A ATENÇÃO OFERECIDA PELAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS AOS DEPENDENTES QUÍMICOS

Por Maluma Aguiar Marques | 17/10/2016 | Psicologia

A ATENÇÃO OFERECIDA PELAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS AOS DEPENDENTES QUÍMICOS

Iara Ferreira da Silva

Maluma Aguiar Marques

RESUMO

O abuso de drogas é uma problemática que vai além de um caso de segurança pública, corresponde a um caso de saúde pública onde a articulação da rede passa a ser fundamental para ser possível à reversão da problemática. Dessa forma o objetivo deste estudo é mostrar a atenção oportunizada pelas Comunidades Terapêuticas para a possível reabilitação psicossocial de dependentes químicos. Para isso se torna necessário uma breve explanação a cerca da dependência química e os tipos de drogas para situarmos acerca dessa realidade chocante e preocupante e especificações acerca das Comunidades Terapêuticas, um dos dispositivos que a rede de Atenção Psicossocial dispõe para a reabilitação psicossocial de dependentes químicos.

Palavras-chaves: Drogas; Reabilitação; Comunidade Terapêutica.

INTRODUÇÃO

O abuso de drogas segundo Oliveira (2014) perpassa o nível social, intelectual e cultural tornando-se um problema internacional, jurídico, policial e de saúde publica. Diante de tal realidade reconhecemos à gravidade desse abuso diante das severas consequências ao sujeito e quem esta ao seu redor.

De acordo com Rocha e Nicolau (2015), refletir sobre a problemática da droga e drogadição no mundo contemporâneo, é pensar também na serie de embates ocorridos no mundo moderno, sendo relevante enfatizar a crescente precarização das classes subalternas que são por vezes sugadas por discursos de universalização dos interesses de classes.

Tudo isso colabora para a efetivação das mais variadas estratégias do capital no que se refere à busca incessante de lucros, ou seja, o ininterrupto mercado do tráfico de drogas, associado ao consumo de usuários que aumenta assustadoramente. Todavia, o usuário adoece em função da dependência química e o Estado ainda funciona insuficiente em termos de políticas efetivas para o seu enfrentamento, considerando o numerário alarmante e extremamente preocupante que o Brasil acumulou nesses últimos anos.

Acerca dessa reflexão, se faz necessário à compreensão de que a problemática da droga vai além de um caso de segurança pública, corresponde a um caso de saúde pública onde é preciso enfatizar a articulação da rede para ser possível a reversão da problemática.

Graduando em Psicologia, cursando os estágios supervisionados tive a oportunidade de estágio no CREAS Manoel Linhares Vieira localizado na cidade de Sobral-CE, uma unidade pública estatal de atendimento e referência para o acompanhamento especializado no SUAS, onde se ofertam serviços continuados de média complexidade, conforme Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais.

Com a experiência oportunizada, pude me deparar com essa realidade chocante e preocupante da dependência química em diversos casos que foram possíveis acompanhar, visualizando as sérias consequências que o uso abusivo de substâncias pode provocar.

O interesse por esta temática se fortificou diante da frequente associação do uso abusivo de drogas aos casos de violações de Direitos humanos que chegam até o CREAS, concluindo a necessidade de uma assistência mais efetiva aos dependentes químicos como também a importância da rede de atenção psicossocial em prol da reversão da problemática.

Dos dispositivos de cuidados a dependentes químicos disponíveis encontramos as Comunidades Terapêuticas. O estágio também proporcionou o contato com uma Comunidade Terapêutica específica para mulheres encontrada também na cidade de Sobral-CE, por intermédio de um caso encaminhado pelo CREAS, onde pude acompanha o trajeto de uma adolescente de treze anos, dependente química e na oportunidade pude conhecer a instituição, sua história e seus princípios.

Através dessa experiência relatada, onde pude vivenciar e conhecer a relevância das Comunidades Terapêutica sendo uma vivência primordial para estimular o interesse em aprofundar sobre esta temática específica. Diante desta perspectiva, o objetivo deste estudo é mostrar a atenção oportunizada pelas Comunidades Terapêuticas para a reabilitação psicossocial de dependentes químicos.

