A Cegueira Organizacional
Por Sandra Regina da Luz Inácio | 30/12/2008 | AdmConforme passo pelas empresas, percebo que a maioria dos empresários não enxergam suas empresas ou fantasiam algo que eles gostariam que ela fosse, mas na realidade não é.
Eles olham, mas não enxergam realmente… não questionam… a visão é presente, mas a percepção é ausente. Se a vida fosse uma obra de arte, veriam as cores, mas não a genialidade das pinceladas. Se fosse uma viagem, notariam a estrada, mas não a paisagem. Se fosse um poema, leriam o que está escrito, mas jamais o que está por trás das palavras.
Falta de visão não significa falta de inteligência, ao contrário, muitas vezes as pessoas mais inteligentes é que não conseguem enxergar as coisas como realmente são e discernir entre o que realmente querem ou o que a sociedade querem para elas.
As pessoas sem perspicácia vivem no reino do óbvio… do esperado… do essencial... do dia-a-dia. As dimensões que as interessam são compridas e largas, mas não profundas, não porque elas não consigam, mas porque não querem se aprofundar.
Adquirimos conhecimentos espantosos sobre o mundo físico, biológico, psicológico, sociológico. A ciência impõe cada vez mais os métodos de verificação empírica e lógica. As luzes da Razão parecem rejeitar nos antros do espírito mitos e trevas. E, no entanto, por toda a parte, o erro, a ignorância, a cegueira, progridem ao mesmo tempo em que os nossos conhecimentos.
Principais causas da cegueira organizacional:
2. Existe uma ignorância ligada ao desenvolvimento da própria administração como ciência;
3. Existe cegueira ligada ao uso degradado da razão;
4. As ameaças mais graves em que a Humanidade incorre estão ligadas ao progresso cego e descontrolado do conhecimento (manipulações de todas as espécies, ego, ganância, o TER ser mais importante que o SER, desequilíbrio ecológico, etc.).
5. Nosso cérebro trabalha por repetição, sendo muito difícil a criatividade, isto é tomar decisões inovadoras e principalmente vermos o “futuro” que assusta-nos de muitas formas, pois o novo é de difícil assimilação, seja no profissional, pessoal ou em qualquer área que atuamos.
A Doença do Saber
Ao separar o sujeito pensante e a coisa extensa, quer dizer, filosofia e ciência, e ao colocar corno princípio de verdade as idéias, ou seja, o próprio pensamento disjuntivo. Tal disjunção, rareando as comunicações entre o conhecimento científico e a reflexão filosófica, devia finalmente privar a ciência de qualquer possibilidade de se conhecer, de se refletir e mesmo de se conceber a si própria cientificamente. Mais ainda, o princípio da disjunção isolou radicalmente uns dos outros os três grandes campos do conhecimento científico: a física, a biologia, a ciência do homem.
O conhecimento baseava necessariamente o seu rigor e a sua operacionalidade na medida e no cálculo; mas, cada vez mais, a matematização e a formalização desintegraram os seres e os existentes para apenas considerarem como únicas realidades as fórmulas e equações que governam as entidades quantificadas. Finalmente, o pensamento simplificador é incapaz de conceber a conjunção do uno e do múltiplo: ou ainda unifica abstratamente ao anular a diversidade, ou, pelo contrário, justapõe a diversidade sem conceber a unidade.
Assim, chega-se à inteligência cega. A inteligência cega destrói os conjuntos e as totalidades, isola todos os objetos daquilo que os envolve. Não pode conceber o elo inseparável entre o observador e a coisa observada. As realidades chave são desconsideradas. E os pedantes cegos concluem daí que o homem não tem existência, senão ilusória.
Enquanto o meio em que vivemos produz o baixo cretinismo, a Universidade produz o alto cretinismo. A metodologia dominante produz um obscurantismo acrescido, uma vez que já não há associação entre os elementos disjuntivos do saber, já não há possibilidade de reuni-los e de refletir sobre eles.
O papel do cérebro humano
As neurociências nos remetem a temas distintos, porém interdependentes, como memória, cognição, consciência (ligada ao conhecimento) e comportamento - elementos que nos levam a discussões sobre a concepção da mente e, conseqüentemente, dos seus distúrbios e sua limitação quanto ao saber.
Diante da complexidade de tais conexões, as neurotecnologias e os conflitos prático-discursivos delas provenientes para a psiquiatria, a psicanálise, a psicologia cognitiva, a teologia e outras ciências, ecoam em áreas sociais sem fronteiras estanques, passando pela medicina, educação, estrutura familiar, religião e mídia.
Os novos dados obtidos sobre as funções cerebrais promovem a necessidade de uma revisão sobre "o sentimento de nós próprios" e principalmente como vemos as empresas e as pessoas que nelas trabalham. As idéias sobre a evolução do cérebro incluem conceitos relacionados com a cognição social, existindo uma consciência crescente de que a moral e a consciência estão intimamente associadas ao cérebro das emoções, que processa sinais de recompensa e de castigo, podendo ser, para alguns neurocientistas a evolução da ética.
