A ATIVIDADE HISTORIADORA EM SEU CAMPO DISCIPLINAR: LIMITES, POSSIBILIDADES E REFLEXÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

Por Leonildo José Figueira | 25/09/2014 | História

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo refletir o campo de conhecimento e abordagem da História, verificando a relação com seu objeto, seus limites, suas possibilidades, bem como a maneira como são construídos seu discurso, sua teoria e seu método. Nesse mesmo âmbito será pertinente pensar os interditos da História enquanto campo disciplinar, como sendo aquilo que se coloca como base ou como proibido a seus praticantes. Não se trata de uma pretensão em responder todas as questões caras à esta temática, mas sim contribuir para uma importante discussão em torno da disciplina e do ofício do historiador. PALAVRAS CHAVE: Teoria da História; Historiografia; Campo disciplinar ABSTRACT: The present work aims to reflect the field of knowledge and history approach, verifying the relationship with its object, its limits, its possibilities and how they are constructed his speech, his theory and his method. In this same context will be relevant interdicts think of history as a disciplinary field, as that which arises as a base or as the forbidden its practitioners. This is not a claim to answer all the questions guys this theme, but contribute to an important discussion about the discipline and profession of historian. KEYWORDS: Theory of History; historiography; disciplinary field A partir do fato histórico, são produzidos e elaborados diferentes discursos, diversas concepções, que resultam em obras caracterizadas como “texto histórico”; o qual está sujeito a reflexões, críticas que surgem, vindo de outras vertentes de pensamento. Nesse contexto concordamos com Haydem White ao afirmar que a realidade passada é o objeto de estudo da história ao passo que a historiografia é o discurso produzido pelo historiador. (WHITE, 1991, p. 21) O historiador busca compreender as ações práticas dos homens, os móveis que os animam, os fins que os norteiam, o seu universo simbólico e suas significações que para esses homens tinham seus comportamentos e ações. De maneira prática a história se volta aos eventos humanos no tempo e só se torna visível e compreensível com a sucessão temporal, que por sua vez faz ser necessário à reescrita contínua da história. (REIS, 1999. p. 08) O tempo é um fator fundamental para a historiografia, pois com a sucessão do mesmo, novas questões são propostas e o historiador, como responsável pela produção do conhecimento histórico, tem uma vasta e mais profunda percepção do passado. A história fomenta questões, que são resultantes de um tempo vivido, um presente que é particular a cada historiador, uma vez que toda a produção historiográfica está enraizada em uma particularidade, um lugar social. A história se torna, então, uma reconstrução narrativa, documental e conceitual do passado, porém construída em um presente. (CERTEAU, 2006, p. 72) Não há um passado fixo a ser esgotado pela história uma vez que não existe verdade absoluta. A história é constantemente escrita e reescrita tornando-se assim resultado de inúmeras posições do presente, e a interpretação histórica vai depender de quem a formulou, em outras palavras, vai se ter uma visão diferente ao analisar o mesmo assunto escrito por “um nativo ou um estrangeiro, um amigo ou inimigo, um erudito ou um cortesão, um burguês ou um camponês, um rebelde ou um súdito dócil”. (MALERBA, 2006 p. 14) O historiador Roger Chartier usa das palavras de Michel de Certeau para falar a respeito da prática historiográfica, enfatizando que: ela [a História] é uma prática científica, produtora de conhecimentos, mas uma prática cujas mentalidades dependem das variações de seus procedimentos técnicos, dos constrangimentos que lhe impõe o lugar social e a instituição de saber onde ela é exercida, ou ainda das regras que necessariamente comandam sua escrita. (CHARTIER 1994. p. 112.) A história enquanto conhecimento, é constituída por uma série de discursos à respeito o mundo, se apropriando do mesmo e atribuindo-lhe significados. (WHITE, 1999, p. 14) A história é, porém, diferente de passado, existem livres um do outro embora sejam aliados. (JENKINS, Keith. p. 24) Podemos dizer que o passado e a história