A CAVERNA ERA MELHOR?

Por Abel Aquino | 25/11/2009 | Crônicas

 

Abel Aquino

 

Acordei, de manhã, com o som estridente do alarme do relógio. Era um dia da semana qualquer, mas desejei que fosse domingo ou  feriado. Parecia penoso sair das cobertas e levantar. A noite foi fria e meu sono, tão profundo, que tinha a sensação de que dormira pouco demais. Imaginei quantas pessoas não passam, quando acordam, por esse momento de angustia.

Fui ao banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes, sempre pensando nesse conflito entre o desejo de ficar na cama e a obrigação de ter que ir trabalhar. Acredito que muita gente passa o dia carregando esse angustia, sim, o conflito entre desejo e dever permanece como um vaga angustia a dominar todo o  corpo. Quantas pessoas não trabalham mal humoradas e desatentas ao que realizam, simplesmente porque vivem quase que diariamente esse conflito entre desejo e obrigação.

Quem não conhece pessoas que, não só vivem esse sofrimento e, até se deixam dominar por ele, e simplesmente se negam a ir trabalhar. Normalmente chamamos gente assim de “preguiçosa”. Mas, será essa uma boa definição de quem se deixou dominar pelo desejo de não fazer nada  de vez em quando.

Fui para debaixo do chuveiro imaginando que a maioria das coisas que fazemos, ao longo de nossas vidas, são obrigações e, normalmente,  obrigações contrariam desejos.

 

Quais seriam nossas obrigações no tempo das cavernas?

 

 O ser humano teria, já naquela época, presente esse conflito entre a obrigação de sair para caçar alimente e a vontade de ficar dormindo debaixo de uma aconchegante manta de couro de bisão? Ou esse conflito é um mal da modernidade? Imagino que no passado, em qualquer período, enfrentamos a necessidade de procurar coisas para comer, de colher e caçar como parte importante de nossa existência. Não é obrigação, mas necessidade.E quanto tempo de nossas vidas eram dedicadas a esse atividade? Quanto de nosso tempo podíamos gastar tomando banho no lago, andando atrás das fêmeas ou participando de uma roda de homens,  grunhido e gesticulando uns aos outros na tentativa de contar uma aventura passada qualquer?

 Sei que seria difícil quantificar esses tempos, mas obrigações tinham um sentido, possivelmente, menos penoso. Caçar, pescar ou mesmo trepar em árvores são atividades muito mais agradáveis do que simplesmente operar máquinas numa fábrica barulhenta.