A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FRENTE AO PACIENTE COM CÂNCER DE PRÓSTATA: DIAGNÓSTICOS E INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM

Por JULIANA DOURADO | 18/11/2022 | Saúde

JULIANA DOURADO DE ARAÚJO[1] 

RESUMO: A pesquisa a respeito da atuação do enfermeiro frente ao paciente com câncer de próstata, com enfoque na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), foi delimitada conforme as necessidades desses pacientes, de receberem as intervenções de enfermagem para a prevenção de agravos e recuperação da saúde, além de conhecer a importância da atuação do enfermeiro nesse processo, visando à melhoria da qualidade do cuidado. 

Dentro desse contexto se faz necessário investigar se a assistência prestada ao cliente está sendo norteada pela SAE para diagnosticar, implementar e intervir. Isso porque a SAE garante que a assistência seja completa, desde que seguidas todas as suas etapas, pois uma assistência de qualidade é de suma importância para a recuperação dos pacientes.

Palavras-chave: Câncer; Enfermeiro; Câncer de Próstata.

INTRODUÇÃO 

O interesse em pesquisar a respeito da atuação do enfermeiro junto ao paciente com câncer de próstata surgiu no decorrer da Graduação em Enfermagem, quando se viu a necessidade de um melhor acompanhamento desses pacientes. Além disso, durante o evento intitulado Novembro Azul, despertou-se mais ainda o interesse, ao se perceber que a incidência do câncer cresce a cada ano, tanto no Brasil como em outros países, se tornando um problema de saúde pública devido às altas taxas de mortalidade. Tal problema se deve principalmente ao aumento da expectativa de vida e da mudança do estilo de vida da população.

Os tipos de câncer mais incidentes na população masculina, com exceção do de pele do tipo não-melanoma, são o de próstata, pulmão e estômago. O câncer de próstata é um dos mais frequentes tumores no sexo masculino, sua evolução é lenta e normalmente são necessários cerca de 15 anos para atingir 1cm³. Manifesta-se preferencialmente a partir dos 60 anos, pois é considerado típico da terceira idade. Por não apresentar sintomatologia na fase inicial da doença os casos são diagnosticados em estádios avançados, quando surgem os primeiros sintomas (INCA, 2008).

As formas existentes para diagnóstico do câncer de próstata são o exame de Toque Retal e a dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA). Existe um grande preconceito entre os homens com relação ao exame de Toque Retal, que os impedem de procurarem os serviços de saúde para a investigação da doença e consequentemente acabam por não se submeterem ao exame, incluindo o de PSA (PAIVA, MOTA e GRIEP, 2011).

A partir dessas observações, o Ministério da Saúde implantou o Programa de Atenção à Saúde do Homem e o Programa de Controle de Câncer de Próstata, este pela Lei n° 10.289 de 20 de setembro de 2001, que visa proporcionar uma melhor assistência em saúde, conscientizar essa população sobre os tipos de doenças a que estão expostos e suscetíveis e as formas de prevenção e tratamento existentes e disponíveis.

Nesse contexto, o enfermeiro possui um papel fundamental na promoção da saúde e prevenção de doenças, como educador, para orientação da comunidade sobre os problemas de saúde que mais afetam cada tipo de população. Segundo a Lei n° 7.498 de 25 de junho de 1986, art. 11, inciso II, alínea “j”, compete privativamente ao enfermeiro como integrante da equipe de saúde a educação visando à melhoria de saúde da população. Sabe-se também que compete ao enfermeiro a consulta de enfermagem, a prescrição da assistência de enfermagem e os cuidados diretos ao paciente (BRASIL, 1986).

A Resolução COFEN n° 358/2009 dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) que deve ser organizada de forma deliberada e sistemática, e a implementação do Processo de Enfermagem que organiza-se através de cinco etapas: coleta de dados, diagnósticos, planejamento, implementação e avaliação do planejamento.

Uma das formas de se elaborar os diagnósticos de enfermagem é por meio da identificação das necessidades humanas básicas (NHB) não satisfeitas. A teoria das NHB foi utilizada por Wanda Horta (1979) a partir da tese de Maslow que afirma a hierarquia das NHB é uma teoria que os enfermeiros podem utilizar, ao proporcionarem os cuidados para compreender as relações entre as NHB. Conforme essa teoria, certas necessidades humanas são mais básicas do que outras, ou seja, algumas necessidades devem ser atendidas antes de outras (NEVES, 2006).