Outro aspecto da neuroética são as implicações do conhecimento das funções cerebrais para a sociedade, isto é, construir um conhecimento capaz de organizar e ilustrar adequadamente a sociedade: afinal, como conciliar os saberes provenientes das investigações em neurociências de modo que a sociedade funcione de forma estável sem afetar a liberdade das pessoas.
Nas sinapses (O cérebro funciona através de neurônios que se ligam uns aos outros, em conexões), ocorrem várias funções. Chegam os impulsos elétricos gerados pelos próprios neurônios até a terminação de uma célula nervosa, seu axônio. Nesse setor são liberados neurotransmissores como conseqüência dos impulsos elétricos e esses neurotransmissores são substâncias que se ligam com as membranas das células seguintes, que se denominam receptores. Assim, um neurônio se conecta com o outro para o funcionamento básico do cérebro. Cada região do cérebro atua de maneira distinta, pois existem inúmeras conexões e cada neurônio se liga com dez mil outros, ou mais.
A mente humana tem a capacidade de perceber a existência de uma interação do corpo com o meio ambiente, e que ela pode reagir com base nos dados que o corpo colhe por meio de sensações, percepções e emoções internas e externas. Levantou a hipótese que as emoções têm papel determinante no processo de decisão e que o que chamamos de "consciência" é o fruto de tudo isto.
Devemos estar conscientes de nossa liberdade e da nossa responsabilidade, pois só assim seremos capazes de subsistir como espécie. A crítica ao mundo cultural do século XXI como desumanizante e destrutivo deve-se basear, antes de tudo, em conhecimento fenomenológico da nossa experiência perceptiva.
O que as descobertas sobre o cérebro acarretam à sociedade
A técnica de imaginologia cerebral permite saber quando uma pessoa está mentindo, confundindo memórias falsas com memórias verdadeiras; é possível diagnosticar motivações comportamentais e crenças. O poder de obter este tipo de informação levanta a questão da legitimidade de intervir para "regular", "controlar" e "prevenir”.
As principais implicações dos avanços das neurociências na sociedade contemporânea é que a ciência nem sempre promovem justiça, paz, solidariedade, bem-estar, equidade, liberdade, saúde e a cultura. Estes critérios apontam para o campo dos valores, em particular para a ética dos métodos neurobiológicos aplicáveis ao ensino e à aprendizagem.
A visão clássica da condição humana é renovada: atualmente a "essência" do sujeito parece residir na sua "informação" - seja genética ou neural. Trata-se de dados que fazem de cada sujeito um indivíduo singular.
Se observarmos o grande sonho que norteia tanto as neurociências como a engenharia genética, veremos que essas "novas ciências da vida" procuram desvendar os códigos, os sinais e os circuitos pelos quais trafega a informação vital dos seres humanos. Os objetivos
comuns a ambos os tipos de saber consistem em acessar essa 'verdade' (traduzida em informação digital ou digitalizável) para eventualmente poder manipulá-la à vontade, corrigindo eventuais "defeitos" e efetuando diversos "ajustes".
O ser humano não é um ser moral por natureza, mas precisa ser educado para a moralidade. O comportamento natural do ser humano é de início, egocêntrico (Piaget), no sentido de que, em princípio, são sempre necessidades individuais que têm prevalência e orientam o agir das pessoas.
Os objetivos éticos são indispensáveis para qualquer teoria da educação, porquanto é a idéia de ideal humano, isto é, a imagem do que e como o homem deve ser que decide sobre os conteúdos da educação e suas formas de transmissão. O educador deve contribuir para a formação de sujeitos conscientes e autônomos, capazes de decidir que atitudes devem tomar. A educação deve buscar um caminho pessoal para uma vida consciente e responsável quanto aos interesses tanto individuais quanto sociais.
A relação recíproca eu-tu gera comportamentos que se cristalizam na norma. Esta precisa retornar à sua origem, à relação eu-tu. Assim, fecha-se o círculo. As normas dadas e datadas são superadas pelos novos eventos. Por isso, precisam renovar-se à luz das novas relações humanas, das descobertas científicas, dos novos avanços da técnica e da cultura para que possamos aplica-las não somente nas empresas, mas em nossas vidas pessoais, espirituais, etc.
Infelizmente, as pesquisas dos neurocientistas não são realizadas com neutralidade, pois são influenciadas por interesses institucionais, condições financeiras para sua realização ou pelo posicionamento político ou religioso.
Tenho certeza que quando muitas respostas forem dadas pela neurociência, podemos com certeza sermos mais criativos e enfrentarmos melhor todos os desafios.
Quem sabe ai poderemos enxergar a organização como realmente ela é e principalmente sabermos exatamente o que deveremos fazer para que ela seja duradoura.