A atemporalidade docente e a temporalidade da vida

Por Paulo Ferreira de Araújo | 11/09/2022 | Educação

A atemporalidade docente  e a temporalidade da vida

O que nos mostra a inclusão digital compulsória de milhões?

A acessibilidade individual a todo conhecimento humano facilita o protagonismo do aluno na escola e fora dela. Matriculado em escola, ou não, todo indivíduo com um dispositivo com acesso à Internet pode estudar e aprender só. Qual é a intenção da formação assim recebida? Aponta o potencial do aluno para o progresso sustentável ou para a evolução a qualquer custo? Crianças e adolescentes não deixaram de sê-lo apenas por terem acesso à Internet. Tampouco o incapaz de ler e produzir textos deixou de ser iletrado apenas por ter acesso à Rede.

A compulsoriedade da inclusão digital, aqui, não é a prevista em qualquer lei, mas, característica de tudo que é aprendido sem método, sem didática – é sinônimo de precipitação. Com o isolamento social causado pela pandemia da COVID-19, o profissional educador, especialmente de Educação Básica, foi surpreendido em meio ao seu desespero por ter que usar um quadro e um marcador em vez de somar isto a dispositivos de acesso à informação. Da noite para o dia, milhões de estudantes “agora” tem de viver o ano letivo na forma online. Resultado: sem etapas adaptativas a perda de ordem didática é também a perda de qualidade. Tal perda ocorre de modo mais acentuado pelo desgaste da atenção pontual. O aluno que está diante do professor, em uma turma, para recebê-la, precisa que seus pares tenham respeito por sua vez – e que saibam que também terão a sua. Compreender cada estudante, que em aula realiza sua própria dimensão de conhecimento é essencial para o sucesso do ensino-aprendizagem, pois sem isto a avaliação será superficial e difusa – transversal. No ensino online da mesma forma: atenção a cada formando como? Em atividade síncrona ou assíncrona a supervisão do aluno não é imediata como na aula presencial.

Há confusão entre o tempo psicológico e o cronológico. O atendimento particular de uma pessoa aqui outra ali, fora do local e hora de trabalho tem sido uma tradição de professoras e professores ao longo da história da educação. Considera-se o outro além do mero dever funcional. Com o global alcance proporcionado pelo constante aperfeiçoamento da comunicação à distância, temos que estabelecer limites de tempo para nossas atividades profissionais, evitando o atendimento remoto como causador de perda de qualidade em outras atividades desempenhadas por nós, educadoras e educadores.

A bem da sanidade física, mental e relacional de docentes... A atenção dedicada a cada aluno nos faz pensar que em algum momento o professor também deverá ser ouvido, pois todo ser humano está em constante aprendizado. E isto também respeitando o “território temporal”, que atualmente se confunde com o espacial – há algo de atemporal no atendimento à distância, haja vista a diminuição desta ser cada dia maior – no entanto, enquanto o ser humano estiver ancorado a um corpo físico que tem necessidades, estabelecer limites continua sendo necessário. 

É preciso um tutor, um facilitador, um cuidador, um professor… Para os professores também.