A BIOLINGUÍSTICA E O PROGRAMA MINIMALISTA

Por José Maurício SDS | 24/04/2023 | Educação

A Biolinguística conduz o Programa Minimalista (doravante PM) positivamente em direção aos universais linguísticos. Em texto de Chomsky (2004) em que se discute a Biolinguística 2 e de como surgiu essa linha de pensamento, observa-se que tal perspectiva tem início nos anos de 1950 com influência da evolução da biologia e matemática nos anos iniciais do pós-guerra junto com a etologia iniciada nos EUA. A pergunta é: o que esses acontecimentos teriam a ver com o PM? Em suas palavras recentes em 2021, Chomsky afirma que o PM é uma extensão natural do trabalho anterior, referindo-se aos Princípios e Parâmetros inseridos na Gramática Universal. Uma busca na tentativa de capturar o rico e diversificado fenômeno da linguagem em que se tem o PM como parte do avanço da Ciência da Linguagem. Neste ensaio, busca-se abordar aspectos que perfazem a Biolinguística, sua importância para o Minimalismo e os três fatores no desenho da linguagem descritos por Chomsky, o PM dentro da tese inatista da linguagem e os modelos de arquitetura da linguagem com suas diferenças após o PM. Chomsky, em visita ao Brasil em 2004, ao levantar questões como até que ponto os princípios da linguagem, incluídos outros que vieram à tona na época, são os únicos ligados a este sistema cognitivo, ou se arranjos formais semelhantes são encontrados em outros domínios cognitivos humanos ou em outros organismos não humanos, demonstra preocupação em fortalecer a ideia do inatismo linguístico, uma vez que já haviam críticas contundentes à GU.3 Verifica-se nessa posição um retorno ao problema de Platão sobre a linguagem, assim como à retomada da Gramática de Port Royal, preterida desde o advento do Estruturalismo de Saussure. Seguindo nessa pegada, o pesquisador expõe que há uma questão ainda mais básica do ponto de vista biológico que envolve saber a quanto da linguagem poderia ser dada uma explicação  com princípios e se elementos homólogos poderiam, ou não, ser encontrados em outros domínios ou organismos. Nesse sentido, Chomsky assevera que os esforços para afiar e investigar essas questões à linguagem foi denominado de PM (HORNSTEIN; NUNES; GROHMANN, 2005), uma vez que se procurava expandir modelos explicativos em detrimento da exacerbação descritiva encontrada no modelo anterior, sempre criticado pelos funcionalistas e estruturalistas, assim como os que defendem a linguagem estritamente como objeto de estudos conexionistas, por exemplo. Vemos que o cientista se refere a esse fato como sendo sua ocorrência nos últimos anos relacionados à época de sua apresentação, e que ainda perdura com a atualização da teoria de Princípios e Parâmetros (P&P) com foco na explicação e aceitação da propositura de que tudo parte da linguagem interligada ao léxico. Ainda conforme suas palavras, se constata que os questionamentos se direcionam a qualquer sistema biológico, independentemente da persuasão da teoria, seja na linguística e alhures a partir de um ponto de vista biolinguística. Qualquer que sejam as respostas a esses questionamentos mencionadas pelo linguista americano, deve ser observado que elas passam a ser fundamentais à compreensão da natureza e a funcionalidade dos organismos e seus subsistemas, assim como para o caráter investigativo relacionado ao seu crescer e evoluir, vistos do ponto de vista da Biologia. É nesse sentido que se pode separar o que é humano e o que não é em relação à língua(gem) e a fala com suas variações na realização da língua dentro de aspectos de escolhas operadas por um componente computacional que interliga o sistema articulatório perceptual e o sistema conceitual intencional, a partir dos quais, se encontra a arquitetura da linguagem sob a existência de uma linguagem com representação fonética e lógica conectadas ao processamento do léxico. No que apresenta Chomsky, em suas palavras envolvendo os P&Ps 4 sob uma visão minimalista, significa que, qualquer que seja o sistema biológico, a que se inclui a linguagem, a pergunta crítica ou geral e única, a ser elaborada diz, a respeito do PM, se esse seria passível de ser seguido produtivamente, ou se seria prematuro a afirmação de seu funcionamento à época muito criticado. Nesse sentido, sobre o contexto da linguagem enquanto inata ao homem, Chomsky acrescenta que uma língua é um estado da faculdade da linguagem, uma linguagem I. Tecnicamente é sobre ela que se assentada a GU e os universais linguísticos inerentes apenas aos humanos. Nesse caso, observa-se a aceitação de que há uma Gramatica Gerativa em que se  faz a distinção entre competência (o conhecimento de compreensão que possui um falante) e performance (o que ele/ela faz com seu conhecimento e compreensão). Partindo desses pressupostos, compreende-se que Chomsky busca uma viabilização para o PM. A própria bifurcação em que se encontram a competência e a performance, assim como, as distinções existentes a partir do léxico ao alimentar os componentes computacionais da linguagem, parece demonstrar um viés não apenas formal da língua e da linguagem, mas uma aproximação ao que defende o estruturalismo que encontra na Linguística uma Ciência Social. Nesse ponto de vista, parece não haver negação por parte de Chomsky do que se costuma acreditar quanto a interação social para que a língua e a fala concretizem a linguagem que há na mente humana. Essa constatação é elencada do fato de, embora a FL chegue a um estágio final (FLf) não sujeita a modificações naturais posteriores, pode haver perdas e ganhos em relação ao léxico. Entretanto, observa-se uma suposição por ele feita quanto à Faculdade da Linguagem ter propriedades generalizadas como em outros sistemas biológicos, o que certamente não é aceitável de um ponto de vista apenas social da linguagem, língua e fala. Então, infere-se que é a partir dessa suposição que o linguista afirma ser necessário a busca por três fatores que estão inseridas, ou que entram, no crescimento da linguagem no indivíduo, que seriam: a doação genética, a experiência e os princípios (CHOMSKY, 2005). Mesmo com a atualização da teoria da GG ser uma constante, partindo-se desses três aspectos, observa-se que Chomsky abre maiores possibilidades de iniciar uma modificação com aprofundamento em sua teoria dos P&Ps, e o faz com a inserção do PM. No primeiro caso, Chomsky coloca essa caraterística como sendo com aparência uniforme em que há a interpretação parcial do ambiente, o que causa a determinação geral em curso do desenvolvimento da Faculdade da Linguagem, podendo haver mudanças até certo ponto da GU. É nesse contexto que o pesquisador afirma poder haver a imposição de limites computacionais trazidos por alguns dos elementos genéticos. Entretanto, essas limitações desaparecem por meio da maturação genética. Assim, as mudanças que ocorrem ao longo do tempo permanecem no domínio do léxico. No segundo fator, expõe questões de variação como ocorre em qualquer subsistema da capacidade do ser humano e dos organismos de maneira geral. É nesse caso em que se inserem a experimentação linguística fora da mente, mas em conjunto com seus sistemas computacionais que são interligados a partir do léxico com passagens pela representação fonética e a representação lógica. Assim, pode-se inserir nessa abordagem a sintaxe visível e a sintaxe não-visível sob a intercessão do Spell-out por meio de input e output. [...]

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