Visto que mesmo existindo campanhas preventivas do câncer de próstata, a sua incidência aumenta a cada ano, e, portanto esses pacientes diagnosticados necessitarão dos serviços de saúde, para o tratamento, e consequentemente necessitarão de uma assistência de enfermagem. Uma assistência que seja orientada pela SAE, de forma humanizada, e que garanta a resolução das suas necessidades biopsicossociais.

Diante da importância de se oferecer aos pacientes em tratamento de câncer de próstata uma assistência sistematizada, pautando-se nos princípios do processo de enfermagem, entende-se ser importante identificar diagnósticos de enfermagem nestes pacientes em tratamento, como subsídios para a elaboração de planos de cuidados e, assim, contribuir para um melhor atendimento das necessidades dos mesmos em relação aos cuidados recebidos no hospital. O estudo tem objetivo de conhecer a atuação do enfermeiro frente ao paciente com câncer de próstata, por meio da análise da sistematização da assistência de enfermagem registrada nos prontuários.

 

PROBLEMÁTICA DO CANCER

 

A morbimortalidade do câncer de próstata tem sofrido alterações nas últimas décadas. Segundo o INCA a estimativa para 2005 era de 46.330 casos, correspondendo a 51 de 100 mil homens. Já para o ano de 2014 a estimativa foi de 68.800 novos casos. No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melanoma), cerca de 1,1 milhão de casos novos no ano de 2012. Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total de cânceres. Sua taxa de incidência é cerca de seis vezes maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento, representando uma taxa de 70% de casos diagnosticados. Esse aumento pode ser reflexo, em grande parte, das práticas de rastreamento pelo teste do PSA (GOMES et al., 2008; INCA, 2014).

No Brasil, o câncer de próstata é o mais incidente entre os homens, em todas as regiões do país, com 91,24/ 100 mil no Sul; 88,06/ 100 mil no Sudeste; 62,55/ 100 mil no Centro-Oeste; 47,46/ 100 mil no Nordeste e 30,16/ 100 mil no Norte. As altas taxas de incidência pode ser devido ao aumento da expectativa de vida, a melhoria e a evolução dos métodos diagnósticos e da qualidade dos sistemas de informação do país, a ocorrência de sobrediagnóstico relacionado com a disseminação do rastreamento do câncer de próstata com PSA e Toque Retal (MEDEIROS, MENEZES e NAPOLEÃO, 2010).

Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, apresentando como principal fator de risco a idade, pois aproximadamente 62% dos casos diagnosticados no mundo ocorrem em homens com 65 anos ou mais. E como consequência do aumento da expectativa de vida espera-se que o número de casos novos de câncer de próstata aumente cerca de 60% até o ano de 2015. Porém a etnia e a história familiar da doença também são consideradas fatores de risco, já que este câncer é aproximadamente duas vezes mais comum em homens negros se comparados aos brancos, embora acredita-se que essa diferença entre negros e brancos se dê em razão do estilo de vida ou de fatores associados à detecção da doença (GOMES, et al., 2008; INCA, 2014).

 

Considerada também como fator de risco, a dieta, está ligada ao desenvolvimento do câncer de próstata, quando baseada em gordura animal, carne vermelha, embutidos e cálcio. A obesidade também é apontada no aumento do risco de desenvolver esse tipo de câncer. Em contrapartida, dietas ricas em vegetais, vitaminas D e E, licopeno e ômega-3 apresentam efeito protetor contra o câncer de próstata (MEDEIROS, MENEZES e NAPOLEÃO, 2010).

A mortalidade por câncer de próstata é relativamente baixa, embora apresente um perfil progressivo semelhante ao da incidência no Brasil. Para o ano de 2013 a taxa de mortalidade para o estado de Goiás foi de 444 mortes por câncer maligno em genitais masculino, incluindo também o de próstata. Pode ser considerado de bom prognóstico se diagnosticado e tratado oportunamente. A sobrevida média mundial estimada em cinco anos é de 58%, podendo chegar aproximadamente 80% (DATASUS, 2014).

