A BALZAQUIANA
Por Vania Gomes da Silva | 29/04/2010 | ContosAquela era a primeira vez que Rodolfo havia se relacionado com uma mulher mais velha. Rodolfo contava com 35 anos e estava divorciado há cinco anos. Elaine tinha 30, era enfermeira formada, tinha um bom emprego, mas não morava na sua cidade. Morava na capital. Era bem diferente de suas outras namoradas, que não passavam de 23 anos.
Conheceram-se no baile de réveillon do clube. Rodolfo achou-a encantadora e, de fato, pensou que ela tivesse, no máximo, 23, 24 anos. Qual não foi sua surpresa ao saber que Elaine tinha, na verdade, 30! Nesse mesmo baile, o amigo de Rodolfo, Antônio, conheceu a prima de Elaine, Valéria.
Rodolfo estranhou quando pediu o telefone de Elaine e ela recusou-se a dar. "Dê-me você seu número, eu te ligo", disse Elaine, com seu lindo sorriso. E, até as cinco e meia da tarde do dia seguinte, Rodolfo viveu momentos de extrema ansiedade à espera do tal telefonema. Às duas da tarde telefonou para Antônio para saber se ele havia falado com Valéria e disse que Elaine ainda não ligara. Antônio comprometeu-se a mandar um recado para Elaine. A ligação só ocorreu no fim da tarde. Conversaram animadamente pelo telefone e combinaram de almoçar no dia seguinte, na casa de Antônio. Quem sabe não pegavam um cineminha depois?
E foi que aconteceu no sábado. Almoçaram na casa de Antônio e os dois casais seguiram para o cinema. Depois do filme, tomaram um sorvete e Elaine quis ir embora.Precisava arrumar sua mala, pois voltaria para a capital no dia seguinte. Rodolfo convidou-a para jantar, mas Elaine já tinha compromisso com seus familiares. Ofereceu-se para levá-la à rodoviária, mas Elaine já havia combinado de ir com sua irmã e sua sobrinha, pois antes passariam na feira de artesanato da cidade. "Que mulher difícil!" – pensou Rodolfo naquela ocasião, mas conseguiu ter número do telefone celular de Elaine.
Ligava para ela todos os dias. Às vezes, ela não atendia. Geralmente, Elaine assistia alguma cirurgia no hospital. Chegou a ligar para Rodolfo duas vezes, durante a folga do plantão.
No dia em que Rodolfo ofereceu-se para ir até a capital encontrá-la, Elaine disse que não estaria na cidade. Teria compromissos profissionais no sul. Mas se Rodolfo quisesse ir até lá, poderiam passar o fim de semana juntos.
E então Rodolfo viajou para o sul. E foi um fim de semana e tanto! Elaine passava a maior parte do tempo no curso que frequentava, mas à noite, saíam para jantar, bebiam sempre um bom vinho, se divertiam muito e faziam amor. Mas o sábado e o domingo passaram rápido.
Rodolfo continuou telefonando para Elaine diariamente. Estava apaixonado. Nenhuma mulher o fascinara tanto quanto aquela balzaquiana bem resolvida. Elaine contava piadas, vez em quando falava um palavrão, era bem humorada e divertida. Rodolfo tentou, várias vezes, combinar com Elaine de ir até a capital visitá-la, mas sem sucesso. Elaine começou a ser evasiva até deixar de atender por completo os telefonemas.
Rodolfo não conseguia entender a situação. Não se conformava com o fato de ter levado um fora de uma mulher.Era sempre ele que decidia se os relacionamentos continuavam ou terminavam, mas aquele fora tão atípico... Decidiu procurar Antônio. Quem sabe Valéria não poderia dizer alguma coisa? Mas o relacionamento de Antônio com a prima de Elaine também terminara.
Rodolfo decidiu insistir. Não, não se tratava de um fora. "Ela não atende meus telefonemas porque auxilia muitas cirurgias, faz cursos, dá plantões... Vale a pena insistir". Mas e se Elaine tivesse se cansado dele? E se ela o achasse pegajoso, grudento? E se ela tivesse conhecido outra pessoa? Só havia um jeito de saber.
Telefonou para Elaine no sábado à tarde, disposto a colocar os pingos nos is. Afinal, ele era um homem e poderia aguentar qualquer coisa. Estranhamente, uma criança atendeu o celular. Rodolfo perguntou se aquele era o telefone de Elaine. A criança respondeu que sim, mas o telefone foi tomado de sua mão e a voz de uma mulher disse: "Dona Elaine foi às compras com o marido. Gostaria de deixar algum recado?"
Pasmo, Rodolfo agradeceu e desligou. Fora enganado. Aquela balzaquiana doce, divertida e segura o fizera de bobo. Usara-o e dispensara-o com se ele fosse descartável. Estava arrasado. Procurou Antônio e contou-lhe seu infortúnio. O amigo disse apenas: "Estranha essa sua reação, Rodolfo! Durante o tempo em que esteve casado, era assim que você se comportava..."