ciclos, os interciclos, as crises estruturais, ocultam as permanências de sistemas, isto é velhos hábitos de pensar e de agir, quadros resistentes, por vezes contra toda a lógica " [grifo nosso]" (BRAUDEL, 1992, p.51)

Nesta citação, podemos perceber, que segundo Braudel, a contribuição especial do historiador as ciências sociais é a consciência de que todas as estruturas estão sujeitas a mudanças, mesmo que lentas. E foi sobre esse prisma que Braudel realizou os seus estudos contribuindo para o crescimento da Escola dos Annales. Nesta segunda fase, Braudel deixa de lado a história das mentalidades é, passa a dedica-se a história da cultura material ao capitalismo; a história demográfica e a história regional e serial. Todos seus estudos, a respeito desses temas, foram realizados seguindo o princípio da interdisciplinaridade, onde Braudel analisava os fatos através de estudos quantitativos. Portanto, é essa segunda fase quantitativos. Portanto, é essa segunda fase do movimento que se aproxima verdadeiramente de uma escola com conceitos diferentes (particularmente) a "história serial" das mudanças na longa duração, sendo dominada pela presença de Fernand Braudel. Com base nas quatro propostas inovadoras de Febvre, a saber a história – problema, ou seja, a mudança de uma história narrativa para uma história crítica, com um novo enfoque-o homem como ser social. Diante dessa nova postura a ciência histórica incorporou o contexto das ciências sociais "abandonando" a metodologia das ciências naturais.

Desta decorrem as demais proposições febvrerianas que diz respeito tambémao novo conceito de fato e fonte histórica, onde o primeiro faz referência ao fato como uma construção, enquanto que o segundo, digo a inovação do conceito de fonte histórica, sofreu na concepção febveriana um alargamento, isto é, enquanto que a história tradicional reconhecia apenas como fonte histórica os documentos escritos, ditos "oficiais', a nova história adota com Febvre uma nova concepção de fonte histórica que vai desde um utensílio doméstico até o imaginário do seu social, todos os vestígios humanos, a quarta proposta Febveriana diz respeito ao significado da "história total ou global", onde adota duas definições divergente, ou seja, adere aos conceitos de "tudo" e "todo", no primeiro sentido a história ganha uma abrangência geral tornando-se atuante pretensiosamente a nova história também acreditava-se capaz de abranger uma história integral, totalizante. Assemelhando-se a proposição da história tradicional, positivista.

Exatamente com base nas quatro inovações acima discorridas é que consiste dada a base do "espírito" dos Annales, que é a interdisciplinaridade é que consiste dada a base histórica uniu-se às demais ciências, ela passou a construir seu objeto, propor problemas e a suscitar hipóteses, isto é, adotou conceitos e técnicas das ciências sociais, trouxe toda uma inovação metodológica. Vale ressaltar, conforme nos evidência José Carlos Reis que a proposição interdisciplinar de Febvre, não se assentaria sobre um "método comum", iguais para todas as ciências sociais como defendia Simiand. Na concepção de Febvre a interdisciplinaridade fazia-se necessária para análise ao método. Ele trouxe a inovação para a ciência histórica, mas tratou de garantir o campo de atuação específico da ciência histórica, a sua hegemonia enquanto ciência social.

Febvre propunha então uma interdisciplinaridade, a associação da história com outras ciências sociais com a finalidade de possibilitar um intercâmbio dos saberes de ambas, digo, uma troca de serviços, conceitos, técnicas, dados, problemas, hipóteses, afim de se obter uma melhor análise do "objeto comum", o ser social e empírico, o homem social. Nesta perspectiva interdisciplinar a nova história buscou-se associar à economia, geografia, sociologia, psicologia e etc,.Dando origens as denominadas ciências compostas, por exemplo história econômica, social e geohistória, e etc

Apesar da originalidade de Febvre ser incontestável no campo histórico, essa proposição de interdisciplinar já havia levantado por Berr e também encarnado pela geografia humana, sobre influência La BlacheDe início discorreu sobre duas proposições "inovadoras" da história as quais foram pouco enfatizadas por Febvre, são elas: a nova concepção do objeto da história e o método retrospectivo, fazendo assim observações sobre a temporalidade da nova histórica.