As ações de controle do câncer de próstata devem se pautar na prevenção primária e o diagnóstico precoce, pois ainda não há evidências científicas que comprovem a eficácia do rastreamento para este tipo de câncer e seus benefícios, posto que estudos apontam para o risco que essas intervenções têm em causar danos a saúde dos homens (INCA, 2008).

O câncer de próstata em seus estágios inicias raramente apresenta sintomas. Em geral, os sintomas surgem em decorrência da obstrução urinária que ocorre na doença avançada. Por esse entre outros motivos o diagnóstico é tardio, o que dificulta o tratamento e afeta o prognóstico e sobrevida dos pacientes. Para que ocorra a detecção precoce é preciso formular estratégias que possam garantir o acesso de maneira igual a todos e facilitada, sendo este um dos maiores desafios para se alcançar a população mais vulnerável, tanto no aspecto social quanto econômico. Percebe-se também que o acesso ao sistema de saúde não ocorre de forma homogênea entre os diversos segmentos populacionais, visto que as mulheres utilizam mais regularmente os serviços de saúde do que os homens (PAIVA, MOTTA e GRIEP, 2011).

A população masculina, por motivo cultural, procura os serviços de saúde em caso de doença, enquanto a feminina por prevenção. Isto está relacionado à visão desvalorizada do autocuidado e preocupação com a saúde pelos homens. Além disso, a falta de capacitação dos profissionais da saúde no acolhimento a esses usuários, leva ao distanciamento dos serviços de prevenção de doenças. Sem dúvidas, um dos maiores obstáculos é a falta de informação da população masculina, com preconceitos sobre o câncer e seu prognóstico, o exame preventivo, como o toque retal, a ausência de exames mais específicos e de rotinas nos serviços de saúde, público e privado, para a prevenção primária da doença, neste caso o câncer de próstata. Há de se salientar a resistência ao exame de toque retal que não se deve apenas ao aspecto cultural, mas também ao medo de possível dor (PAIVA, MOTTA e GRIEP, 2011).

O sofrimento do portador de câncer de próstata afeta seu bem-estar físico e emocional, prejudicando sua qualidade de vida, pois o câncer de próstata afeta a sensibilidade masculina, provocando impotência e depressão nos portadores. Segundo Tofani e Vaz (2007) “os temores mais frequentes em pacientes com este diagnóstico relacionam-se com a disseminação da doença e com as mudanças na sensibilidade sexual”. No que tange ao diagnóstico, normalmente ocorre de forma inesperada, e, sendo assim, tanto o paciente quanto sua família experimentam sentimentos, envolvendo angústia, ansiedade, medo da morte, sensação de impotência, dentre outros, inclusive com repercussões na qualidade de vida.

Diante desta realidade, foi sancionada pelo Presidente da República a Lei n° 10.289 de 20 de setembro de 2001, que institui o Programa de Controle do Câncer de Próstata, que tem como principal objetivo a redução da incidência e mortalidade por esse tipo de câncer, através de ações contínuas que levem à conscientização da população quanto aos fatores de risco para câncer, promovam a detecção precoce daqueles passíveis de rastreamento e propiciem o acesso a tratamento equitativo e de qualidade em todo o território nacional. Além de, por intermédio do Ministério da Saúde, promover campanhas sobre o que é o câncer de próstata e suas formas de prevenção, como também sensibilizar os profissionais de saúde, capacitando-os e reciclando-os quanto a novos avanços nos campos da prevenção e da detecção precoce desse câncer (BRASIL, 2001).

Mas recentemente, foi criada a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem em 2009 pelo Ministério da Saúde, que dispõem como objetivo facilitar e ampliar o acesso da população masculina aos serviços de saúde, em resposta à observação de que os agravos do sexo masculino são um problema de saúde pública (BRASIL, 2009).

Diante essa situação cabe aos profissionais da saúde, em especial o enfermeiro, o reconhecimento das necessidades dos pacientes com câncer de próstata, intervenção adequada e individualizada, permitir que eles verbalizem suas queixas, que demonstra valorização de seus sentimentos, permitir a autonomia no processo de tratamento e promover a educação em saúde tanto do paciente quanto de seus familiares.

