A bruxa e os dois valentões

Por Sandra Oliveira | 03/02/2010 | Contos

Já passava das dez de uma noite fria de inverno,quando aqueles dois homens começaram á contar alguma passagem “corajosa” de suas vidas.Claro que toda essa conversa era regada com muita bebida,afinal estava um frio de rachar e era preciso aquecer o sangue para ter a lingua  e a imaginação soltas.

José, deu inicio à prosa e contava  com detalhes como tinha enfrentado dois peoões de boiadeiro  que  havia conhecido numa viagem que fez ao Mato Grosso.Os dois estavam armados de peixeiras  e estavam procurando briga por conta da raiva de terem sido ludibriados pelo ex- patrão.Meio cambaleante,esforçava-se para não cair ,mas gesticulava tentando mostrar ao companheiro como que em um só golpe desarmou os dois.

João não podia deixar por menos e começou a contar como “jantou” uma sucuri de dez metros que cruzou com ele enquanto nadava num rio do mesmo Mato Grosso.Enquanto contava mostrou a cicatriz  da “mordida” que a bicha tinha lhe dado antes de virar jantar.

Passaram muito tempo nesta espécie de competição até que o dono da birosca onde estavam,resolveu deixar a coisa mais interessante,propôs aos dois valentões um desafio.Aquele que conseguisse fincar um prego preparado e marcado por ele, no tumulo de D. Jacira,ainda naquela noite, seria o vitorioso e o premio seria um ano de pinga de graça na sua  birosca.

Os dois ficaram muito entusiasmados com a  proposta e já estavam se preparando para sair quando lembraram da lenda á respeito de D.Jacira.Quando era viva, essa senhora era conhecida como bruxa,talvez por viver em companhia de uma de uma velha muito feia que falava sozinha e brigava com as crianças que rondavam sua casinha.

Quando a velha morreu, as pessoas da vila diziam que se ouviam gritos e podia ,quem tivesse coragem,ver uma porção de fantasmas em volta da casa.Por isso a fama de bruxa passou para D. Jacira que não fez nenhum esforço para mudar esse quadro, e ao morrer os gritos, os fantasmas e as coisas  estranhas dobraram de intensidade,segundo a língua do povo.Ninguem tinha coragem de chegar perto da casa das velhas tampouco perto de seu tumulo,pois os quatro homens  que carregaram  o caixão de D.Jacira em menos de seis meses morreram subitamente.

Nem José nem João podiam voltar atrás ,ficariam desmoralizados,conhecidos como covardes em toda a vila.

Com o prego e martelo na mão saíram para cumprir o tal desafio,mas nem toda cachaça que  beberam foi  o suficiente para aumentar  a coragem dos dois.

No caminho tiveram a idéia de dividir o premio sem que ninguém soubesse,tirariam a sorte na moeda e o vencedor ficaria de guarda ,para o caso de uma necesidade,enquanto o perdedor iria pregar o prego na cruz do tumulo.Moeda jogada e José teria que usar o martelo enquanto João ficava no portão de guarda.

O medo tomou conta de José e o efeito das pingas  mais a escuridão e o cantar das aves noturnas não permitiu que José visse que ao bater o martelo no prego ele pregava junto uma parte de sua camisa.Ao tentar se levantar para sair,provavelmente deve ter pensado que a  alma da bruxa o estava segurando e aí depois de um grito terrível seu coração não agüentou e parou.João  ao ouvir seu amigo ,correu ao seu encontro e vendo o companheiro sem vida correu o mais que pode.Dominado pelo pavor não reparou que seu paletó enroscou na grade do portão,que ironia,João teve o mesmo fim,e assim os dois valentes amigos passaram á ser m ais duas vitimas  das bruxas da vila.