A Atuação do Profissional de Enfermagem Frente ao Idoso Portador de Parkinson
Por Mirtes Catarina Guilleminot Alves de Udaeta | 05/06/2009 | SaúdeResumo
A investigação exploratória foi realizada com o objetivo de enfatizar a atuação do profissional de enfermagem na prestação de cuidados ao portador da Doença de Parkinson, visto que essa é uma patologia que acomete exclusivamente idosos e estima-se um crescimento considerável dessa faixa etária. Cabe aos profissionais de saúde melhorar a qualidade de vida do paciente no que diz respeito às manifestações clínicas. Diante de tal patologia o enfermeiro vem atuando de forma ativa para que o paciente possa ter a progressão mais lenta da doença e ao mesmo tempo auxiliar para que o mesmo possa ter seus hábitos de vida preservados.PALAVRAS CHAVE: Parkinson, Idoso, Enfermagem, Patologia, Assistência.
Introdução
Filho (2000) denomina a doença de Parkinson como: Paralisia Agitante ou Parkinsonismo Idiopático e afirma que esta é uma das mais freqüentes doenças degenerativas do SNC.
Para Goldman e Bennett (2001), o parkinsonismo é uma síndrome clínica que apresenta os primeiros sintomas aos 55 anos de idade e cerca de 1% dos indivíduos com 60 anos ou mais apresenta a doença, onde os homens são mais acometidos que as mulheres.
Dado o crescente envelhecimento da população mundial, estima-se que, em 2020, mais de 40 milhões de pessoas no mundo terão desordens motoras secundárias à DP já que é uma doença que acomete os idosos (ALVARES et al, 2007 apud MORIS 2000).
O apoio da família é essencial para que o paciente viva melhor com a doença de Parkinson. "Muitas vezes a família acha que o idoso está com má vontade, preguiça, fazendo birra". "Mas é importante que a família entenda que o doente de Parkinson não tem controle sobre seus movimentos e que a doença é flutuante. De um momento para o outro o idoso pode passar da mobilidade para a imobilidade".
Etiologia
Embora várias hipóteses estejam sendo atualmente investigadas, a etiologia da DP permanece desconhecida. Os fatores genéticos são cada vez mais apontados como importantes na patogenia da DP (GOLDMAN; BENNETT, 2001).
Nitrini e Bacheschi (1991) discordam relatando que a doença de Parkinson não tem causa conhecida e atinge homens e mulheres, geralmente a partir dos 50 anos de idade, sendo uma das condições neurológicas que mais acomete a população, sem estar aparentemente ligada a condições genéticas.
Patogenia
Steves e Lowe (2002) destacam que no paciente acometido pelo Parkinson os neurônios dopaminérgicos presentes na substancia negra, contendo neuromelanina, projetam-se para o Striatum, e sua degeneração na doença de parkinson está associada a uma redução do conteúdo estriatal de dopamina.
O mesmo autor ainda acrescenta que a intensidade da síndrome motora é proporcional à deficiência de dopamina, pois o Striatum propriamente dito não é o principal alvo da doença, mas sim a dopamina, a L-dopa é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica.
Goldman e Bennett (2001), mostram que para que os sintomas da DP tornem se evidentes, é necessário que haja a perda de pelo menos 80% desses neurônios dopaminérgicos na substância negra e o mesmo grau de depleção de dopamina no estriatum.
Manifestações Clínicas
Netto e Brito (2005) concordam com Goldman e Bennett (2001) quando diz que o início da DP dar-se após os 50 anos de idade com evolução lenta e quase sempre progressiva.
A disfunção olfatória é um dos sinais mais prevalentes na DP, ocorrendo em 70 a 90% dos casos, embora apenas 28% dos pacientes relatem essa queixa. Observam-se alterações de discriminação, identificação e limiar olfatório. A hiposmia é um dos sinais que pode anteceder os sintomas motores na DP (QUAGLIATO; VIANA; SIMIS, 2007 apud KATZENSCHLAGER, 2004).
Filho (2000) define as características clínicas como sendo: tremores musculares rítmicos e rígidos, diminuição dos movimentos voluntários e tremores de repouso.
Freitas et al (2006) acrescenta que o portador de tal patologia ainda pode apresentar alterações da postura, acompanhadas da face inexpressiva e em alguns casos podem exibir quadro demencial semelhantes ao da DA.