estão distantes um do outro no tempo e no espaço, e essa argumentação se dá pelo fato de um mesmo objeto de investigação ser visto e interpretado por práticas discursivas diferentes, ao passo que cada uma dessas práticas possui uma linguagem diferente e valores totalmente diferentes. Ao observarmos um quadro de uma determinada época, ou até mesmo uma paisagem atual, ambos serão observadas e lidas de maneira diferente por geólogos, historiadores, artistas, economistas, etc. Assim percebe-se que a história, embora seja um discurso sobre o passado, está numa categoria diferente dele. (JENKINS, Keith. p. 25) O termo “passado”, deve ser usado para se referir à tudo o que passou em todos os lugares; a história trabalha com fragmentos do passado, apenas com os fatos importantes que não merecem cair no esquecimento. Deste modo podemos conceber que a historiografia é o mais completo testemunho que podemos ter sobre diversas culturas que foram desaparecendo ao longo do tempo. O conhecimento científico obtido pela pesquisa exprime-se na historiografia, para a qual as formas de interpretação desempenham um papel tão relevante quanto o dos métodos da pesquisa. A história se apropria de um discurso científico para tratar do seu objeto, porém não possui um método distinto de pesquisa, segundo Hayden White (1999). O conhecimento histórico é produzido por um grupo de profissionais, chamados historiadores, estes quando iniciam seu trabalho carregam certas coisas identificáveis e que lhes são particulares. Levam a si mesmos, seus valores, suas posições, suas perspectivas ideológicas, seus pressupostos epistemológicos, entre outros fatores os quais os quais acompanham-no durante toda a pesquisa. O historiador pode estar inserido em diversas categorias, como econômicas, sociais, políticas, culturais, ideológicas, etc. Não existem métodos definitivos nem teorias definitivas que apresentem a verdade absoluta da história, uma vez que o presente enquanto ponto de observação ou investigação do passado, muda com a sucessão do tempo. Assim, o que se tem são apenas visões parciais do passado, pensamentos que estão assentados sobre um ponto de vista que é particular. Segundo Michel de Certeau, todo o historiador é marcado por um lugar social, onde sua filiação teórica, filosófica e metodológica é que vai estabelecer as questões a serem postas. (REIS, 1999, p.10) “A verdade histórica talvez possa ser comparada a um caleidoscópio: os historiadores diversos e sucessivos escolhem e sintetizam, serve–se de metáforas, formulam perguntas especificas servem-se de fontes e técnicas diferentes”. (REIS, 1999, p.11) Sendo uma narrativa de acontecimentos, a História apresenta diversas variações em seus relatos; (VEYNE, 1982, p. 20) podemos ter um mesmo evento, por exemplo, visto por vários ângulos e analisada por diferentes métodos. O historiador não descreve exaustivamente uma civilização ou um determinado período, ele não trata de todos os fatos de maneira minuciosa de modo a realizar um inventário completo; ele apresentará somente o que é necessário para se conhecer a determinada civilização, escrevendo assim somente os fatos que marcaram seja a civilização ou o período. Todo o historiador pretende oferecer um ponto de vista novo e mais abrangente ao escrever a história. Muitas escolas históricas carregam consigo a ideia de que seu ponto de vista é único, definitivo, construídas em bases objetivas e científicas, desvalorizando assim as interpretações feitas anteriormente, e consequentemente designando-as como equivocadas ultrapassadas ideológicas e etc., ignorando a condição temporal em que se deu a elaboração da História. (REIS, 2001, p.11) Ao colocar a pesquisa por escrito entram em cena os fatores epistemológicos, metodológicos e ideológicos, inter-relacionando-se com as práticas cotidianas, tal qual aconteceu durante todas as fases da pesquisa. É preciso considerar que o historiador possui uma vida familiar, ele está sujeito às pressões do local de trabalho, no qual se fazem sentir influências de diversas pessoas; existem também as pressões das editoras sobre diversos fatores como, por exemplo: a extensão o formato, o mercado os prazos, o estilo literário (polêmico, discursivo, exuberante, etc.), leituras críticas, a reescrita, entre outras. Porem ao produzir um