A AVENTURA DE ASTOLFO
Por Vania Gomes da Silva | 25/04/2010 | Contos- Astolfo, o que lhe aconteceu? – perguntou a mãe, aflita. – Você saiu para colher néctar e demorou tanto para voltar. E ainda voltou assim, sem cauda, meu filho! Algum predador lhe perseguiu?
- Não, mãe – disse Astolfo. Aconteceu-me a coisa mais estranha deste mundo!
Foi então que Astolfo notou que a mãe estava rodeada dos colibris da vizinhança. Colibris nunca se reúnem, mas sua mãe estava tão aflita que toda a vizinhança se achegou para ajudá-la. Todos o olhavam assustados e preocupados. Fitou o rosto de sua mãe e viu uma lágrima sair de seu pequenino olho direito e escorrer pelo biquinho fino, delicado, mas longo.
- Meu filho, nesta temporada de acasalamento, com esta sua aparência, não haverá colibrizinha que queira ser cortejada por você! – disse a mãe preocupada, com os olhos marejados de lágrimas.
- Mãe, se eu ficar uma temporada sem namorada, não tem problema. Eu, por muito pouco, estaria morto!
Ouviu-se um sonoro “Oh!” entre os presentes na ramagem do hibisco. Astolfo continuou:
- Saí para colher néctar. Todos sabem que nesta época é muito difícil conseguir comida. Está muito seco e quase não tem flores. Mas avistei umas flores grandes e belamente coloridas, muito vistosas. E fui até elas. Tive que entrar em uma espécie de túnel para alcançá-las, mas qual não foi minha surpresa ao descobrir que não eram flores de verdade! Eram feitas de um material duro, sem cheiro, sem gosto e não havia sequer uma fontezinha de néctar!
Os outros colibris fitavam Astolfo curiosos. Naquela época do ano era comum depararem-se com flores secas. Mas flores duras, sem nenhum cheiro ou gosto ou sem fontes de néctar secas, era de fato, muito estranho.
- Então quis ir embora. Enchi meus pulmõezinhos de ar e voei. Mas trombei em alguma coisa lisa, fria, dura e transparente. Não sabia o que era. Eu via as árvores, via outros pássaros, via moscas, via gigantes, até ouvia todos os sons do outro lado, mas não conseguia sair. Não consegui encontrar o túnel por onde entrei e foi então que me dei conta de que estava preso em outra dimensão, dentro de um ninho de gigantes...
Ouviu-se um sonoro “Oh!”, seguido de murmúrios. Todos estavam muito curiosos. Acreditavam que existia outra dimensão, mas nenhum colibri conhecido havia conseguido entrar e voltar vivo para contar como era. Astolfo prosseguiu:
- Entrei
- Oh! – exclamaram os outros colibris. Os olhos vidrados em Astolfo.
- A gigante continuava tentando me pegar e eu me esquivava dela de todas as maneiras. Até que ela conseguiu me prender com suas garras. Em vão, tentei agredi-la com meu biquinho. Meu coração nunca havia batido tão forte, em toda a minha vida! “É o meu fim!” – pensei.
- Mas como você conseguiu escapar da gigante, Astolfo? – perguntou, curioso, seu irmãozinho mais novo.
- Isso é que é estranho. Quando dei por mim, vi na minha frente o túnel por onde havia entrado. De repente, a gigante estava com as garras abertas e, num reflexo, voei com toda a velocidade de minhas asinhas! E alcancei novamente essa dimensão. Nunca voei tão rápido em toda a minha vida. Agora estou em segurança...
Todos os colibris do hibisco viram o estado físico de Astolfo. As penas de seu corpinho delgado estavam arrepiadas e sem brilho e sua cauda não tinha uma penugem sequer. A mãe de Astolfo estava orgulhosa da bravura do filho:
- Astolfo, nunca antes na história de nosso hibisco um colibri conseguiu voltar vivo de outra dimensão. Você é um colibrizinho iluminado, meu filho!
As colibrizinhas presentes naquele ramo do hibisco olhavam Astolfo com admiração. Bia, a colibrizinha mais bonita do hibisco, trouxe para Astolfo um pedaço de folha com uma gotinha de água:
- Eu vi um gigante jogando água na folhagem do outro lado. Trouxe para você, Astolfo!
Astolfo bebeu a água, agradecido. Até aquele dia, Bia o desprezara. Agora, servia-lhe água.
- Astolfo, gostaria vir para o meu ninho nessa temporada de acasalamento? – indagou Bia piscando os olhinhos brilhantes.
- Oh, claro que sim, Bia! – disse Astolfo com um sorrisinho feliz.
Moral da história: A bravura e a coragem valem mais do que a beleza.