A canção do nordestino Vandré

Por Edson Terto da Silva | 01/02/2010 | Arte

A canção do nordestino Vandré

 

 

Edson Silva

 

 

Talvez poucos saibam que Geraldo Vandré gravou a música “Asa Branca”, do “Rei do Baião” Luiz Gonzaga, introduzindo o velho “Lua”, como era conhecido Gonzagão, nos meios universitários. A gravação ao estilo “Vandreniano” é mais dramática do que o “alegre” baião de Gonzaga, que narra todo o drama da seca que anualmente expulsa o sertanejo nordestino de sua querida terra natal. Em 1964, Vandré, que nasceu Paraíba, portanto, um homem de sólida raiz nordestina, embora com carreira artística fixada no Rio de Janeiro, gravou a “Canção Nordestina”, com tema idêntico ao de “Asa Branca”.

 

Se algum leitor tiver curiosidade de ouvir a composição, principalmente a versão gravada em 66, verá que Vandré praticamente declama a música. O acompanhamento é o acorde grave de um violão e identifica-se a utilização de praticamente uma única corda do instrumento. A canção segue como uma triste prece, um apelo ao Criador para que mande a chuva para salvar plantações e vidas de meninos de pé no chão, que já nem sabem mais chorar de tanto sofrimento. Resta então a esperança de que o céu “chore” e molhe a terra, abençoando-os com alguma coisa para comerem.  

 

 A música retrata esperança e fé do povo, algo muito comum no Brasil, não apenas entre os nordestinos, mas em todo lugar onde cidadãos sofrem, seja por flagelos do tempo, como inundações ou secas, ou flagelos sociais, como desemprego, fome, falta de moradia, entre outros. O artista lembra e pergunta o que foi da beleza que havia naquele lugar e não acha justo o esquecimento da gente do lugar, que só quer acabar com a dor no coração e a dor de fome do estômago do povo. Passados mais de 40 anos, só agora alguma coisa está sendo feita mais efetivamente para tentar minimizar a seca em nosso nordeste. Seria, antes tarde do que nunca, um atendimento ao lamento de Vandré ?   

 

“Que sol quente que tristeza/que foi feito da beleza/tão bonita de se olhar
que é de Deus da Natureza/se esqueceram com certeza/da gente deste lugar
Olhe o padre com a vela na mão/tá chamando pra rezar/menino de pé no chão
já não sabe nem chorar/reza uma reza comprida/pra ver se o céu saberá./Mas a chuva não vem não/e esta dor no coração/Aí quando é que vai se acabar,/quando é que vai se acabar?”

 

Edson Silva, 48 anos (8.1.62), é jornalista da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sumaré.

 

Email: edsonsilvajornalista@yahoo.com.br