conhecimento histórico partindo da pesquisa seguindo da escrita até chegar à biblioteca, o historiador passou por diversas pressões, sendo sujeito a diversas influencias, o que com certeza entra em choque com o produto do seu trabalho. (JEINKIS, 2001 p. 18-19) Mais que um exercício intelectual, a história é uma operação, que produz e trabalha com a historicidade. A construção de um conhecimento histórico exige o entendimento e o domínio de procedimentos técnicos, exige um olhar sensível conceitualmente, teoricamente formado e metodologicamente preparado. (CERTEAU, 2006, p. 72) Quando nos referimos à relação entre as três instâncias de temporalidade, “Passado”, “Presente” e “Futuro”, nos referimos a um vasto objeto que instiga e provoca a constante reflexão tanto de historiadores como outros intelectuais interessados. Desde a antiguidade, pensadores como “Santo Agostinho e Aristóteles já dedicavam ao “tempo” reflexões importantes que até os anos mais recentes têm servido como patamares de diálogos para filósofos contemporâneos como Heidegger (1927) e Paul Ricoeur (1983-85)”. (BARROS, 2010, p. 66) O tempo é fundamental para o estudo da História, pois é a partir dele que as sociedades humanas são analisadas, comparadas e transformadas em objeto. Segundo José D’Assunção Barros, Reinhart Koselleck (1923-2006) é um dos poucos autores que forneceram um “instrumental teórico mais apropriado para compreender esta questão na Historiografia”. Koselleck desenvolveu a perspectiva de que cada presente não apenas reconstrói o passado a partir de problematizações, mas que o presente este resinifica tanto o passado como o futuro. Koselleck se refere ao passado como sendo o “campo de experiências” e, ao futuro como sendo “horizonte de expectativas” Mais ainda, para Koselleck, cada presente concebe também de uma nova maneira a relação entre futuro e passado, ou seja, a assimetria entre estas duas instâncias da temporalidade. E não é por acaso que o título de sua mais conhecida coletânea de ensaios é Futuro passado – contribuição à semântica dos tempos históricos (Koselleck 1979). (BARROS, 2010, p. 66) Segundo Koselleck, entre o “espaço de experiência” e o “horizonte de expectativas” é sempre estabelecida uma tensão, que é própria da elaboração do conhecimento histórico e mesmo das diversas leituras sobre o fenômeno da temporalidade que vão surgindo em cada época, as quais lhes são oferecidos no momento atualmente vivenciado. Tanto a experiência como a expectativa são apresentadas por Koselleck como duas categorias para uso da Teoria da História, que entrelaçam passado e futuro (KOSELLECK, 2006, p. 308). Dessa maneira o passado, o presente e o futuro podem se alterarem, contraírem ou se expandirem conforme cada época ou sociedade, podendo modificar ou resinificar a maneira como são sentidas e pensadas. Segundo David Lowenthal (1998) nós conhecemos o passado porque ele nos cerca, ou seja, lembramo-nos das coisas, lemos e ouvimos histórias e crônicas e vivemos entre relíquias de épocas anteriores. Toda consciência atual se funda em atitudes e percepções do passado, pois reconhecemos uma pessoa, uma árvore, uma tarefa, etc., porque já vimos ou já experimentamos. (LOWENTHAL, 1998, p. 64). Para o autor, “somos a qualquer momento a soma de todos os nossos momentos” (LOWENTHAL, 1998, p.64), afirma, ainda, que o passado nunca está morto uma vez que ele existe ininterruptamente na memória de pensadores e de homens imaginativos. De fato ele [o passado] existe na memória de todos nós. Consequentemente tomamos conhecimento não somente de nossas ações e pensamentos anteriores, como também daqueles de outrem, seja por testemunho direto ou de terceiros. Até sinais de experiência excessivamente remota podem se tornar conscientes. (LOWENTHAL, 1998, p. 65) Para Kosellek (2006) o tempo não é algo natural e evidente, mas sim uma construção cultural que “em cada época, determina um modo específico de relacionamento entre o já conhecido e experimentado como passado e as possibilidades que se lançam ao futuro como horizonte de expectativa”. (KOSELLEK, 2006, p. 09) O autor nos deixa claro que a experiência pertence ao passado o qual se materializa ou se concretiza no presente, de diversas maneiras, seja pela memória, pelos vestígios, pelas fontes históricas ou até mesmo pelas permanências