Segundo Amador et al. (2011) um estudo realizado com enfermeiras que cuidavam de pacientes oncológicos pediátricos, foi observado que na grade curricular do Curso de Graduação em Enfermagem é escasso ou bastante limitado, o conhecimento sobre oncologia o que implica dificuldades de atuar na área e de produzir um cuidado ampliado à criança com câncer a partir do ensino da graduação. Com isso os profissionais que atuam nessa área enfrentam grandes dificuldades em se adaptar as demandas dos serviços oncológicos e de seus pacientes. Sendo assim a inserção de conteúdos relativos ao câncer de extrema importância a matriz curricular do Curso de Enfermagem, devendo ser discutido e colocado em escala de prioridade, objetivando um profissional egresso qualificado, reflexivo e pronto para atuar sobre a realidade epidemiológica e social oncológica.

Partindo desses pressupostos este estudo busca responder as seguintes questões: quais os diagnósticos e intervenções de enfermagem a pacientes com câncer de próstata?

 

A anatomia da próstata

 

No sistema genital masculino, vários órgãos servem como partes do trato urinário e, ao mesmo tempo, do sistema reprodutor. A próstata, um dos componentes desse sistema, se localiza na região pélvica, sendo um órgão ímpar, situa-se inferiormente à bexiga e circunda a uretra, sendo atravessada pelo ducto ejaculatório, uma continuação do canal deferente. É formada por musculatura lisa e tecido fibroso, mas contém também glândulas, que juntamente com as vesículas seminais, liberam secreções que irão formar o volume do liquido seminal. A secreção das glândulas prostáticas compõe também o esperma, que é lançada diretamente na porção prostática da uretra através dos dúctulos prostáticos, o que confere odor característico ao sêmen (DANGELO e FATTINI, 2007; SMELTZER e BARE, 2012).

Na próstata há uma base, superior, e um ápice, anterior e inferior, além de lobos, direito, esquerdo e médio. Este último é a parte que se projeta internamente a partir da parte superior da face posterior do órgão. Na puberdade suas dimensões aumentam rapidamente e aos 25 anos alcança um peso de 25 g. No idoso, é comum o aumento irregular e patológico, sendo a causa da dificuldade de esvaziamento da bexiga urinária. Por se localizar anteriormente ao reto, a próstata e palpável pelo toque retal, um exame importante para o diagnóstico de afecções da próstata (DANGELO e FATTINI, 2007).

 

A carcinogênese da próstata

 

A palavra câncer vem do grego karkínos, que significa caranguejo e foi utilizada pela primeira vez por Hipócrates, o pai da medicina, que viveu entre 460 e 377 a.C. O câncer não é uma doença nova e o fato de ter sido detectado em múmias egípcias comprova que ele já comprometia o homem há mais de 3 mil anos antes de Cristo (INCA, 2011).

O câncer é considerado uma das maiores causas de morte no mundo e é definido como uma doença genômica, surgindo como consequência de alterações cumulativas no material genético (DNA) de células normais, as quais sofrem transformações até se tornarem malignas (DANTAS et al., 2009).

O processo de carcinogênese (oncogênese), em geral, acontece lentamente, podendo depender de um longo período, ou seja, anos, para que uma célula cancerosa se prolifere e dê origem a um tumor visível. Os efeitos cumulativos de diferentes agentes cancerígenos ou carcinógenos são os responsáveis pelo início, promoção, progressão e inibição do tumor. A exposição a esses agentes, em uma dada frequência e período de tempo, e pela interação entre eles irá resultar na iniciação da carcinogênese. Devem ser consideradas, no entanto, as características individuais, que facilitam ou dificultam a instalação do dano celular (INCA, 2011).

Em síntese, a carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser provocada pela ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou biológicos). Em ambos os casos, verifica-se a indução de alterações mutagênicas e não-mutagênicas ou epigenéticas nas células, com os proto-oncogenes, genes supressores de tumor e genes relacionados ao reparo de DNA, sendo esse os principais envolvidos no processo de carcinogênese (INCA, 2008; DANTAS et al., 2009).

