A Beleza como Causa do Encantamento do Sujeito
Por David Lutango | 03/10/2019 | FilosofiaA BELEZA COMO CAUSA DO ENCANTAMENTO DO SUJEITO
1. INTRODUÇÃO
A Beleza sempre foi um tema presente na história do pensamento. Desde sempre, o homem foi submetido ao encanto que a natureza proporciona, levando-o a se posicionar no mundo de tal forma que este encanto pudesse se manifestar ao longo da sua vida. Este artigo pretende pensar a Beleza como um aspecto presente na vida humana, reflectindo como ela se manifesta e o que condiciona sua manifestação no âmago humano.
2. IDEIA DE BELEZA
A Beleza é um aspecto real capaz de se mostrar em qualquer lugar da natureza. O vento na praia bafejando sobre os cabelos e o prazer da água fresca em um dia arquitectado pelo sol que queima sem dó são provas de como o mundo foi arremessado para nós pela mais densa Beleza que teima na perfeição. Podemos encontrar a Beleza em cada revelação da vida, dependendo do encantamento pelo qual somos sujeitos. Ora, o encantamento é o atributo primordial da Beleza. Mas o que é a Beleza?
A Beleza pode ser entendida como o encantamento que nos é proporcionado pelas coisas quando a Beleza se manifesta nelas. Pode ainda ser colocada na condição de um sentimento, podendo ser compreendida como a alegria que sentimos pelas coisas. A Beleza sistematiza-se então como um aspecto real, uma vez que pode estimular o sujeito quando este é apanhado pelo seu prazer e pelo seu encantamento.
A Beleza pode então ser definida como um estado de contentamento do ser. Neste sentido, podemos nos encantar com a natureza, com uma música, com um objecto ou com uma pintura por exemplo, aspectos da realidade nas quais a Beleza se manifesta ao ponto de nos causar algum encantamento.
2.1. O Belo
O belo pode ser visto como o objecto através do qual a Beleza se manifesta. Uma poesia pode ser bela, um objecto pode ser belo e podemos encontrar o belo num elemento da natureza. Porém, um dado da realidade só se torna belo no momento em que nele é percebido o encantamento da Beleza; ou seja, só podemos dizer que algo é belo, quando nele experimentamos o encantamento e o prazer que justificam a Beleza.
2.2. Encantamento e Prazer
O encantamento, condição indispensável para a Beleza, é sempre acompanhado pelo prazer. Isso pode ser visto no mundo da arte. Uma poesia por exemplo encanta nossos sentidos quando, ao lermos seus versos, somos invadidos pelo prazer que ele brota nos solos férteis de nossa essência humana. A música encanta-nos quando, através dela, provamos instantes de um êxtase único que gostaríamos que nunca acabasse.
3. ASPECTOS DA BELEZA
Até aqui podemos perceber que o encantamento proporcionado pela Beleza pode ser experimentada por qualquer um, ou seja, todos somos condicionados a captarmos Beleza à medida que vivemos. Neste sentido, pode-se atribuir, à Beleza, dois aspectos fundamentais: uma subjectiva e outra imperativa.
- Subjectiva: na ideia da Beleza se mostrar diferentemente para cada pessoa, ou seja, nem sempre as pessoas são submetidas ao encantamento pelas mesmas coisas; uma poesia por exemplo pode despertar o encantamento da Beleza numa pessoa e indiferença em outra; ou ainda, a flor que alumia as vísceras visíveis do jardim pode encantar alguns e descontentar outros.
- Imperativa: na ideia de todas as pessoas sentirem o mesmo encantamento, ou seja, embora não nos encantemos pelas mesmas coisas, ainda assim, quando somos apanhados pela Beleza, todos nós experimentamos o encantamento, ou seja, no final todos somos submetidos ao encantamento, mesmo que este encantamento seja causado por coisas diferentes. E não só somos submetidos ao encantamento, como também experimentámos o mesmo encantamento. O encantamento pelo qual uma pessoa é submetida ao contemplar uma flor é o mesmo encantamento que outra pessoa é submetida ao ouvir a quinta sinfonia de Beethoven por exemplo.
A Beleza apresenta-se assim subjectiva em manifestação e imperativa em encantamento. Qualquer coração, possuído pela Beleza, experimenta o encantamento do universo, porém, nem sempre experimentamos este encantamento em uma mesma coisa. Toda Beleza possui o mesmo encantamento que derrete qualquer coração, mas este encantamento manifesta-se singularmente para cada um, o que faz da Beleza subjectiva na forma como se manifesta para o sujeito e imperativa no encanto que causa; em outras palavras: todos somos submetidos ao mesmo encantamento da Beleza (aspecto imperativo da Beleza), mas, devido à nossa individualidade, muitas vezes provamos este encantamento em coisas diferentes (aspecto subjectivo da Beleza).
4. A CONDIÇÃO PARA A BELEZA EXISTIR
A Beleza pode ser encontrada em qualquer manifestação da vida e para que ela nos invada, basta apenas sermos aprisionados pelo seu encantamento. Ou seja, a condição para a Beleza existir é o encantamento. Não existe Beleza sem que sejamos levados pelo encantamento. Este encantamento pode ainda ser descrito como feitiço ou êxtase, uma vez que a Beleza também pode proporcionar um prazer mediante seu encantamento. Neste sentido, pode-se dizer que Beleza é também o prazer que o sujeito experimenta quando encontra o belo, ou seja, quando experimenta o encantamento da Beleza através de um objecto ou aspecto da realidade.
Ora, observa-se assim, a Beleza, como uma questão extremamente ligada aos sentidos; o seu encantamento não é experimentado somente no uso da visão (contemplação), mas pode, do mesmo modo, ser experimentado através do toque e do cheiro de uma flor ou até através da música e do sabor.
5. CONCLUSÃO
Pode-se assim dizer que a Beleza sempre esteve presente, afinal, a natureza sempre foi causa para o encantamento do homem, condição primordial para que a Beleza se manifeste. E ao decorrer dos tempos, o homem foi criando outros aspectos que o pudessem proporcionar prazer, o que resultou na invenção da arte, onde a existência da poesia, da música, da pintura, da fotografia e das outras representações artísticas foi possível, podendo experimentar a Beleza através de todos os seus sentidos.