sentidas e percebidas no seio da vida cotidiana. Segundo esse autor A experiência é o passado atual, aquele no qual acontecimentos foram ‘incorporados e podem ser lembrados. Na experiência se fundem tanto a elaboração racional quanto as formas inconscientes de comportamento, que não estão mais, que não precisam estar mais presentes no conhecimento. Além disso, na experiência de cada um, transmitida por gerações e instituições, sempre está contida e é preservada uma experiência alheia. Neste sentido, também a história é desde sempre concebida como conhecimento de experiências alheias” (KOSELLECK, 2006, p. 309-310). As expectativas correspondem a todo um universo de sensações e antecipações que se referem, mais precisamente ao devir. Tudo o que se refere ao futuro, aqui é pensado, seja relacionado aos nossos medos, nossas esperanças, nossos desejos, nossas inquietações, etc. ao horizonte de expectativas. A experiência se realiza no presente, que por sua vez é uma herança do passado, mas que produz inúmeras sensações sobre o futuro, sendo uma expectativa que se realiza hoje. (BARROS, 2010, p. 68) Podemos afirmar que a historiografia vem passando por grandes mudanças desde a década de 1970; nesse contexto os intelectuais passam a ganhar espaço como objeto de estudo, fugindo daquilo que Jean-François Sirinelli chamou de “ângulo morto”. A história intelectual como nova abordagem parece ser um dos resultados de mudanças que estão ocorrendo na historiografia, a partir de constantes debates que vêm ampliando gradativamente, no interior do mundo acadêmico. (ZANOTTO, 2008, p. 36) De maneira prática, para além dos pressupostos teóricos, abordamos o viajante inglês Richard Francis Burton entre 1863 e 1865, período em que permaneceu como cônsul em Santos. Considerado um dos mais marcantes intelectuais do seu tempo, nasceu em 1821 em Hertfordshire e morreu em 1890 em Trieste; curiosamente viveu numa época de grande importância política para seu país, período de reinado da Rainha Vitória. Ele foi militar, diplomata, cientista, naturalista e autor de mais de 30 obras, entre relatos etnológicos e traduções; um explorador de vida movimentada e romanesca que empreendeu ousadas expedições no continente africano ao lado de John Hanning Speke. (RICE, 1991, p.19) Como cônsul inglês em Santos, Burton permaneceu entre 1865 e 1869, deixando importantes narrativas sobre os lugares por onde passou. Relatos, estes, que vão além da observação pitoresca e, nos servem de fonte histórica a antropológica. Trata-se de um homem de ciência do século XIX e, para estuda-lo nos apropriaremos das discussões pertinentes dentro do campo da História, mais precisamente da História Intelectual. Justificando a afirmativa de que Burton foi uma das personalidades mais marcantes do século XIX, ele falava 29 idiomas e vários dialetos, disfarçava-se com muita facilidade, o que lhe possibilitou viver entre os povos do Oriente e da África. Estudou sobre a cultura de povos asiáticos e africanos, fato que permite verificar um pioneirismo em relação a Antropologia e os estudos etnológicos, especialmente dado a suas produções e expedições ligadas à Royal Geographical Society e Antrhopological Society of London, por volta da década de 1860. Burton peregrinou à cidade de Meca em 1853, (sagrada e proibida aos não muçulmanos) disfarçado de afegão; também foi à Harar, capital da Somália, de onde nenhum outro homem branco havia saído com vida. (RICE, 1991, p. 231) Juntamente com John Hanning Speke, como já mencionamos, explorou a região dos Grandes Lagos africanos, promoveu a busca pela nascente do Rio Nilo, descobriu o lago Tanganica Antes da posição consular em Santos, em 1861 foi nomeado cônsul em Fernando Pó (atual Bioko), no mesmo ano em que casou-se com Isabel, numa cerimônia católica. No Brasil, Burton percorreu, Rio das Velhas, o Rio São Francisco, esteve em Minas Gerais, na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo, produzindo importantes relatos sobre a terra, a gente, a geografia, etc. Tais relatos sobre o Brasil foram publicados em Londres, no ano de 1969 na obra titulada Explorations of the Highlands of Brazil; uma ano depois seria publicada Letter from the battlefield of Paraguay, também em Londres. Em Londres, Burton teve Karl Marx como colega de pesquisa em algumas