A Cabala Na Ceia de Leonardo da Vinci

Por Eucajus Eucajus Eugenio | 03/08/2011 | Literatura

A Cabala na Ceia de Leonardo da Vinci

O visível impera como forma de fixação da experiência em todos os seus elementos constitutivos, e com ele uma nova forma física irá impor-se sem eximir as formas. Mas poderá ser ele considerado um obstáculo, como pretende Mondzain, quando sustenta que "o invisível é um termo sobrecarregado de histórias religiosas ou de ideologias, mas como falar do não-visto, ou seja, daquilo que não está escondido, oculto e impenetrável, mas de que estamos incumbidos de aprender a ver? O não-visto está diante de nós, manifesto; que quem tenha olhos se torne apto para olhar".

Ao revelar a Cabala na Última Ceia de Leonardo da Vinci e realizar a leitura dos símbolos que atestam "Salai" como a identidade secreta de Mona Lisa, Eucajus, autor de Ordem dos Fantasmas propõe uma experimentação imaginária, que não pode deixar de nos interessar. Trata-se de mostrar que tal como o espiritualismo absoluto pôde criar no real as suas alucinações ou êxtases, afetando-o pontualmente, agora o próprio real pode ser produzido através do espiritual ou do invisível. A partir de dentro pode-se interpretar o exterior. Como ele afirma: "Ouvir com os olhos e ver com os ouvidos". Se fossemos cegos e surdos e desprovidos de sentidos e, ao invés disso, a nossa alma fosse completamente aberta, se nosso espírito fosse o equivalente daquilo que agora é o mundo exterior, o corpo estaria em nosso poder, seria uma parte do nosso mundo interior, à semelhança do que agora sucede com a nossa alma.

Foi da vontade de ver, espíritos, anjos e outros seres opticamente translúcidos, invisíveis, que se originaram as nossas máquinas e, de certo modo, toda a tecnologia.
Se no livro, o real e irreal se confundem, o mesmo ocorre com a forma e a matéria. Como se estivesse em curso uma paradoxal materialização da forma. Nem matéria nem forma, o que está em causa é o surgimento de estados intermédios, em que o híbrido domina.

A construção textual do citado livro é preciosa. Deixamos de lado a harmonia final da narrativa e passamos de uma história dominada pela desarmonia parcial para a harmonia parcial, ou seja, do domínio da consagração mística para o das ciências e das artes. Isso ocorre por que na magia o corpo serve a alma ou o mundo dos espíritos. (Loucura - exaltação). A loucura coletiva deixa de ser loucura e converte-se em magia, loucura submetida pelas regras, torna-se ela própria uma maneira de regular as passagens entre visível e invisível. Afinal no texto bíblico sobre a Santa Ceia o pote de sal não é citado, nem mesmo a localização dos apóstolos é demarcada, ou seja, esquecemos que a pintura é uma representação do artista denominado Leonardo da Vinci, um homem, apenas um homem, passível de ser compreendido.

Tenho certeza que o autor de Ordem dos Fantasmas ilustra as palavras de Oscar Wilde: "O mistério do mundo está no visível, não no invisível".

Saiba mais sobre esse belíssimo livro em: ordemdosfantasmas.blogspot.com