A DP é caracterizada por distúrbios motores e disfunções posturais. Os principais distúrbios motores são a bradicinesia (lentidão do movimento), hipocinesia (redução na amplitude do movimento), acinesia (dificuldade em iniciar movimentos), tremor e rigidez, além de déficits de equilíbrio e na marcha
No que diz respeito à marcha do paciente com DP, Netto (2005) destaca que a mesma acontece em bloco, não apresenta dissociação de cintura (tanto pélvica, como escapular), há uma importante diminuição do balanço automático dos braços; os passos são pequenos e, devido à postura fletida, ocorre tendência à queda para frente, de modo que os passos se tornam cada vez mais rápidos, como se tentassem alcançar seu centro de gravidade deslocado para frente. O paciente tem dificuldade tanto para iniciar a marcha como para parar, desenvolvendo-a em um padrão anormal.
Cardoso et al (2002) acrescenta que outro prejuízo importante que o portador da DP pode ser acometido é quanto à alimentação, quando o mesmo começa a apresentar sintomas de disfagia orofaríngea, sendo esta uma complicação de prejuízo no transporte do bolo alimentar resultantes do aumento do tempo do transito orofaríngeo e alterações na mobilidade laríngea, podendo também, está associada às alterações funcionais em esfíncter esofágico inferior, comprometendo o estado nutricional e a qualidade de vida desses indivíduos em casos mais severos.
Tratamento
Ainda não existem medicamentos capazes de interomper o curso da doença nem de evitá-la; os existentes visam ao controle dos sintomas com o objetivo de manter o portador com autonomia, independência funcional e equilíbrio psicológico, o que se obtém com a reposição de dopamina estriatal. A administração de levodopa é a terapia medicamentosa mais recomendada no controle satisfatório dos sintomas. Porém, à medida que a doença progride, torna-se necessário aumentar a dose e diminuir o intervalo das tomadas. Embora a levodopa permaneça como recurso de primeira linha no tratamento da DP, em longo prazo surgem limitações ao seu emprego, representadas por perda da eficácia, flutuações do desempenho motor e alterações mentais. Geralmente é necessário associar outros medicamentos para potencializar a ação da levodopa ou para combater efeitos colaterais, como: náuseas, vômitos e arritmias cardíacas (GOLÇALVES; ALVARES; ARRUDA, 2007 apud LIMONGI, 2001).
Quando o paciente não responde mais a fármaco-terapia, o tratamento neurocirúrgico é utilizado, como a talamotomia ou palidotomia. Outra técnica neurocirúrgica utilizada é a estimulação cerebral crônica aplicada no tálamo, globo pálido ou núcleo subtalâmico, com a vantagem de ser reversível, caso ocorram manifestações adversas (GOLÇALVES; ALVARES; ARRUDA, 2007 apud MENESES; TEIVE, 1996).
Entretanto, remédios e cirurgias não são os únicos recursos para combater os sintomas; são de extrema importância: os cuidados de enfermagem, de educação física, de fisioterapia, fonoaudióloga e terapia ocupacional, entre outros, desenvolvidos tanto individualmente quanto em grupo, para restituição possível da capacidade funcional, do bem-estar e da qualidade de vida (GOLÇALVES; ALVARES; ARRUDA, 2007 apud CALDAS, 2004).
Diagnóstico
A DP tem sido considerada afecção predominantemente motora, baseando-se seu diagnóstico na presença de tremor em repouso, rigidez, bradicinesia e, na fase avançada, alteração dos reflexos posturais. Há mais de duas décadas são descritas na DP disfunções sensoriais com intensidade variáveis. Olfação, sensibilidade visual ao contraste, percepção visual de cores, propriocepção e controle motor podem apresentar anormalidades, mas devido à prevalência variável, algumas dessas alterações não preenchem os requisitos de um marcador precoce na DP (QUAGLIATO; VIANA; SIMIS, 2007 apud DOTY; BROMLEY; STERN, 1995).
O diagnóstico da DP é estabelecido com a presença de dois dos principais sinais: temor de repouso, rigidez muscular, bradcinesia e alterações posturais, acrescidos de assimetria do quadro e da resposta inicial a uso de levadopa. Mas o estudo clínico do paciente ainda é condição essencial para o correto diagnóstico (GONÇALVES; ALVARES; ARRUDA, 2007 apud REIS, 2002).
Processo de Enfermagem
Histórico
Meneses e Teive (2003) afirmam que o primeiro passo do profissional de enfermagem é focalizar como a doença afetou as atividades da vida diária e capacidades funcionais do paciente. Os pacientes são observados para o grau de incapacidade e para as alterações funcionais que ocorrem durante o dia, como as respostas ao medicamento.