Em se falando do objeto do conhecimento histórico, o homem, a história continua sendo tradicionalista, pois estuda o homem em seu meio social, no seu tempo e diversidade. Segundo Bloch, os documentos são apenas o "disfarce", o que a história, o que a história pretende é se apropriar do homem. Para ele a história não cogita apenas o homem mais também a duração, ou seja, sua temporalidade. Essa temporalidade é o tempo da nova história, "uma continuidade" e "descontinuidade" e é dessa oposição que irão surgir os problemas de pesquisa histórica. Na nova história ocorrerá uma mudança no estudo de objetos privilegiados, visto que na história tradicional enfatiza-se feita o evento político e visível, com um custo espaço de tempo e feita através da narração.

De início Bloch discorreu sobre duas proposições "inovadoras" da história, as quais foram se fazer uma ligação entre os fatos, sendo mais sincrônica, isto é, fazendo relação dos fatos "ao mesmo tempo" ela também é narrativa, mas só e puramente como na história tradicional, a narração deixar de ser a característica marcante, a nova história também utiliza-se da narração, só que como reconstrução de conceitos, não é uma mera narração factual sobre um conceito, ela problematiza e contrasta. A visão de passado se modifica a partir da nova história, visto que deixa de ser analisada apenas como "descrição de eventos" e passa a ser uma reconstrução de conceito. Crítica a história tradicional divergindo da sua forma narrativa dos fatos, opositoriamente a nova história, sustenta e explica o fato de acordo com o conceito, como construção, submetido a regras a falsificabilidade, feita através de pesquisas e reconstrução conceituais.

Bloch "inova" também com a proposta do método retrospectivo em nova história, só que este já foi trabalhado por Weber. Esta sua proposta vem romper com a idéia de Simiand do "ídolo das origens", onde tudo se explica pela origem ou início, e o presente se explica com o passado, mas Bloch não concorda visto que, para ele explicar não é estabelecer filiação, ou seja, o presente de certa maneira não se explica em todo por sua origem ou passado. Defende a idéia de que deve-se sempre estar numa via de mão dupla presente/passado e passado/ presente, e não numa via única como os tradicionalistas. É preciso esse ir e vir para que não se restringir apenas às origens, não que ele deixaste o passado, não é isto, para Bloch o passado ajuda e muito na compreensão do presente, ele explica o presente, pois não ocorre mudanças bruscas e sim lentas no além de conhecer apenas o presente, é preciso também estudar o presente, o passado e o queviráfuturamente. Diante da exposição destas concepções verifica-se a proposta do método repressivo, segundo Bloch, só se compreende o passado se problematizá-lo com algo do presente, o historiador deve atentar para o presente, aquilo que o cerca, para os buscar respostas e explicações no passado, fazendo uma viagem do presente onde domina, para o passado afim de conhecê-lo melhor; partindo do que conhece mais para conhecer melhor o passado, esta é a estratégia usada para que conheça do presente ao passado, fazendo a junção da história "dos mortos com os vivos", do velho com o novo, "acabando" com essa idéia de história factual, fragmentada; inserindo a nova história faz-se com que compreenda melhor a continuidade e diferença em relação ao passado. Com essa visão de história como ciência dos homens, evitou-se a busca mecanicamente às origens, esse método retrospectivo deixa à margem o presente como perspectiva do historiador. O método repressivo é o que sustenta a história-problema, elegendo fatos a partir de análises presente-temas, problematizando-os no passado, trazendo assim a informação para o presente esclarecido sua experiência. Estas são algumas das propostas "inovadoras" de Bloch que vieram à contribuir para a renovação da ciência histórica sob a influência das ciências sociais, com nova roupagem, com novas concepções do seu dever e novos conceitos.

