A ATLÂNTICA QUE PRECISAMOS

Por FRANCISCO RICARDO MORENO DIAS | 21/06/2017 | Ambiental

Fica estranho, ouvir uma pessoa dizer que comeu uma Grumixama. Apesar de ser uma fruta da Mata Atlântica, poucos a conhecem. Assim também são: a Cerejeira da Terra, a Uvaia, a Guabiroba, ou o Cambuí; chegando no nosso Araçá, que infelizmente, muitos araçatubenses não conhecem o seu paladar

Estranho, para muitos, é entender que todo interior paulista faz parte da Mata Atlântica. Primeiro, por ter o nome do distante Oceano. Segundo, por existir pouquíssimas matas por aqui. Este magnifico bioma engloba a parte leste de 17 estados e parte da Argentina e Paraguai. Tem hoje apenas 110.000 km² dos originários 1.300.000 km², ou seja: apenas 8,5%. A fauna supera até a floresta amazônica, se comparado proporcionalmente em tamanho. Tem nela, catalogado milhares de animais de espécies endêmicas, ou seja, animais exclusivamente encontrados nela. É endêmica também as 8.000 espécies de vegetais. Concentrando-se ao todo, um total de 20.000 espécies, ou seja, é a flora mais diversificada de todo planeta.

Esta vegetação sempre contribuiu para a proteção dos mananciais e a fertilidade do solo, com seu especialíssimo sombreamento. Parênteses importante se faz para o estado de São Paulo que segundo alguns geólogos seria aqui um possível deserto, devido sua localização, coincidente na mesma faixa, com os desertos da Austrália, Namíbia e Chile. A sorte de não ter deserto aqui, muito se deve à umidade gerada pela Mata e também aos bons rios que a Mata gerou, sem desmerecer aos rios voadores provenientes da região Amazônica.   

De norte a sul segue sua importância vital para o povoamento de 3.400 municípios que fundaram suas cidades ao longo da extensão de onde era a mata original. Atualmente 120 milhões de brasileiros vivem nesse domínio gerando 70% do PIB nacional.

A exuberância é imensa, formada por um conjunto diversificado de 5 tipos diferentes de florestas, em inúmeros ecossistemas. Aquela floresta que conhecemos na serra do mar (densa), é diferente das florestas daqui da nossa região que é vegetação intermitente, tendo a característica de transição entre a Mata Atlântica com o Cerrado.       

Daquele remanescente de 8,5% de mata, só um quinto dela é mata original. O restante é considerado em estágio de regeneração. Observamos isso, em excursões no Morro do Diabo, próximo a Prudente. Ali tentaram desmatar uma determinada área, a polícia ambiental expulsou os incautos e 30 anos depois aquela área regenerou-se por si mesma.  

Instituímos a Mata Atlântica como patrimônio nacional, no artigo 225 da Constituição Federal, para sua proteção. Até a ONU, declarou-a como Reserva da Biosfera, entre Cananéia –SP e a Ilha do mel no Paraná, recebendo o título de Patrimônio Natural Mundial da UNESCO. Nada mais nada menos, é a mata mais antiga do mundo, com a idade em torno de 50 milhões de anos, sobrevivendo inclusive a duas grandes eras glaciais. 

Para quem gosta de visitar lugares pré-históricos ou sítios arqueológicos; saiba que adentrar numa floresta da Mata atlântica é ter a mesma visão que tiveram os colonizadores há 500 anos. Ou, o mesmo vislumbre que o primeiro homem da caverna teve a 20 mil anos. E, caminhar pela mesma mata, por onde caminharam os últimos animais pré-históricos, há milhões de anos. Pode-se conferir isto no Museu de Paleontologia de Marília (200 Km daqui). Existem também, 574 Parques governamentais, como Unidades de conservação, e 124 unidades privadas. O primeiro deles no Brasil, foi em Atibaia-SP.

As áreas remanescentes que estão se regenerando, pulverizadas em milhões de pequenas “florestinhas”. Em nosso estado, tem-se nos Parques ecológicos, esperança de sucesso na sua proteção, com atividades educativas e visitas monitoradas. Trazendo significativa expansão para o desenvolvimento sustentável dos recursos florestais. Na Região de Araçatuba ainda tem destas matas originárias. Mexer nela é atentado Federal, e bate de frente com um Patrimônio mundial da UNESCO. 

Araçatuba!  Que poderia ter sido Grumixentatuba ou Uvaiatuba, optou por um nome mais bonito de uma saborosa fruta vinda de uma modesta e singela árvore, que nasce na mata mais antiga do mundo, enfrenta agora incêndios, motosserras, e corrente trançada, igual ao tsunami que na lenda destruiu a cidade de Atlântida. Deus nos livre, nossos netos fazerem a mesma analogia.          

                                                                                                    FRANCISCO  MORENO 

                                                                                         Ambientalista e Técnico em meio Ambiental