Smeltzer e Bare (2002) dizem que quase todo paciente com um distúrbio de movimento apresenta alguma alteração funcional e pode exibir algum tipo de disfunção comportamental.
Durante essa avaliação, a enfermeira observa o paciente quanto à qualidade da fala, perda da expressão facial, déficit de deglutição, tremores, lentidão dos movimentos, fraqueza, postura anterógrada, rigidez, evidência de lentidão mental e confusão (IDEM).
Diagnostico de Enfermagem (NANDA)
Seguindo as idéias do Nanda os principais diagnósticos de enfermagem do paciente podem incluir os seguintes:
·Mobilidade física comprometida relacionada com rigidez muscular e fraqueza motora;
·Déficits de autocuidado relacionados com o tremor e o distúrbio motor;
·Constipação relacionada com o medicamento e atividade reduzida;
·Nutrição alterada, ingestão menor que as necessidades corporais , relacionados com o tremor, lentidão na alimentação, dificuldade na mastigação e deglutição;
·Comunicação verbal prejudicada relacionada com o volume diminuído e lentidão da fala, incapacidade para mover os músculos faciais;
·Enfrentamento ineficaz relacionado com a depressão e disfunção decorrente da progressão da doença;
Planejamento e Metas a serem cumpridas
Nettina (1996) relata as metas para que possam ser cumpridas ao paciente de parkinson como sendo: melhora da mobilidade funcional, manutenção da independência nas atividades da vida diária, obtenção da eliminação intestinal adequada, obtenção e manutenção do estado nutricional aceitável, obtenção da comunicação efetiva e desenvolvimento de mecanismo de enfrentamento positivo.
Considerações Finais
Quanto ao papel do enfermeiro diante da assistência de enfermagem ao portador de DP, inicialmente a percepção destes, era uma visão apenas hospitalar. Sabe-se hoje em dia que o enfermeiro pode realizar todos os cuidados para que os sujeitos possam encarar a doença de uma forma menos agressiva, bem como encaminhar ou orientar cuidados de forma humanística e integral.
Sugere-se uma atuação da equipe interdisciplinar incluindo o enfermeiro na realização dos cuidados com o portador, principalmente nos cuidados preventivos diante dos agravos da doença.
Referencias
CALDAS, C.P. A saúde do idoso: A arte de cuida r. Rio de Janeiro: EDUERJ; 2004.
CARDOSO, M.C.A.F et al.Aplicabilidade de Técnicas Vocais em Casos de Disfagia Orofaríngea. Pró-Fono Revista de Atualização Cientifica, v.15, n.2, p. 125-138, 2003.
DOTY, R.J; BROMLEY, S.M; STERN, M.B. Olfactory testing as na aid in the diagnosis of parkinson disease: development optimal discrimination criteria. Neurodegeneration 1995; 4: 93-97.
FILHO, Geraldo. B. Bogliolo de Patologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2000.1328p.
FREITAS, Elizabete A. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2006. 1573p.
LIMONGI, J.C.P. Conhecendo melhor a Doença de Parkinson: uma abordagem multidisciplinar com orientações práticas para o dia-a-dia. São Paulo: Plexus; 2001.
MENESES, M.S; TEIVE, H.A.G. Doença de Parkinson: Aspectos clínicos e cirúrgicos. Rio de Janeiro: Guanbara Koogan; 1996.
MORIS ME. Movement Disordens in people with Parkinson disease: A model for physical therpy. Phys Ther. 2000; 80 (6): 578-97.
NETTINA, Sandra M. et al. Prática de enfermagem. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
NETTO, Matheus P.; BRITO, Francisco C. Urgências em Geriatria. 1 ed. São Paulo: Atheneu. 2001.476p.
NITRINI, R.; BACHESCHI, L.A.; A neurologia que todo médico deve saber. São Paulo: Atheneu, 1991.; OLIVEIRA,P.P. Xerostomia: sensação ou hipoproducao das glândulas salivares. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, V. 15, N.2, P.125-138, 2003.
REIS T. Doença de Parkinson: pacientes, familiares e cuidadores. Porto Alegre: Pallotti; 2004.
SMELTZER, S. C.; BARE, B.G. Brunner e Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgica. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
STEVES, Alan; LOWE, James. Patologia. 2 ed. São Paulo. Manole. 2002.655p.
KATZENSCHLAGER R, Lees. Olfation and Parkinson syndromes: its role in differential diagnosis. Curr Opin Neurol 2004; 17: 417 – 423.