salas de leituras nas grandes instituições de Londres (RICE, 1991, P. 19) o Historiador Eward Rice, na tentativa de traçar um breve panorama do contexto histórico na época de Burton, ressalta que A Revolução Industrial estava em pleno florescimento, transformando o verdejante campo dos poetas ingleses em montes de miseráveis escórias humanas; as potências europeias tinha recortado o mundo em colônias, protetorados e esferas de influência; as invenções que diariamente modificavam o perfil do cotidiano surgiam em avalanche e, à medida que aumentava a alfabetização, ideias de toda espécie – revolucionárias, intelectuais, científicas e políticas – se alastravam por todo o mundo com a força de uma epidemia. (RICE, 1991, p. 19) Segundo Alexander Gebara “durante as décadas de 1850 e 1860 o nome de Burton esteve associado as viagens de exploração e, principalmente, a geografia e a antropologia inglesas”. (GEBARA, 2010, p. 121) Burton era membro da Royal Geogrephical Society de Londres a qual financiava parte de suas expedições. GEBARA comenta a importância de Burton para a referida instituição inglesa, enfatizando que ele contribuiu com artigos nas publicações da sociedade desde 1854, quando publicou um texto sobre sua viagem à Meca. O auto recebeu uma medalha de ouro em 1859 por sua exploração da África Oriental e pela “descoberta” do lago Tanganica durante a expedição, iniciada três anos antes, em companhia de John Hanning Speke, e esteve bastante envolvidos nos acalorados debates sobre as origens do Nilo, que dominavam boa parte dos interesses da [Royal Geogrephical Society] RGS para com a África naquele momento. (GEBARA, 2010, p.121) A particularidade na apreensão dos textos, seja de Burton ou de qualquer “homem de ciência” caracteriza-se como uma apropriação ímpar, é chamada por Chartier de “invenção criadora no processo de recepção”, noção que valoriza o leitor enquanto sujeito ativo no processo de interiorização de textos. (CHARTIER, 1988, p. 131) O historiador Roger Chartier, apoiado nas ideias de Michel de Certeau, menciona que a prática historiográfica é produtora de conhecimentos por apresentar um caráter científico “mas uma prática cujas mentalidades dependem das variações de seus procedimentos técnicos, dos constrangimentos que lhe impõe o lugar social e a instituição de saber onde ela é exercida, ou ainda das regras que necessariamente comandam sua escrita”. (CHARTIER, 1994, p. 112) De acordo com Gizele Zanotto (2008) os estudos de Chartier são referência para a análise da história da leitura e das formas de apreensão do texto; tratam-se também de importantes ferramentas para a análise da difusão dos textos, sua apreensão e sua difusão em sociedade e, imprescindíveis para um estudo da história intelectual. Para a autora, Chartier “evidenciou, a partir do desenvolvimento proposto nos estudos de Fernando de Rojas e Pierre Bourdieu, que a apreensão de um texto não é a mesma pelos seus diferentes leitores.” (ZANOTTO,2008, p.32) A autora ainda enfatiza que, Bourdieu, destacando a historicidade não só da escrita mas também de sua leitura, sublinhou que um livro muda pelo fato de não mudar enquanto o tempo muda, ou seja, a compreensão que a sociedade tem sobre as questões se transforma constantemente, daí a significação variar juntamente com o texto. Já Rojas, preocupado com a variação de sentidos delegada a um texto pelo seu autor e pelos diferentes leitores, considera a leitura como uma atividade produtora de sentidos singulares, não redutíveis às intenções do autor. (ZANOTTO, 2008, p. 32-33) Ao considerarmos que o historiador tem uma particularidade, devemos pensar que, da mesma forma, o leitor faz uma leitura singular. E que, portanto pode não apreender a leitura no sentido original (autoral) do texto. Segundo Roger Chartier, como leitores, produzem sentidos singulares de suas leituras; como autores sintetizam ideias que serão lidas de formas singulares pelos seus diversos leitores, cada qual com suas preferências, anseios níveis de exigência e compreensão particulares. Referências Bibliográficas BARROS, José D’Assunção. O Campo da História. Petrópolis: Vozes, 2004. __________. Rupturas entre o presente e o passado: Leituras sobre as concepções de tempo de Koselleck e Hannah Arendt. 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