A DEPENDENCIA QUÍMICA E TIPOS DE DROGAS

A dependência química não se trata de um fenômeno recente, está presente em toda história da humanidade nas mais variadas culturas e épocas. O uso abusivo dessas substancia e os aspectos inerentes a essa prática existe desde a antiguidade sendo naturalizada pelo homem na busca incessante pelo prazer, como também minimizar o sofrimento. (Martins & Correa, 2004).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica atualmente a dependência química como um transtorno psiquiátrico, uma doença crônica que pode ser tratada e controlada. Para esta instituição, o uso de drogas corresponde a um problema de saúde pública, que vêm excedendo todas as fronteiras sociais, emocionais, políticas e nacionais, preocupando toda a sociedade. (OMS, 2001).

Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a dependência química corresponde à presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos, sinalizando que o sujeito continua utilizando uma determinada substância, apesar de problemas relevantes relacionados a ela, onde o indivíduo dependente privilegia o uso da droga em dano de outras atividades e obrigações.

Conforme Oliveira (2014) apud Kessler, Diemem e Pechanski, (2004) algumas variáveis podem contribuir para o indivíduo tornar-se um dependente químico, observamos a seguir:

A dependência química é um transtorno crônico caracterizado por três elementos principais: compulsão para busca e obtenção da droga, perda do controle em limitar esse consumo e emergência de estados emocionais negativos (disforia, ansiedade, irritabilidade), quando o acesso a essa droga é limitado (abstinência). (Kessler, Diesmem e Pechanski, 2004, p.299).

Segundo Silveira (1995), o dependente é um sujeito que se encontra diante de uma realidade objetiva ou subjetiva insuportável, sem forças para reagir visualizando como única alternativa a alteração da percepção dessa realidade, que é feita pelo dependente através de substâncias psicoativas.

Cunha (2006, p.35) complementa descrevendo algumas características próprias que os dependentes podem apresentar, entre elas estão:

  • Onipotência: o indivíduo acredita estar sempre no controle;

  • Megalomania: tendência exagerada à crer na possibilidade de realizar um intento visualizando sempre o resultado;

  • Manipulação: mentalidade de que tudo se faz pela realização de seus desejos, principalmente pela obtenção e uso de substancias psicoativas;

  • Obsessão: atitudes insanas pelo desejo de consumir drogas;

  • Compulsão: atitudes desconexas, incoerentes com a realidade provocadas pelo desejo intenso e necessidade de continuar a consumir a substancia;

  • Ansiedade: necessidade constante da realização dos desejos;

  • Apatia: Falta de empenho para a realização de objetivos e metas;

  • Auto-suficiência: mecanismo de defesa usado para afastar da consciência os sentimentos de inadequação social gerando uma falsa sensação de domínio;

  • Autopiedade: um tipo específico de manipulação que o dependente usa para conseguir realizar algum propósito;

  • Comportamentos anti-sociais: repertório comportamental gerado pela instabilidade emocional que o indivíduo desenvolve sem estabelecer vínculos tendo sua imagem marginalizada pelo meio social;

  • Paranóia: desconfiança e suspeita exagerada de pessoas ou objetos, de maneira que qualquer manifestação comportamental de outras pessoas é tida como intencional ou malévola.

Uma das justificativas para o uso abusivo dessas substâncias é a busca incessante pelo prazer ou felicidade, isto devido aos neurotransmissores que liberam Dopamina, Serotonina, e Adrenalina.

Segundo Santos e Porto (2015, p.3) as drogas podem ser de três tipos: Depressoras, estimuladoras e perturbadoras.

Drogas Depressoras: São drogas que diminuem a atividade mental. Afetam o Cérebro fazendo com que funcione de forma mais lenta. Essas drogas diminuem a atenção, concentração, tensão emocional e a capacidade intelectual. Drogas Estimulantes: São drogas que aumentam a atividade mental. Afetam o cérebro fazendo com que funcione de forma mais acelerada. Drogas Perturbadoras: São drogas que alteram a percepção, chamadas de alucinógenas. Provocam distúrbios no funcionamento do cérebro. Fazendo com que ele passe a trabalhar de forma desordenada, numa espécie de delírio - Falso juízo da realidade, e alucinação, isto é, uma percepção sem o objeto, ele não existe.

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