Bloch e Febvre apesar de formuladores e articuladores conjuntamente de uma "nova história" da escola dos Annales, alguns críticos constatam que entre eles há mais divergências do que convergências. Bloch conforme ressalta José Carlos Reis com base em outros estudiosos como no caso Duby, Áries, Iggens, Aymard, etc, teve sua formulação na lingüística, que o induziu ao método comparativo, espelhado na ciência histórica alemã, donde apreendeu técnicas eruditas, advindas da sociologia durkheimiana e da geografia humana de LaBlache, mas considerava estas técnicas como meio e não como a pesquisa finita. Bloch dedicou-se mais a história econômica social, dando ênfase a períodos de "longa duração". Bloch à medida que avança em seus estudos dava uma maior relevância a estrutura material, espaço donde a consciência se manifesta. Mas também, foi precursor da história das mentalidades coletivas, como lembra muito bem o livro em "Os reis taumaturgos, 1924. Podemos perceber que sofreu influência direta de H. Pirene, F. Simiand e H. Hauser, o que aponta para uma influência indireta do marxismo, assim defende exatamente Duby explicitado por José Carlos Reis.

Febvre por sua vez apoderou-se mas, nas proposições de H. Berr, de Dilthey e da hermenêutica, da mais ênfase a consciência. Caracteriza-se por suas complexidades e contradições, seus textos assinalaram-se como obra de um historiando apaixonando, mais que de um teórico. Dedicou-se à história das "mentalidades coletivas". Tal como Dilthey, Febvre dá muita "importância a biografia: a época explica o indivíduo exprime sua época". Essa posição demonstra em parte a ambigüidade de suas proporções, ora inovador, ora tradicionalista, como enfatiza Noriel, 1989 – um analista de Febvre citado por Reis.

Reis evidência que Aymard considera Bloch mas "cientista social", por este respalda-se na sociologia, utilizando suas técnicas e bibliográficas para realizar pesquisas geográficas e lingüísticas voltadas para a abordagem de "longa duração". Quando a Febvre, Aymard classifica-o como "humanista" temeroso do formalismo conceitual, realça que estudava mais ênfase aos elementos concretos do tempo em estudo. Aymard(Citado por Reis), ressalta então que estes dois historiadores, tinham maneiras de pensar e concepções da história bem divergente, assim elucida a diferença entre ambos. "Febvre concebia a história no plural, isto é, como 'o estudo dos homens no tempo', 'estudo das mudanças', enquanto que Bloch a concebia no singular, isto é, como 'o estudo do homem no tempo', 'estudo da mudança' " (AYMARD, 1972, p-434. Citado por Reis, 2000, p.88).

Dentre as diversas divergências entre Bloch e Febvre explicitadas, destaca-se as diferentes concepções que ambos alimentavam quando a aceitação das estruturas, ou não. Se de um lado, Bloch via nesta uma endumentaria vital do trabalho histórico já que trabalho o econômico e o social, enfatizando ciclos de "longa duração", as estruturas. Por enquanto à temporalidade dava preferência aos eventos, que apresentava resistência as estruturas de longa duração.

Enfim, apesar de suas diferenças tanto Bloch quando Febvre tinha consciência da necessidade de se inovar a ciência histórica tradicionalista tão alfinetada por todos os lados juntos concretizaram através da fundação dos Annales uma ambição que já fazia parte das suscitações européias, desde o início do século XX, formalizavam, articulavam e deram vida a uma nova história.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé. As Escolas Históricas. Lisboa: Editora Europa-América, 2000.
  • BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. 2ªed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
  • BURKE, Perter (org.). A Escrita da História - Novas Prespectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992.
  • FEBVRE, Lucien. Combates pela história. Trad. Leonor Martinho Simões e Gisela Moniz. 3. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1989, p. 49.
  • FOUCAULT, Michel. (1986a). A arqueologia do saber. 12ª edição. São Paulo, Forense Universitária.
  • REIS, José Carlos. Tempo, História e Evasão. Campinas: Papirus Editora, 1994.
  • REIS, J. C. . Escola dos Annales: A Inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000. v. 1. 200 p.