Sua etiologia é ainda desconhecida, entretanto, presume-se que alguns fatores possam influenciar no seu desenvolvimento.  A alimentação tem sido o alvo de atenção no aspecto preventivo do CP, uma vez que dietas ricas em gordura predispõem ao câncer e as ricas em fibras diminuem o seu aparecimento. Os fatores genéticos e ambientais são alvo, também, de investigação (GOMES et al., 2008 apud TONON e SCHOFFEN, 2009). No câncer de próstata os genes desse tipo específico de câncer foram mapeados nos cromossomos 1q24-25, 1q42, Xq27-28, 1p36 e 20q13. Vários genes mutados estão sendo encontrados no câncer de próstata, tais como: TP53, PTEN, RBras, CDKN2, AR (receptor de andrógenos) e CTNNB1 (DANTAS et al., 2009).

À medida que o homem envelhece sua próstata aumenta de tamanho. Para Corrêa e colaboradores (2003) e Dini e Koff (2006) apud Tonon e Schoffen (2009), como todos os outros tecidos e órgãos do corpo, a próstata é composta por células, que se dividem e se reproduzem de forma ordenada e controlada, no entanto, quando ocorre uma disfunção celular que altere este processo de divisão e reprodução, produz-se um excesso de tecido, que dá origem ao tumor, podendo este ser classificado como benigno ou maligno.

Quando maligno falamos de CP, a maior parte das neoplasias (95%) são do tipo adenocarcinoma, podendo existir ainda casos de sarcoma, carcinomas epidermóides e de células transicionais. O processo destrutivo do carcinoma leva à ruptura da arquitetura normal prostática, liberando na corrente sanguínea a proteína específica produzida na próstata, o antígeno prostático especifico (PSA) (VIEIRA et al., 2012).

 

Tratamentos existentes para o câncer de próstata

 

Quando o câncer prostático encontra-se localizado, a radioterapia é uma das opções de tratamento vigentes. Esta se baseia em administrar radiações externas ou internas sobre a próstata para destruir as células cancerígenas (TONON e SCHOFFEN, 2009).

As radiações externas são chamadas de teleterapia, que é a radioterapia por feixe externo (EBRT), pode ser administrada durante 5 dias por semana, por um período de 7 a 8 semanas. Trata-se de uma opção de tratamento para pacientes com câncer de próstata de baixo risco. Os pacientes que apresentem risco intermediário e de alto risco recebem doses mais altas de EBRT e podem ser candidatos à irradiação dos linfonodos pélvicos e terapia de privação androgênica (NCCN, 2008 apud SMELTZER e BARE, 2012).

Nessa modalidade de tratamento, o feixe de radiação é invasivo e pode matar cânceres que estão à extremidade da próstata, todavia, acaba danificando outros órgãos, podendo os pacientes sentir cansaço durante o tratamento (TONON e SCHOFFEN, 2009).

Na braquiterapia, a radiação interna, são implantadas nos pacientes “sementes” radioativas intersticiais sobre anestesia. Essa se tornou uma opção de monoterapia comumente usada para o câncer de próstata precoce e clinicamente confinado à glândula. São introduzidas, pelo cirurgião, de 80 a 100 “sementes”, que irá depender do tamanho da próstata, compostas por iodo ou ouro. Essa modalidade de tratamento é bastante eficiente, mas pode levar a impotência sexual e incontinência urinária. Pode apresentar como complicações diarreias, inflamações do reto e estreitamento da uretra (SMELTZER e BARE, 2012; TONON e SCHOFFEN, 2009).

Um tratamento muito eficaz e curativo, que oferece maior sobrevivência que a radioterapia é a prostatectomia radical. Tal método consiste na extirpação de toda a próstata e das vesículas seminais, posteriormente unindo-se a bexiga à uretra. Apesar da eficácia deste tratamento este procedimento é muito agressivo podendo acarretar certas complicações, como estreitamento da nova união entre a bexiga e a uretra, incontinência e fugas involuntárias de urina e impotência sexual (TONON e SCHOFFEN, 2009).

