A caminho de lugar nenhum

Por Rubens Marchioni | 04/01/2011 | Crônicas

Saiu correndo e era como se fosse perder as pernas. Mais do que tudo, havia nele a pressa de chegar. O espaço que o separava no tempo era exíguo.
Para atingir seu ponto de chegada, todos os meios eram considerados lícitos. Pessoas? Ele as atropelava. Animais e plantas, substantivos e verbos? Vencia um a um, impondo a agressividade de suas botas e ambição desmedida.
Chegou mais perto. Mais perto ainda. Conquistou o tempo e reduziu o espaço a di-mensões microscópicas. Comprou. Vendeu. Vendeu-se. Ignorou. Superou. Idolatrou o número 1. Havia um prazo a cumprir e era como se tudo dependesse dessa conquista.
O Natal chegou e se tornou o dia de ontem, as marcas espalhadas pelo corpo e pela vida. O primeiro dia do novo ano se mostrou velho em pouquíssimo tempo. Toda a sofreguidão da conquista, que em seu projeto havia de ser absoluta, logo se mostrou relativa, perdida na rotina de ser tudo como sempre foi: sem sabor e sem vida.
Ficou somente a pergunta, sem resposta, sobre o que havia significado aquela batalha insana da reforma, das compras, das viagens, das palavras mal-colocadas nesse tecido carente de consistência e prestes a romper-se.
Sequer teve tempo de repensar o absurdo da entrega sem medida. Havia na sua frente um novo ano a ser conquistado. Era preciso correr. Avançar numa direção conhecida, que, no entanto, não se renova. Até que a morte venha silenciosa, ceifando Natais, ceifando o presente, ceifando o olho cego e absurdo que distorceu o propósito do futuro.