A Arte de Colecionar

Por Francisco Costa | 25/07/2009 | Sociedade

Há dezoito  anos comecei a juntar cartões telefônicos usados, sem nenhum interesse e sem nenhum conhecimento do que estava fazendo; era um domingo de carnaval, em uma mesa de bar, enquanto conversava com uns amigos, ganhei dois cartões telefônicos, lançados pelo antigo Sistema Telebrás; gostei das estampas: um era um coqueiro e representava uma praia em Pirambu/SE, o outro representava umas ruínas de Vila Velha - Ponta Grossa/PR, eu não tinha idéia porque guardava aqueles cartões, que para muitos só serviam para o lixo. Sequer imaginava que iniciaria um minucioso e longo caminho que resultaria numa coleção, ou que colecionar também é uma arte, por envolver elementos humanos como a capacidade de arrumar, selecionar e aplicar na prática uma idéia ou um conjunto de idéias, o que exige conhecimentos estéticos e habilidades. Naquela época explodia um movimento de incentivo ao colecionismo, envolvendo diversas modalidades: Selos, postais, cartões telefônicos usados, moedas e cédulas antigas ou qualquer outro objeto antigo; o que me levou a me interessar e a estudar os cartões telefônicos em busca de conhecimentos, o que me deu forças para continuar até hoje. Surgiram por todo país Clubes e Associações de colecionadores; para vender, trocar, estudar temas, lançar e publicar catálogos sobre a filatelia (coleção de selos), a cartofilia (coleção de cartões postais) e do telecartofilia (coleção de cartões telefônicos), entre outros. Também começaram a realizar encontros estaduais e nacionais de colecionadores, onde os participantes aumentavam seus acervos e se desfaziam das peças repetidas; quase sempre em troca de outras. Eu me associei à Rede Linck de Colecionadores ? SP, ao Clube de Colecionadores de Cartões Telefônicos - BA e à Associação Filatélica e Numismática de Brasília-AFNB. O colecionismo já existia, apenas estava como que acordando para uma expansão e um envolvimento de um número maior de interessados. Eu já me sentia um colecionador de cartões telefônicos sem entender minha ação; comprava, trocava, ganhava e fui aumentando meu acervo; era muito difícil em minha cidade, Umarizal-RN, havia apenas cinco telefones públicos (os nossos conhecidos orelhões); fazia trocas com amigos da minha cidade e via correios com colecionadores de outros estados do Brasil. As TELES estaduais lançavam cartões diversos diferenciados por estados e regiões; mostrando o que cada uma tinha de melhor e mais belo. Aprendi a classificá-los usando como critérios considerados importantes: o número de créditos dos cartões, o estado de lançamento, a tiragem do mesmo, a estampa, o fabricante, entre outros; o que exigia muita paciência, tempo e habilidade; e o que nos faz desopilar e relaxar nos causando uma satisfação enorme; por transformar uma coisa tão simples em algo prazeroso. Infelizmente deixei de conseguir várias séries de cartões importantes; pelo alto custo, por serem lançados em tiragem pequena, fato que encarecia pelo grande número de colecionadores existente no país. Com o passar do tempo, o interesse e a curiosidade aumentou, o que me levou a entender a riqueza histórica e cultural que a telecartofilia nos proporciona. Desde o conhecimento de como funcionava o antigo Sistema Telebrás e suas filiais em cada estado antes da privatização de sistema de comunicação do Brasil, aos lançamentos de séries que nos fez conhecer curiosidades de cada estado e de cada região brasileira; desde a seca do Nordeste até as diversidades pantaneiras no Goiás e no Mato Grosso; além de temas nacionais; dentre os quais podemos citar: as riquezas da flora e da fauna brasileira, os animais em extinção; as flores cultivadas, os mapas dos estados e das capitais brasileiras; as praias do nosso imenso litoral com sua beleza, os mais importantes pontos turísticos, nossos parques de preservação ambiental, nosso patrimônio histórico, os monumentos, o artesanato nordestino e indígena, nossa música, entre outros. Datas importantes também foram lembradas como: o descobrimento do Brasil, por Pedro Álvares Cabral (1500), à Independência por D. Pedro I (1822), a Inconfidência Mineira (1872) e a Abolição dos escravos pela Princesa Isabel (1888); festas como: carnaval (escolas de samba do RJ), Santos (Círio de Nazaré), juninas (Campina Grande-PB e Caruaru-PE), natal e ano novo; Eventos: Olimpíadas, Copa do Mundo, Eco/92-RJ; Campanhas: pela paz e contra a AIDS, homenagens aos artistas como: cantores, apresentadores de TV, escritores, poetas, atores, palhaços. Autoridades: Presidentes da República, ao Papa João Paulo II e das forças armadas (exército, marinha e aeronáutica); cartões sobre peças teatrais, ópera, ballet, cinema, clássicos da literatura, arquitetura, entre outros. Aqui no Rio Grande do Norte foram lançados cartões em homenagem aos 400 anos de Natal, ao Folclorista Câmara Cascudo, ao bairro mais antigo da capital (a Ribeira), Forte dos Reis Magos (praia do meio), Morro do Careca (praia de ponta negra), Praia de Genipabu, Barreira do Inferno, Maior Cajueiro do Mundo (praia de pirangi), Pico do Cabugi (Lages-RN), Serra de Martins, Santuário do Lima (Patu), entre outros. Como vimos é muito importante colecionar e em particular colecionar cartões telefônicos, que ao manuseá-los além de fazermos uma grande terapia psicológica, realizamos um passeio sem fronteiras por varias áreas do conhecimento, como: a botânica, a história, a religião, a geografia, a política, a antropologia, a cultura e a arte. Sem esquecer de considerar que através da telecartofilia as futuras gerações terão documentada em arquivos a história e as riquezas naturais e culturais do nosso Brasil.