No caso de câncer de próstata metastático, a terapia endócrina ou hormonioterapia é o tratamento mais indicado. Nesta terapia são empregados vários medicamentos à base de hormônios (estrógenos, análogos da LHRH e antiandrógenos), que impedem a produção de testosterona ou bloqueiam as suas ações na próstata. A terapia de privação androgênica (TPA) é comumente utilizada para cessar os estímulos androgênicos para a próstata ao diminuir o nível plasmático de testosterona circulante ou ao interromper a conversão em castração (orquiectomia), retirada cirúrgica dos testículos, também é utilizada como hormonioterapia, já que elimina os órgãos que produzem o hormônio masculino, este apontado como principal responsável pelo crescimento do tumor (SHAHI e MANGA, 2006).

 

A Sistematização da Assistência de Enfermagem, com enfoque nos diagnósticos de enfermagem ao paciente com câncer de próstata

 

O processo de enfermagem, apresentado em cinco etapas dinâmicas e inter-relacionadas (coleta de dados, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação), definido como um instrumento que possibilita uma forma sistemática e dinâmica de prestar os cuidados pode oferecer aos profissionais da enfermagem a possibilidade de uma abordagem metodologicamente orientada, com base no conhecimento científico, de forma individualizada e humanizada e, assim sendo, deve fundamentar as ações de planejamento da assistência de enfermagem a pacientes com diagnóstico de câncer de próstata (NAPOLEÃO, CALDATO e PETRILLI FILHO, 2009).

Diante da importância de se oferecer aos pacientes diagnosticados com câncer de próstata uma assistência sistematizada, pautando-se nos princípios do processo de enfermagem, entende-se ser importante identificar as NHB apresentadas por esses pacientes no decorrer do seu tratamento e assim elaborar diagnósticos de enfermagem com vistas ao planejamento de intervenções de enfermagem que possam restabelecer as funções alteradas pelo processo de saúde-doença.

Um estudo realizado por Silva e Pimenta (2003) em um Hospital oncológico, com 38 pacientes acometidos por câncer, relatam que 71, 1% (n=27) apresentavam anotações de enfermagem nos prontuários relacionados à queixa de dor, pois sabe-se que essa manifestação clínica é frequente em neoplasias malignas, em todas as fases, e se acentua com a evolução da doença, podendo ocorrer em 70-90% do casos em doença avançada. Com relação à localização do tumor, 35,5% (n=12) eram em região pélvica, incluindo nesse caso também o câncer de próstata.

Já o estudo realizado por Sawada et al. (2009) em um Hospital de Oncologia de Ribeirão Preto, sobre os efeitos na qualidade de vida dos pacientes em tratamento com quimioterapia, os pacientes que receberam ao menos dois ciclos de quimioterapia apresentaram alterações no paladar e sintomas como: boca seca, perda do apetite, náuseas e vômitos. A constipação também pode estar presente em 65% dos pacientes tratados por quimioterapia. Nesse mesmo estudo eles evidenciaram déficit na função cognitiva em 30% dos pacientes e a perda do apetite, principalmente em pacientes que sofreram metástases. Essa manifestação clínica é apontada como o segundo sintoma mais frequente em pacientes com câncer avançado, presente em 65% a 85% dos casos.

Um estudo realizado com pacientes que foram submetidos à cirurgia de prostatectomia, sendo que este é um dos tratamentos para o câncer de próstata, os diagnósticos de enfermagem mais encontrados na pesquisa com 8 pacientes foram, sucessivamente: conhecimento deficiente, risco de volume de líquidos deficiente, risco de lesão, risco de infecção, integridade tissular prejudicada, risco de baixa auto-estima situacional, disposição para bem-estar espiritual aumentado, ansiedade, mobilidade física prejudicada, recuperação cirúrgica retardada, risco de sentimento de impotência e risco de integridade da pele prejudicada (NAPOLEÃO, CALDATO e PETRILLI FILHO, 2009).

Segundo Smeltzer e Bare (2012) os diagnósticos de enfermagem propostos aos pacientes acometidos por câncer de próstata são de Ansiedade; Retenção urinária; Déficit de conhecimento; Nutrição alterada: menor que as necessidades corporais; Disfunção sexual; Dor; Mobilidade física prejudicada e Infecção.

 

                                                                                              

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

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